quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O QUE VIESTE FAZER À VIDA?


Alguma vez te perguntaste o que fazes aqui?
Porque és obrigado a seguir
Determinado percurso,
A estudar, a trabalhar, a assentar,
A ficar velho?
Quem te pôs essas ideias na cabeça?
Porque raio há-de ser como eles querem?
Porque não podes desbundar, gritar
A qualquer momento?
O que vieste fazer à vida?
Porque continuas dentro dos trilhos?
Porque agradas aos teus amiguinhos?
Porque hás-de fazer concessões,
Porque não segues o teu caminho?
Quem te obriga a seres o que não és?
A máquina? O dinheiro? O capitalismo?
Não passam de convenções
Dentro da tua cabeça.
Porque não sais do jogo?
Porque não os mandas à merda?

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A BARBÁRIE

Em 1845, em “A Essência do Dinheiro”, Moses Hess afirma que o capitalismo traduz a dominação exercida pelo deus-dinheiro sobre os homens, constituindo um sistema que coloca à venda a liberdade humana. O dinheiro é a essência e traz um mundo pior do que o da escravatura antiga porque “não é natural nem humano que alguém se venda a si próprio voluntariamente”. A tarefa do comunismo é, assim, abolir o dinheiro. Para Gustav Landauer essa tarefa não é aperfeiçoar o sistema industrial-capitalista mas ajudar os homens a redescobrirem a cultura, o espírito, a liberdade, a comunidade. Para outros, o capitalismo é traficar a alma, o espírito, o pensamento. Para Marx, exige-se “a revolta contra um mundo que transformou cada coisa numa mercadoria e degradou o homem, reduzindo-o ao estatuto de objecto”. Sim, temos o direito de exigir o homem integral. O poder do dinheiro pode destruir todas as qualidades humanas e naturais, reduzindo-as ao quantitativo. A troca de afectos é substituída pela troca do dinheiro por uma mercadoria. Não existe nada de mais abjecto do que o capitalismo e os seus mercadores e economistas. Reduzem tudo ao cálculo, ao deve e haver, ao orçamento. Cortam na vida das pessoas como se tratassem com objectos. A sensibilidade é substituída pela posse. Como dizem Michael Lowy e Robert Sayre em “Revolta e Melancolia”, “o ser, a livre expressão da riqueza da vida por actividades sociais e culturais, é cada vez mais sacrificado ao ter, à acumulação do dinheiro, das mercadorias e do capital”. O homem está fortemente condicionado na sua capacidade criativa pelas drogas que nos atiram todos os dias via media e por um mercado implacável. Segundo Lukács, “tudo deixou de ser avaliado por si próprio, pelo seu valor intrínseco – artístico ou ético – e apenas tem valor enquanto mercadoria vendível ou comprável no mercado”. É a barbárie, a selvajaria. Nem sabemos como ainda pode haver algum amor, algum diálogo, alguma filosofia. Eles estão a destruir o que de mais genuíno há no homem, esses merceeiros, esses moedeiros. Isto não é apenas a crise económica, isto não é apenas o irem-nos aos bolsos, isto é irem-nos à alma, destruírem os verdadeiros progressos da humanidade. Isto é destruir a vida. Não podemos mais aceitá-lo. Somos homens e mulheres. Não somos objectos, não somos notas e moedas.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

AO SOM DA GRÂNDOLA

Os ministros, onde quer que vão, estão a ser silenciados ao som da "Grãndola". Os ministros, acobardados, perderam o pio ao som da "Grãndola". O país está a virar ao som da "Grãndola". O país está a dançar ao som da "Grãndola". Os ministros estão a perder o poder ao som da "Grândola". O poder está a arder ao soim da "Grãndola". Os macacos dos mercados falam e falam mas não sabem o que os rodeia. Agora já sabes se a plateia te ama ou te odeia. Agora que todos eles te aplaudem ou te rogam pragas. Agora que deixaste a miúda. Agora tu és um revolucionário de corrida.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O MEU CAMINHO

