quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

QUEM SOMOS?




O mundo está, de facto, nas mãos de corruptos, vendilhões, mercadores. Será mesmo correcta a visão dicotómica? Seremos nós os agentes do bem, mesmo sendo malditos, mesmo sendo alucinados aos olhos de muita gente? Teremos, de facto, um papel especial a desempenhar? Seremos aqueles que falam a nova linguagem, aqueles que alertam para a lavagem ao cérebro que eles vão fazendo? Será por isso que passámos pelo inferno da grande depressão, a que eles nos querem fazer voltar sempre, sempre, todos os dias? Seremos nós abençoados? Que sentido tem a vida senão enquanto luz e busca de luz? Que sentido tem a vida senão enquanto partilha do nosso pensamento, da nossa luz? Quem somos nós aqui? Para onde vamos? Alucinados à procura do amor e da glória. Quem somos? Para onde vamos?

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A LAVAGEM AO CÉREBRO

Há cinco dias que não saio de Vilar do Pinheiro e arredores. Vá lá que não estou deprimido. Poderia ir hoje ao Olimpo mas não sinto aquela necessidade. Estive a ver os meus escritos de Outubro, Novembro, Dezembro. Foram dias de revolta acesa, de escritos duros e cortantes, nem todos de qualidade, alguns até gratuitos. Agora pareço estar a voltar ao sublime, ao homem interior. De qualquer forma, não me tenho deixado levar pelos políticos e comentadores do regime, nem sequer pela Conceição Lino que passa sempre aqui na confeitaria. Se consigo resistir assim aqui, sem telefonemas nem mensagens de ninguém, é porque estou numa fase boa, óptima para a criação. É claro que preciso de alguém para falar e o "chat" do facebook anda a falhar. De qualquer modo, estes dias entre o Natal e o Ano Novo costumam ser sempre um bocado mortos. Homem, tens dez livros publicados, actuaste no Campo Alegre, em Paredes de Coura, noutros sítios, apareceste na rádio, na televisão, nos jornais, cumpriste já um longo percurso. Não tens que te envergonhar. É certo que te falta ainda alguma coisa para chegar lá cima. É certo que a revolução está por fazer. Mas há aspectos de que não te podes queixar. Talvez peques por estares sempre a falar de ti. Mas também precisas de te libertar da máquina todos os dias. É um combate diário. Eles chamam e tu não vais, resistes. Contudo, há dias em que te deixas levar, ficas deprimido, tremes, temes algumas pessoas, tentam fazar-te uma lavagem ao cérebro. É isso que eles fazem às pessoas: uma lavagem ao cérebro. Nada mais. Vão-lhes roubando os dias. Tu sabes que o outro lado existe. Consegues chegar lá. Eis a diferença.

LOUCO


Louco
em Jesus
tão louco
possesso
ir ao céu
ao inferno
percorrer
os lugares
o infinito

Louco
tão louco
divino
as horas voam
os anjos descem
voltaste
a ser
quem eras.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

DO NOVO MUNDO


Eu procuro o homem. Procuro-o nos bares, nas ruas, nas bibliotecas. A minha vida é uma demanda. Encontrei o homem em alguns, em algumas. Mas devo prosseguir a demanda. O homem, a mulher, deveria sentar-se neste preciso momento à minha mesa. Sem meias-medidas, sem preconceitos, sem vidinhas. Falar-me-ia do homem interior, das viagens interiores, do pensamento. Também dos sonhos, das alucinações. Sim, eu tenho algo a dizer ao mundo. É preciso que o homem interior me escute e às vezes escuta. Eu tenho a dizer ao mundo que o mundo assim não serve, não tem saída. Eu tenho a dizer que outro mundo existe: um mundo de criação, luz, sabedoria. Um mundo que também está aqui. Que brilha, que pede a palavra. É preciso agarrá-lo, trazê-lo até nós, vivê-lo. Um mundo que está na infância, na juventude, na idade do ouro perdida. Este não é o único mundo.
Tenho perseguido esse mundo ao longo da vida. Morrison, Miller, Nietzsche, Hesse, outros, mostraram-mo. É preciso atravessar para o outro lado. O reino está próximo. A verdadeira vida. Aqui num café de Vila Nova de Telha vivo a verdadeira vida. Agarro-a. Possuo-a. Como a mão, como os dedos, como a caneta correm livres. Como a intriga e a inveja estão distantes. Como sou o mago das minhas horas. Como é belo o momento. Como o celebro. Eis a verdadeira vida. Amo-a como à eternidade. Não há deuses e há os deuses todos. Como eles dançam. Como correm como loucos. Amo a vida. Amo o que o pensamento transmite à caneta. A escrita automática. Universos vivem em mim. Nas minhas letras. Estou possesso. Nunca houve tarde como esta. Sou o homem. Sou o homem que cria. Encontrei o reino perdido, o uno primordial. Venho do primeiro homem. Sou livre. Sou capaz de tudo. Pertenço à terra. Toda a filosofia brilha em mim. Vinhos mil. O ouro. Que é feito do rapaz tímido? Que é feito do menino das boas notas? Que fizeram dele a máquina e as horas? Onde está o rapaz tímido? Dá umas gargalhadas, dama pálida. Viu coisas, atravessou os mares. Está a voltar aos escritos dos 20 anos. Quilómetros de cérebro em busca do totem da tribo, em busca de ti. Quem és tu, hoje? Passeias-te entre reis, entre deuses, vês o nunca visto. Nada te liga ao que é pequeno. Ao escrever abres portas. Estás no mágico, no maravilhoso. O maravilhoso existe. Não é uma quimera. As portas estão abertas. Venham. Entrem. Vamos dar uma volta. Atravessar para o outro lado. Esqueçam tudo o que aprenderam. Esqueçam tudo o que foram. Esqueçam a máquina. Vamos até ao outro lado. Vamos ficar loucos. Esquece os relógios e os televisores. Dança. Dança, dama pálida. Deixa para trás todos os que te fizeram mal. Dança. Não mais sofrimento. Não mais angústia. Dança. Continua a dançar. Eles querem quebrar o encanto. Eles querem quebrar o encanto. Não deixes. Dança! Há um mundo novo a nascer. Não deixes que o matem. Um mundo novo. Dança, bebe em honra do novo mundo, dama pálida. Voltámos à idade do ouro, à infância feliz. Não há barreiras. Não há fronteiras. Estamos possessos pela música. Deixa-te ficar no outro lado. Deixa-te ficar. Vence os pequenos, os invejosos, os intriguistas. Como tudo é pequeno visto aqui de cima. Não os ouças mais. Sê livre. Sê louca. Dança. Estamos a construir o novo mundo. Nunca mais seremos os mesmos.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Falta-me dar aquele passo. Aquele passo para a glória. Os media que se interessem mais por mim. O poeta de café, o poeta beat, o poeta da revolta. Já vou tendo os meus seguidores e seguidoras. Os meus detractores também. Falta-me dar o passo para a glória. Aquele passo que me conduza a viver só da escrita. Penso que chegarei lá com uma selecção mais cuidada. Com a prosa que já tenho. Posso chegar lá. Se acreditar. Se não me perder. Se vierem atrás de mim. Posso chegar lá.

SOLUÇÕES?


