segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
O PENSADOR
"A ambição e a alegria sem limites de decifrar o mundo" constitui o sonho essencial do pensador, segundo Nietzsche. Ainda de acordo com o filósofo alemão, "Platão e Aristóteles puseram-se de acordo sobre o que constituia a felicidade suprema (...); eles encontraram-na no conhecimento, na actividade de um intelecto bem exercido que descobre e inventa". E, de facto, que fazemos aqui senão decifrar o mundo, procurar o sentido da vida, conhecer, ter curiosidade. O trabalho do pensador não é duro, pode ser exercido no café, estudando os livros, tomando notas. Ainda segundo Nietzsche, "os seus dias e as suas noites não são estragadas pelo remorso; ele move-se, come, bebe e dorme, observando um comedimento que honra o seu espírito sempre mais calmo, mais poderoso e mais lúcido; (...) não tem necessidade da sociedade senão de tempos a tempos, para em seguida abraçar ainda com mais ternura a solidão". No trabalho do pensador não há stress nem pressas. Não há chefes acima de si, o seu trabalho é livre. Ele exercita o intelecto, lê, pensa, observa. Talvez tenha o melhor modo de vida. Enquanto pensador não se envolve nos negócios dos homens. De resto, acha o comércio uma actividade menor. Descobre e inventa. Não permanece estático. Constrói filosofias. Não se incomoda com a passagem das horas.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
VIVER LIVREMENTE
Viver livremente, poeticamente, sem coacções nem castrações, sem ninguém a dizer-nos o que dizer ou o que fazer. A partir de certa altura, 17, 18, 19 anos, procurei desesperadamente a liberdade, procurei desesperadamente a vida. Já antes, aos 15, 16, escrevia as letras em inglês do Peter Owne para a banda The Vikings: “Sometimes I’m Me”, “Everybody Needs Love”, “War”. Uma escrita “hippie”, já crítica em relação à sociedade, com preocupações sociais.
Hoje estou aqui nesta aldeia suburbana onde falo com duas ou três pessoas, onde dou a impressão de ser um estudioso tímido. Observo as mulheres que vêm ao pão e marcam a passagem. Cofio as barbas. Penso que, apesar das minhas quedas, sou um homem livre. Não tenho chefes a mandar em mim, a televisão não me domina, ninguém me impõe gostos nem comportamentos, ninguém me faz a mente. Apesar de ter apenas uns trocos no bolso vou levando a minha avante, publicando livros, publicando textos, intervindo, recitando nos bares e noutros locais. Abracei realmente a causa da liberdade, da vida poética e tento transmiti-la aos outros, a alguns outros, pelo menos. É muito mais fácil para mim fazê-lo na cidade do que na aldeia. Aqui na aldeia as pessoas estão muito fechadas na religião, na tradição, na família. Na cidade sempre há mais gente disposta a ouvir-me ou a ler-me. Gente que se farta de um quotidiano previsível, entediante, insuportável. Gente que se farta de um trabalho absurdo, repetitivo, imposto. Gente que se farta de imposições, coacções, castrações. Gente que quer viver poeticamente a noite e o dia. Gente que se farta do Passos, da TV, da máquina, do controle. Assim acreditamos verdadeiramente que temos uma missão aqui na Terra, acreditamos que, não obstante os desvios, temos seguido a estrada certa. Não precisamos de cartilhas, direcções ou comités centrais.
Hoje estou aqui nesta aldeia suburbana onde falo com duas ou três pessoas, onde dou a impressão de ser um estudioso tímido. Observo as mulheres que vêm ao pão e marcam a passagem. Cofio as barbas. Penso que, apesar das minhas quedas, sou um homem livre. Não tenho chefes a mandar em mim, a televisão não me domina, ninguém me impõe gostos nem comportamentos, ninguém me faz a mente. Apesar de ter apenas uns trocos no bolso vou levando a minha avante, publicando livros, publicando textos, intervindo, recitando nos bares e noutros locais. Abracei realmente a causa da liberdade, da vida poética e tento transmiti-la aos outros, a alguns outros, pelo menos. É muito mais fácil para mim fazê-lo na cidade do que na aldeia. Aqui na aldeia as pessoas estão muito fechadas na religião, na tradição, na família. Na cidade sempre há mais gente disposta a ouvir-me ou a ler-me. Gente que se farta de um quotidiano previsível, entediante, insuportável. Gente que se farta de um trabalho absurdo, repetitivo, imposto. Gente que se farta de imposições, coacções, castrações. Gente que quer viver poeticamente a noite e o dia. Gente que se farta do Passos, da TV, da máquina, do controle. Assim acreditamos verdadeiramente que temos uma missão aqui na Terra, acreditamos que, não obstante os desvios, temos seguido a estrada certa. Não precisamos de cartilhas, direcções ou comités centrais.
O ÚNICO
Tenho lido Max Stirner e sinto-me um espírito livre. Nada se sobrepõe à minha vontade. Danço com os deuses. Cada vez odeio mais os bancos, os mercados e os seus seguidores. Não jogo na bolsa. Não tenho conta bancária. Não alinho nas patranhas dos telejornais e das multinacionais. Detesto o "Continente" e o "Pingo Doce". Sou único. Não esperes de mim amabilidade nem gratidão. Fica com com a "Casa dos Segredos". Sou único. Ninguém é igual a mim. Nem os meus mestres. Penso que a essência do homem está a ser assassinada pela finança. Não esperes de mim protestos só contra os cortes. Eu procuro a essência. Eu sou o homem que sonha, que imagina, que tem visões, que tem fantasmas. Não esperes de mim o cidadão comum. Estou farto do cidadão comum. Estou farto das preocupações do cidadão comum. Sou único, sou proprietário de mim e das minhas ideias. Não me tentes convencer. Tentas-me convencer todos os dias. Vens com essa treta todos os dias. Mas agora já não me levas. Sou único. Sou soberano de mim e dos meus reinos. Tenho ideias próprias. Não sou do povo. Tenho direito a ter ideias próprias, ouviste? Sigo o meu caminho. Sigo sozinho se tal for necessário. Não ando a mendigar amizades. Nunca gostei de grupos. Sou único. Rei do meu pensamento. Princípe das ideias. Larga-me. Estou farto de ti. Estás sempre a chamar-me. Estás sempre a prometer-me coisas. Nada tenho a ver com os governos da Europa e do país. Aliás, os governos da Europa e do país estão em cacos. De qualquer forma, nunca os apoiei, nunca votei neles. Deixa-me. Estou farto de falinhas mansas. Estou farto de propaganda. Sou de mim. Absolutamente de mim. Não me atires futebóis. Não me atires as gajas da TV. Sou um rochedo. Aqui, no Piolho, proclamo o meu reinado. Reinarei para lá da morte. Não sou dos eléctricos, nem dos metros, nem dos autocarros. Sou de mim. Nem sequer deveria pagar nada por coisa nenhuma. Os outros também não me pagam. Nem sequer sou português. Nasci aqui, nesta cidade, ponto final. Não sou de ninguém. Larga-me. Deixa-me pensar. Observo o que me rodeia mas estou a sós com os meus pensamentos. A caneta desliza no papel. Ontem o caderno ficou encharcado por causa da chuva torrencial. Poderia ter sido uma tragédia. Poder-se-iam ter perdido páginas imortais. Mas, enfim, sobrevivemos. Cavalgamos a folha de papel. Estamos aqui. Somos daqui. Não me venhas vender nada. Não me dês concursos, lotarias, euromilhões. Sou único. Não sou de ninguém. Não tenho de obedecer ao governo nem aos imbecis que votaram nele. Não elegi nenhum deputado. Até fui candidato mas não fui eleito. Nunca apoiei o Belmiro de Azevedo nem o Alexandre do "pingo Doce". Nunca apoiei os gajos dos milhares e dos milhões. Cometi erros mas ninguém me pode acusar de conivência com o capitalismo. Sempre que pude ergui a voz. SEmpre que pude atirei pedras. Estou com os indignados da América e do mundo inteiro. Quero dinamitar os bancos e a bolsa. Não, não me venhas com conversa. Estou farto de conversa. Hoje assumo-me plenamente eu. Sou Deus e mais do que Deus. Desejo as mulheres. Algumas mulheres. Sou o poeta incendiário. Não me atires moderação. Não sou o filósofo de Platão. Digo-te não! Não quero mais esta farsa. Aliás, hoje nem sequer preciso de cerveja. Sou o homem que nasce outra vez. Sou único, meu rei, meu Deus. Triunfo sobre ti e sobre o mundo. Já não me podeis ignorar, ó críticos. Vou tão longe que já não me apanhais. Nem tu, ó leitor. Merda para os macacos da "Casa dos Segredos". Merda para vós que vos refugiais em casa. Merda para tudo e para Deus. Permanecei na escravidão. Eu não vos sigo. Eu nunca vos seguirei. Estou farto. Eu sou. Eu penso.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
O mercado global controla tudo. Está nos media, nos poderes, na família, na escola. Faz de nós mercadorias, seres acríticos, de pensamento uniforme. Não quer deixar espaço para a verdadeira vida, para a celebração, para a festa. Aliás, grande parte das festas que existem inserem-se na lógica do consumismo e da compra e venda. O mercado e os mercados não querem que nos expressemos livremente, que desenvolvamos as nossas potencialidades, que sejamos crianças, de novo crianças. Mantêm-nos agarrados às drogas da televisão, do trabalho, do tédio. O mercado não quer que amemos, que nos apaixonemos.
Urge que nos levantemos. Que neguemos o mercado e o dinheiro. Que berremos nas praças. Que nos revoltemos dentro de nós mesmos. Que concentremos as nossas energias no essencial: queremos o mundo. O mundo é nosso, não é do mercado e dos seus agentes. As praias, os bosques e as cidades são nossas. Nascemos livres. Somos do mundo e da vida. Eles não nos podem roubar mais, não nos podem matar à fome. Não nos podem castrar. Somos soberanos. Somos reis. Como disse Holderlin queremos habitar poeticamente a Terra.
domingo, 23 de dezembro de 2012
ESTRELA
SEGUE A TUA ESTRELA
Os debates dos políticos e dos economistas incomodam-me. Só se fala de economia, não se discute o homem integral. O homem que quer crescer, que quer o paraíso na terra. O mundo está cheio de castradores, de forças que querem destruir a nossa individualidade, a nossa alma. Governos, especuladores, máquinas de propaganda. Todos eles nos querem roubar o amor, todos eles nos querem separar, isolar, impedir que dêmos as mãos. Entram nas mentes, nos corações das pessoas, tornam-nas falsas, dissimuladas, frias. E depois elas tratam-nos mal, enganam-nos, querem mandar em nós. O capitalismo e a sua máquina destroem as pessoas, tornam-nas competitivas, negociantes, merceeiras, manipuladoras. Convencem-nos também de que não há alternativa possível, que até é possível ser feliz debaixo das suas condições. Mas nós queremos realmente crescer no amor, na liberdade, na poesia. Queremos voltar ao xamã, ao grande espírito. Sabemos que é uma luta constante. Eles vêem-nos sós, deprimidos, desanimados e tentam apoderar-se de nós, mandar em nós. De forma a que aceitemos ser governados, submetidos, manipulados. Mas depois há uma estrela em nós, dentro de nós, uma estrela que nos diz que nós não somos como eles, que nós não viemos para servir nem para andarmos cabisbaixos. Não temos de andar atrás da selecção nacional, não temos de andar atrás da publicidade, não temos de seguir governo nenhum, não temos de andar atrás do grupo, nem da massa, nem da maioria. Não temos de ser direitinhos, alinhadinhos. Somos pensamento, somos vida. No papel expressamos o que somos. Somos também a música que nos eleva. "The End" dos Doors ou "Love Will Tear Us Apart" dos Joy Division. Estamos aqui para nos questionarmos. Estamos aqui para dizer que não aceitamos a vossa "felicidade", essa que nos vendeis todos os dias, mesmo que venha acompanhada das imagens das mulheres mais belas, mesmo que, por vezes, quase nos deixemos levar por ela. Não, a felicidade não é isso. A felicidade é poder dialogar com Jesus, Sócrates e Nietzsche, a felicidade é conversar, discutir com os amigos e as amigas, a felicidade é celebrar a noite e o dia, subir ao palco, dizer a palavra, a felicidade é amar livremente, sem castrações nem máquinas de propaganda, a felicidade é aumentar a alma e a vida, é tomar parte do banquete permanente. Vivamos o banquete, derrubemos a máquina. Aí seremos plenos, criadores, super-homens. As nossas potencialidades serão infinitas. Vive o homem livre, o homem nobre, companheiro, companheira. Apaga a televisão. Não te deixes mais levar pela conversa. Não te deixes tornar naquele que eles querem que sejas. Torna-te naquele que és. Naquele que se descobre, naquele que se encontra. Sê verdadeiramente revolucionário. Segue a tua estrela.
