Viver livremente, poeticamente, sem coacções nem castrações, sem ninguém a dizer-nos o que dizer ou o que fazer. A partir de certa altura, 17, 18, 19 anos, procurei desesperadamente a liberdade, procurei desesperadamente a vida. Já antes, aos 15, 16, escrevia as letras em inglês do Peter Owne para a banda The Vikings: “Sometimes I’m Me”, “Everybody Needs Love”, “War”. Uma escrita “hippie”, já crítica em relação à sociedade, com preocupações sociais.
Hoje estou aqui nesta aldeia suburbana onde falo com duas ou três pessoas, onde dou a impressão de ser um estudioso tímido. Observo as mulheres que vêm ao pão e marcam a passagem. Cofio as barbas. Penso que, apesar das minhas quedas, sou um homem livre. Não tenho chefes a mandar em mim, a televisão não me domina, ninguém me impõe gostos nem comportamentos, ninguém me faz a mente. Apesar de ter apenas uns trocos no bolso vou levando a minha avante, publicando livros, publicando textos, intervindo, recitando nos bares e noutros locais. Abracei realmente a causa da liberdade, da vida poética e tento transmiti-la aos outros, a alguns outros, pelo menos. É muito mais fácil para mim fazê-lo na cidade do que na aldeia. Aqui na aldeia as pessoas estão muito fechadas na religião, na tradição, na família. Na cidade sempre há mais gente disposta a ouvir-me ou a ler-me. Gente que se farta de um quotidiano previsível, entediante, insuportável. Gente que se farta de um trabalho absurdo, repetitivo, imposto. Gente que se farta de imposições, coacções, castrações. Gente que quer viver poeticamente a noite e o dia. Gente que se farta do Passos, da TV, da máquina, do controle. Assim acreditamos verdadeiramente que temos uma missão aqui na Terra, acreditamos que, não obstante os desvios, temos seguido a estrada certa. Não precisamos de cartilhas, direcções ou comités centrais.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
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