quarta-feira, 11 de abril de 2012

O POETA

Agora sei que estou certo. Sei que devo combater a economia, o homem burguês, o sentido prático. Sei que devo seguir o espírito, o pensamento, a liberdade. Com Edgar Morin sei que a alternativa à globalização técnico-financeira é a globalização das ideias, do amor, da poesia, da criatividade. Nesse sentido devo criar, criar para o novo homem, para o novo mundo. Essa é a minha tarefa aqui na Terra. Já em miúdo me interrogava sobre o porquê das coisas, já em miúdo questionava o homem. Sou mesmo uma espécie de profeta, de rei de outras eras. Tenho em mim Jesus e Zaratustra. Há dias, noites em que vejo a luz. Desde a infância que sou diferente. Há dias, noites, em que me deixo levar pelo álcool, em que procuro companheiros e companheiras para celebrar mas poucos, quase nenhuns me compreendem. Sempre soube que queria algo mais que a realidade rotineira. A partir de certa altura soube que estava na estrada do excesso. Não há volta a dar-lhe. Não vim para as tarefas domésticas, não vim para o ganhar dinheiro. Sou um homem do pensamento. Sei que as alternativas ao novo mundo são a tirania, que já vai existindo, e a barbárie. Cabe ao homem de pensamento construir um novo homem dentro e fora de si. Com os seus demónios, os seus deuses, os seus fantasmas. É um combate que se trava dentro de si mesmo. Poucos são realmente capazes de o compreender. Mas ele sabe que está a construir algo de real, algo de profundo. Que desde os 18/19 anos, desde a revolta contra a economia e a finança, que tem razão. Sabe-o através dos grandes poetas, sabe-o através dos filósofos. Tem razão mesmo que, muitas vezes, saia da razão. Sabe. É ele o poeta. É ele Hamlet, Artur, Quixote. É ele que duvida, é ele que se interroga, que reconhece a superioridade da filosofia. É ele que faz a poesia.

Sem comentários: