sábado, 31 de março de 2012

DÁ-ME UMA PUTA


Quero uma mulher
uma rainha
na cama

dá-ma de borla
numa bandeja
de prata
dá-me uma pata
uma puta de rua

rei destas terras
quero vingança.

sexta-feira, 30 de março de 2012

A QUEDA DO IMPÉRIO


Barcelona já arde como Atenas. Desenganem-se os comentaristas, os profetas da morte, os especuladores, os banqueiros, os capitalistas. Os tempos estão a mudar. O cidadão, antes adormecido, antes acorrentado, começa a perder o medo dos cães da polícia. Porque lhe estão a roubar tudo, porque lhe roubam a vida. Como em outras épocas da História, revolta-se contra o poder, contra a corrupção, contra a podridão, contra a mentira. Porque quer a verdade. Porque não quer fazer parte da gentalha que serve os poderes. Porque está farto de ser tratado como um diminuído, como um deprimido, enquanto os outros enchem os bolsos e a conta bancária. O império que se cuide. As hordas de bárbaros andam à solta.

quarta-feira, 28 de março de 2012

O HOMEM NOBRE E A GENTALHA


"O povo quando presente é constituído em populaça. A ralé sempre fez o jeito às contra-revoluções. Chegamos a esta maravilha paradoxal de serem os carneiros a eleger os lobos, os coelhos a eleger os furões, os pintos a eleger as raposas, as carpas a votar no lúcio, o melro a votar na cobra."
(Mário de Carvalho, "Le Monde Diplomatique", Março 2012)

O povo convertido em ralé, em gentalha, em populaça, em consumidor de produtos e imagens. Eis o resultado das directivas dos economistas comentaristas da TV, eis o resultado das missas do papagaio Marcelo e da acção dos empregados dos banqueiros, dos patrões dos media, dos servos das multinacionais, dos usurários, da indústria militar. E o povo continuará a ser a gentalha de Nietzsche enquanto se deixar comer, enquanto não tomar consciência da verdade, enquanto o seu cérebro for feito de notas e moedas, enquanto o sub-homem, o último dos homens, o homem burguês de Rousseau não ouvir o homem nobre, o sábio, o filósofo, o poeta. Enquanto isso não suceder o homem comum ficará condenado à escravidão, à castração, à luta pela existência, completamente domesticado, dócil, anestesiado dentro da caverna.

terça-feira, 27 de março de 2012

BRAGA CAMPEÃO


Dez meses e dois dias depois, o Sporting de Braga volta a ser líder da Liga portuguesa, com um ponto de vantagem sobre o FC Porto e dois sobre o Benfica. Os bracarenses, que nunca comandaram numa fase tão adiantada da prova, receberam e bateram a Académica por 2-1 e para a semana vão à Luz tentar provar que são mesmo candidatos.

Leonardo Jardim convocou o até agora lesionado Alan, mas acabou por o deixar na bancada, talvez para o poupar para as difíceis batalhas que se aproximam: visita à Luz e recepção ao FC Porto. O Sp. Braga apresentou assim a equipa mais previsível, frente a uma Académica que voltou a contar com Diogo Melo e Pepe Sow, que formaram um duplo pivot à frente da defesa. Essa circunstância e o controlo apertado que era exercido sobre Hugo Viana atrapalharam a primeira fase da construção ofensiva do Sp. Braga.Por isso, o primeiro verdadeiro desequilíbrio na defesa coimbrã surgiu apenas aos 31’, mas o pé esquerdo de Lima não tem o mesma direcção do outro e a bola foi desviada em cima da linha por Flávio.

O golo, contudo, não demorou muito. Foi mais um lance criado pela asa direita bracarense, onde Miguel Lopes e Paulo César estiveram sempre muito activos. Mas foi um lance em que a inteligência de Mossoró esteve ao serviço do futebol. O brasileiro leu rapidamente a situação e, quando se esperava que parasse a bola no peito, optou por um cabeceamento, que teve a virtude de sobrevoar toda a gente e acabar dentro da baliza.

A partir daí, o Sp. Braga estava na situação em que se sente normalmente mais confortável e o segundo golo não demorou, fruto de uma assistência primorosa de Mossoró e de um remate (de pé direito...) certeiro de Lima, que ultrapassa Cardozo na lista dos melhores marcadores.

Os primeiros sinais da segunda parte até começaram por confirmar a tendência favorável ao Sp. Braga, que desperdiçou boas situações.