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PRISÃO
Que faço aqui?
Porque tenho de usar dinheiro?
Porque tenho de ter um trabalho?
Quem me meteu essas coisas na cabeça?
Que existe na cabeça senão o que penso?
Porque é que as pessoas são tão mesquinhas?
Porque não hei-de inventar ideias novas,
porque não hei-de atingir a Ideia de Platão?
Porque não hei-de ser sábio?
Porque há-de existir um governo?
Porque há-de existir Deus?
Porque há-de alguém mandar em mim?
Porque passei a questionar tudo isto?
Porque passo tanto tempo só?
Porque não me limito a agarrar os segundos?
Porque ainda acredito no amor e na liberdade?
Porque não sou apenas mais um?
O que é que me empurra?
O que é que me faz subir?
Porque me tornei diferente?
O que me afasta da vidinha?
Porque penso tanto?
Porque é o que os meus pais me puseram aqui?
Porque me fascinam tanto a loucura e a embriaguez?
Que tenho a ver com Dionisos e os xamãs?
Quem me ama?
Quem me dá a mão?
Porque fazem disto uma prisão?
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Edição 83, 14 Dezembro 2012
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
FORA DA LEI
"Fora da Lei" é o décimo primeiro livro de A. Pedro Ribeiro. Poemas como "Bem-Vindo à Máquina", "Liberdade", "Homem Livre" ou "O Poema" celebram a liberdade que poderia ser ao mesmo tempo que denunciam um mundo onde o homem é violentado na sua essência, onde é privado da juventude e da infância para se colocar ao serviço de uma máquina que o obriga a trabalhar, a ir atrás do dinheiro, a procriar, a "subir na vida". Mas "Fora da Lei" é também o poeta maldito que vai às noites e aos bares, que tem iluminações, que segue a estrada do excesso, da hybris, da desmesura. É o poeta que sobe ao palco de "Paredes de Coura" ou de "Anjo em Chamas", que prova a glória, o fracasso e a ressaca, que desafia e provoca, que recusa a vida normal das pessoas normais e apela à revolução e à revolta. "Fora da Lei" é a rejeição de todos os governos, de todos os patrões, de todos os medos, de todas as castrações. É Dionisos, o xamã e a loucura mas também a procura do sonho, do imaginário, da magia, das estrelas, do amor, da alma. "Fora da Lei" é a história do poeta.
domingo, 9 de dezembro de 2012
A ESSÊNCIA DO HOMEM
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
O MEU PRÓXIMO LIVRO
A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto no Maio de 68. "Fora da Lei" é o seu décimo primeiro livro depois de, entre outros, "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco), "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas" (World Art Friends), "Queimai o Dinheiro" (Corpos). Licenciado em Sociologia pela Faculdade de Letras do Porto, é cronista, diseur e performer. Está "fora da lei" e exige o mundo, o amor e a liberdade aqui e agora.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
O PARAÍSO ESTÁ À VISTA
O poeta está sentado na confeitaria. Escreve, inventa mundos, segue a caneta. Hoje meditou, por isso se sente mais solto, mais livre. As ideias percorrem a mente. Apesar de algumas mazelas físicas, não saiu da juventude. Continua a ir às noites, aos bares, à poesia. Aí é capaz de travar conversas interessantes, de discorrer sobre os mais diversos temas. Não fica aparentemente apático, como agora. Olha a mulher jovem. Deseja-a. O poeta quer continuar a ser ele próprio. Quer continuar a celebrar o dia. Não há prisões que o detenham, nem papões, nem capitalistas. Ele vai ao encontro da luz, sabe que há uma luz que lhe dá a vida. Essa luz une-se à alma e então o poeta cria. Espalha palavras pelo papel. Vai deixando filhos na Terra. Filhos que são os livros, que são os textos que publica. Quando está assim o poeta não conhece limites. Está muito para lá da vida rotineira. Ama a mulher. Deseja-a. Sabe que veio com um propósito, com uma missão, a de aumentar a vida. Por isso no poeta o amor vence o medo, o amor está no poema. E o poeta dança, o poeta celebra. O paraíso está à vista.
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
A PRISÃO
Que faço aqui?
Porque tenho de usar dinheiro?
Porque tenho de ter um trabalho?
Quem me meteu essas coisas na cabeça?
Que existe na cabeça senão o que penso?
Porque é que as pessoas são tão mesquinhas?
Porque não hei-de inventar ideias novas,
porque não hei-de atingir a Ideia de Platão?
Porque não hei-de ser sábio?
Porque há-de existir um governo?
Porque hã-de existir Deus?
Porque há-de alguém mandar em mim?
Porque passei a questionar tudo isto?
Porque passo tanto tempo só?
Porque não me limito a agarrar os segundos?
Porque ainda acredito no amor e na liberdade?
Porque não sou apenas mais um?
O que é que me empurra?
O que é que me faz subir?
Porque me tornei diferente?
O que me afasta da vidinha?
Porque penso tanto?
Porque é o que os meus pais me puseram aqui?
Porque me fascinam tanto a loucura e a embriaguez?
Que tenho a ver com Dionisos e os xamãs?
Quem me ama?
Quem me dá a mão?
Porque fazem disto uma prisão?
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
VIVER
VIVER
"Construir, todos os dias, incansavelmente, demencialmente, momentos inesquecíveis: isso sim vale a pena. Sê um construtor de momentos inesquecíveis, de momentos que vais querer, tal como quiseste vivê-los, recordar. Momentos que vais querer recordar incansavelmente, demencialmente. Sê um criador que nunca se cansa de construir momentos que vai querer recordar."
(Pedro Chagas Freitas, "Eu Sou Deus")
Fazer da vida uma festa, um banquete permanente. Eis o que os mercados e os governos nos querem impedir de fazer. Gozar a vida na leitura, no conhecimento, na arte, no prazer. Não ser o homem das meias-medidas, o meio-homem, a meia-mulher. Viver intensamente o instante. Viver é "nascer todos os dias, de novo. Consiste em ver tudo de novo", em fazer tudo de novo, em ser todos os dias "virgem de felicidade, criança de exaltação, bebé de euforia", como diz Pedro Chagas Freitas. Não é andar todo o dia a contar os trocos, a fazer contas. Viver é excesso mas também contemplação. Não é andar trabalho-casa, casa-trabalho, não é estar às ordens do governo, da polícia, da Merkel, dos mercados. Viver definitivamente é não estar às ordens de ninguém. Viver é andar sem Deus nem amos, como dizem os anarquistas. Não é certamente andar em função da televisão, do telejornal, do futebol, das telenovelas. Viver é desfrutar a vida. Quer através do saber, quer através do próprio querer, da vontade. Viver é sermos reis e senhores da vida. E eu conheci poetas vadios, sem-abrigo que o eram. Não são necessárias fortunas. Aliás, o dinheiro a partir de determinado nível só traz escravidão, dependência. Viver é certamente dar e receber amor e ser livre. É isso que somos. É isso que podemos ser. Não escravos disto e daquilo. Não subservientes em relação a este e àquele. Livres, soberanos, sonhadores. Donos da vida. Construtores de momentos inesquecíveis, criadores de vida. Eis porque estamos aqui, eis porque usamos a palavra. Ninguém nos vai roubar isto.
terça-feira, 13 de novembro de 2012
A ESSÊNCIA
No “Ceuta” como há 26 anos. Na altura escrevia uns poemas de vez em quando, lia muito. Frequentava a Faculdade de Economia, ainda não tinha desatinado com o curso. À semana ficava na casa de Vilar do Pinheiro com o meu pai. À terça ia para Braga e voltava na quinta. Ao fim-de-semana também ficava em Braga. Comecei a sentir-me deprimido na Faculdade mas como estava sempre a ir para Braga a situação não se agravou. Foi em Braga que comecei a sair à noite, a ir aos concertos, a apanhar bebedeiras. Aqui no Porto ia às livrarias, às sextas estava com a minha prima. Comprava livros. Hoje estou, de novo, aqui no “Ceuta”. Acabo de participar numa acção contra a Merkel.
Não tenho vontade nenhuma de ter um trabalho normal e, de qualquer forma, seria difícil alcançá-lo. Em vários aspectos coloquei-me à margem. Identifico-me com o xamanismo da Fátima Vale. Sou um estudioso mas sigo a religião da embriaguez. Acho ridículos e quadrados a Merkel, o Passos, o Cavaco. Acho ridículos os banqueiros, os especuladores, os grandes empresários e os grande media que nos controlam. São seres sem alma, sem amor, sem virtude. São assassinos que matam gente à fome. São vendilhões que nos vendem notícias formatadas, manipuladas. Penso até que deveriam ser expulsos do planeta tal o mal que nos fazem. Posso estar aqui sozinho com uns trocos no bolso mas considero-me digno da vida, rei de mim próprio. Não tenho dívidas à troika nem a ninguém. Movo-me livremente, escrevo livremente, escrevo com o meu próprio sangue. Ninguém me vem impor regras, ninguém me vem dizer o que devo dizer ou fazer. Era isso que eu começava a compreender há 26 anos quando era esse rapaz que se revoltou contra a economia. Ninguém tem o direito de jogar com a minha vida, ninguém me tira daqui. Sou absolutamente único. Sou absolutamente irrepetível. Venho de reis malditos, de outras eras, de outros seres, de outros sóis. Tenho todo o direito de estar aqui com uns trocos no bolso ou sem nenhuns. Estou vivo, porra! Tenho asma, tenho apneia mas estou vivo. Eles não são mais do que eu. Eles são menos do que eu. Faço guerrilha com a caneta. Espeto-lhes palavras nos cornos. Teria vergonha de ser igual a eles. Estou vivo, porra! Tenho um percurso. Se calhar já estava aqui há mil anos atrás. Sabes, eu não sou bem como os outros. Eu procuro a ideia de bem como Platão. Já fui a tribunal, já fui à Judiciária. Já enfrentei o sistema. Tenho todo o direito de estar vivo, de respirar, de escrever. Não há deuses acima de mim, talvez eles estejam dentro de mim. Hoje, 12 de Novembro de 2012, no café “Ceuta”, proclamo o meu reino. Danço, canto como o super-homem de Nietzsche. Sei que o homem e a mulher procuram a sua metade, a metade perdida. Sei que o homem e a mulher não estão satisfeitos. Não basta fazer manifestações. É preciso ir à essência. A essência do homem, da mulher está ferida, violentada. Eis o que os capitalistas e os mercantilistas conseguiram ao longo dos séculos. Mas nós não somos da mesma raça. Nós combatemos a morte em vida. Nós exigimos o sublime. Nós somos os novos magos. Nós queremos reinar sobre a terra.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
A REPÚBLICA DOS FILÓSOFOS
"A não ser que os filósofos se tornem reis nas nossas cidades, ou que aqueles a quem chamamos reis e chefes se tornem filósofos sérios e capazes e haja uma conjunção do poder político e da inteligência filosófica (...) não haverá (...) cessação dos males para as nossas cidades, nem mesmo, segundo julgo, para o género humano."