Pedem-me agora soluções. Mas ainda há muita gente a convencer. Há que insistir na ideia de que isto está tudo minado. Há que dizer que estão a assassinar o ser humano. Todos os dias. Que nos estão a drogar com os mercados e com a finança. Há que dizer que nos atiram com a cara à lama, como dizia o Jim. Há que dizer que um mundo assim não serve, que a vida assim não é vida. Há que dizê-lo bem alto, em todos os lugares. Há que berrá-lo em todas as praças. Com a força do rock. Há que fazer cair o muro. Atirar-lhe pedras. Há que entrar nos corações e nas cabeças. Há que passar a mensagem. Solução? A solução é deitar isto abaixo. Dentro de cada um, certamente, mas também cá fora. É claro que é preciso chegar aos media. Passar a mensagem.

O POETA




O poeta
o Piolho
o Piolho
o poeta
parece pateta
cara de alforreca
dá uma cambalhota
dança com a velhota
parece idiota
foge do agiota
anda de fatiota
que grande treta!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

ANÁLISE DE ALEXANDRE TEIXEIRA MENDES A "CAFÉ PARAÍSO"


ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO - POETA DA "URBS"
Activismo, Pulsão e Ebriedade

António Pedro Ribeiro (Porto, Maio de 1968) restaurou o antigo hábito dos “rapsodos” e dos “menesteres”, levando a poesia de lugar em lugar. Em suas andanças revelou-se o poeta da catarse que tem o mérito de trazer à superfície o traço do gozo perdido que só pode ser reencontrado no excesso, no gozo suplementar que se faz suporte da fantasia, receptáculo da causa do desejo. A sua escrita - performance - surge-nos imbuída de um pendor activista. Também aqui uma poesia - enquanto veículo terapêutico-existencial - (mega)político – que oscila entre o catártico e o des-construtor. Poderíamos mesmo falar de uma poética metropolitana: da “urbs”. Trata-se, pois, de uma obra “engajada” - das intro(pro)jecções - ancorada na existência livre de limites ou a paixão de uma liberdade impossível - que denuncia o “vazio” do mundo.

Dicção coloquial quotidiana

A dicção coloquial quotidiana é bastante óbvia no caso de António Pedro Ribeiro. Nos antípodas do bucolismo e da tradição lírica-discursiva - da escrita “sublime” ou transcendental - assiste-se em "Café Paraíso" (Editorial Bairro dos Livros, Culture Print, Porto, 2011) - o seu último livro - de forma directa, imediata - ao próprio eclodir de um corpo-próprio seminal (onde se exorciza a configuração amorosa e suas projecções fantasmáticas). Uma vez mais esta poemática tende ao transbordamento pulsional - na confirmação (ou refutação) emocional das possibilidades excessivas. Mas em que a denúncia da dominação do império conjunto - formado pelo poder técnico e a razão económica pura - é um ponto de partida metodológico.

Infinito da negação

Donde acaba o crítico e começa o panfletário, o extraviado ou simplesmente o instintual? O planfletarismo é em António Pedro Ribeiro inspiração: acesso ao optimismo revolucionário (frente à democracia “estabelecida”, “instalada” ou “mercantilista”). Pode dizer-se, contudo, que a sua poesia remete-nos ao “infinito da negação”. Assente num discurso do desejo (de Eros) que caracteriza a poesia de Allen Ginsberg ou de William Blake - torna-se demanda de “novatio” - um re-assumir do desencanto do mundo. Na primazia da revolta e da desobediência civil - do “différend” - evoca a “teoria crítica” (Reich-Marcuse) e, sobretudo, a “gaia ciência” de Nietzsche. Na sua poesia - desde o início - o protagonista são as três estruturas do “impossível”: política, amor e arte. “Riso soberano”: eis aqui a novidade de categoria muito significativa. É importante ressaltar ainda o privilégio da escrita automática - que nos autoriza a falar da pulsão pura - e enquanto veículo de uma “auto-biografia” ou trama “psico-biográfico”:

escrevemos sobre nós próprios
estamos sempre
a escrever sobre nós próprios
nada há a fazer
desenvolvemos este estilo
é claro que também
nos referimos aos outros
à televisão omnipresente
às riquezas
ao cacau
mas estamos sempre
a falar de nós próprios
num monólogo sem fim
é isto a vida
é isto a escrita
e é isto que sobra
de um dia de tédio (p. 77-78)

Id dionisíaco

Nesta obra perpassa – como dissemos antes - a vida escrita - os impasses do escrever. O que entendo aqui por exortação à libertação do "id" dioníaco. Não é difícil notar o seu apego à insânia - pathos da loucura - ou o privilégio do êxtasse e da ebriedade. Porque “Cerveja-matéria prima do poema” (p.34). Seria possível falar da afinidade entre o tipo de poética de António Pedro Ribeiro com a geração “beat”: a psicadelia e a contracultura. De facto, desde o início das suas “démarches”, António Pedro Ribeiro procurou ampliar e fortalecer o activismo político enfatizando a dimensão da ebriedade - contra a razão e a administração da vida – unindo-se a Rimbaud e Nietzsche. Mas é Raoul Vaneigem de “Arte de Viver para a Geração Nova” e o mercado pariense de ideias que oferece ao poeta um modelo: o da lição situacionista (de uma existência liberta do gregarismo e da massificação). Para António Pedro Ribeiro a ebriedade tem também a sua forma e a sua figura:


Bebo cervejas no inferno
Mas quero o paraíso
de volta (p.30)

Excesso e transgressão

Em “Café Paraíso” re-equaciona-se a experiência do sensível - a partir justamente dum apego visionário - que revela e permite ser - ou, se quisermos, dum corpo linguagem. Deste modo um corpo dionísiaco enquanto corpo pulsional - nos seus sintomas e somatizações – transferência e traço significante, excesso e transgressão. Nesta sua escrita concentra-se e exacerba-se, de maneira exemplar, uma poética catártica, em que, por sinal, a corporeidade, o estofo do ser, como diria Merleau Ponty, está prenhe de significado. Aqui o eterno existe no efémero, mas o contingente anseia e clama pelo absoluto:

procuro a eternidade
do instante
não me adaptei à vida burguesa
às conversas do senso comum
à vulgaridade do intelecto (p84)

Iconoclastia e irreverência

Trata-se de uma poesia que enaltece a auto-reflexão. Em que há também um estranho exercício crítico em torno da sociedade autoritária “unidimensional”. Por fim, o questionamento dum mundo dominado por critérios de eficiência e sucesso e, por conseguinte, assente na “auto-escravização” do humano. O conjunto dos poemas de António Pedro Ribeiro exibem, em seu contexto de significação original, um forte pendor ideológico - enquanto propensão crítica do capitalismo avançado e, por conseguinte, da desmontagem das falsas boas intenções burguesas. Ademais depreciativa e fustigadora do poder e dos seus símbolos - comissários e e aparelhos repressores ideológicos - vícios públicos, virtudes privadas. Insistimos: trata-se de uma escrita psico-emocional - como fragmentos de uma auto-biografia. Poderíamos dizer que neste poemário - nos passos do “politically incorrect” - perpassa a questão da hybris, desmedida do ser, da verdade da poesia como embriaguez e transgressão. Outo exemplo notável de uma poética da iconoclastia e da irreverência ou “pour cause” da “reverie” política ( tipo marxista pós-moderno - emancipalista).

Café-Bar Olimpo Porto, 21 de Dezembro de 2011

Alexandre Teixeira Mendes

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

ATÉ QUANDO?