Pedro Emanuel decidiu então arriscar, desmontou o duplo pivot e lançou David Simão. Poucos minutos depois, o médio arrancou um pontapé fulminante e a bola só parou no fundo da baliza.

A Académica ganhou outro ânimo, tornou-se mais acutilante e o Sp. Braga tremeu um pouco. A certa altura, Leonardo Jardim foi pragmático. Trocou Mossoró por Djamal. O momento não era para violinos, mas para quem sabe tocar bombo. Com sorte (principalmente num lance), os minhotos resistiram...

POSITIVO
Mossoró
Marcou um golo de cabeça, em que confirmou a capacidade de ler rápido a situação, e assistiu de forma brilhante Lima para o 2-0. Mas fez muito mais do que isso.
Quim
Na hora do aperto, segurou as pontas. Fez três defesas de grande qualidade, uma delas excepcional. Já ninguém se lembra do frango em Barcelos que custou a final da Taça da Liga.
Golo de David Simão
Um pontapé de meia-distância fenomenal, dos melhores que se viram neste campeonato, resultou num golo de autor, que ainda por cima teve o condão de tornar o jogo mais interessante.

NEGATIVO
Diogo Valente
Esteve inoperante durante toda a primeira parte e desperdiçou uma situção de forma escandalosa

Ficha de Jogo
Sp. Braga, 2
Académica, 1

Estádio Municipal de Braga. 

Assistência 16.502 espectadores.

Sp. Braga Quim, Miguel Lopes (Vinícius, l90’), Douglão, Nuno André Coelho, Elderson, Custódio, Hugo Viana, Paulo César (Ukra, 66’), Mossoró (Djamal, 71’ l83’), Hélder Barbosa e Lima. Treinador Leonardo Jardim.

Académica Peiser, Cédric l51’, Habib (David Simão, 55’), Reiner Ferreira l87’, Nivaldo l73’, Flávio, Diogo Melo, Adrien (Rui Miguel, 80’), Marinho l57’, Edinho e Diogo Valente (Saulo, 61’l90+1’). Treinador Pedro Emanuel.


Árbitro André Gralha, de Santarém. Amarelos Cédric 51’, Marinho 57’, Nivaldo 73’, Djamal, 83’, Reiner Ferreira 87’, Vinícius, 90’, Saulo, 90'+1’.
Golos1-0, por, Mossoró, aos 36’; 2-0, por Lima, aos 45'; 2-1, por David Simão, aos 62'.

segunda-feira, 26 de março de 2012

DA REVOLUÇÃO


Dia 22 de Março houve pessoas agredidas no Porto e em Lisboa nas manifestações. Jornalistas inclusivé. O capitalismo dos mercados não esconde a face fascista. Eis o que está por detrás dos apelos à ordem e ao trabalho de Passos Coelho e quejandos. Eis o que esconde o país bem-comportado e cumpridor que eles nos tentam vender. Eis a ditadura real sob o manto da democracia burguesa. Para acabar com a ditadura ou com a barbárie só há uma solução: a revolução. Revolução. Eis a palavra que eles temem. Eis a palavra que vem dos socialistas utópicos, de Marx, de Bakunine, de Che Guevara. Eis a luta contra os imperialismos alemão, chinês e norte-americano. Tomemos a rua, companheiros. O capitalismo não tem saída. Por muitas fantasias, por muitas tardes sossegadas que nos espetem nos cornos. Muita gente começa a compreender. Mas é preciso ler alguns poetas, alguns escritores, alguns filósofos. A Europa está moribunda. Começa a chegar a hora. Começamos a despertar do longo sono. Unamo-nos aos companhiros da Grécia. Combatamos o fascismo capitalista. Bebamos à nova era, ao fim dos bancos e dos especuladores. Dancemos. Celebremos o novo dia. Venceremos, irmãos, venceremos. Esta é a nossa hora.

sexta-feira, 23 de março de 2012

SÃO DIFERENTES DE MIM AS MULHERES


São diferentes de mim as mulheres. Mas são vaidosas como eu. Passeiam-se como primas-donas. São diferentes de mim as mulheres. Ainda não as consegui compreender. Só à noite quando bebem. Não pensam como eu. Normalmente não são quixotescas. São diferentes de mim as mulheres. Queria aproximar-me mais delas. São diferentes de mim as mulheres. Mas prestam culto a Dionisos e às musas. Se não fosse o dinheiro seriam completamente loucas. São diferentes de mim as mulheres.