(Platão, "A República")
Só um governo de filósofos, isto é, dos mais virtuosos, dos mais justos, dos mais sábios assegurará, como defende Platão, a felicidade dos cidadãos. Ou, em alternativa, a democracia directa, só possível em regiões de pequena dimensão. Mas o governo dos filósofos é o governo "daqueles para quem a verdade é o espectáculo pelo qual estão enamorados". Esses amantes da verdade, do bem e da sabedoria estão dispostos "a provar de todas as ciências", dedicam-se à tarefa de estudar com prazer e são capazes "de se elevar até ao belo em si e de o contemplar na sua essência". De resto, temos governantes e políticos corrompidos pelo poder, pela vaidade, pela riqueza. Temos cães de fila dos mercados, dos banqueiros, dos grandes capitalistas. Temos homens pequenos, medíocres que se atropelam e trepam uns para cima dos outros como macacos. Reina a desonestidade, a corrupção, o compadrio, a negociata. Estamos longe da ideia de bem, de justiça, que Platão preconizava. Estamos num mundo de senhores medíocres e de escravos. Procuremos os filósofos-reis, venha a república dos filósofos.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
DAS CRIANÇAS E DOS JOVENS
Deixemos as nossas crianças brincar e levemo-las a conhecer e a procurar o conhecimento sem constrangimentos pois, como afirmava Platão, "quem é livre nada deve aprender como se fosse um escravo". Revolucionemos o ensino, encaminhemos as nossas crianças e jovens no sentido do bem, do belo, do justo, deixemos que eles desenvolvam livremente a curiosidade e o prazer da descoberta. Não as encaminhemos mais para o negócio e para o mercado, afastêmo-los da máquina de propaganda. Formemos homens livres, poetas, filósofos. Construamos um novo mundo. Sigamos os grandes mestres. Abandonemos, de uma vez por todas, esta sociedade que não presta.
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
DA VIDA
Não se tem de andar constantemente de pistola na mão a apelar à revolta e à revolução. Contudo, penso que, nos tempos que correm (e em todos os tempos...), não faz sentido que o poeta, o escritor e o intelectual não se pronunciem de forma crítica sobre a sociedade em que vivem. Temos de denunciar que a vida assim não é vida. Que há forças que se escondem por detrás das medidas fascizantes dos governantes. Que há essa entidade a que chamam os mercados, a quem todos obedecem. Que há os "credores", os especuladores, a bolsa, os banqueiros, os economistas, os grandes empresários, essa gente altamente recomendável. É preciso dizer que todos eles nos chulam, nos roubam, nos vão dando cabo da vida. E a vida é o que realmente interessa, como dizia Henry Miller. A vida é respirar, é estar vivo, é estar aqui mas é também gozar o instante, construir o presente, amar o próximo e o longínquo, mexer os dedos e a caneta, andar à solta sem imposições, sem castrações, sem culpas. A vida é certamente a liberdade livre de Sade e dos surrealistas, não o trabalho, não o sacrifício, não o que nos obrigam a fazer. A vida é certamente acordar contigo, ouvir as fontes e os pássaros, dançar em redor da fogueira, como cantava Morrison. A vida é certamente tirar todos esses imbecis do poder, caciques locais de Câmara e de Junta incluídos. A vida é ajudar esta gente a sair da cegueira, como fazia Sócrates, como fazia Shakespeare.
Café São Cristóvão, Braga, 2.11.2012
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
O ABRAÇO FRATERNO DO CARLOS PINTO
O mundo do dinheiro e da economia é absurdo. Afasta-nos da nossa essência, do amor, da alma. Destrói a maravilha e o mistério da vida. Empurra-nos para o trabalho imposto, para o sacrifício, para a máquina cega. A nossa experiência perde a luminosidade, o prazer da descoberta, a aventura do eu é castrada. A viagem interior, xamãnica só está ao alcance de alguns. Só alguns contactam com os espírito
s, atravessam para o outro lado. No resto, o dinheiro e a economia destroem o belo e a poesia. Já rareia a espontaneidade, o abraço fraterno como o do Carlos Pinto no Púcaros, o diálogo aberto. O reino do dinheiro, da ganância e da economia produz homens e mulheres sem coração que se vão safando, trepando uns para cima dos outros como macacos, como dizia Nietzsche. Só alguns de nós, com sofrimento, nos conseguimos manter puros, imunes ao grande mercado, vivendo a luz e o espírito. Por isso, ainda amamos incondicionalmente, sem hipocrisias. Por isso desafiamos os poderes, provocando-os, insultando-os. Por isso tentamos fazer da vida uma experiência permanente, por isso nos abrimos e damos, por isso somos diferentes.
domingo, 21 de outubro de 2012
DIVINOS
"Somos constituídos por partículas formadas desde os primeiros segundos do universo, átomos forjados num sol anterior ao nosso, moléculas que se reuniram na Terra." (Edgar Morin)
Vimos do início, dos primeiros segundos do universo. Somos divinos, estamos muito para lá do homem prosaico, das suas preocupações mesquinhas, do dinheiro ao fim do mês. Somos fundamentalmente alma, amor, poesia. Somos ...
capazes de grandes obras. Estamos para lá de Deus. Somos caminheiros dos céus, como dizia Henry Miller. Somos grandes. Somos do tamanho do universo mas somos frágeis. Por isso precisamos de amor, amizade, fraternidade. E precisamos de criar, de celebrar a vida, o milagre da vida. Podemos estar aqui à mesa da confeitaria a escutar conversas banais mas somos divinos. Hoje tomamos consciência. Somos divinos. Como Shakespeare, como Nietzsche. Somos meninos e bailarinos. Jogamos com a vida. Descobrimos o mistério. Vimos de um sol anterior ao nosso. Dancemos. Brindemos ao mundo e à vida. Chegámos onde queríamos chegar. Somos loucos divinos. Poetas-bailarinos. Celebremos.
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
EU ACUSO!
Todo o percurso que fiz até aqui. O rapaz que era. A timidez. A dificuldade de me relaciionar com as raparigas. Os versos que então escrevia. Já então pensava muito. Depois veio a noite, os copos, os concertos. Descobria a liberdade no Tuaregue, no Deslize, em Braga, na Rua Nova de Santa Cruz. Tornei-me então outro, aquele que sobressaía, que provocava, que dançava. Mas as grandes depressões travaram a minha caminhada. Fiquei inerte, insoluvelmente melancólico, incomunicável. Passavam-se os meses dolorosamente e, aos poucos, readquiria a vida. Fui para o palco, cantei, recitei, fiz a festa. Agora estou aqui, aos 44 anos, mais sábio, mais virtuoso, mas ainda desejoso de passar para o outro lado. Ainda morrisoniano, nietzscheano, consciente de que a vida não se resume a uma fórmula única e irreversível. Consciente de que os medíocres que nos governam e querem controlar não passam de uns imbecis sem alma nem coração, sem inteligência. Consciente de que posso chegar ao palco e dizê-lo. Consciente de que nada há a perder, de que fiz o meu percurso e de que não devo nada a ninguém. Posso estar aqui sozinho na confeitaria com os meus livros mas acuso esses medíocres do poder de destruírem a vida, de matarem de fome, tédio e depressão, de darem cabo de tudo quanto é arte, belo, exuberância, de assassinarem a juventude e a infância, de amputarem a liberdade e o amor. Acuso-os de não fazerem parte da humanidade nem da vida.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
A SEDE DO LUCRO
Terrível mundo este onde "a sede do lucro sufoca todo o restante impulso humano", nas palavras de Ernst Bloch. Terrível mundo este onde podemos vir ao café estudar ou conversar mas onde as conversas são formatadas, dominadas pelo preconceito ou pelo medo, controladas pelas modas e pelo "big brother" televisivo. Verdadeiramente poucos de nós conseguimos ser autenticamente plenos e ainda assim estam...os sujeitos ao tédio, à depressão, à ameaça da pobreza, à máquina que bombardeia. Conhecemos homens livres que morreram na miséria. De resto, há a sede do lucro, do passar por cima do parceiro, a luta pela existência. Raramente somos plenos, raramente conversamos sábios e libertos, raramente nos expressamos ou criamos no máximo das nossas potencialidades. Há sempre algo que nos diminui o espírito e a inteligência. Há sempre algo que nos condiciona. Mesmo que tomemos mais um café e que nos sintamos mais concentrados, mais sabedores. Mesmo que as pessoas venham aparentemente livremente ao café não deixam de ser escravas- da ignorância, da barbárie, de Mámon, o deus-dinheiro.
CAPITALISMO
o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro. Deus não morreu, tornou-se Dinheiro.
(Giorgio Agamben)
domingo, 7 de outubro de 2012
A BARBÁRIE
Em 1845, em “A Essência do Dinheiro”, Moses Hess afirma que o capitalismo traduz a dominação exercida pelo deus-dinheiro sobre os homens, constituindo um sistema que coloca à venda a liberdade humana. O dinheiro é a essência e traz um mundo pior do que o da escravatura antiga porque “não é natural nem humano que alguém se venda a si próprio voluntariamente”. A tarefa do comunismo é, as...sim, abolir o dinheiro. Para Gustav Landauer essa tarefa não é aperfeiçoar o sistema industrial-capitalista mas ajudar os homens a redescobrirem a cultura, o espírito, a liberdade, a comunidade. Para outros, o capitalismo é traficar a alma, o espírito, o pensamento. Para Marx, exige-se “a revolta contra um mundo que transformou cada coisa numa mercadoria e degradou o homem, reduzindo-o ao estatuto de objecto”. Sim, temos o direito de exigir o homem integral. O poder do dinheiro pode destruir todas as qualidades humanas e naturais, reduzindo-as ao quantitativo. A troca de afectos é substituída pela troca do dinheiro por uma mercadoria. Não existe nada de mais abjecto do que o capitalismo e os seus mercadores e economistas. Reduzem tudo ao cálculo, ao deve e haver, ao orçamento. Cortam na vida das pessoas como se tratassem com objectos. A sensibilidade é substituída pela posse. Como dizem Michael Lowy e Robert Sayre em “Revolta e Melancolia”, “o ser, a livre expressão da riqueza da vida por actividades sociais e culturais, é cada vez mais sacrificado ao ter, à acumulação do dinheiro, das mercadorias e do capital”. O homem está fortemente condicionado na sua capacidade criativa pelas drogas que nos atiram todos os dias via media e por um mercado implacável. Segundo Lukács, “tudo deixou de ser avaliado por si próprio, pelo seu valor intrínseco- artístico ou ético- e apenas tem valor enquanto mercadoria vendível ou comprável no mercado”. É a barbárie, a selvajaria. Nem sabemos como ainda pode haver algum amor, algum diálogo, alguma filosofia. Eles estão a destruir o que de mais genuíno há no homem, esses merceeiros, esses moedeiros. Isto não é apenas a crise económica, isto não é apenas o irem-nos aos bolsos, isto é irem-nos
à alma, destruírem os verdadeiros progressos da humanidade. Isto é destruir a vida. Não podemos mais aceitá-lo. Somos homens e mulheres. Não somos objectos, não somos notas e moedas.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
O ESTAR AQUI
Vir ao mundo, receber a graça de vir ao mundo. Depois brincar, ser livre. Ir à escola, aprender mas também ser moldado pela máquina, pelo mercado. Começar a questionar as coisas, guardá-las para si ou debatê-las com os melhores amigos. Fazer o liceu, ir para a Faculdade. Sair à noite, celebrar a noite, experimentar a liberdade. Mas depois voltar à máquina, ao mercado, à competição. Ler uns livros que contrariam isso. Depois vem novamente o ganhar a vida, o safar-se, o lutar pela existência, o passar por cima dos outros. Questionar tudo isso novamente, estar aqui no café com os livros, experimentar a liberdade. Saber que há uma via que está para lá da escravidão, do ser mais um, saber que essa via pode ser dolorosa mas saber que ela existe. Estar aqui, saber que não se está aqui por acaso, que temos um propósito, uma missão. Saber que isto está muito para lá do pão nosso de cada dia. Saber que isto não é o trabalho absurdo. Procurar o amor e o conhecimento. Ser o homem íntegro, integral. Não se deixar levar pela grande depressão. Estudar, ler os grandes, filosofar. Estar aqui, estar vivo, sem culpas nem pecados. Estar aqui soberano, sem patrões.