Tiram-nos os feriados. Tiram-nos os subsídios. Vão-nos tirando tudo em nome de um suposto rigor financeiro que vem de Berlim e do FMI. Esse suposto rigor financeiro, a dívida que supostamente temos resulta de subornos, falcatruas e afins ao nível do Estado e da finança. Resulta da avidez canina dos chamados mercados, um poder ditatorial que mexe com tudo, que joga com as nossas vidas, que manipula o dinheiro do mundo. Nunca o capitalismo foi tão voraz como agora. Nunca foi tão descarado a roubar-nos a vida, a dignidade, a honra. Nunca estivemos tanto nas mãos dos agiotas, de predadores única e exclusivamente virados para o lucro pessoal, sacando a torto e a direito, passando por cima de tudo, sem o mínimo de ética, sem uma réstia de humanidade. Predadores que têm os seus fantoches em Bruxelas, Berlim, Washinghton, Lisboa. Que tem uma máquina de propaganda ao seu serviço que vai fazendo as cabeças, destruindo o que resta de vida, de alegria, de vontade. Até quando?

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

domingo, 18 de dezembro de 2011

SOBRE LOBO ANTUNES

Definitivamente, não consigo perceber o Lobo Antunes. Não sei. Não consigo entrar na sua escrita. Até gosto do paleio do homem mas não consigo entrar na escrita. Enfim, não sou obrigado a gostar da escrita dele. Já tenho os meus escritores. Henry Miller, Nietzsche, Stefan Zweig, Pessoa, Shakespeare, Saramago. E outros mais. Não sou obrigado a gostar de todos. Nem dos mais badalados da actualidade. Vou tentar acabar o "Ulisses" de James Joyce. Enfim, há aqueles que nos abrem a cabeça e os outros. Aqueles que são promovidos a torto e a direito e os outros que prosseguem viagem, como eu próprio.
Os homens falam e falam e eu vou escrevendo. É para isso que estou aqui. Não conto estórias, a não ser de mim mesmo mas escrevo, continuo a escrever. Para preencher as horas, para combater a solidão e a doença. Em vez de conversar, escrevo. Aqui, na aldeia do meu pai, onde só converso com a D. Rosa, com o historiador e com o barbeiro. Não sou Eduardo Lourenço nem Agostinho da Silva mas sou certamente um pensador. Um homem que dedica a sua vida ao pensdamento. Desde miúdo. Que cria frases e versos na folha. Que sente falta da menina. Que disfarça a loucura com a pose do intelectual à mesa. Que é capaz de permanecer horas à mesa. Que é capaz de se manter sereno.

À ESPERA DA REVOLUÇÃO


Aborreceis-me de morte
como a vossa vidinha
nada dizeis
que me faça crescer
e eu estou condenado
a ouvir-vos
a permanecer
nesta angústia
a dar berros
que ninguém ouve

se estivesse com dinheiro
iria de tasco em tasco
celebrar a glória
ou a ilusão da glória
que võs nunca tereis
assim resta-me
permanecer aqui
a olhar para vós
para essa
vida de escravos
de que nunca
vos libertareis
porque simplesmente
não aspirais a mais
conteitais-vos
com as migalhas
e com as patranhas da TV
não, eu não venho dessa barca
não me contento
com Tonys Carreiras
e quejandos
posso estar só
mas não me converto
prefiro continuar só
a escrever
a escrita salva-me
a escrita ilumina-me
especialmente
quando vem assim
escorreita
ficai com o Natal
e o menino Jesus
O Natal
e o menino Jesus
nada me dizem
não sou como vós
já me chamaram maldito
estou à espera da revolução.


Vilar do Pinheiro, VIp, 18.12.2011

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O POETA DE CAFÉ




Os homens abandonam a "Padeirinha". O futebol acabou. O Natal vem aí. O Natal deprime-me. Na infância era diferente. A propaganda também me deprime. Faz-me a cabeça. Mas eu não deixo. Procuro não deixar. Contudo, eles tentam entrar em mim. Não deixo. Não deixo. Sou um homem livre. Ninguém me tira a liberdade. Ninguém, ouviram?
A chávena de café à minha frente. Uma vez mais. O poeta de café. A mão, os dedos, a caneta. A magia de converter o branco em palavra.

O MEDO DE VIVER




O MEDO DE VIVER



A nossa sociedade está dominada pelo medo. Como diz Joaquín EStefanía em "A Economia do Medo", "hoje não se trata somente dos temores tradicionais da morte, do inferno, da doença, da velhice, do terrorismo, da guerra, da fome, das radiações nucleares, dos desastres naturais, das catástrofes ambientais, mas também do medo de um novo poder denominado de ditadura dos mercados, que tende a reduzir os benefícios sociais e as conquistas da cidadania do último meio século". A ditadura dos mercados, entidade sem rosto, reduz-nos, via media, ao medo e à impotência. Todos lhe prestam vassalagem, mesmo que aparentemente a critiquem, desde os governantes europeus e nacionais aos politiqueiros da oposição moderada. E o medo impõe-se por todo o lado, "o medo é uma emoção que imobiliza, que neutraliza, que não permite actuar nem tomar decisões com naturalidade", ainda Estefanía: "os que exercem o poder submetem os medrosos e injectam-lhes a passividade e a privatização das suas vidas quotidianas, levando-os a refugiarem-se no lar". Daí que tenhamos uma sociedade ao estilo da do "Big Brother" de George Orwell onde todos desconfiam de todos, onde o companheirismo, a espontaneidade, o comunicar com o desconhecido começam a rarear. Todos se fecham na sua concha. É a sociedade-espectáculo de Guy Debord onde nos limitamos a ser espectadores de um filme que não controlamos, onde mulheres de sonho se passeiam pelos ecrãs sem que as possamos tocar. É a sociedade da compra e venda em que por detrás de uma aparência de alguma afabilidade se escondem os monstros da ganância, da rapina, da contabilidade, do economês, do medo: do medo de ficar desempregado, do medo dos jovens não arranjarem trabalho por muito que estudem, do medo de empobrecer, do medo de gastar o que temos porque aparentemente nem sequer é nosso. Segundo Joaquín Estefanía, "para nossa desgraça isto cada dia se parece mais com a Grande Depressão. Nunca antes tão poucos deveram tanto dinheiro a tantos". Eis no que deu o capitalismo, eis no que deu a ditadura dos mercados: no medo de viver, no medo de existir. É absolutamente trágico.