AMOR, LIBERDADE, POESIA


O amor, a imaginação poética opõe-se ao calculismo do burguês, segundo Rousseau que, tal como Platão, tenta recapturar a poesia do mundo. Daí que a verdadeira poesia seja banida do quotidiano capitalista. "A terra não está já povoada de espíritos e nada apoia mais as aspirações humanas. Os homens só podem afectar-se uns aos outros pela força ou por motivos de lucro", diz Allan Bloom. É ao amor e à poesia que compete mudar o mundo. E também à liberdade. Já o diziam os surrealistas. Não escutemos mais as patranhas da economia, a economia tem destruído o homem.

quarta-feira, 21 de março de 2012

HAMLET


Já tive delírios. Segundo Platão, já tive a dádiva da divindade. Quando me imaginava Deus, quando queria atravessar para o outro lado, eu era esse, o iluminado. Quando apareci nos arredores da Póvoa sem saber como, quando me passei com a imagem do cristo crucificado na Páscoa de Braga, eu era esse, tocado pelo divino. Esta vida do realismo, do racionalismo económico não o entende. Serei mesmo um rei vindo de outras eras, um rei que deseja ardentemente a revolução. Um ser que é fundamentalmente alma. Que é capaz de dizer o que há muito não é dito, talvez desde Camelot. Um rei amaldiçoado em busca do Graal. Ser ou não ser Hamlet?

PRIMA-DONA


Ter a ideia. Não basta ter uma boa ideia para escrever um bom poema. Há que manter um ritmo. Há que soar melhor. Há que trabalhar o poema. Mesmo que eu nunca tenha sido um trabalhador. Sou mais uma "prima-dona", daquelas que entram em campo e dão dois ou três toques de classe, tipo Pablo Aimar. Nunca fui de correr muito. Não sou, nunca serei, um trabalhador.

sábado, 17 de março de 2012

O POETA E A MULHER BELA-2


Não há dúvida que as mulheres atraentes, que as mulheres que despertam o desejo sexual nos fazem escrever, nos fazem atingir estados sublimes, magníficos. Para o artista é muito mais custoso viver sem a mulher bela, sem a mulher amada, mesmo que esta esteja apenas na sua imaginação. Mas se estiver na presença dela tanto melhor. É ela que se exibe, que se passeia pelos salões. É ela que põe o poeta fora de si, que o faz subir às alturas. O poeta deveria viver rodeado de mulheres belas, em vez de se deixar domesticar pela máquina, pelo mundo da luta pela existência. Não, o poeta não pode estar aí, o poeta é de uma espécie difedrente, o poeta veio para cantar a mulher bela.

quinta-feira, 15 de março de 2012

A ALMA DO POETA

O poeta vem à cidade
ao Piolho
olha para a bola
escreve
esteve a ler Aristóteles
comprou Henry Miller
"Um Diabo no Paraíso"
nos livros usados
recebeu dinheiro
do "Queimai o Dinheiro"
por isso está aqui
a beber cerveja
a Susana não vem
o telefone não toca
há mais intelectuais
no Piolho
outros olham a bola
é um desperdício de tempo
ficar a olhar 1,30 hora
para a bola
mas também não há meninas
com quem falar
o poeta escreve
os empregados circulam
este é um mundo cão
apesar da aparente serenidade
da aparente simpatia
o poeta sabe-o
lê os sábios
talvez a solução
seja deitar tudo abaixo
construir uma cidade nova
uma cidade governada
por filósofos
como Platão e Sócrates defendiam
concretizar isso
em vez de andar aqui
a aturar os bárbaros da bola
sim, que o poeta
se passeie entre eles
como entre os animais
o poeta é superior
tem a alma
e a ideia
vem dos céus
vem das estrelas.


Porto, Piolho, 14.3.2012

ENTREVISTA A A.PEDRO RIBEIRO EM "A VOZ DA PÓVOA"


Poemas com Cafeína

José Peixoto

Nasceu no Porto em Maio de 1968, no mesmo ano e mês em que, em Paris, a juventude estudantil se manifestava contra o conservadorismo de uma Europa anquilosada. Actualmente António Pedro Ribeiro vive em Vilar de Pinheiro. É licenciado em Sociologia e assume-se como um revolucionário da palavra. Colaborador de diversas revistas, é autor de nove livros de poesia e um de prosa poética. Em Novembro de 2011, publicou “Café Paraíso” nas Edições Bairro dos Livros.