Tive, claro, a influência dos meus pais, de alguns professores na escola. Houve também o "boom" do rock português aos 12/13 anos- os UHF, os Táxi, os Jafumega-, depois os Pink Floyd, as letras do Roger Waters. Os meus grandes amigos do liceu- o Jorge, o Rui- que me indicaram caminhos na música, na literatura. Depois vieram os Doors, o Jim Morrison. Nunca mais fui o mesmo. Poderia ter seguido outros caminhos. Vieram também as boas notas no 12º, o jovem promissor que eu era. Comecei a soltar-me, a falar com as miúdas. Veio a experiência traumática na Faculdade de Economia do Porto mas vieram também as noites e os concertos em Braga, o "Apocalipse Now", o "Assim Falava Zaratustra". Comecei a ler Marx, Lenine, Trotsky, os anarquistas. Escrevi os meus primeiros bons poemas. Poderia realmente ter sido outro. Mas fui seguindo a via, pondo em causa o sistema de ensino, as notas, o próprio capitalismo. Tive as grandes depressões, foram muito dolorosas. Não conseguia falar, comunicar, fugia das pessoas. Caí mas estou aqui hoje, pronto a enfrentar o inimigo. Fui eu que escolhi o meu caminho. Não foi a TV, não foi a moda, não foi o mercado, não foi o capitalismo. Fui eu que me construí, que construí a minha personalidade. Agora estou aqui.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A VIDA PELA VIDA

Leste Nietzsche, sobretudo "Zaratustra", e por isso achas absurda essa preocupação quase exclusiva com o sustento, com os trocos, o metro-trabalho-casa. Eles e elas lá vão levando a sua vidinha e há dias em que são mais felizes do que tu. Todavia, tu sabes que não vieste para o sustento, para o lar, para a família. Tens lar, tens família mas vieste para criar, para pensar o mundo. No fundo, achas ridículo o reino do dinheiro, dos especuladores, dos banqueiros. Achas ridículo tanto sacrifício, tanta preocupação, tanta guerra por causa das contas bancárias. Não é isso que te entusiasma. O que te entusiasma é o conhecimento, é a liberdade, é a vida pela vida. O que te entusiasma é o próprio pensamento. Daí que não suportes a incultura, a ignorância, a imbecilidade. O teu pensamento chega muito longe, ó poeta. É certo que conheceste pessoas muito inteligentes que acabaram na miséria: o Jaime Lousa, o Sebastião Alba. No entanto, no fundo, tens a esperança de um dia vires a ser realmente reconhecido. Sempre foste um dos mais inteligentes. Sabes que isto pode cair na barbárie, como já cai na imbecilidade tipo "Preço Certo" ou outros programas televisivos. Não tens que te vender. Tens de prosseguir o teu trabalho de investigar o homem e a vida, com o objectivo de entregar o homem à vida porque nada está acima da vida.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

CONFUSÃO


Tenho poemas que são estórias
a miúda do café fala com os clientes
conta a vida
ganha o salário mínimo
é confusa em relação ao poder
queixa-se
dá graças a Deus
tem 26 anos
diz que não está
psicologicamente preparada
para ter filhos
quer que eles estudem
fala em emigrar
nas vantagens da emigração
em "construir a vida"
no euro que não vale nada
nos doutores
que trabalham nos supermercados
há alguma consciência
mas muita confusão.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A LUTA ESSENCIAL

O capitalismo ocupa as pessoas, afasta-as do gozo, do lazer, do ser. Faz-lhes também a cabeça, enche-as de medo e preconceitos, impede a celebração e o encontro. Aliás, essa é a questão essencial: o big brother. Poucos procuram a deriva, a verdadeira festa, a verdadeira alegria. São só obrigações, papões, castrações. Políticos que nos exigem sacrifícios, "vidas" alienadas, sofrimento, depressões, doenças mentais, suicídios. Não, não está tudo dito. É preciso continuar a denunciar o big brother. É preciso ser guerrilheiro da palavra. Os grandes media bombardeiam-nos todos os dias, fragilizam-nos, infantilizam-nos. O capitalismo quer destruir o homem. Quer tornar-nos escravos de uns poucos. Não podemos deixar. Somos soberanos, temos um deus em nós. Procuramos o ser uno, o ser completo. Desde a infância que nos andamos a descobrir. Não nos podemos deixar levar mais. É esta a grande luta, a luta essencial. Trava-se dentro da nossa mente, da nossa alma. Expulsemos os vendilhões. Se uma grande parte de nós tomasse consciência disto a revolução estava feita.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

QUEREMOS A VIDA

O mais importante é, de facto, o pensar, a própria filosofia. Esse pensar, apesar dos bombardeamentos diários da máquina, é livre, é absolutamente livre, pelo menos em alguns de nós. É esse pensar que nos dá a certeza de que estamos vivos, bem vivos, de que nada está acima de nós. Somos deuses. Queremos o mundo agora. Temos o direito de querer o mundo agora. Temos o direito de querermos ser quem somos. Queremos agarrar o instante, queremos agarrar cada pedaço de vida. Queremos a vida.