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O PRINCÍPIO DO FIM DO BLOCO



O abandono do Bloco de Esquerda por parte da tendência Ruptura/FER só vem confirmar aquilo que há anos vimos dizendo. O BE foi-se aburguesando, tornou-se um partido institucional, social-democrata, que perdeu demasiado tempo com questões menores como os casamentos homossexuais. O BE de Louçã, Fazenda e Miguel Portas tornou-se também um partido sectário no seu interior, onde foram tomadas decisões sem se consultarem todos os membros da Mesa Nacional, como aconteceu no apoio à candidatura presidencial de Manuel Alegre e na apresentação da moção de censura ao governo Sócrates. O BE, ou seja, a tendência dominante UDP/PSR/Política XXI estigmatizou sistematicamente as correntes minoritárias. O Bloco abandonou a causa da revolução, convertendo-se num partido reformista, quase exclusivamente parlamentarista, que várias vezes se aproximou do PS. O Bloco está a partir-se em blocos, regressando aos partidos que estiveram na sua origem. O Bloco falhou. Descanse em paz.

www.jornalfraternizar.pt.vu

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

DO POETA

O poeta está em casa. À mesa do jantar. São cinco da madrugada. Por enquanto, o poeta fez o que tinha a fazer. Tem visões, iluminações. Atira-se para o chão. É Deus e Jesus. A humanidade cresce nele. Vive o assalto final a Lisboa. A revolução. Vive-a fisicamente, não apenas intelectualmente. O poeta ressuscita as pessoas depois de as ter matado. Ergue e baixa o polegar como um imperador no Coliseu. Está agora em Londres. Vê quadros dos renascentistas italianos na National Gallery. Vê quadros de Rubens e maravilha-se. O poeta quer a arte pela arte. É o artista e o conquistador de Nietzsche. É egoísta e tem o sentido da terra. Não defende os pobres e os oprimidos. Os que se deixam levar pela máquina e pela submissão. Exalta, sim, os vencedores, aqueles que venceram o rebanho e o medo, aqueles que cantam a arte e a embriaguez. O poeta é Dionisos. Dança com os índios em redor da fogueira. Mas não deixa de ser um cavaleiro, um nobre de Camelot. Tem a sua honra. Defende a dama. O poeta é dos grandes. O poeta é quem quer ser.

A VIDA É NOSSA


Reclamemos a vida. A vida é nossa. Só nossa. Ninguém a pode roubar. A vida é tudo o que temos. Gozêmo-la. Gozêmo-la ao máximo. "Estamos fartos de tantos rodeios", fartos de chafurdar com a cara na lama. É nossa, porra! Nascemos para a viver, para a gozar. Não para sermos escravos do governo, do patrão, dos media ou dos mercados. Nasçamos de novo. Não cedamos em nada. A vida é nossa. O mundo é nosso. Não mais mentiras. Não mais lavagens ao cérebro. Não mais propaganda. É nossa, só nossa. Não mais o medo. Não mais a prisão.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

REVOLUÇÃO OU BARBÁRIE


REVOLUÇÃO OU BARBÁRIE

As pessoas ainda reagem como se nada se passasse. Vão ao pão, ao café, ainda têm uns trocos. Não têm consciência que a escolha se vai fazer entre a revolução e a barbárie. O capitalismo dos mercados não tem saída, já traz em si a barbárie. Quem são realmente os mercados, a que todos obedecem? Um bando de especuladores, de agiotas, de vigaristas. É a eles e aos políticos seus seguidores que está entregue o mundo, que está entregue o homem. Não, não podemos mais ficar nas mãos do absurdo. É preciso que as pessoas tomem consciência do que se está a passar, que se iluminem e não se deixem mais domesticar pela máquina de propaganda que os media ao serviço dos mercados e dos seus seguidores nos impõem todos os dias. É o homem, a espécie humana, que está em perigo. De uma vez por todas tomemos consciência.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

RIBEIRO SEGUNDO ÂNGELA BERLINDE




Ao Ribeiro

Nunca serei fotógrafa o suficiente
para revelar a loucura e devaneio do poeta maldito
ou fazer o mais claro enquadramento das longas tardes
onde o poeta tudo roubou ao futuro do mundo.
Nunca serei gente suficiente
para o retratar.
Mas sei que há fotografias
que se não escrevem,
sendo só o tempo o seu dono
e a infinita passagem
a única e a mais justa forma
de os expressar.
Ribeiro fica nos cafés e na luz espelhada da Brasileira
na cor tão difícil que a liberdade mistura com os dias do mundo.
Há no seu coração um planeta a atravessar-lhe o coração,
como se o Poeta e o mundo pudessem ser uma narrativa
para partir de vez,
para o mais justo coração da humanidade.
Os livros de Pedro Ribeiro são o seu retrato mais grandioso,
como é o retrato de uma geração, de alguém nascido no mítico maio de 68.
Acreditemos em numerologia e aponte-se o dia de hoje, de regresso à Brasileira, como o dia em
que se lança o seu 10 º livro.
Guardaremos aí a estranheza e a feliz coincidência de hoje se celebrar o nascimento de Jim
Morrisson, uma intima inspiração do poeta aqui retratado, no desconforto das suas inquietações.
António Pedro Ribeiro não escreve apenas os livros, também os vive, chora, declama e, posso dizer
fotografa esse mundo.
Quem já não chorou com livros? Mas quem ainda não se espantou com a experiência de ter visto o
Ribeiro a declamar a sua poesia.
Quem seria Ribeiro se não fora a coragem de se ser também um dizeur, um artista performer?
Ribeiro é dos livros, mas também da voz e do grito, da música que se transforma em imagens. E só
por aí, Ribeiro já é do mundo, esse que acredita na humanidade.
Diante dos textos do Ribeiro uma insistente pergunta se impõe: como ler uma obra em que a
novidade se instaura no próprio código, na escrita em si? Escrita performática, inquietante que
clama por um novo leitor, que precisa se desprender dos moldes tradicionais de leitura e tornar-se
participante do ato de criação.
Nessa nova perspectiva de leitura, o texto não pode apenas ser visto, necessita de ser contemplado,
ouvido, tateado, percebido sinestesicamente, o que nos reporta à insistência com que o ler aparece
nos livros do Ribeiro.
O texto é directo e não se deixa interromper, não se fixa em nada, extrapola as convenções e,
diferentemente do que se verifica na obra, “não tem mancha de ruído”, ou seja, não “se fecha sobre
o significado” (Barthes, 1988: 73).
Nos livros, é sempre muito duvidoso o que se dá e o que se recebe, mas também não importa, o que
importa é que a estrada é uma caligrafia e o pensamento do Ribeiro é um planeta, uma rota, um
mapa, uma mão, uma voz, uma revolução!
Qualquer dia entenderemos o que é ter vindo ao mundo para inscrever coisas na parte ainda vaga do
universo em que o poeta almejou uma revolução.
O poeta pára nos cafés à espera de mais mundo.
A Terra do Ribeiro são os cafés que o protegem das intempéries e dos verões escaldantes. Ter uma
terra é isso: é ter um lugar de plantio e de colheita do que se não esquece, tudo mais, por mais belo
que possa ser, é uma passagem, é um desaparecimento.
Na terra do Ribeiro pode-se medir o mundo.
É nos cafés onde emerge o desejo e o espanto, lembrando as impossíveis brisas e todas as baladas.
Na poesia do Ribeiro o mundo a escorre-lhe dos olhos
Nesta terra é um poeta e pouco mais, com um caderno pronto e urgente numa mão
e na outra um coração.


Ângela, a Berlinde
www.angelaberlinde.com

Lançamento do “Café Paraíso” de António Pedro Ribeiro
Café A Brasileira, 8 de Dezembro de 2011

DA REVOLUÇÃO


Aqui chegados. O que fazer? Voltar à política activa, pregar o caos e a revolução, sair à rua. Certamente. O mundo arde. Nada a perder. E o que fazer depois da revolução, como perguntou o Rui Pedro? Bem, primeiro é preciso fazer a revolução. Quer a política, quer a global, espiritual. Esta última só pode partir de cada um. Da tomada de consciência. Da iluminação interior. Da rejeição de tudo o que é propaganda, mercado, império. Quanto à revolução política, estamos de acordo com Otelo Saraiva de Carvalho. Teremos de ter o apoio de parte do exército. É isso que se impõe. Basta de austeridade, basta de subserviência a Merkel.
O povo endivida-se, perde sucessivamente poder de compra, a pobreza e a miséria alastram, tal como as depressões e as doenças mentais. A ditadura dos mercados está a matar o país, está a matar a humanidade. É preciso derrubar os neo-liberais e os tecnocratas. Antes que seja tarde demais. Antes que se instale a barbárie completa ou a ditadura.