A Voz da Póvoa – No percurso do poeta há sempre uma mesa de café?



António Pedro Ribeiro

António Pedro Ribeiro – Este livro vem na sequência de outros como: “à mesa do homem só”, “Sallon” e “um poeta no piolho”. Tenho escrito essencialmente nos cafés. E tem sido essa vivência dos cafés que tem marcado a minha escrita nos últimos anos. Neste livro há uma recolha de poemas premeditada. Alguns estavam completamente esquecidos no computador, outros andavam desaparecidos em papéis.


A.V.P. – Como é que se consegue concentrar num café?


A.P.R. – Consigo perfeitamente escrever com o ruído do Piolho, da Brasileira de Braga, do Guarda Sol da Póvoa, do Pátio ou dos cafés da minha aldeia. O ruído às vezes até ajuda. As conversas, o empregado de mesa, o gerente, o homem que berra, o bêbado, o louco, os teóricos e os revolucionários de café. São tudo personagens que surgem. Não é necessariamente o silêncio que me faz escrever.


A.P.R. – Onde considera que o livro Café Paraíso se separa dos anteriores?


A.P.R. – O culto do álcool e das noitadas existe menos. É mais o café da tarde e menos o bar da noite. Continua a existir a mulher, mas já não é uma figura de culto. É a mulher que passa, que enche o café, a mulher bonita, a empregada de mesa a quem nós às vezes oferecemos poemas. A mulher que te faz escrever.


A.V.P: - A sua poesia exige um leitor com o ouvido no mundo?


A.P.R. – Na televisão há uma máquina de propaganda que está ao serviço dos mercados, dos governos, das comissões europeias, dos bancos centrais europeus e FMI. Às vezes acho que se trata de uma manipulação completa, mas tenho que prestar atenção para poder reflectir, filtrar a notícia e escrever o que penso. A pessoa nem sempre consegue dominar essa máquina que lhe é impingida.


A.V.P. – Há um outro poeta mais atento às coisas do sentimento?


A.P.R. – Há o poeta da alma, mesmo que digam que somos corpo. Apesar das teorias da psicanálise, acho que existe uma alma. E é a alma que nos distingue dos animais e de outros homens que já deixaram de ser homens. Com isso vem o amor, a liberdade, a curiosidade. A curiosidade é fundamental para descobrir. Enquanto tiver curiosidade continuarei a fazer coisas.


A.V.P: - A “Poesia de Choque” é tal como o nome diz ou há lugar para o amor?


A.P.R. – Eu e o Luís Beirão tentámos fugir à poesia mais lírica. Convidamos uma certa poesia de intervenção ou Beatnick. Não tem que ser necessariamente de subversão política. Há também lugar para a harmonia sem choque. Podemos dizer poemas de amor mas não é propriamente do Eugénio de Andrade. No Clube Literário chegámos a ter a sala completamente cheia. Agora acontece no café Olimpo.


A.V.P. – Nasceu em Maio de 68. Acredita que essa revolução pode repetir-se?


A.P.R. – Hoje as razões voltaram a não ser só materiais. Há também uma voz que grita a liberdade. Em parte isso acontece na Grécia onde, para além de razões materiais, há uma revolução pela liberdade. Uma revolta contra todo um sistema. Contra a tal máquina. As imagens repetem-se: os carros incendiados e a polícia. Acho que mais tarde ou mais cedo vai acontecer uma revolução como a de Maio de 68.

quarta-feira, 14 de março de 2012

FILHO DO ROCK N' ROLL


Apesar de estar a estudar a "Poética"
de Aristóteles
sinto-me um filho do rock n' roll
vós não compreendeis, miúdas
deixastes de ouvir o Lou Reed
ouvis pastilha
e uns pimbazecos
deixastes o rock n' roll

houve um tempo
em que tinhas curiosidade, querida
em que me pedias para ver
os meus livros e os meus discos
com a cara do Lou, do Morrison, do Curtis
agora não
é só vidinha
mesmo que sejas simpática
e me tragas a cerveja
não conheces o bom rock n' roll
pouco conheces, na verdade
a não ser as tuas unhas
e o teu baton
além da forma como seduzes, boneca
já não conheces o rock n' roll.