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
A LUTA COMUM
Grécia, Portugal, Espanha. A mesma luta. Contra os governos ultra-liberais, contra a austeridade, contra a troika. Mas também o combate contra a democracia burguesa, contra o sistema político, contra o capitalismo dos mercados. Milhões nas ruas a dizer sim à vida, contra os banqueiros e os especuladores da morte. Milhões a dizer basta. Milhões a dizer que isto não serve, que isto não presta. Que se esgotaram todas as negociações, todas as concertações sociais. Que exigimos o mundo e exigimo-lo agora, como cantava Jim Morrison. Que não é mais possível suportar o roubo, a vigarice, a mentira. Que somos cidadãos, homens livres, e não escravos ou macacos. Que temos de fazê-los cair de uma vez por todas.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
O HOMEM NOBRE
Este é um mundo de negociantes e de polícias, como diz Albert Camus em "O Homem Revoltado". Para combatê-lo temos de recorrer à arte e à criação. Uma revolução que despreza a arte e a criação redunda numa China ou numa União Soviética. Mas a sociedade dos negociantes e dos polícias necessita de ser ultrapassada. Daí o renascimento do homem através da criação. Começa com as crianças, com uma educação não virada para o acumular do dinheiro, para o lucro, para o interesse. Onde o ensino artístico e da literatura assumam um papel fundamental. Onde se desenvolva o espírito crítico e se eliminem os programas imbecis e narcotizantes da televisão. Onde os cidadãos discutam livremente nas ruas, sem medo, sem patrões, sem polícias. Onde a filosofia se exercite. Assim atingiremos o homem nobre de Nietzsche e de Platão.
sábado, 22 de setembro de 2012
O POVO E A REVOLUÇÃO
O povo continua a sair á rua. O povo quer o Passos Coelho na rua. O povo não aceita migalhas nem mudanças de coméstica. O povo acordou, afinal não somos o país de brandos costumes de que se falava. Rebentam petardos, chovem pedras e garrafas. Como na Grécia, como em Espanha. Passos Coelho e Cavaco não vão aguentar muito mais tempo. A revolução está próxima. Tomemos o presente nas nossas mãos. Não cederemos aos gatunos. Permaneceremos na rua. Até ao fim.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Tivemos uma certa liberdade de escolha no liceu, com bons professores a Português e a Filosofia. Incentivaram-nos para a leitura, para a reflexão, para a escrita. Mas depois houve um ponto em que percebemos que há forças que nos querem afastar da liberdade, que nos querem impedir de sermos nós mesmos, que querem que façamos parte do rebanho. Passámos pelo consulado de Cavaco Silva, pelos “yuppies”...e pela promoção dos “yuppies”, dos jotinhas, dos carreiristas. Passámos pela tentativa de castração do pensamento autónomo, livre. Mas nós vínhamos do “boom” do rock português, dos UHF, dos Jafumega, vínhamos de Vilar de Mouros, dos “hippies”. Nós ouvíamos os Doors e os Pink Floyd. Nós líamos Marx, Nietzsche e os anarquistas. Nós líamos Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa. Revoltámo-nos contra o cavaquismo e contra as propinas. Cometemos erros e asneiras. Mas hoje temos a noção de que tivemos quase sempre razão. De que nunca fomos na conversa do Cavaco e que agora não vamos da do Passos Coelho. Constatamos que ainda temos a liberdade de escrever, de divulgar as nossas ideias no facebook ou nas páginas de um jornal, constatamos que a máquina de propaganda e o capitalismo dos mercados não nos silenciaram totalmente, constatamos que é tempo de revolução e de revolta.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
A OUTRA METADE
Vão rareando as pessoas que nos recebem de braços abertos, que verdadeiramente nos amam e respeitam, que se dão. A maioria das pessoas vive no medo, no medo de perder a casa e o emprego, na obrigação de competir com o parceiro do lado, de juntar dinheiro. Verdadeiramente não vivem. Verdadeiramente não são capazes de ser autênticas. São capazes de ser bem-educadas, civilizadas, nada mais. O homem está desligado da sua metade.
domingo, 2 de setembro de 2012
ALGO
Dizer algo que os outros não dizem, algo que não vem na comunicação social, algo que às vezes dizemos nos bares a desoras, bem bebidos. Algo que dizemos sem esperar recompensa, algo que não tem preço, livre, absolutamente livre, como tudo deveria ser. Algo que faz de nós deuses, senhores de impérios de luz, detentores do milagre da vida. Algo que nos acompanha desde a infância, que nunca soubemos explicar, algo que importa dizer, que nos distingue dos outros. Algo que somos realmente, que nos aproxima da sabedoria, que nos torna bons e belos. Algo que é o amor.
sábado, 1 de setembro de 2012
O AMOR É A SOLUÇÃO
Contemplar a beleza essencial, conhecer o belo em si mesmo, eis o motivo pelo qual viemos ao mundo, segundo Sócrates. Eis a via de Eros, eis o amor. Nada nos eleva tanto quanto o amor, quanto o desejo de geração e procriação no belo. Alguns procuram a eternidade nos filhos, na descendência, outros procuram-na na criação, na poesia.
Nada está acima do amor, da fraternidade. O amor não faz cálculos, não visa o lucro, não inveja, o amor é o contrário do capitalismo. O amor une-nos, faz-nos crescer, mesmo quando discutimos, mesmo quando não estamos de acordo. O amor torna-nos magníficos, sublimes, poetas, filósofos. O amor junta-nos à mesa, celebra-se com vinho, alimento, sabedoria. O amor dá-nos forças, asas, alegria. O amor é a solução, o último reduto que eles não podem comprar, que eles não podem negociar. Por isso te amo, por isso te amarei sempre.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
DÁ-ME CERVEJA
Não há dúvida de que estou a caminho. Não há dúvida que as coisas me começam a correr de feição. Só me falta a mulher, aquela que vier, a mãe dos meus filhos. Busco o super-homem. Aquele que reinará sobre a Terra. Não em nome dos fracos e dos oprimidos, mas em nome do conhecimento, da luz, da criação. "Sou o Rei Lagarto, sou todo-poderoso". Desejo-te, mulher da confeitaria. Deixa o namorado. Vem, segue-me. Sou o enviado dos deuses. Quero colher o riso selvagem. Quero essa mulher que me quer. Sou o filho de Deus. Reclamo-te. Sê minha. Sê linda. Farto-me de imbecilidades e de gajos de terceira. Quero uma mulher da TV. Quero uma mulher que me sustente. Rumo ao lago do antigamente. Dá-me cerveja que eu dou-te amor. Dá-me cerveja, miúda, dá-me cerveja. Sou um mito vivo. Sou a estrela do rock n' roll. Dá-me cerveja. Vou ficar como o Jim Morrison horas a beber ao balcão. Dá-me de beber. Dá-me de amar. Gingas as ancas, vences. Que têm esses patetas mediáticos que eu não tenha? Sou o excesso em pessoa. Sou o Pessoa em excesso. A beber n' "A Brasileira". Sou louco. Sou narciso. Quero-te. Dás-me tudo. Dás-me vida. Quero o beijo. Sacio o desejo. Por onde andas, Rui? Quem te matou? Quero mulheres à minha mesa. Quero surpresa. Quero estoirar, António. Gingas, danças, balanças. Sou Dionisos. Quero roubar-te ao lar familiar, ao sossego elementar. Quero-te em mim. Quero-te até ao fim. De qualquer forma, nada tenho a perder. Sou enviado do diabo. Entre Deus e o diabo, venha o diabo e escolha. Pois, tenho a velha escola. Bebo com ambos em sonhos de Verão. Tanto faz. Leva e traz. Louco. Louco. O homem bebe. Frente ao talho da "Emília do Lúcio". Cristo ébrio. Ofir/Fão. Não tenho horas. Vens de mim. Vens para mim. Varres o chão. Exibes-te para mim. Vem a velha e pára o filme. Vem a velha à sopa e eu deixo de ser divino. Chega Afrodite ao pão e tudo muda de novo. Quero uma mulher, a que me quiser realmente. Começa a haver alguma animação nesta Terra. Para lá das telenovelas e das camionetas. Sou Dionisos. Quero lamber-te. Prestar-te tributo. Este que sou já não sou eu. Louco. Tão louco. Poeta do "Fim". Poeta, enfim. Senhor de mim. Não sabeis quem sou. Sabereis em breve. Talvez depois de morto.
terça-feira, 21 de agosto de 2012
LOUCO DIVINO
Qualquer coisa de diferente. Qualquer coisa que nunca tenha sido escrito. Qualquer coisa de realmente maldito. Homem louco, louco divino, quem te pôs aqui? Porque falas no amor se estás em guerra? Na maior parte do teu tempo na Terra tens ouvido o óbvio, não aprendes nada. Defendes os pobres e os oprimidos? No fundo queres reinos e castelos, como outrora. E tudo te soa a banal. Há e...m ti a Criação de Blake, a embriaguez sem àlcool. Querias um outro mundo. Onde tudo fosse iluminação. No fundo, basta-te comer, beber e ir até Braga. O resto já está em ti, louco divino. Não precisas de deuses. Eles estão em ti. Ouves a música de outrora, da adolescência. Alguns procuram-te, vêm abraçar-te. Mas continuas muito tempo sozinho, louco divino. Eles desconhecem os teus poderes. Excepto quando vais à noite atirar-lhes palavras. Agora estás convencido que desvendaste o enigma da vida. Talvez o tenhas desvendado. Mas há dias em que pareces tão fraco. Tinhas razão, tiveste sempre razão, louco divino. Mesmo quando erraste. A poesia é mesmo a vida, não são floreados. Vives o que escreves, louco divino. E ainda tens uns anos à tua frente.
domingo, 19 de agosto de 2012
O INÍCIO DE UMA NOVA ERA
A verdadeira vida é poética. Rimbaud disse que no mundo da prosa, “a verdadeira vida está ausente”. O estado prosaico é utilitário e funcional e inclui, nas palavras de Edgar Morin, o sobreviver, o ganhar a vida, “o trabalho opressor, monótono, parcelar na ausência ou no recalcamento da afectividade”. É o mundo da economia, do acumular dinheiro, da exploração, dos mercados, do tédio. Em contrapartida, a poesia é celebração, comunhão, embriaguez, dança, canto, música, transe, êxtase, maravilhamento com o belo e, claro, amor. A revolução só pode estar do lado da poesia, do amor, da liberdade, como diziam os surrealistas. É aí que o homem renascido se realiza. Não no sacrifício, não na culpa, não no pecado. Não numa “vida” sem novidade, sem curiosidade, sem descoberta. Não faz sentido vir ao mundo para sofrer, para ser humilhado, para andar deprimido, para pensar constantemente no suicídio. Abracemos a dádiva da vida, construamos um mundo de amor e poesia. Não nos deixemos derrotar pelos cinzentos, pelos pregadores da morte, pelos destruidores da vida. Não trabalhemos mais para eles. Celebremos Dionisos e o homem livre. Quem disse que era impossível? Unamo-nos. O mundo é nosso. Eles não podem roubá-lo mais. Eles não podem destruí-lo mais. Este é o início de uma nova era. Este é o renascimento do homem. Este é o banquete permanente. O homem veio para se ultrapassar, não para andar atrás de migalhas, não para ser escravo de outros homens ou da máquina. O homem veio para se transcender, para abrir novas vias, novos reinos. Amamos profundamente a vida. Queremos gozá-la sem entraves. Eles não podem impedir-nos. Eles não podem roubar-nos a poesia, eles não podem roubar-nos a infância. Construamos um mundo de bondade e de dádiva.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
ARTISTA
Não sou, nunca fui, um operário, um trabalhador, daqueles que se esforçam o tempo todo. Sou antes um artista, aquele que pressente a hora de criar e é capaz de passar horas no café, por exemplo aqui no "Ceuta", onde já vinha aos 18 anos, antes de apanhar a camioneta para Braga. Verdadeiramente raramente me esforcei. Só no 12º ano é que estudei para Matemática. Na Faculdade só estudava às vezes. Só agora estudo verdadeiramente os livros. Só agora sigo o caminho da sabedoria. Talvez puxe um pouco mais pelos olhos. De resro, não me mato a trabalhar. No café, após tomar o café, sinto-me em casa. Isto apesar de, neste momento, não ter um grupo de intelectuais, uma tertúlia, para discutir as minhas ideias. Continuo a achar que as pessoas deveriam desatar a falar com desconhecidos, isso enriqueceria a humanidade.