O FIM DO BLOCO

O PRINCÍPIO DO FIM DO BLOCO

António Pedro Ribeiro

O abandono do Bloco de Esquerda por parte da tendência Ruptura/FER só vem confirmar aquilo que há anos vimos dizendo. O BE foi-se aburguesando, tornou-se um partido institucional, social-democrata, que perdeu demasiado tempo com questões menores como os casamentos homossexuais. O BE de Louçã, Fazenda e Miguel Portas tornou-se também um partido sectário no seu interior, onde foram tomadas decisões sem se consultarem todos os membros da Mesa Nacional, como aconteceu no apoio à candidatura presidencial de Manuel Alegre e na apresentação da moção de censura ao governo Sócrates. O BE, ou seja, a tendência dominante UDP/PSR/Política XXI estigmatizou sistematicamente as correntes minoritárias. O Bloco abandonou a causa da revolução, convertendo-se num partido reformista, quase exclusivamente parlamentarista, que várias vezes se aproximou do PS. O Bloco está a partir-se em blocos, regressando aos partidos que estiveram na sua origem. O Bloco falhou. Descanse em paz.

domingo, 11 de dezembro de 2011

ZIZEK


Slavoj Zizek O violento silêncio de um novo começo

“Resta um longo caminho a percorrer, e, em breve, será preciso enfrentar as perguntas realmente difíceis, não sobre o que não queremos, mas sim sobre o que queremos”

O que fazer depois da ocupação de Wall Street, com os protestos que começaram longe (Oriente Médio, Grécia, Espanha, Reino Unido) atingiram o centro e agora, fortalecidos, estão se espalhando pelo mundo? Um dos maiores perigos que enfrentam os manifestantes é enamorarem-se por si mesmos. Em São Francisco, numa concentração de solidariedade a Wall Street, no 16 de outubro de 2011, ouviu-se um convite para participar no protesto, como se fosse uma concentração hippie dos anos sessenta: "Perguntaram qual é o nosso programa. Estamos aqui para nos divertir”.

Organizar um acampamento é legal, mas o que realmente importa é o que sobra no dia seguinte, o que muda em nossa vida quotidiana. Os manifestantes devem enamorar-se do trabalho duro e paciente. Não são um final, mas um começo, e sua mensagem fundamental é: quebrou-se o tabu, não vivemos no melhor mundo possível, e temos o direito e mesmo o dever, de pensar em alternativas. Numa espécie de tríade hegeliana, a esquerda ocidental voltou aos seus princípios, depois de abandonar o chamado “fundamentalismo da luta de classes" pela pluralidade de lutas anti-racistas, feministas, etc. O problema fundamental volta a ser o “capitalismo". A primeira lição deve ser: não devemos culpar as pessoas, nem atitudes. O problema não é a corrupção ou a ganância, é o sistema que nos empurra a ser corrupto. A solução não é "a rua frente a Wall Street", mas sim mudar o sistema, no qual a rua não pode funcionar sem Wall Street.

Resta um longo caminho a percorrer, e em breve será preciso enfrentar as perguntas realmente difíceis, não sobre o que não queremos, mas sim sobre o que queremos. Que organização social pode substituir o capitalismo atual? Que tipo de líderes precisamos? Que organismos, incluindo os de controle e de repressão? É evidente que as alternativas do século XX não funcionaram. Embora a "organização horizontal" das multidões concentradas, com a sua solidariedade igualitária e seus debates abertos, resulte em algo emocionante, não devemos esquecer o que escreveu Gilbert Keith Chesterton: "Ter uma mente aberta, em si, não é nada; o objetivo de abrir a mente, como o de abrir a boca, é poder fechá-la com algo sólido dentro”. O mesmo acontece com a política em tempos de incerteza: os debates abertos precisam de se misturar com novos significantes fundamentais, mas também em respostas concretas para a velha questão leninista: "O que fazer?".

É fácil responder aos ataques conservadores. São anti-americanos os protestos? Quando os conservadores fundamentalistas afirmam que a América é uma nação cristã, convém lembrar o que é o cristianismo: o Espírito Santo, a comunidade livre e igualitária dos que têm fé unidos pelo amor. Os manifestantes são o Espírito Santo, enquanto que em Wall Street, os pagãos adoram os falsos ídolos. São violentos os manifestantes? É verdade que a sua linguagem pode parecer violenta (ocupação e outras mensagens similares), mas são no sentido da violência de Mahatma Gandhi.

São violentos porque não querem que as coisas continuem como antes. Mas que violência é essa comparada com a violência necessária para manter o bom funcionamento do sistema capitalista mundial? Eles são chamados de perdedores, mas não estão os verdadeiros perdedores em Wall Street, os que foram resgatados com o nosso dinheiro, centenas de milhares de milhões? Eles são chamados de socialistas, mas nos Estados Unidos já existe um socialismo para os ricos. Eles são acusados de não respeitar a propriedade privada, mas a especulação que levou ao crash de 2008 acabou com milhares de propriedades privadas, conquista a duras penas, basta lembrar as centenas de execuções hipotecárias.

Eles não são comunistas, se por comunismo, nos referimos ao sistema que merecidamente veio abaixo em 1990, e lembramos que os comunistas que restam hoje, governam o capitalismo mais cruel existente (China). O sucesso do capitalismo comunista chinês é um mau presságio de que o casamento entre capitalismo e democracia está à beira do divórcio. O único sentido em que podem ser chamados de comunistas é que se preocupam com os bens comuns da natureza, do conhecimento – algo que o sistema está a pôr em perigo.

Desprezam-nos por serem sonhadores, mas os autênticos sonhadores são aqueles que pensam que as coisas podem continuar indefinidamente como estão, com meras mudanças superficiais. Não são sonhadores, é o despertar de um sonho que está a tornar-se um pesadelo. Não destroem nada, reagem diante da auto-destruição gradual do próprio sistema. Todos conhecemos a típica cena do desenho animado: o gato chega a beira do precipício, mas continua a andar em frente, sem saber que já não tem chão sob suas patas, e não cai, até que olha para baixo e vê o abismo. O que estão fazer os manifestantes, é lembrar aos que têm o poder que precisam de olhar para baixo.

Essa é a parte fácil. Os membros do movimento devem cuidar-se dos inimigos e, sobretudo, dos falsos amigos que fingem apoiá-los, mas estão fazer todo o possível para esvaziar o protesto. Igual ao que nos dão café descafeinado, cerveja sem álcool, o poder tentará transformar os protestos num gesto moral e inofensivo. No boxe, "abraçar-se" é agarrar o corpo do oponente com os braços para impedir ou dificultar os golpes. A reação de Bill Clinton aos protestos em Wall Street é um exemplo perfeito do abraço político. Clinton acredita que os protestos são, “no conjunto, algo positivo", mas preocupa-o que a causa seja tão difusa: “Devem defender algo concreto, não apenas serem contra, porque se se limitam a ser contra, outros irão preencher o vazio que deixam". Clinton sugere que os membros do movimento apoiem o plano de emprego do presidente Obama, que, segundo ele, criará "dois milhões de empregos no próximo ano e meio”. Ora, o que é preciso resistir nesta etapa, é precisamente nesse desejo de traduzir rapidamente a energia do protesto numa série de demandas "pragmáticas" e "concretas". É verdade que os protestos criaram um vazio: um vazio no terreno da ideologia hegemónica, e precisa-se de tempo para preenchê-la, mas é um vazio carregado de conteúdo, uma abertura para o novo. Os manifestantes saíram às ruas, porque estão cansados de um mundo em que reciclar latas, doar alguns dólares para obras beneficentes ou comprar um cappuccino no Starbucks, porque 1% vai para o Terceiro Mundo, basta para se sentir confortável. Depois de terceirizar o trabalho e a tortura, depois que as agências matrimoniais começaram a terceirizar, até mesmo as relações, perceberam que deixaram por muito tempo os outros cuidarem da política e querem recuperar esse tempo agora.