Confeitaria Ni, Telha, 13.3.2012

segunda-feira, 12 de março de 2012

DO ÚLTIMO HOMEM


Segundo Allan Bloom ("Gigantes e Anões"), para Nietzsche, a democracia liberal é o lar do "Último Homem", um ser sem coração e sem convicções, uma marioneta dedicada à preservação e ao conforto. Eu vejo esse "Último Homem" aqui no café. Apenas sente amor pela família e aproxima-se dos outros homens graças ao medo da morte e da solidão. De resto, nada de elevado, de nobre, as conversas são perfeitamente banais e superficiais. O último homem, o homem burguês deixa-se levar por cançonetistas pimba, por programas que exploram os sentimentos primários, por "reality-shows", por notícias manipuladas. Não há convicções, tanto se vota no PSD como no PS. O último homem fala do sustento, do conforto, das doenças, do dinheiro ao fim do mês. Em suma, uma tremenda vulkgaridade, um bocejo permanente. Deseja-se que as crianças sigam a linha dos pais e que venham a ganhar muito dinheiro, porque isso corresponde á felicidade. Daí que as crianças estejam limitadas à partida, apesar dos beijos e dos carinhos, a menos que se venham a revoltar contra a máquina. No fundo, estamos perante um sub-homem, incapaz de criar, que se limita a reproduzir o sistema e a imitar, por medo, o parceiro do lado. Não há qualquer enriquecimento ou engrandecimento do eu nem criação de valores. Estamos muito longe do homem superior de Nietzsche.

sábado, 10 de março de 2012

QUE VIMOS FAZER AO MUNDO?


Nascemos livres, gratuitamente. Depois tornamo-nos crianças, brincamos, aprendemos com os nossos pais várias coisas, aprendemos a ler e a escrever. Vamos para a escola. Apesar do tempo que permanecemos na escola, que gastamos a fazer os deveres de casa, brincamos, brincamos muito, rimo-nos imenso, gozamos. Somos livres, espontâneos, apesar da autoridade paternal. Depois chegamos à adolescência. Tornamo-nos tristes, no nosso caso muito pouco faladores. A escola, o liceu, começa a impôr-nos modelos, valores, formatações, a orientar-nos para o mercado e para a "vida prática". Ainda assim falamos com os nossos colegas e amigos. Começamos a questionar o mundo, a discutir os problemas, a descobrir a música e a literatura. Há aqueles que não descobrem, que não evoluem, que se limitam a imitar o dominante por medo de perder o grupo. Nunca seguimos o grupo, começámos a ler livros, a falar com as raparigas, depois vimos certos filmes. Entrámos na faculdade, começámos a sair à noite, a beber, divertiamo-nos sem limites, aparte as depressões. Muitos passam por essa fase de rebeldia mas depois assentam, casam, convertem-se ao tédio e à televisão. Nós entrámos em ruptura com a economia na Faculdade de Economia. Punhamos a máquina em causa. Envolvemo-nos em questões políticas, nas propinas, no PSR. Continuamos a divertir-nos, excepto quando estávamos em depressão. Esta poderia durar meses. Outros tornaram-se quadros políticos nas juventudes partidárias, nos partidos do sistema. Nós tivemos sempre a nossa loucura, bebíamos, dançávamos, questionávamos a máquina de propaganda. Tivemos amores. Sobretudo um. Trabalhámos em jornais. Publicámos livros de poesia. Dissemos poesia nos bares, em Paredes de Coura, no Campo Alegre. Hoje estamos convencidos que a nossa via não é a do trabalho nem a da acumulação de dinheiro nem a auto-conservação. Descobrimos o sentido da vida, a grandeza, o homem nobre. Estamos aqui para desenvolver ao máximo as nossas potencialidades e a nossa personalidade. Estamos aqui para aprender, para transmitir os nossos conhecimentos, para atingir o sublime, para descobrir a mulher. Procuramos os grandes, os mestres, os sábios, procuramos também o amor e a amizade. Tentamos expressá-lo na nossa escrita. Aumentamos a vida, com Henry Miller. Somos de novo crianças livres. Somos curiosos e criadores. Ambicionamos mudar o mundo e o homem. Eis o que fazemos aqui.

BRAGA CAMPEÃO

Os bracarenses derrotaram em casa o U. Leiria por 2-1 e igualaram, com mais uma partida disputada, o FC Porto na liderança do campeonato.

Frente ao último classificado, responsável por uma das duas derrotas dos minhotos na Liga, o Sp. Braga sentiu algumas dificuldades.

Os bracarenses chegaram ao intervalo a vencer por 1-0, golo apontado pelo defesa brasileiro Douglão aos 24 minutos, e no recomeço da segunda parte Lima aumentou para 2-0. O avançado brasileiro apontou o 17.º golo na prova.