terça-feira, 7 de agosto de 2012
JOAQUIM CASTRO CALDAS
Foi o Joaquim Castro Caldas que me ensinou a dizer poesia. Foi o Joaquim Castro Caldas que me mostrou aquele jeito rebelde e sarcástico de lidar com as palavras. O Joaquim foi o mentor das noites de poesia no Pinguim quando uma multidão acorria àquele bar no Porto para, simplesmente, ouvir e dizer poesia. O Joaquim foi um dos maiores divulgadores da poesia neste país. E era, também, um excelente poeta. Quando escrevo estas linhas o Joaquim se não está morto deverá estar às portas da morte. Agora é fácil culpar o álcool, as úlceras, a vida que o Joaquim levava. Agora toda a gente vai procurar os escritos que o Joaquim deixou por aí espalhados. O Joaquim Castro Caldas tinha um feitio difícil. Por vezes, parecia arrogante. Mas por detrás dessa aparente arrogância havia uma grande generosidade. A generosidade de quem viu o inferno mas também o céu. A obra do Joaquim não teve o reconhecimento que merecia. Porque o Joaquim era um verdadeiro poeta. Levou uma vida de poeta. Andou pelos bares, procurou a loucura. Não foi um desses versejadores da corte, bem comportadinhos, sempre à cata do prémio. Olha, Joaquim, espero que te safes desta. Senão vai para o céu. Vai para o céu, porque o mereces. "
(António Pedro Ribeiro, 31/08/2008)
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
A REVOLUÇÃO DO AMOR E DA POESIA
“O “homo faber” (definido pelo utensílio e pela técnica) é também “homo mythologicus”, ou seja, alimenta mitos e alimenta-se de mitos. O “homo economicus” (interesse, lucro) é também “homo ludens”, fruindo o jogo, os divertimentos, vivendo da estética e da poesia.
O “homo sapiens”, “faber”, “economicus” é um ser unicamente prosaico, cuja vida é toda dedicada ao trabalho, à utilidade e ao lucro. O “homo prosaicus” é, no entanto, também “homo poeticus”, aspirando à poesia da vida, que é intensidade na participação, na comunhão, no amor e que tende para o êxtase.”
(Edgar Morin, “O Método VI- Ética”)
É claro que podemos ir sempre pela via do amor e da poesia. “Viver na prosa é apenas sobreviver. Viver é viver poeticamente”, afirma Edgar Morin. A poesia é um “estado de participação, comunhão, fervor, festa, amizade, amor que abrasa e transfigura a vida”. Traz consigo a participação no mistério do mundo. A racionalidade integra-se numa sabedoria louca, que vem do amor e da poesia. Assim, unidos no amor e na poesia enfrentamos os gigantes da máquina. Porque o que temos entre nós é sagrado, vem de Buda e Jesus. Porque somos êxtase, celebração mas afastamo-nos da barbárie interior já que trabalhamos o “bem pensar”. Porque somos compreensivos. Porque construímos o homem e como diz Montaigne, “não há nada mais belo e mais legítimo do que fazer bem o homem e devidamente”.
É claro que podemos dizer que o amor é a solução. É claro que podemos seguir Ghandi, John Lennon, Nelson Mandela. É claro que podemos falar do amor que une a mãe à criança. É claro que podemos voltar aos 16 anos, aos tempos dos “hippies”, do “peace and love”, do “flower power”. Demos umas curvas mas voltámos ao ponto de partida. Celebremos, comunhemos, dancemos em redor da fogueira. Encantemo-nos com a eterna novidade do mundo. Afastemo-nos da vida prosaica. Amemo-nos. Celebremos o novo homem, poético, criador, altruísta. Façamos a revolução do amor e da poesia.
MANIFESTO POR UMA PÓVOA LIVRE
Quero fazer da Póvoa uma nova Atenas. Quero uma Póvoa de cidadãos livres a discutirem filosofia, política e literatura nas ruas. Quero uma Póvoa com teatro, poesia e outras artes nas ruas. Quero uma Póvoa de gente esclarecida, que não aceita o economicismo de Macedo Vieira e Aires Pereira. Quero uma Póvoa sem desemprego e sem pobreza. Quero uma Póvoa sem caciques locais, sem chicos-espertos a enganar o parceiro do lado. Quero uma Póvoa fraterna, com homens e mulheres livres, fora do controlo da máquina. Quero uma Póvoa cheia de amor e sem capitalismo. Quero uma nova Atenas.
sábado, 4 de agosto de 2012
O JOGO
Dizem que temos de nos adaptar, de ser competitivos, de usar a manha para ultrapassar os outros. Dizem que temos de "vencer na vida". Não estudamos para saber mas para "vencer na vida", para arranjar lugares, para nos encaixarmos no sistema. Somos macacos. Ou queremos mandar nos outros ou então sujeitamo-nos a ser dóceis, tementes a Deus, escravos, lambe-botas, ainda que alimentemos a intriga, a inveja, o boato, a maledicência. Somos mesmo macacos se continuarmos assim. Porque temos de nos sacrificar, de trabalhar tanto, porque corremos sofregamente, porque estamos em guerra permanente, porque pura e simplesmente não gozamos a vida?
Quem manda em nós? Com que direito alguém manda em nós? Que lei é essa? Quem nos representa? Com que direito nos representa? Porque temos de ganhar a vida? De onde vêm essas leis? Onde estão escritas? Isto não passa de um jogo, de um imbecil de um jogo, como dizia Jim Morrison. Porque lhe damos tanta importância? Porque sofremos tanto? Que deus, que demónio, nos atormenta?
sexta-feira, 27 de julho de 2012
MRPP CONTRA MACEDO VIEIRA E AIRES PEREIRA
PCTP-MRPP acusa autarquia de não ajudar Varzim .
Sexta, 27 Julho 2012 17:22 0 Comentários .O PCTP/MRPP emitiu um comunicado em que acusa o presidente da Câmara, Macedo Vieira e o seu vice, Aires Pereira, de deixarem “cair o Varzim na segunda divisão, correndo mesmo o risco de descer aos distritais, completamente afogado em dívidas quando é sabido que a Câmara deve dinheiro ao clube”.
“Um clube histórico como o Varzim, com pergaminhos no futebol português, não se pode deixar afundar assim, sem o mínimo de sensibilidade”, lê-se no comunicado assinado por António Pedro Ribeiro, do PCTP/MRPP, que considera que Macedo Vieira e Aires Pereira “têm uma concepção mercantil e merceeira da política, à semelhança de Passos Coelho e dos patrões do PSD, não prestando apoio a associações com provas dadas na cultura da cidade (e não só...) como o Varazim Teatro”.
“A Câmara da Póvoa não tem uma política sustentável de desenvolvimento nem uma verdadeira política de intervenção cultural, estando ao serviço do lucro e dos grandes interesses económicos, ou seja, do capitalismo dos mercados que vai destruindo o homem e o planeta”, conclui o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses.
RÁDIO ONDA VIVA
quinta-feira, 26 de julho de 2012
TANTAS VIDAS
TANTAS VIDAS
Porque é que um verso
há-de valer menos
do que um golo?
Porque é que eles
ganham milhões
e tu nada?
Quem te pôs aqui?
Quem te amaldiçoou?
Porque enfrentas as feras?
Porque os insultas na cara?
De que bênção, deque maldição
vens?
Que Zeus, que Jesus, que Maomet?
Porque os vês hoje,
porque te tornas neles,
que demónios tens dentro de ti?
És a hybris, a desmesura
o animal de palco
a puta do rock
Morrison ressuscitado
em Braga
Marlon Brando
no "Apocalipse Now"
horror, horror
tantas noites
tantas vidas...
quarta-feira, 25 de julho de 2012
DA REVOLUÇÃO
Como dizem Guy Debord e Adolfo Luxúria Canibal somos meros espectadores da sociedade-espectáculo. Não entramos no jogo, outros jogam por nós. Assistimos passivamente ao espectáculo dos media e o poder, afinal, aqui tão perto. Como na Grécia e em Espanha lutamos com a polícia para ocupar o parlamento. Eis a acção directa. Para lá da revolução dionisíaca há a acção directa. Não deixemos mais que eles nos espetem a cara na lama como dizia Jim Morrison. Não deixemos mais que eles falem por nós. Não deixemos mais que eles nos representem. Construamos a revolução. A liberdade só pode ser absoluta. Reclamemos as nossas vidas. Aumentemos as nossas vidas, como dizia Henry Miller. Não os deixemos mais fazer a nossa mente. Readquiramos a nossa alma. O melhor governo é não existir governo nenhum ou então que venha um governo de filósofos, de homens e mulheres virtuosos, sábios, íntegros. A democracia burguesa está em decadência, tal como a União Europeia. Derrotemos os pregadores da morte e os arautos da finança. Sejamos de novo homens nobres como Sócrates, Platão, Shakespeare, Nietzsche. Não sejamos mais os cegos governados por imbecis, nas palavras de Shakespeare. Somos homens, mulheres, porra! Não somos macacos. Não temos de passar a vida a obedecer. Revoltemo-nos. Ocupemos a rua. Cerquemos os parlamentos. Ocupemos a televisão. Dinamitemos a bolsa. Acabemos com os mercados e com os credores. Nada devemos a ninguém. Somos livres. Absolutamente livres. Este é o novo dia. O dia do homem destruidor e criador. Esta é a era do espírito. Irmãos, irmãs, cantemos. Não deixemos mais que eles nos imponham uma forma de vida, uma fórmula de vida, um modelo de comportamento. Acreditamos, como Rousseau, na bondade, no bem, no belo. Eles não podem mais destruir a nossa alma, o nosso pensamento, a nossa honra. Caminhemos como deuses sobre a Terra. A era do negócio vai chegar ao fim. Irmãs, estou a falar-vos do amor. Companheiros, companheiras, recuperemos Dionisos e a poesia, derrotemos os cinzentos, os financeiros, os burocratas. Não somos sequer da espécie deles. Tomemos a revolução nas nossas mãos. Rebentemos com os bancos. Queimemos o dinheiro.
terça-feira, 17 de julho de 2012
DERROTEMOS A MÁQUINA
Por muito que aqui na confeitaria se continuem a servir cafés, por muito que haja uma aparente serenidade, o caos e a barbárie estão à porta. O amor perde-se, o amor louco de Breton já quase não existe, já quase não há paixões como as de Ulisses e Penélope, de Romeu e Julieta, o amor é cronometrado, mercantilizado, controlado pelos relógios e pelo trabalho, o amor é aprisionado, escravizado. As relações entre as pessoas são movidas pelo interesse, luta-se por um emprego, por um lugar, por uma promoção, por um tacho. As próprias conversas primam pela falta de imaginação, pela vulgaridade, pela rotina. Fala-se de futebol 24 horas por dia, sete dias por semana. Mexerica-se. E depois "está tudo bem", está sempre tudo bem, sempre a mesma vidinha, o mesmo trabalhinho (quando o há), sempre o recolher a casa, o olhar para a TV, o injectar telejornais, concursos, telenovelas.
Onde está o sol? Onde está o céu? Onde está a beleza dos pássaros? Onde está o homem livre? Certamente que não aqui, Sócrates, tu que pregavas o conhecimento e a virtude. Este é o homem destroçado. Este é o homem que permanece na caverna. Que já nem as sombras discute. Este é o homem morto. Este é o homem que precisa acordar. Regressemos aos xamãs e a Dionisos. Busquemos a alma perdida. Falemos como no princípio do mundo. Homem e mulher. Sozinhos no mundo. Dêmos as mãos. Amemo-nos. Falemos do que vem do espírito. Chamemos as musas. Regressemos ao uno primordial, à poesia. Dancemos em redor da fogueira. Celebremos o novo começo. Celebremos o caos e a revolução. Mas também o amor. A alma que entra em contacto com a beleza. Desliguemo-nos do dinheiro e do capitalismo. Passemos para o outro lado. Sejamos totais. Derrotemos a máquina.
domingo, 15 de julho de 2012
O ÚNICO
O que vêm as pessoas fazer ao mundo? Trabalhar, falar sempre do mesmo, comer, beber, viver no medo do papão que pode ser o chefe, o governo, os mercados. Só as crianças ainda divergem, correm sem uma direcção definida, brincam. De resto, aparte as aparências, anda tudo muito ordenado. Alguns, como Jim Morrison, foram contra a corrente: "ó grão criador dos seres/ concede-nos uma hora mais/ para representarmos as nossas artes/ e completarmos as nossas vidas". De facto, se estamos na vida devemos dignificá-la, devemos completá-la. No fundo, continuamos a ser crianças, agora amigas da sabedoria, da música, da poesia. A rir soberanamente do direitinho, do ordenadinho. A rir na cara dos deuses do capitalismo.