A arte da política é também insistir numa reivindicação concreta que, embora seja totalmente "realista", rompe a ideologia hegemónica, ou seja, que, embora viável e legítima, na prática, é impossível (por exemplo, o direito à saúde universal nos EUA). Depois dos protestos de Wall Street, devemos mobilizar as pessoas para essas reivindicações, mas é muito importante manter distância do terreno pragmático das negociações e das propostas "realistas". Não devemos esquecer que qualquer debate que se faça aqui e agora, continuará sendo feito no campo inimigo, e levará tempo para consolidar novos conteúdos.

DECLARAÇÃO DE AMOR A BRAGA E À "A BRASILEIRA"


Culture Print

As palavras são de António Pedro Ribeiro, na Brasileira de Braga, numa casa cheia, saboreando o "Café Paraíso" e partilhando poemas de café com amigos: "Faço declarações de amor a Braga e à Brasileira. Sou o poeta da Brasileira e do Piolho. (...) A cidade está viva e eu também."— com António Pedro Ribeiro, Ângela Berlinde, Pedro Barros e Catarina Rocha.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

PCTP/MRPP

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Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP) O FIM DA NOSSA SOBERANIA ECONÓMICO-FINANCEIRA

Em época de crise política, económica, financeira e social, como a que estamos a viver e que se agudiza a cada dia que passa, os acontecimentos ocorrem com tal celeridade que não fica às massas populares tempo para os antecipar e combater.
É precisamente o que sucede agora com as vertiginosas manobras do eixo Berlim-Paris a respeito do Euro.
Enquanto os outros quinze países da Eurolândia (Zona Euro) se demitem de pensar e discutir a crise do Euro e da própria União Europeia, Alemanha e França vão tomando as decisões conjuntas que melhor as servem, decisões que até aqui se têm caracterizado por uma total incapacidade de vencer a crise financeira e, ao mesmo tempo, pela intensificação crescente do controlo e domínio dos parceiros da moeda única.
Nos países dominados pelo eixo germano-francês, tanto os partidos do poder como os partidos da oposição parlamentar se calam perante os assaltos do imperialismo alemão e assobiam para o lado, como se nada de grave estivesse a acontecer.
A classe operária portuguesa, confrontada com inúmeros ataques simultâneos, tem enormes dificuldades em decidir para que lado se deve voltar, dificuldades acrescidas por não dispor ainda de um forte e coeso partido comunista marxista-leninista, capaz de a orientar nesta emergência, e de não poder ainda contar com uma forte estrutura sindical revolucionária.
Mas uma tal situação, por mais desfavorável que se apresente, não dispensa os autênticos comunistas, como o PCTP/MRPP e alguns elementos da linha sindical Luta-Unidade-Vitória – organizações ainda frágeis, é certo – de assumirem as responsabilidades políticas e ideológicas que lhes cabem.
Neste sentido, cumpre denunciar e alertar toda a gente para o significado, para a amplitude e para o alcance dos golpes que o eixo Berlim-Paris prepara, já esta semana, para dominar e espezinhar os países da Zona Euro e, a partir destes, todos os países (actuais e futuros) da União Europeia, se a União Europeia sobreviver, o que é é cada vez mais menos certo.
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O Euro foi desde sempre concebido, não como moeda comum de países parceiros e soberanamente iguais, mas como a principal arma de imperialismo alemão para o domínio e controlo da Europa, do Atlântico aos Urais.
Numa primeira fase, o Euro, mero travesti do marco, serviu à Alemanha para liquidar as moedas mais fortes da Europa, o que facilmente conseguiu, com excepção da libra inglesa, que não cedeu.
Com o Euro e com as políticas industriais e agrícolas comuns, a Alemanha liquidou a economia dos países europeus mais fracos, como Portugal, e desindustrializou quase toda a Europa, com excepção da própria Alemanha e pouco mais.
Quando o Euro deixou de contar com uma base económica forte nos países da Eurolândia e da União Europeia, entrou necessariamente em crise, conduzindo ao aumento dos défices orçamentais e da dívida pública nos países parceiros.
Assim que a crise do Euro, juntando-se à crise americana do subprime, começou a fazer implodir os países europeus mais fracos e cada vez mais dependentes dos bancos germânicos, a Alemanha, com esse verdadeiro palhaço salta-pocinhas que dá pelo nome de Sarkozy, desencadeou então uma nova fase do seu ataque: a imposição aos países em situação difícil de uma política orçamental, económica e financeira suicidária; austeridade→recessão→austeridade →recessão...
Esta política conduzirá, no fim do presente ano de 2011, a um salto da dívida pública soberana dos países da Zona Euro para os cem por cento do produto interno bruto da mesma Zona.
Os países do Euro têm uma dívida soberana equivalente à sua produção interna bruta anual.
Os credores dos países da Zona Euro são, no essencial, os bancos alemães e seus consórcios. O mesmo é dizer que o imperialismo germânico controla, desde já, através do crédito dos seus bancos, toda a produção e todos os países da Zona Euro.
O que esta situação, criada com a constituição da União Europeia e a instituição do Euro, significa é que, hoje, todos os países da Zona Euro, total ou parcialmente, trabalham para a Alemanha.
Agora que uma parte importante dos países do Euro estão tecnicamente falidos (Grécia, Irlanda, Portugal, Itália, Bélgica, Holanda, etc), fácil – e tentador – é ao imperialismo alemão desferir sobre a Zona Euro o golpe fatal: ou morre o Euro, porque já cumpriu a sua função, como marco encapuzado, de destruir os países médios e pequenos da Zona Euro, podendo mesmo pôr-se um fim à existência da União Europeia, pois a Europa é já presa definitiva do imperialismo alemão; ou impõe-se aos estados da Zona Euro um corte dramático na sua soberania orçamental e financeira, e, por consequência, económica e política, obrigando esses países a aceitar uma política fiscal e orçamental imposta pelo eixo Berlim-Paris, ou seja, imposta pelo imperialismo alemão.
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Uma dessas políticas – provavelmente a segunda – será imposta aos países da Zona Euro nas reuniões que estão a decorrer na Europa sob a vigilância de Ângela Merkel e do palhaço Nicolau Sarkozy.
A Cimeira Europeia de quinta e sexta-feira próximas decidirá da perda da nossa soberania. Todos os países da Zona Euro ficarão sob a pata alemã, sujeitos aquela teoria da soberania limitada que a Sra. Merkel, uma alemã oriental, herdou do defunto Breznev.
O governo e o presidente da República estarão representados nessa cimeira, para, em hossana ao imperialismo germânico, oficiarem o enterro de Portugal.
É esse o papel dos traidores...
Há, contudo, um pequeno pormenor, com que os traidores nunca contaram ao longo da nossa história e que os levou sempre à derrota e à perdição: esse pequeno pormenor é o Povo Português, que, desta vez também, saberá erguer-se contra os vende-pátrias e contra o imperialismo.
NÃO PAGAMOS!
PELO DERRUBE DO GOVERNO E DO SISTEMA QUE NOS EXPLORA E OPRIME!
POR UM GOVERNO DE ESQUERDA, DEMOCRÁTICO PATRIÓTICO!
O POVO VENCERÁ!
Lisboa, 05.12.2011
O Comité Central do PCTP/MRPP

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

DERROTAR OS BÁRBAROS...