Apesar do mau momento que atravessa, o U. Leiria ainda conseguiu reagir e reduziu aos 62 minutos, com um golo de Bruno Moraes, mas a equipa treinada por Leonardo Jardim segurou a vantagem que garante a 11.ª vitória consecutiva

A ALMA


Existe uma alma. Isto não pode ser só comer, beber, acumular e trocar dinheiro. Existe uma alma feita de amor, beleza, virtude. Existe uma alma que cria, que escreve, que pinta, que ensina, que ri. Existe uma alma que distingue o homem superior, que o torna grande, divino, que se afasta do macaco, do ser trepador, competidor. Existe uma alma que afasta o homem dos outros homens, que o aproxima deles quando pressente a verdade. Existe uma alma que faz o homem dançar.

QUERO UMA MULHER


Quero uma mulher que me ampare, que acarinhe a minha arte e a minha filosofia. Quero uma mulher que me dê filhos par que eu os possa ensinar no caminho do entusiasmo e da virtude. Quero uma mulher que me mexa nos cabelos e que faça despertar o super-homem. Quero uma mulher selvagem que vá comigo até ao infinito e à Criação.

sexta-feira, 9 de março de 2012

O SENTIDO DA VIDA























O SENTIDO DA VIDA

Qual o sentido da vida?
Desenvolver ao máximo as nossas potencialidades aqui na terra, engrandecer a nossa alma através da arte, do conhecimento, do prazer, da beleza.
Conhecer as grandes obras, os grandes homens, questioná-los.
Procurar entre os nossos contemporâneos aqueles que nos ensinam e aqueles que nos amam.
Provocar a discussão, sabendo que muitos estão já irremediavelmente perdidos nos seus medos e na mera sobrevivência.
Combater o obscurantismo, a ignorância, a tirania.
E como defendem Marx, Rimbaud, Breton, transformar o mundo, mudar a vida.



O POETA E A MULHER BELA

Como diz Sócrates, o poeta é um enviado dos deuses. Bailarino de Dionisos, atinge o êxtase, sai fora de si, canta o amor e o vinho. O poeta procura a beleza, a mulher bela em todos os lugares. Ama-a, adora-a, oferece-lhe poemas, flores, puxa-a para si, tenta arrancá-la do mundo do útil e do conforto.
Os poetas que não são assim limitam-se a fazer jogos de palavras, a escrever sem coração, são os ... poetas do cálculo e da mercearia. É castrador viver sem paixão, sem desejo, sem magia, sem entrega à mulher amada. E é a mulher que exalta o poeta, como afirma Kierkegaard, é a mulher, que apesar de toda a sua natureza selvagem e também por isso, que faz o poeta maior, que o leva a criar o grande poema. Sobretudo nestes tempos de quase barbárie.

OS IDEÓLOGOS DA SOCIEDADE DOS MERCADOS

A superficialidade, o reduzir do espectador a um atrasado mental, tudo isso domina nos telejornais e nos debates televisivos. Tornamo-nos meros espectadores, consumidores da sociedade-espectáculo, sem hipótese de qualquer intervenção. A legitimação da sociedade comercial, da sociedade dos mercados, é feita por pretensos intelectuais, por economistas que descobrem as grandes obras: Nietzsche, Rousseau, Platão, Marx. Defendem que a democracia burguesa é o melhor dos mundos, que não há alternativa à troika ou à primata alemã. Defendem a ignorância das pessoas, os valores do cálculo, do ganho, do sacrifício, da mera preservação. Aliados a políticos sem alma, sem grandeza, sem elevação pregam o conformismo, o niilismo, a castração. Não são sequer homens, são sub-homens, esses que nos entram na mente e nos fazem a cabeça. Tudo quanto devemos fazer é cuspir-lhes nas caras, dizer-lhes que eles não comandam a nossa vida, que a vida é livre e gratuita, que não devemos nada a ninguém.

ASCETA




Entre as raparigas da ilha
e os leões do deserto
assim permaneço
assim vivo desperto

não me alcançais, ó senhores
aqui os dias são meus
asceta longe da tribo
xamã encoberto

estou nos meus reinos,
ó vendilhões,
nada é mais certo.

quinta-feira, 8 de março de 2012

EU VI A MORTE NOS OLHOS DE DEUS

MACACOS BÁRBAROS

De onde vindes
macacos, bárbaros
que tudo reduzistes
ao comércio
e à autopreservação?
De que espécie sois,
que abominais
a beleza,
a virtude,
a elevação?