Andar à solta, gozar com o instituído. Ser um ser de luz, um iluminado. Sair dos trilhos. Ser um louco divino como Morrison, como Blake, como Whitman. Ser um actor, não se deixar levar pela televisão nem pela máquina. Ser único, não ser apenas mais um. Ser autêntico, puro, como no nascimento.
sábado, 14 de julho de 2012
O BANQUETE
Segundo Sócrates, trazem-se as crianças ao mundo no sentido de elas alcançarem a sabedoria e a verdade e aperfeiçoarem a sua alma. Ora, a maioria dos pais transmitem aos filhos o valor do sucesso material com uns resquícios de cristianismo. O passar por cima dos outros, o empurrar, o ser "o melhor" à custa dos outro, dissimulados pela moral burguesa, são inculcados na família, na esco...la, no trabalho, nos media. Ao convertermos as crianças às leis do capitalismo vamos destruindo a vida e o sentido da vida, o estar aqui, a eterna curiosidade, o prazer da descoberta. As crianças, salvo as excepções que sempre aparecem, tornam-se adultos competitivos, invejosos, intriguistas, medrosos, quase sem alma. Em suma, vêm ao mundo fazer número, levando uma existência ignorante, entediante, sem novidade, sem amor, sem verdadeira paixão. Quando, no fundo, deveriam vir para se constuirem, para construirem o homem, para partilharem a sabedoria mas também para rirem, para estarem à mesa do grande banquete.
SENHORES SEM ESCRAVOS
Porque não somos espontâneos como quando éramos crianças? Impuseram-nos regras, as necessárias e as não necessárias, começaram a adaptar-nos ao mercado, ao ganhar a vida, estrtagaram o que nós éramos. Alguns de nós, a dada altura, revoltamo-nos. Ouvimos certos discos, lemos certos livros, vimos certos filmes, conhecemos certas pessoas e chegámos à conclusão que a lógica disto está errada. Que o nosso pensamento, que o nosso espírito ultrapassa a prisão imposta pela economia. Claro que depois pagámos um preço. Dificilmente nos adaptaremos a determinado emprego. Dificilmente seremos aceites em determinados círculos. Mas, em contrapartida, somos livres. Quanto aos outros, cumprem a vida. Nascem, trabalham, morrem. Mesmo os seus lazeres são controlados. Não, de facto, não viemos para isto. Viemos para a celebração, para o amor, para a dádiva. Bebemos dos grandes. Vivemos poeticamente mesmo que estejamos deprimidos, tristes, abatidos. Amamos a vida, não a morte em vida. Escrevemos, pintamos, subimos ao palco. Não, não nos atireis a sociedade-espectáculo, não nos enganais com as imagens televisivas, com aqueles que supostamente vivem por nós a nossa vida. Nós estamos para lá. Nós abandonámos o vosso jogo, atirámos a bola fora. Por isso, resistimos. Por isso, seguimos a nossa via. Outros o fizeram no passado. Chamaram-lhes loucos, infames, malditos. Mas nós continuamos aqui. Vivemos o instante. Não aceitamos que nos imponham uma forma de vida. Não aceitamos pagar a vida. Não aceitamos que nos digam o que fazer. Não somos como vós. Não viemos para ser como vós. Somos senhores sem escravos. Renegámos os vossos deuses.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
A DÁDIVA E O GANHO
Textos de António Pedro Ribeiro
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Edição 80, 13 Julho 2012
A DÁDIVA E O GANHO
O pão com queijo que a nossa mãe nos dava na infância, era dado, não ganho. Havia um mundo de descobertas, "um mundo dominado pela magia", como diz Henry Miller. A vida da infância parecia "um universo ilimitado", enquanto que a vida de adulto parece "um reino a diminuir constantemente". Obter o pão passa a ser mais importante do que comê-lo. Perde-se o valor da dádiva, tudo se torna calculado e com um preço. O capitalismo apodera-se das nossas mentes na escola, nos media. "Ninguém dá nada a ninguém", diz-se. Seres humanos passam fome nas ruas. É um mundo cão, com pouca generosidade, com pouca bondade. E a situação tende a agravar-se. Porque é que a vida não é dada como na infância? Porque nos impõem a luta pelo ganho, pela sobrevivência? Porque temos de seguir sempre a mesma via?
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O MEDO DO MERCEEIRO
Como diz o filósofo José Gil, a poupança, a economia, o apelo ao sacrifício corresponde à "redução do espaço de expansão dos corpos, de investimento afectivo, de liberdade corporal, de espontaneidade do desejo", ao "controlo permanente, à autodisciplina mutiladora da vontade de vida (e da vida da vontade)". Por isso, o capitalismo dos mercados e o discurso e a prática do governo são em si mesmos castradores. Geram cidadãos obedientes, pequenos, cumpridores, sem uma ponta de criatividade ou de excesso. A máquina de propaganda, o "Big Brother" está sempre aí a formatar, a encarreirar os carneiros, com cada vez menos opiniões próprias sobre a coisa pública, limitando-se à vidinha e à contemplação de imagens televisivas. Eis o merceeiro, o homem do medo, do calculismo e das pequenas vantagens. Não foi para isto certamente que nascemos, que a vida nos foi dada, não foi para isto que brincávamos na infância. Não é esta a vontade de vida, a vontade soberana.
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quinta-feira, 17 de maio de 2012
O POETA
O poeta é publicado nos jornais. É lido e, quiçá, discutido. Agora olha a gata branca. Para os gatos o tempo é circular, é o eterno retorno. Para o poeta há dias incendiários, outros tranquilos como este. Ainda assim o poeta não faz da vida uma guerra, a luta pela existência. Tem dias tristes, deprimentes mas tem outros de vida plena. Vai conhecendo os homens e as mulheres. Não se inscreveu em campeonatos nem sente inveja. Preocupa-se com a construção de si mesmo e do homem. Muitas vezes veste a pele do cidadão respeitável. No entanto, em certas ocasiões sai da linha. Consegue ser fogo, embriaguez, vida. Mesmo quando está aparentemente em sossego como agora. E assim se faz o poema. Mesmo que não venha em verso. O poeta escreve calmamente. Mas sabe que a sua escrita queima. Contudo, agora é a paz que deseja. Com os gatos e os pássaros. O poeta escreve calmamente.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
PLENAMENTE ÚNICO
"Quem não for como toda a gente, quem não pensar como toda a gente, corre o risco de ser eliminado" (Ortega y Gasset, "A Rebelião das Massas")
Desde a infância que temos de seguir o caminho da normalidade. Temos de nos integrar no grupo para sermos aceites. Temos de concordar com o grupo, com a maioria, com a "felicidade da maioria". Temos de arranjar um emprego, temos de assentar, de abandonar as "loucuras" da juventude, temos de ser cidadãos sérios e cumpridores. A TV leva-nos a pensar como toda a gente, a aceitar a existência de um governo, a ser o homem médio, das "meias-medidas". Ora, o homem é muito mais do que isso, é aquele que se constrói, aquele que procura. É também o poeta, mas não o versejador da corte, aquele que ama desesperadamente a dama, que segue o caminho que conduz a si mesmo, como diz Nietzsche, que procura o conhecimento, a arte e a glória. É aquele que desafia as convenções, o tem que ser, as linhas rectas. Por isso não suporta ser dominado pelo grupo, pela sociedade, pelos poderes, pelos polícias. Tem uma voz original, que se destaca das outras. Às vezes é louco, outras extremamente lúcido. Todas as castrações o perturbam, quer ser plenamente livre, plenamente vivo, plenamente único.
sábado, 12 de maio de 2012
O GRANDE LIVRO
Tenho a garra e a voz expressiva, segundo rezam as crónicas. Já aos 20/21 surpreendia no Tuaregue em Braga. Agora quero uma mulher mas quero também a glória. Preencho cadernos e cadernos. Não sei se se vão perder. O sr. Tiago cumprimenta-me. Compenso a preguiça de há pouco com o esgalhar da escrita. Há dias em que durmo horas e horas ou que simplesmente fico na cama, outros em que passo a noite acordado, é aquela vontade de não perder o instante, de agarrar a vida com todas as forças. Mesmo não sendo um realista, longe disso, sou realista, hiper-realista na escrita. Alguns investigam muito para escrever romances, eu investigo para o grande livro, que não sei quando virá. Escrevo para me manter vivo. Quando vou à cidade estabeleço diálogos com outros cidadãos. Política, literatura, arte, filosofia. O que é certo é que a extrema-esquerda vence na Grécia. O que é facto é que tenho a vida toda à minha frente. A vida é minha. O vosso bombardeamento já faz menos efeito, ó reis da máquina.
A criança detém-se diante de mim. Quem virá a ser? Vem-se ao mundo e deixa-se marca num círculo muito restrito. Eu quero mais do que isso. Eu quero entrar nas mentes e nos corações. Tenho amigos e amigas. Não estou com eles todos os dias. Há dias, tardes, em que fico assim. Escrevo, leio, não paro de escrever. Porque raio não crio personagens?
sexta-feira, 11 de maio de 2012
A NOVA ESPERANÇA
Edição 78, 11 Maio 2012
A NOVA ESPERANÇA
O resultado histórico da coligação de esquerda radical (Syriza) nas eleições legislativas na Grécia e as descidas vertiginosas da Nova Democracia (direita) e do PASOK (socialistas) significam a derrota das medidas de Berlim e da troika, bem como das receitas de austeridade. Há uma nova força, a que se juntam outros partidos de esquerda e de extrema-esquerda, que não aceita uma Europa que se reduz à finança, uma pretensa democracia ao serviço dos banqueiros, dos especuladores, dos tecnocratas, um pensamento único que tanto agrada aos comentadores do regime que começam a meter os pés pelas mãos. Da Grécia vem uma nova esperança, que já era visível nas manifestações de Atenas, que não aceita que a vida se resuma a uma fórmula única e irreversível. Começamos a ficar realmente fartos dos homens do centro e da direita, dos homens do negócio e do pacto orçamental, do homem das meias-medidas, do meio-homem. A revolução está próxima.
