segunda-feira, 31 de outubro de 2016

COCAÍNA

É claro que somos cocaína, ó Luís Serguilha. Claro que voamos. No entanto, duvido que o cérebro ou a mente sejam o poder opressor que nos controla, que nos aprisiona. Direi mais que é o corpo, as limitações físicas, bem como os condicionalismos económicos. A nossa mente é superior. É ela que é cocaína, mescalina, que nos leva até ao infinito como em Rimbaud, Nietzsche, Henry Miller. Podemos, de facto, voar e não ficar presos a esta realidade "útil", castradora. Podemos voar e ultrapassar o dinheiro e o trabalho, parar de correr para a caixa registadora. Podemos ser sublimes. Explodir. Nada está acima de nós. Nenhum deus está acima de nós.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

BRAGA, O TRIUNFO

Braga, o triunfo. De novo, o triunfo. Foi no Juno. Agora bebo cervejas no "Chave d' Ouro". Observo os jovens. Ás vezes falo com eles. Mereço. Penso que mereço. Aqueles dias em que não conseguia comunicar. Fui até humilhado. Sofri tanto. Agora reino. Como Zaratustra. Bebo e vejo Madalena e Jesus. Bebo o cálice sagrado. Entre as raparigas do deserto. Elas amam-me. Sou Narciso. Tenho o direito a ser Narciso. Ah, mulher dos livros, tu não me conheces. Só conheces o leitor, o estudioso, o poeta solitário. Não conheces a minha embriaguez. Ah, como subi ontem. E como subo agora. Afastai-vos, ó merceeiros! Olha que sorriso lindo, que olhos, que boca, que nariz. Que menina linda tenho à minha frente. Como a amo. Como ri. E outra que entra, pernas à mostra. Como as amo. Como as quero. Gata, como te passeias. Como te desejo. E bebo. E continuo a beber. Como Bukowski. Mas depois aparece o gajo a falar em IVA's e facturas e fode tudo. Filhos da puta de moedeiros, de mercadores! Têm sempre que nos andar a foder a vida. E os gajos da praxe. Outros fascistas. Estava eu tão bem. E vêm estes cânticos patéticos, estas macaquices. Macacos. Felizmente, foram embora. E eu volto a reinar com a minha cerveja. Braga, minha cidade. Em ti eu reino.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

A PATROA

Na realidade, mantenho as aparências. Passo por intelectual, por leitor voraz, por poeta respeitado e, ao mesmo tempo, ardo de desejo pelo cu da patroa. Ai, aquele cu majestoso, aquelas ancas. Comia-a. Lambia-a. Montava-a. Sou de Sade, de Miller, de Bukowski. Como lhe lambia a cona, animal, deitada. Como ela me mata, me excita enquanto leio Aristóteles. Sou de Satã, sou de Dionisos, sou inimigo dos bons costumes e da mercearia. Ai, patroa, como te mexes, como gemes quando te chupo a cona. Pareces a Serenna, a Lisa, a Minka. Como te como. Como me dás a mama. Ah, patroa. És minha. Dou-te tudo. Todo o dinheiro. Todos os livros. Toda a poesia.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O CAMINHEIRO DOS CÉUS

De acordo com o padre Mário de Oliveira, vivemos ainda na etapa infantil da humanidade, a etapa histórica onde predominam os intermediários, os comerciantes, os sacerdotes, as religiões, os chicos-espertos, a finança, a intriga, em suma, o poder. O poder "instala-se nos palácios, ocupa os seus cadeirões, rodeia-se de secretárias, acompanhantes de luxo, montes de motoristas, carros de luxo, adjuntos, secretários de estado, directores-gerais, assessores, guarda-costas". Insiste em classificar de utopia a via política mais inteligente e mais sábia para sermos uma comunidade que cresce de dentro para fora. Foi para este projecto se tornar "realidade, poema e polifonia vivos" que, há mais de 13 mil milhões de anos, aconteceu o "big-bang" e, com ele, o universo, ainda nas sábias palavras do padre Mário. Nós, seres humanos, somos os únicos com a capacidade de tomar consciência da maravilha e de a fazer crescer. Ela aconteceu para que nós acontecêssemos. Se realmente quisermos, nada nos impede, nenhum império, nenhuma máquina, nenhum exército, de darmos o passo para o super-homem, para o ser das estrelas, para o caminheiro dos céus, para o humano pleno e integral.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

LEÃO

Leão, percorro a selva. Rio e rujo. Os dias são meus. O poder arde. E esses escrevinhadores, como os acho patetas. E todos os senhores. E todo o rebanho que se atropela.
Agora percebo os vossos joguinhos, as vossas mercearias. Tudo tão pequeno perante os céus, perante a Vida. Tudo tão curvado perante a altivez da águia. Tudo tão morto, tão falso. Eu sou a vontade e a vida. Eu pertenço à Fêmea Eterna.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

QUE SOCIEDADE!