De onde vindes,
macacos, bárbaros,
que saqueastes
Roma e Atenas
que perseguis
a luz
e a imaginação?
Que é feito
do vosso espírito
se alguma vez
tivestes algum?
Quem sois
,agora que Deus morreu,
últimos homens,
sub-homens,
burgueses,
fariseus?



"O Renascer da Padeirinha", 7.3.2012

quarta-feira, 7 de março de 2012

MITOS

Começo a achar que não sou inferior a certos mitos da poesia e da literatura portuguesa. O truque deles é que passam a vida a emendar, a fazer corte e costura. No fundo, não são criadores. São técnicos da emenda e do remendo. Em termos de ideias, de imaginação, de invenção, não me considero inferior a eles. Penso até que há dias, como hoje, em que sou capaz de fazer a síntese, de abrir a mente, de alcançar a iluminação. Não, não me faleis desses poetas e escritores menores. Falai-me de Homero, Shakespeare, Nietzsche, Henry Miller, Fernando Pessoa.

terça-feira, 6 de março de 2012


O desejo sexual não satisfeito pode conduzir o homem á criação, às grandes obras mas também à elevação, à nobreza de espírito, ao próprio sublime. Daí que, para nós, seja fundamental estarmos rodeados de belas mulheres.

segunda-feira, 5 de março de 2012

A FORÇA DAS IDEIAS


A economia tem condicionado o mundo mas não podemos esquecer a força das ideias. As ideias dos grandes pensadores, dos grandes filósofos têm mudado o mundo nem que seja anos, décadas, séculos depois da sua morte. Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes, Rousseau, Hegel, Marx, Nietzsche têm influenciado mais a evolução do mundo do que a acção de milhões e milhões de homens- políticos, comerciantes, empresários. E é junto desses grandes homens que devemos beber a luz do conhecimento, que compreendemos a resposta às questões essenciais da vida. Mas é também junto dos génios da arte e da literatura que nos tornamos mais nobres, mais completos, mais livres: Homero, Sófocles, Shakespeare, Sade, Rimbaud, Pessoa, Dali, Picasso, Da Vinci, entre outros. A vida só faz sentido se for realmente vivida, se não for cálculo, interesse, exploração, se for livre, grande, sábia. Ou seja, se não houver nada acima da alma humana, nem chefes, nem castrações, nem deuses, nem polícias, se a vida for experimento e descoberta permanentes, se formos realmente senhores, senhores sem escravos, se desenvolvermos plenamente as nossas potencialidades do nascimento até à morte e, quiçá, para além da morte, se formos poetas, criadores, filósofos.

QUE VIDA LEVAIS?


Que vida levais
se comeis tudo o que a TV
vos espeta nos cornos?
Que vida levais
se passais a vida a obedecer
ao Deus morto
ou ao deus dos mercados
e da economia?
Que vida levais
se vos limitais
a frequentar uns anos de escola
fazeis umas asneiras
depois assentais
tendes filhos
quereis que eles fiquem ricos
macacos trepadores
gritadores de golos
que vida levais
com conversas sempre iguais
sem brilho
sem nobreza
sem sabedoria
que vida levais
com dias sempre iguais
sempre a trabalhar
e a pensar no trabalho
que vida levais
se não sois capazes
da loucura?

Vilar do Pinheiro, "Sonhos de Verão", 4.3.2012

domingo, 4 de março de 2012

LEÃO



Quem és tu para me dares ordens?
Estás algures acima de mim?
És Deus ou és o deus da finança?
Diz-me!
Porque haveria de te obedecer?
Julgas-me um burguês,
um daqueles patetas que passam
a semana a falar de futebol?
Julgas-me uma daquelas
que passa a vida a coscuvilhar?
Um escravo
do trabalho e da sobrevivência?
Quem pensas que sou?
Um macaco
que não entende nada de nada?
Um espectador passivo,
um batedor de palmas?
Pensas que venho assistir
ao teu número?
Que mulheres de sonho
são essas
que não consigo tocar?
Vens vender-me na praça
ou queres que me afogue
na depressão?
Quem és tu
que permanentemente te insinuas
que entras na minha mente
e me alicias com a via única?
Quem és tu,
ó encantador?
Afastei-me de ti várias vezes
conheci os malditos
bebi a taça da libertação
por isso odeio os teus anúncios
e sobretudo não suporto ordens
nem os que permanecem
na caverna
a discutir as sombras
nem os escravos
que aceitam tudo
em troca de umas migalhas
não, não me apanhas
hoje estou em sintonia
com o sol
sou nobre
tenho poderes
venci a máquina
não me apanhas,
ó todo-poderoso
aprendi com os mestres
faço a síntese
tenho em mim
o universo
vivo
estou na idade do ouro
de Rousseau
de Shakespeare
de Platão

saí da caverna

entre as mulheres
e os leões
procuro o super-homem.


