terça-feira, 17 de julho de 2012

DERROTEMOS A MÁQUINA

Por muito que aqui na confeitaria se continuem a servir cafés, por muito que haja uma aparente serenidade, o caos e a barbárie estão à porta. O amor perde-se, o amor louco de Breton já quase não existe, já quase não há paixões como as de Ulisses e Penélope, de Romeu e Julieta, o amor é cronometrado, mercantilizado, controlado pelos relógios e pelo trabalho, o amor é aprisionado, escravizado. As relações entre as pessoas são movidas pelo interesse, luta-se por um emprego, por um lugar, por uma promoção, por um tacho. As próprias conversas primam pela falta de imaginação, pela vulgaridade, pela rotina. Fala-se de futebol 24 horas por dia, sete dias por semana. Mexerica-se. E depois "está tudo bem", está sempre tudo bem, sempre a mesma vidinha, o mesmo trabalhinho (quando o há), sempre o recolher a casa, o olhar para a TV, o injectar telejornais, concursos, telenovelas. Onde está o sol? Onde está o céu? Onde está a beleza dos pássaros? Onde está o homem livre? Certamente que não aqui, Sócrates, tu que pregavas o conhecimento e a virtude. Este é o homem destroçado. Este é o homem que permanece na caverna. Que já nem as sombras discute. Este é o homem morto. Este é o homem que precisa acordar. Regressemos aos xamãs e a Dionisos. Busquemos a alma perdida. Falemos como no princípio do mundo. Homem e mulher. Sozinhos no mundo. Dêmos as mãos. Amemo-nos. Falemos do que vem do espírito. Chamemos as musas. Regressemos ao uno primordial, à poesia. Dancemos em redor da fogueira. Celebremos o novo começo. Celebremos o caos e a revolução. Mas também o amor. A alma que entra em contacto com a beleza. Desliguemo-nos do dinheiro e do capitalismo. Passemos para o outro lado. Sejamos totais. Derrotemos a máquina.

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