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OS MEIOS-HOMENS E O HOMEM INTEIRO
De que falam as pessoas? Porque vivem? Não faz sentido viver para trabalhar. Não faz sentido viver para andar atrás do dinheiro. Porque não ser pleno? Porque não criar, transmitir a criação e depois descansar? A maior parte das conversas nada me dizem. A maior parte das conversas nada acrescenta de novo, nada tem de criativo, de poético. O que faz aqui o homem? Porque tem de trabalhar, de andar atrás do dinheiro? Porque é que o dinheiro há-de ser mais de uns do que de outros? Porque é que há ricos e pobres, opressores e oprimidos? Porque hei-de aceitar isso como uma fatalidade? Porque não hei-de estar no princípio do mundo? Porque não hei-de nascer outra vez? Que forças me impedem? Porque não hei-de escrever como Shakespeare ou Nietzsche? Que forças me impedem de ser pleno, aqui nesta cidade (Braga) que me adoptou, que me mostrou a noite e a vida? Porque não me hei-de interrogar como Hamlet? Foi para nos andarmos a enganar-nos uns aos outros, a guerrear-nos uns aos outros que viemos? Para que viemos? Porque é que os nossos pais nos trataram com amor e carinho? Que maldição se abate sobre nós a partir do momento em que nos encaminham para o mercado de trabalho, para a máquina? Porque é que só às vezes nos é permitido sermos autênticos, livres, felizes? Porque é que não podemos beber sempre da taça? O que é que nos impede de brindar agora? O que é que nos obriga a fazer o que o governo ou outro patrão qualquer nos manda? Porque é que alguém há-de mandar? Porque é que existe um Estado ou um chefe? Porque não havemos de celebrar a vida noite e dia? Quem nos obriga a trabalhar e a ganhar dinheiro? Que estamos a fazer aqui? Rimo-nos às vezes, quando nos rimos, vendem-nos umas beldades inacessíveis na televisão, vá lá que a nós, criadores, nos roubam menos o tempo. Estão sempre a roubar o tempo à esmagadora maioria dos homens. É isso que fazem. Não, não percorremos as ruas de Atenas com Sócrates e Platão. Não temos o vagar de dialogar livremente, de procurar a virtude e a sabedoria. Estão sempre a roubar-nos o tempo, a afastar-nos. E depois muitos contentam-se com as vitórias do futebol. Mas, no dia seguinte, acaba. Regressamos ao tédio e ao trabalho. Vivemos a vida a prestações. E depois tudo parece tranquilo, boas maneiras, euromilhões. É a felicidade de plástico. Somos meios-homens, meias-mulheres, o homem das meias-medidas de que falava Nietzsche. Porque não somos inteiros? Porque não o banquete permanente? Porque nos vêm pregar o sacrifício e a morte em vida? Quem são eles para pregar seja o que for? Pelo contrário, são eles que perseguem os verdadeiros profetas, o super-homem, são eles que os crucificam. Mas a culpa também é dos que os colocam lá, dos que, no último instante de soberania que lhes é permitido, os elegem. Também eles crucificam os profetas e os super-homens. Também esses os abandonam no palco ou na praça pública, também esses os deixam sem trocos, sem abrigo, sem nada. Como se escrever ou pregar não fossem actividades que exigem um esforço, dedicação, como se não fossem actividades superiores.
Porque raio temos de aceitar estes juízes que nos impõem? Porque raio tanta gente os aceita e apoia? É o medo. Vivemos no medo de perder o emprego, de perder o dinheiro, da morte, da doença. A máquina de propaganda do capitalismo contribui, e de que maneira, para nos meter esses medos na cabeça. Não, assim nunca seremos livres. Assim nunca nos sentaremos à mesa do banquete. Contentamo-nos com umas migalhas que nos vão dando, com umas saídas à noite, com umas idas ao cinema, com uns copos aqui e ali, com umas sessões de poesia. Só a espaços somos plenos, completos, inteiros. Depois vem sempre o trabalhinho, a obrigação, o sacrifício. Estamos longe da festa, do banquete, da embriaguez permanente. Inventamos sempre juízes, deuses, o deus único, os governos que nos vêm punir se nos portamos mal como as criancinhas. O medo. Sempre o medo. O relógio maldito. O tempo que nos roubam, a vida que nos roubam.
terça-feira, 8 de maio de 2012
A IMENSA SOLIDÃO
Estranha alegria sinto eu hoje. Uma estranha comunhão com o mundo. Apesar da máquina, da propaganda, do capitalismo, as pessoas sorriem para mim, tratam-me bem. Apesar de eu ser o poeta do caos há uma harmonia no ar, como se a guerra entre os homens estivesse distante. Apesar de se continuar a falar de contas e de trabalho, hoje sinto um certo estado de graça como se tudo me fosse dado de graça, como se estivesse a nascer outra vez. Que relação tem a minha mente com a da mulher em frente (terá a minha idade) com a criança? Talvez o amor, o carinho. De resto, seguimos caminhos completamente diferentes. Aparentemente fui muito bem até ao 12º ano. Aparentemente, pois era muito tímido, pensava muito, só tinha dois amigos: o Jorge e o Rui. Depois os Doors e o Jim Morrison deram-me a volta à cabeça, comecei a ler, lia muito. Então fui para o Porto, para a Faculdade de Economia, sentia-me só, muito só, deslocado, comecei a entrar em ruptura com a economia e com a finança. Saía à noite em Braga, conheci a noite e os concertos em Braga. Braga acolheu-me. Nunca o esquecerei. Tornei-me um rebelde, mesmo que ficasse meses paralisado com as longas depressões. Não assentei. Não casei. Não tive filhos. Abracei causas políticas, revolucionárias. Publiquei livros. Fiz performances, cantei em bandas, disse poemas. Fiz rádio, publiquei em jornais e revistas, fui funcionário e dirigente do Jornal Universitário do Porto, fui jornalista. Integrei e fundei movimentos anti-praxe. Não segui realmente a via da normalidade, do assentar, do trabalho certo, do relógio. Esta gente, a maioria clara, seguiu essa via. Muitos deles e delas contentam-se com primarismos intelectuais, com futilidades, com músicas pimba. Muitos deles, muitas delas não têm pura e simplesmente capacidade de raciocínio e têm a imaginação castrada. Por culpa da máquina mas também por culpa própria. Daí que tenham seguido sempre dentro dos trilhos, em linha recta. Se houve momentos em que questionaram a máquina depressa se deixaram levar pelo canto desta. Por isso fui diferente. Houve pessoas, livros, discos, filmes, peças de teatro que me fizeram divergir, sair dos trilhos. E é assim que cheguei aqui hoje vivo, apesar das depressões, apesar dos fracassos, apesar da imensa solidão. Imensa solidão que também me fez descobrir o caminho que conduz a mim mesmo, imensa solidão que também me ajudou a afastar-me da máquina.
A NOVA ESPERANÇA
O resultado histórico da coligação de esquerda radical (Syriza) nas eleições legislativas na Grécia e as descidas vertiginosas da Nova Democracia (direita) e do PASOK (socialistas) significam a derrota das medidas de Berlim e da troika, bem como das receitas de austeridade. Há uma nova força, a que se juntam outros partidos de esquerda e de extrema-esquerda, que não aceita uma Europa que se reduz à finança, uma pretensa democracia ao serviço dos banqueiros, dos especuladores, dos tecnocratas, um pensamento único que tanto agrada aos comentadores do regime que começam a meter os pés pelas mãos. Da Grécia vem uma nova esperança, que já era visível nas manifestações de Atenas, que não aceita que a vida se resuma a uma fórmula única e irreversível. Começamos a ficar realmente fartos dos homens do centro e da direita, dos homens do negócio e do pacto orçamental, do homem das meias-medidas, do meio-homem. A revolução está próxima.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Sou o poeta do Piolho
tenho o meu livro "Café Paraíso"
exposto no Piolho
ouço a conversa da mesa do lado
o Carlos Pinto já se foi
o Joaquim Castro Caldas já se foi
o João Ulisses já se foi
O Rui Costa já se foi
eu continuo aqui
talvez vá muita gente
ao meu funeral
mas chega de lamúrias
o que é facto
é que continuo aqui vivo
venho á cidade
e encontro este e aquela
sou um poeta
isso sei que sou
isso ninguém me tira
não gosto de governos
nem de gajos a mandar
se alguém me dirigir a palavra
eu respondo
aos 18/19 anos em Braga
toda a gente falava com toda a gente
o pessoal abraçava-se ao som dos Doors
isso perdeu-se
as pessoas fecham-se em grupos
não há aquela espontaneidade
aquela liberdade
anda tudo muito controlado
mesmo que não pareça
eu continuo aqui vivo
sem culpas nem obrigações
não segui a via do economista
nem do merceeiro
por isso me sinto livre
mesmo que olhe para o relógio
o governo não vem dar-me palmadas
de vez em quando subo ao palco
gosto de lá estar
é outra dimensão
comecei cedo
depois fiz umas paragens
agora aqui estou
o poeta do Piolho
o poeta no Piolho
acredito que posso ir mais longe
chegar onde nunca cheguei
sigo pela estrada larga
sou aquele que sou.
Porto, Piolho, 30.4.2012
CAFÉ
O café é a droga que faz o meu cérebro funcionar
sem café não conseguiria ler nem escrever nem estudar
sem café não estaria aqui á mesa a divagar
sem café não conseguiria passar as ideias
para o papel
por isso tenho de tomar, pelo menos,
dois cafés por dia
por isso venho ao café tomar café.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
OS BÁRBAROS DO "PINGO DOCE"
A barbárie já chegou a Portugal. No 1º de Maio, Dia do Trabalhador, uma massa de gente agrediu-se e atropelou-se a troco de uns descontos no “Pingo Doce”. Bárbara é a atitude do dono do “Pingo Doce” que põe os trabalhadores a trabalhar no 1º de Maio em condições miseráveis. Bárbaro é o seu oportunismo financeiro. Mas bárbaros são também aqueles que, sem qualquer ponta ...de dignidade, invadem os supermercados no 1º de Maio e se batem por um naco de carne. Passos Coelho e o Alexandre do “Pingo Doce” conseguiram levar o país até à barbárie. Afinal, o respeitinho, os brandos costumes e as boas maneiras são só de fachada. Bastaram umas promoções para virem ao de cima, além da pobreza e da miséria, os instintos básicos do salve-se quem puder, do egoísmo, do fechamento na família, do primitivismo intelectual, da inveja, da falta de humanidade. E isto ainda está no princípio…
segunda-feira, 30 de abril de 2012
AMOR, LIBERDADE, POESIA
Amor, liberdade, poesia. Eis o que nos permite combater a sociedade do medo, do controlo, do mercado. “O amor brotou de uma incrível força de vida, que transfigura a vida. Liga-nos ao outro, ao mesmo tempo que nos restitui a nós mesmos. (…) O amor suscita uma quase divinização para um ser de carne, sangue e alma”, afirma o sociólogo Edgar Morin. É essa força de vida que no...s faz viver para viver, ou seja, poeticamente, que nos aproxima do divino ou que até nos faz atingi-lo. Se formos afecto, se formos capazes de criar arte ou valores, se nos libertarmos das imposições da máquina do cálculo e dos mercados seremos seres integrais, plenos. Temos de ser capazes de comunicar, de dialogar com o outro que ainda está receptivo, curioso, temos de ser capazes de dar ideias e amor, de fugir a tudo o que nos castra, que nos inibe, que nos impede de expressar livremente. Temos também de ser capazes de fazer crescer o nosso eu interior, de o alimentar de amor, conhecimento, poesia. Temos de ser contrários a tudo o que o capitalismo impõe: a inveja, o culto do ganho, a usura, a competição. Temos de nos descobrir a nós mesmos, de desenvolver ao máximo as nossas potencialidades, de viver plenamente, mesmo que eles não queiram, mesmo que eles tudo façam para nos diminuir, para nos deprimir, para nos inibir, para nos reprimir.
sábado, 28 de abril de 2012
O ÚLTIMO HOMEM
Edição 77, 13 Abril 2012
CULPADOS
Aumentam os sem-abrigo na cidade do Porto, aumentam os casos de depressão e suicídio, muita gente está a ficar endividada e sem dinheiro. Eis a Europa de Merkel, eis os seus empregados portugueses, eis a terra prometida de Obama e dos mercados. Os seres humanos são tratados abaixo de cão, são abandonados a um canto, nas ruas da cidade ou então sofrem sozinhos perante um mundo cão que não lhes dá amor, apoio, liberdade, dignidade. Passos Coelho, Merkel e a troika são mesmo culpados da morte, da solidão e da infelicidade de milhões de portugueses. Entretidos a fazer o jogo dos especuladores e dos banqueiros são incapazes de um gesto de humanidade. Só há poder e negócios dentro daquelas mentes. Não merecem sequer que lhes chamemos seres humanos, são sub-homens, sub-mulheres. Eles e todos os seus criados e todos os que os seguem. Não são sequer dignos que lhes dirijamos a palavra. Merecem cair.