Vilar do Pinheiro, "Sonhos de Verão", 4.3.2012

sexta-feira, 2 de março de 2012

A MULHER E O POETA




Como diz Sócrates, o poeta é um enviado dos deuses. Bailarino de Dionisos, atinge o êxtase, sai fora de si, canta o amor e o vinho. O poeta procura a beleza, a mulher bela em todos os lugares. Ama-a, adora-a, oferece-lhe poemas, flores, puxa-a para si, tenta arrancá-la do mundo do útil e do conforto.
Os poetas que não são assim limitam-se a fazer jogos de palavras, a escrever sem coração, são os poetas do cálculo e da mercearia. É castrador viver sem paixão, sem desejo, sem magia, sem entrega à mulher amada. E é a mulher que exalta o poeta, como afirma Kierkegaard, é a mulher, que apesar de toda a sua natureza selvagem e também por isso, que faz o poeta maior, que leva o poeta a criar o grande poema. Sobretudo nestes tempos de quase barbárie.

A HISTÓRIA DA MINHA VIDA-PARTE I




Se não fossem os meus amigos Rui Soares e Jorge Pereira não teria seguido o mesmo caminho. No Liceu Sá de Miranda, em Braga, o Jorge deu-me a conhecer os Doors e outras músicas e o Rui mostrou-me a via da poesia. Lembro-me que já tínhamos conversas elevadas, a descer a Rua do Taxa, mais tarde a vir do Alberto Sampaio, sobre a liberdade, sobre o sentido da vida. Depois, no 12º ano, comecei a ler uns livros e a falar com umas colegas- até aí era muito tímido. Vi, pela primeira vez, o "Apocalipse Now" de Coppola, com o "The End" dos Doors e o Marlon Brando naquele papel genial de xamã. Comecei a soltar-me. Eram só três aulas por dia: Matemática, Geografia e Inglês. Foi o ano em que tirei melhores notas. Veio a primeira namorada, a Fátima, que era de Vila Verde. Depois veio o princípio da maldição da Faculdade de Economia do Porto. A urgência de voltar para Braga. As saídas à noite. A Natércia. Os concertos dos Xutos, dos GNR, dos Mão Morta. A experiência da Rádio Clube do Minho. O Alexandre Praça, o Luís Sousa, o Paulo Barreto. Os UHF. As bebedeiras. Os Joy Division.
Depois a casa da Rua Nova de Santa Cruz só para mim. As festas. A depressão no Porto. O rejeitar definitivo da contabilidade e da finança. O levar o "Assim Falava Zaratustra" de Nietzsche para as aulas. Os chumbos. Ainda o Jorge e o Rui. A paixão pela Catarina. O primeiro livro com o Rui Soares, "Gritos. Murmúrios". As apresentações e actuações no Tuaregue, na Casa dos Crivos. O Deslize. Os primeiros bons poemas. A mudança para a Faculdade de Letras, para Sociologia. O entusiamo inicial, as boas notas no primeiro ano. Depois o Jaime Lousa, a Fátima, os Ébrios, o ovo, o Feira Nova. Acreditava que estava a fazer a revolução. Depois a queda. Os meses a comprimidos, dose cavalar. A inércia, a grande depressão. O Zé António. O PSR. As leituras de Marx, Trostky, Lenine, dos anarquistas. O voltar sempre a Braga. A Goreti no Deslize que mudou para sempre a minha vida. O amor sem limites. A casa da Rua Nova de Santa Cruz até 95. O ser candidato a deputado e mandatário pelo PSR. A Paulinha da mini-saia no Astória.
Agora estou aqui, 16 anos depois. Tomei opções erradas mas a partir dos 17 segui uma via. Dionisíaca, talvez. Não me arrependo. Escrevo com mais facilidade do que escrevia. Apesar das grandes depressões e dos dias vazios, e também por causa deles, tenho tido uma preenchida, repleta de filmes. Há coisas que não quero voltar a provar. Neste momento, quero interpretar os grandes.