DERROTAR OS BÁRBAROS
RESTAURAR ATENAS

Derrotar os bárbaros
restaurar Atenas
mas também chamar Dionisos
cantar o caos
fazer aqui a festa
aliar-me a algumas
hordas de bárbaros
para derrotar os bárbaros
dos mercados e da finança
restaurar Atenas
a àgora
o palco
a palavra
matar o Deus único
tornar-se deus
trazer os antigos deuses
de volta
cantar e dançar
na floresta
descer ao inferno
à origem
à essência
dialogar com Sócrates
percorrer as ruas de Atenas
ser o mago do lago
Zaratustra
entre a àguia e a serpente
derrotar os bárbaros
restaurar Atenas
une-te à mulher
vem aí o homem da renascença
o super-homem
o mago, o poeta
derrotar os bárbaros
restaurar atenas
está a acabar o tempo
dos risinhos e das mentiras
passámos demasiados dias
nas trevas da ignorância
agora vemos a luz
somos magníficos
superiores
vimos de Atenas
podemos gozar
na cara dos básrbaros
agora sim
são nossos
a terra, o sol, as estrelas
loucos divinos
eis o nosso exército
preparai-vos para a guerra
derrotar os bárbaros
restaurar Atenas.


Vilar do Pinheiro, 5.12.2011

RESTAURAR ATENAS


RESTAURAR ATENAS

António Pedro Ribeiro

Segundo o filósofo Bernard-Henry Lévy, "o que está em crise é a Europa. Não são as finanças nem a economia. É a Europa. A sua cultura. O seu génio. A sua consciência sem consciência. O que tem de imemorial e a sua memória. A sua base e a sua origem. O seu coração, que cada vez bate mais debilmente. A sua alma." Roma e Atenas estão no epicentro da crise. Os dois pilares da Europa. "Os lugares de intervenção do modelo de democracia no qual sempre vivemos. O espaço do nosso conhecimento e do nosso direito", segundo Lévy. Daí que a solução para a crise não seja financeira nem económica mas sim, de novo, espiritual, moral ou política. Terá de haver um renascimento da Europa fora desta Europa da finança e do euro, fora desta Europa dominada pela ditadura dos mercados, fora desta Europa de Merkel e Sarkozy, fora desta Europa que já não é Europa. "A explosão da dívida soberana, a crise de confiasnça generalizada, a especulação, o dinheiro louco", nas palavras de Lévy, são reflexos dessa Europa que se afasta da sua alma, de Roma, de Atenas. É preciso restaurar o primado da palavra, do conhecimento, da sabedoria. É preciso voltar à praça, como vem acontecendo em Roma, Atenas, Lisboa, Londres, Madrid. É preciso estar na rua com os indignados, com aqueles que querem abolir o dinheiro, que dizem que outra vida é possível. É preciso reclamar a vida, a cultura, a História. É preciso voltar a Sócrates, Platão, Aristóteles, Ésquilo, Sófocles, Vergílio, Ovídio, Séneca, Cícero. "Recordar Roma. Restaurar Atenas. Esse é o único plano", como diz Bernard-Henry Lévy.

"CAFÉ PARAÍSO" NA "BRASILEIRA" DE BRAGA


APRESENTAÇÃO DE "CAFÉ PARAÍSO" DE ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO NA "BRASILEIRA" EM BRAGA


"Café Paraíso", o décimo livro e o nono de poesia de António Pedro Ribeiro ou A. Pedro Ribeiro, vai ser apresentado no café "A Brasileira" em Braga na próxima quinta, dia 8, pelas 21,00 h.


"Café Paraíso" é uma edição Bairro dos Livros (Cultureprint).


A apresentação da obra vai estar a cargo de Ângela Berlinde, do pintor César Taíbo e do jornalista Alexandre Praça.




António Pedro Ribeiro nasceu no Porto no Maio de 68, viveu em Braga, na Trofa e reside actualmente em Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). É autor dos livros "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas" (World Art Friends, 2011), "Um Poeta no Piolho" (Corpos, 2009), "Queimai o Dinheiro" (Corpos, 2009), "Saloon" (Edições Mortas, 2007), "Um Poeta a Mijar" (Corpos, 2007), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco, 2006), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (Pirata, 2004), "Á Mesa do Homem Só. Estórias" (Silêncio da Gaveta, 2001) e "Gritos. Murmúrios" (com Rui Soares, Grémio Lusíada, 1988). Actuou como diseur e performer nos Festivais de Paredes de Coura de 2006 e 2009 (com a banda Mana Calórica), no Festival de Poesia do Condado de 2007 em Salvaterra do Minho (Espanha) e nas "Quintas de Leitura" do Teatro Campo Alegre no Porto em 2009 e em Maio passado. É organizador, com Luís Beirão, das sessões de Poesia de Choque no Clube Literário do Porto e tem dinamizado as noites de poesia dos bares Púcaros e Pinguim no Porto. Foi fundador da revista literária "Aguasfurtadas" e tem colaborado em revistas como "Piolho", "Porrtuguesia" ou "Bíblia".


"Café Paraíso" fala dos últimos poetas de café, da vivência do poeta nos cafés das cidades- "A Brasileira" e o "Astória" em Braga, o "Piolho", o "Ceuta", o "Luso" e o "Aviz" no Porto, o "Guarda-Sol" e o "Ultramar" na Póvoa de Varzim, o "Pátio" e o "Bom Pastor" em Vila do Conde- e das aldeias (Vilar do Pinheiro, Vila Nova de Telha). Fala da mulher que passa, que se passeia nos cafés, que atende às mesas ou permanece ao balcão a quem o poeta oferece poemas e só às vezes conquista. É também o café das tertúlias com outros poetas e escritores (A. da Silva O., Raúl Simões Pinto), amigas, amigos, as discussões inflamadas, os bares até às tantas. A memória de Joaquim Castro Caldas, Jaime Lousa, Sebastião Alba e de Carlos Pinto, o falecido gerente do Púcaros.