Que sociedade. Desconfia-se do elogio na praça pública. Precisamente por esse elogio não poucas não ser sincero, soar a hipocrisia. Desconfia-se até do afecto, do abraço, do acto de pureza. Porque se espera o favor, o lugar, a cunha. Desconfia-se de tudo ou de quase tudo. Desde o circo mediático até à plebe. Já pouco há o sentido da honra. A verdade é uma palavra vã. Restam alguns, algumas. Ainda assim contaminados pelos ecrãs. Ainda assim contaminados pela doença.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

ESQUIZOFRENIA

As pessoas caminham para a esquizofrenia. Vivem num mundo de imagens e obrigações. Só se cumprimentam por conveniência. Senão seria o caos total. Atropelam-se. Não se amam. Falta-lhes Sócrates, falta-lhes Jesus. Têm conversas paranóicas e julgam-se normais. Não procuram a sabedoria nem o desconhecido. Perdem-se em trivialidades. Vivem sob controlo do poder financeiro e do poder mediático. Deixam que outros vivam por eles as suas vidas. Só muito raramente se abrem ao desconhecido. Esquizofrénicos.

domingo, 9 de outubro de 2016

O CHE E A ALIENAÇÃO


Os partidos de esquerda falam exclusivamente de questões económicas. Ernesto Che Guevara combatia tanto a miséria como a alienação. Afirmava até que um dos objectivos fundamentais do marxismo é fazer desaparecer o interesse, o factor interesse individual. Falava também em liquidar o dinheiro e o mercado. De facto, a vida não pode ser só dinheiro e trabalho. É pensamento, é arte, é amor, é sentimento, é alegria, é tristeza. Há vários factores não económicos que condicionam o nosso dia-a-dia. A relação com os outros, as imposições dos media, a solidão. Tudo isso altera o nosso estado de espírito. Daí que estejamos muitas vezes alienados. Daí que a vida seja, muitas vezes, insuportável.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

CERVEJA

cerveja
uma após outra
é só levar o copo
à boca
às vezes treme-se
mas agora está-se melhor
também para levar
essa vida de escravos...
deixa-me rir
há dias em que bate mais
depressa
bastam quatro ou cinco
outros em que é preciso
ir até às doze
cerveja
estou como Bukowski
esta gente não evolui
sempre na rotina
eu acordei aos 17,18
com Morrison
com os UHF
hoje iria de copo em copo
noite fora
desculpa lá, ó Rocha,
agarra-te à lituana
são todos tão lentos
e eu rebento
estoiro
vou à velocidade da luz
patetas,
não vos entusiasmais
não celebrais a vida
é só publicidade
e treta
falta o grande xamã
a hybris
a velha liberdade
quando falais
eu já estou no infinito
não vivo aqui
só a minha loucura
é real.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O PINGUIM E OS INFINITOS

O público do Pinguim não é aquele que agarro mais. Há uns entusiastas, claro. Mas noto alguma frieza. De qualquer forma, eu vou representar, não vou ler poesia. Contudo, o Pinguim, pela sua história, por alguns grandes actores como o Joaquim Castro Caldas ou como o Rui Spranger, é um local de referência. Nós é que nos tornámos exigentes, talvez demasiado. E depois há o livro. Temos motivos para festejar. Ontem recebemos o dinheiro da Feira do Livro e fartámo-nos de beber. Hoje não será assim. Há que produzir. Há que escrever. Há que prosseguir a obra. Alegria. Euforia. Zaratustra berra e salta. E eu invento o Natal sobre a Terra. Explosões no meu cérebro. É minha a festa permanente. Como sou diferente de vós, ó normais. Como voo. Não, não sou desses poetas menores que por aí andam. Tenho asas, tenho a minha loucura. Percorro infinitos. 
Não, não me satisfaço com o banal, com o útil, com a economia. Sou dos céus, das estrelas. Já toquei Jesus, Zeus, Dionisos. Agora sou dos anjos. Brilho. Canto. Como explicar-vos? Não sou bem daqui. Venho de reis malditos. Não que não dê amor...eu sou fogo. Mulheres, por que me temeis?

domingo, 2 de outubro de 2016

O CONTROLE

Toda esta rede mundial de smartphones, de computadores, que contêm todos os nossos dados pessoais, é controlada pelo governo dos Estados Unidos, como denunciou o valoroso Eduard Snowden. São as nossas liberdades fundamentais que são postas em causa. São as nossas vidas que eles jogam. Além de mercadorias, somos autómatos nas mãos do império norte-americano. Temos de tomar consciência de que estamos a ser manietados. Temos de tomar consciência de que os nossos telemóveis e computadores não são inofensivos. Revoltêmo-nos contra a mercantilização e o controlo das nossas vidas. Reclamemos a Vida.