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O ÚLTIMO HOMEM
Segundo Allan Bloom ("Gigantes e Anões"), para Nietzsche, a democracia liberal é o lar do "Último Homem", um ser sem coração e sem convicções, uma marioneta dedicada à preservação e ao conforto. Eu vejo esse "Último Homem" aqui no café. Apenas sente amor pela família e aproxima-se dos outros homens graças ao medo da morte e da solidão. De resto, nada de elevado, de nobre, as conversas são perfeitamente banais e superficiais. O último homem, o homem burguês deixa-se levar por cançonetistas pimba, por programas que exploram os sentimentos primários, por "reality-shows", por notícias manipuladas. Não há convicções, tanto se vota no PSD como no PS. O último homem fala do sustento, do conforto, das doenças, do dinheiro ao fim do mês. Em suma, uma tremenda vulgaridade, um bocejo permanente. Deseja-se que as crianças sigam a linha dos pais e que venham a ganhar muito dinheiro, porque isso corresponde á felicidade. Daí que as crianças estejam limitadas à partida, apesar dos beijos e dos carinhos, a menos que se venham a revoltar contra a máquina. No fundo, estamos perante um sub-homem, incapaz de criar, que se limita a reproduzir o sistema e a imitar, por medo, o parceiro do lado. Não há qualquer enriquecimento ou engrandecimento do eu nem criação de valores. Estamos muito longe do homem superior de Nietzsche.
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sexta-feira, 13 de abril de 2012
ÀS PORTAS DO NOVO MUNDO
Ao longo destes anos, não obstante as minhas aparições públicas, tenho sido o homem da solidão. A solidão permite-me pensar, observar o mundo, tirar conclusões. Como diz o dr. Jorge Marques, ganhei uma ocupação. Apesar de nos últimos 20 anos ter estado sobretudo com a Gotucha, tenho sido o homem da solidão e da escrita. Haverá poucos como eu no mundo. Bem sei que há escritores profissionais mas estou certo que poucos vivem a escrita como eu. Eu vivo aquilo que escrevo. Escrevo ao ritmo do coração. Combato a depressão. Falo com a D. Rosa de coisas aparentemente triviais. Tomo três cafés, bebo cerveja. Realmente debruço-me sobre o mundo. E o entusiasmo e a vontade voltam. Aparentemente pouco se passa. Os carros passam lá fora. A televisão passa mulheres boas. A empregada da confeitaria recolhe as chávenas. Um homem fala ao telemóvel. Outro homem, que é escritor, escreve. O talho em frente. A revolução não é aqui nem é hoje. Por isso, o homem questiona os próprios revolucionários. Pensa que a maior parte deles ainda não compreendeu a dimensão do problema. É o próprio homem que está a ser destruído. O capitalismo dos mercados altera o homem, retira-lhe a dimensão do êxtase, do amor, da poesia. É certo que há homens que nunca tiveram essa dimensão mas os jovens, as crianças poderiam atingi-la. Esta máquina se não os atira para o conformismo, para o niilismo, atira-os para o caos, para a barbárie. E os revolucionários andam demasiado ocupados com a economia, com os bolsos dos trabalhadores e esquecem a alma. Precisamos de homens de alma, nobres, só os homens de alma serão capazes de se libertar da influência da máquina, de a pôr em causa, de se unirem contra a máquina. Será realmente necessária uma revolução no pensamento, uma verdadeira emancipação dos homens. Como já vem acontecendo em Atenas e Barcelona. A palavra de ordem é mesmo desmontar a máquina que nos atiram todos os dias à cara via TV, via outros media. Não podemos ficar à espera de maiorias. Só uma grande minoria tomará consciência da situação. Digamos que uns 20% serão suficientes. Não deixemos que os banqueiros, os especuladores e os economistas assassinem o homem. Ergamos a espada do amor, da fraternidade, da criação, da poesia, do pensamento, da filosofia. Só assim lá chegaremos. Pensemos realmente no que se está a passar, no que nos estão a tirar. Pensemos realmente que eles são os inimigos da vida. Pensemos realmente que isto não pode cair na barbárie ou na ditadura. Pensemos que está tudo nas nossas mãos e nas nossas cabeças. Matemos o capitalismo dentro das nossas cabeças. Entreguemo-nos ao amor, à arte, à poesia. Derrotemos os nossos inimigos internos e externos. Pensemos. Pensemos realmente no que está em jogo. Sejamos lúcidos mas não deixemos que eles nos roubem também a nossa loucura. Estamos às portas do novo mundo. Não o esqueçamos. Ele está nos nossos corações e nas nossas mentes, nas nossas almas. Acreditemos. Espalhemos a Boa Nova.
VIVER PLENAMENTE
O homem e a mulher comuns preocupam-se essencialmente com a sua auto-preservação e com o enriquecimento material. Vivem no medo e no medo da morte e da doença. Não conhecem nem procuram os grandes livros e as grandes obras de arte. Por isso, só a espaços alguns deles são tocados pela beleza ou pelo divino. Além do mais, são permanentemente bombardeados pela máquina de propaganda do capitalismo dos mercados e deixam-se levar por ela. Já o poeta e o filósofo amam o conhecimento, a criação, a virtude. Não podem viver em função da sobrevivência, procuram o que não tem preço, procuram viver plenamente a vida.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
SAPIENS-DEMENS
O poeta é publicado nos jornais. Escreve crónicas que, às vezes, não são bem crónicas. São estados de alma. O poeta deveria continuar a trabalhar, a investigar. Mas faz uma pausa para criar ou, pelo menos, para acrescentar algo ao mundo. Acredita que isto tanto pode desembocar no caos como no novo homem. Olha as crianças. Quem virão a ser elas? Porque as estragam? As mulheres dão-lhes estes mimos todos mas depois elas crescem, passam a servir a máquina, o mercado, a ideologia dominante. Cedo deixam de questionar os mistérios do mundo. Tornam-se seres limitados, finitos. O seu espírito não evolui. Não se passa para o outro lado nem volta. O poeta é diferente. Vai e volta. Não tem aquela destreza nos trabalhos manuais. Não é o "homo faber". É mesmo o "sapiens-demens". O próprio espírito, a alma. Em volta disso gira a sua vida.
O POETA
Agora sei que estou certo. Sei que devo combater a economia, o homem burguês, o sentido prático. Sei que devo seguir o espírito, o pensamento, a liberdade. Com Edgar Morin sei que a alternativa à globalização técnico-financeira é a globalização das ideias, do amor, da poesia, da criatividade. Nesse sentido devo criar, criar para o novo homem, para o novo mundo. Essa é a minha tarefa aqui na Terra. Já em miúdo me interrogava sobre o porquê das coisas, já em miúdo questionava o homem. Sou mesmo uma espécie de profeta, de rei de outras eras. Tenho em mim Jesus e Zaratustra. Há dias, noites em que vejo a luz. Desde a infância que sou diferente. Há dias, noites, em que me deixo levar pelo álcool, em que procuro companheiros e companheiras para celebrar mas poucos, quase nenhuns me compreendem. Sempre soube que queria algo mais que a realidade rotineira. A partir de certa altura soube que estava na estrada do excesso. Não há volta a dar-lhe. Não vim para as tarefas domésticas, não vim para o ganhar dinheiro. Sou um homem do pensamento. Sei que as alternativas ao novo mundo são a tirania, que já vai existindo, e a barbárie. Cabe ao homem de pensamento construir um novo homem dentro e fora de si. Com os seus demónios, os seus deuses, os seus fantasmas. É um combate que se trava dentro de si mesmo. Poucos são realmente capazes de o compreender. Mas ele sabe que está a construir algo de real, algo de profundo. Que desde os 18/19 anos, desde a revolta contra a economia e a finança, que tem razão. Sabe-o através dos grandes poetas, sabe-o através dos filósofos. Tem razão mesmo que, muitas vezes, saia da razão. Sabe. É ele o poeta. É ele Hamlet, Artur, Quixote. É ele que duvida, é ele que se interroga, que reconhece a superioridade da filosofia. É ele que faz a poesia.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
A ALMA
Segundo Edgar Morin, a alma "só emerge verdadeiramente além da luta pela sobrevivência e para além do trabalho duro. A alma não é perceptível ao olhar funcionalista ou pragmático visto que, aparentemente, não tem qualquer função nem utilidade". A nossa salvação só pode estar na alma. Ela é a linguagem da poesia e da música, do homem criador, daquele que alcança o conhecimento e a beleza. É ela que traz igualmente o amor, que traz Merlin, Eros, Dionisos, Jesus. Só através da alma construiremos um mundo novo. Um mundo que atravessa o caos mas vai dar à harmonia, à festa, ao divino, à sabedoria. Esse é o caminho que temos de percorrer.
AS MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES
Para criar ou para dizer o que há muito não é dito temos à nossa disposição 26 letras. É sempre a partir daí, a menos que inventemos novas letras ou novas palavras, que podemos construir boa ou má literatura. Tudo depende da nossa imaginação, da nossa criatividade, da nossa curiosidade, da forma como pegamos no texto, como nos aventuramos pelas folhas adentro, há múltiplas possibilidades. A questão é mesmo chegar onde poucos chegaram ou, quem sabe, criar mesmo algo de totalmente novo. Daí que eu me esteja, neste preciso momento, a esforçar-me para fugir às temáticas que já tenho abordado, daí que eu esteja a tentar criar. Hoje é um bom dia para tentar. Abrem-se mundos, a mente está liberta. Vou tentar passar para o papel as explosões que neste momento se dão dentro da minha cabeça. Há uma luz. Várias vozes que me chamam. Infâncias que regressam. Tanto ouro. Tanto ouro. Eu sei onde. Eu era esse rapaz. Eu pensava, eu questionava. Depois houve o Jorge, o Rui. Amigos que me mostraram outras possibilidades, outras vias. A música, a literatura. Depois fui atrás do Morrison, do Mário de Sá-Carneiro, do Fernando Pessoa. Aos 18/19 anos escrevi alguns bons poemas. Digamos que comecei a desenvolver a arte. Escrevia de uma maneira diferente da de agora. Partia de ideias mas também de imagens. E são imagens que quero agora. Mas, voltando atrás, à ideia das múltiplas possibilidades, julgo que está muito aí, nas portas que se abrem. Há pessoas que nos influenciam mas nós depois seguimos esta ou aquela via. Eu nunca poderia ter sido economista, teria vergonha de mim próprio. Tinha as grandes depressões, ficava quase sem vontade, quase que vegetava mas depois, depois vinha aquela luz que me puxava. Questionava a vida que as pessoas levavam. A casa, o carro, o emprego, a sobrevivência. Hoje estou aqui, como Morrison, como Rimbaud, a dizer que a vida não se resume a uma forma única e irreversível. O que é muito mais do que ser anti-capitalista. É mesmo preciso trazer para cá a poesia, como diz Edgar Morin, não apenas a poesia escrita e dita mas também a poesia que já está na mente e nas coisas. Somos muito mais do que a sobrevivência. Somos a ideia. Alguns de nós somos sobretudo a ideia. Vamos atrás dela. Por isso abrimos as portas. O nosso caminho não tem que ser o do sucesso nem o do dinheiro, pelo menos daquilo a que se convencionou chamar sucesso. Este e aquela chegaram lá porque houve alguém que lhes deu um empurrão. É tudo relativo. Eu poderia ter tido aqui e ali mais sorte, passei pelas minhas castrações, frustrações, opressões mas, no fundo, nunca quis ser o homem médio, nunca quis seguir determinados caminhos.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
CUIDA-TE, MENINO
Senti-me a morrer esta manhã. Tive um forte ataque de apneia. Tens de cuidar-te, menino. Olha o que aconteceu ao Joaquim Castro Caldas, ao Jaime Lousa, ao João Ulisses, ao Carlos Pinto. Cuida-te, menino. Provavelmente não andarás muito mais tempo por aqui. Continuas a beber e pesas quase 100 quilos. Há dias em que andas contido, em que dás entrevistas ao Jornal de Notícias e à Antena 3. Depois começas a soltar-te. A cuspir poemas e palavras. Apetece-te pegar fogo, partir vidros como fizeste no passado. Já foste ao tribunal e à Judite, menino. Cuida-te, menino. És o mesmo menino que brincava com as meninas, que era muito tímido na escola, o melhor aluno da classe. Cuida-te, menino. Não vais andar por aqui muito mais tempo. Lês a "Ilíada" e julgas-te melhor do que os outros, menino. Ontem no Pinguim ofereceste poemas a toda a gente. és o menino e o grande bailarino de Nietzche. Baila, menino. Pode ser que tudo quanto queres te caia do céu.
sábado, 31 de março de 2012
DÁ-ME UMA PUTA
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