"Café Paraíso" é o homem só à mesa que escreve, lê e observa. É o poeta maldito que incendeia os bares da poesia. São também as figuras do gerente, do empregado de mesa, do teórico de café, do revolucionário de café, do bebado, do louco que berra, as cumplicidades, as conversas, a caixa registadora. Mas é igualmente o tédio, a rotina, o inferno do quotidiano mercantil que, apesar de tudo, é mais fácil de suportar no café do que em casa. A revolta contra a propaganda da TV, o futebol omnipresente que o poeta também vê, o não aceitar da ditadura dos mercados e da finança. "A vidinha de escravos que está a chegar ao fim", o princípio do fim do capitalismo. O café, a cerveja.


http://cultureprint.wordpress.com/2011/12/05/cafe-paraiso-e-apresentado-n-a-brasileira-em-braga-na-proxima-quinta-feira/

http://pimentanegra.blogspot.com

O MEDO DE VIVER


O MEDO DE VIVER

António Pedro Ribeiro

A nossa sociedade está dominada pelo medo. Como diz Joaquín EStefanía em "A Economia do Medo", "hoje não se trata somente dos temores tradicionais da morte, do inferno, da doença, da velhice, do terrorismo, da guerra, da fome, das radiações nucleares, dos desastres naturais, das catástrofes ambientais, mas também do medo de um novo poder denominado de ditadura dos mercados, que tende a reduzir os benefícios sociais e as conquistas da cidadania do último meio século". A ditadura dos mercados, entidade sem rosto, reduz-nos, via media, ao medo e à impotência. Todos lhe prestam vassalagem, mesmo que aparentemente a critiquem, desde os governantes europeus e nacionais aos politiqueiros da oposição moderada. E o medo impõe-se por todo o lado, "o medo é uma emoção que imobiliza, que neutraliza, que não permite actuar nem tomar decisões com naturalidade", ainda Estefanía: "os que exercem o poder submetem os medrosos e injectam-lhes a passividade e a privatização das suas vidas quotidianas, levando-os a refugiarem-se no lar". Daí que tenhamos uma sociedade ao estilo da do "Big Brother" de George Orwell onde todos desconfiam de todos, onde o companheirismo, a espontaneidade, o comunicar com o desconhecido começam a rarear. Todos se fecham na sua concha. É a sociedade-espectáculo de Guy Debord onde nos limitamos a ser espectadores de um filme que não controlamos, onde mulheres de sonho se passeiam pelos ecrãs sem que as possamos tocar. É a sociedade da compra e venda em que por detrás de uma aparencia de alguma afabilidade se escondem os monstros da ganância, da rapina, da contabilidade, do economês, do medo: do medo de ficar desempregado, do medo dos jovens não arranjarem trabalho por muito que estudem, do medo de empobrecer, do medo de gastar o que temos porque aparentemente nem sequer é nosso. Segundo Joaquín Estefanía, "para nossa desgraça isto cada dia se parece mais com a Grande Depressão. Nunca antes tão poucos deveram tanto dinheiro a tantos". Eis no que deu o capitalismo, eis no que deu a ditadura dos mercados: no medo de viver, no medo de existir. É absolutamente trágico.

sábado, 3 de dezembro de 2011

LONDRES, 29 DE NOVEMBRO DE 2011

Safo-me bem em Inglaterra. A língua não é problema. Os ingleses parecem mais gentis que os portugueses.
Tenho sono e é manhã cedo no apartamento. Tive um sonho com o Álvaro e uma amiga. Tinha deixado as coisas no Piolho. Hoje deixamos Londres. Ficaria bem por aqui. O centro da cidade, o Soho. Escrevo na cama com a caneta do "Java" que o sr. Martins me ofereceu no dia do lançamento do "Café Paraíso". A próxima sessão será no dia 8 na "Brasileira" em Braga. A viagem prossegue. Estou, de facto, numa das melhores fases da minha vida. A escrita flui, o raciocínio também. London calling. Último dia. Em Montalegre passei-me para o outro lado. Estava às portas de um mundo novo, caía ao chão, a Gotucha teve de me segurar. Depois estoirei o dinheiro todo dos livros. Break on Through to the Other Side. É isso tudo, velho Jim. Ninguém nos compreende quando estamos em transe. Dissemos adeus ao Clube Literário, vamos para o Olimpo. Agora sim, entre os deuses.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

LONDON CALLING


Do Soho
aos indignados de St. Paul's
London's calling
from the Tower

atravesso as ruas
Trafagal Square
Picadilly
Chinatown
London's burning
so am I
uma semana após
o filme de Montalegre
o borracho e o gigante mijão
às portas da barragem
a cair
Covent Garden, Victoria Station
estar hoje aqui
amanhã além
London calling
acordo ao som dos Clash
vinho de Montalegre
o homem está alegre
ao leme
do barco no Thames
o homem sem lei
fora-da-lei
é o livro que aí vem.


Londres, 28 de Novembro de 2011.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A NOSSA HORA


Senhores sem escravos
eis a nossa sina
somos lúcidos, porra!
Discernimos
o bem da porcaria
vimos de outros lugares
da santa loucura
cremos na honra
cavaleiros do caos
e da nova aurora
não somos da moeda
mesmo que a usemos
somos lúcidos, porra!
Não vimos cantar as florzinhas
nada devemos a ninguém
caminhamos de cabeça erguida
bebemos o cálice da honra

cometemos erros, é certo
mas não temos
de carregar a cruz
bebemos com honra
nada temos que ver
com o vosso calendário
com o vosso quotidiano
com a vossa hora

fomos nobres outrora
reis, profetas
arautos da glória
odiamos o pequeno
a pequena intriga
vimos de Shakespeare, de Sócrates,
de Nietzsche
amamos a sabedoria
queremo-la como à mulher
ao balcão
que se insinua
loucos divinos
eis o que já disseram de nós
afastai de mim
esses versejadores menores
temos a honra, porra
Jaime, Carlos
temos a honra
meu pai
temos a glória
bem podem tentar
encerrar-nos no manicómio
bem podem tentar
converter-nos à máquina
nós fraquejamos
mas voltamos sempre
não somos da bola
somos eternos
magníficos
capazes da maldade
e da ternura
não, não nos confundais
com os menores
amamos o abismo e a loucura
combatemos ao lado
dos leões e das àguias
rompemos correntes
não, não espereis de nós
benevolência
sabemos ser amáveis, é certo
mas trazemos a espada
queremos as nossas damas de volta!
Queremos, como os aqueus,
a nossa Helena
estamos prontos para a guerra
tremei, ó menores,
chegou a hora.


Vilar do Pinheiro, Café Central, 1.12.2011

OS CEGOS E OS IMBECIS


OS CEGOS E OS IMBECIS

António Pedro Ribeiro

Segundo a "Transparência Internacional", organização global da sociedade civil, a corrupção no sector público é um dos principais factores da crise da dívida em Portugal. Ainda de acordo com a organização, "os países da zona euro que sofrem crises da dívida, em parte devido à falha das autoridades públicas em combater o suborno e a evasão fiscal que são motores fundamentais dessa mesma crise" estão entre os estados da União Europeia com pontuações mais desfavoráveis.
Eis a origem da "nossa" dívida. Passos Coelho anda a sacar os subsídios aos reformados e aos funcionários públicos, anda a empobrecer os portugueses, em nome de dívidas contraídas por corruptos e burlões da política e da economia. Eis a moral dos governantes, dos mercados e dos banqueiros. Não temos de pagar dívida nenhuma. Não contraímos dívida nenhuma. Passos Coelho, Cavaco e os burlões que paguem a dívida. Deixemos, de uma vez por todas, em Portugal, como na Itália, como na Grécia, de acreditar nas patranhas que esses senhores nos vendem todos os dias. Deixemos de acreditar no Pai Natal e na banha da cobra. Acordemos de uma vez por todas. O império está a cair. Já mal disfarça. Deixemos de ser os cegos que se deixam dominar por este bando de imbecis, como dizia Shakespeare. Elevemo-nos, tornemo-nos senhores, cavaleiros, como outrora. Nada paga a nossa honra.