terça-feira, 25 de junho de 2013

UMA VIDA SEM DINHEIRO

Apesar das doenças e das ameaças de doença, posso dizer que me estou a encontrar. Realmente a mente abre-se. Olho de cima o mundo da intoxicação e da imbecilidade. Sou um homem. Não sou uma coisa. Não estou à venda no mercado global. Não sou um receptáculo dos computadores nem da TV. Vivo. Sou dono de mim. Não tenho de vos ouvir, ó vendilhões! Não me lavais o cérebro nem me atirais para o tédio e para a depressão. Aqui na velha "Padeirinha" atinjo as alturas. Todo eu sou dança, celebração. Abandonei a felicidade da maioria. Sigo a estrada larga de Whitman. Amo a vida autêntica, a vida que está no àlcool e em algumas mulheres. Não tenho que ser bem comportado, não tenho de andar ordenadinho. Não tenho que ser vosso, ó polícias. Vivo. Reino. Sou. Sou o poeta maldito. O grande doido. Não sou vosso, ó normais. Mesmo que às vezes pareça. Afastai-vos! Não me tenteis vender o vosso mundo! Recuso. Tenho convicções. Tenho ideias. Bebo, ainda bebo. Essa vida que vendeis não presta, ó coquetes televisivas. Afastai de mim os pimbas! Sou dos outros, sou dos grandes. Venho das estrelas. As palavras vêm como facas. Como é que pude aguentar esta merda tanto tempo? Como é que se pode ser conivente com a imbecilidade, com estes palhaços? O dinheiro, sempre o dinheiro a comandar a vida. Como é possível ser tão limitado? Quero uma vida sem dinheiro, uma vida sem amos, sem vendilhões, uma vida onde cada um desenvolva livremente as suas potencialidades, uma vida de criação. Não vos suporto mais, ó comentaristas.

sábado, 22 de junho de 2013

O HOMEM PARA LÁ DO HOMEM

E se a nossa mente explodisse, se elevasse ao máximo as suas potencialidades? O que seríamos capazes de criar? Muita coisa perderia o valor. Como a compra e venda, a relação comercial, o dinheiro. Seríamos deuses, seres de luz, efectivamente filhos das estrelas, da primeira luz. A ideia seria realmente soberana, seríamos capazes de tudo, de atingir o belo, o bem, o sublime. Poderíamos ser terríveis mas também infinitamente bons, capazes de dar amor a todo o momento. Ultrapassaríamos a política, a economia, tudo seria alma e céu. Sim, o que poderíamos ser se nos realizássemos aqui na Terra e além dela. Seríamos reis, rainhas, seres encantadores, extáticos, livres. Deixaríamos de andar ordenados, ao ritmo do relógio, sem tempo, sem limites, sem trabalho. O que seria o homem para lá do homem? Belo, soberbo, magnífico, um senhor sem escravos, ao seu ritmo, como no início dos tempos.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O ESCRITOR E AS PALMAS

Sou escritor. Assim o dizem. Devo escrever. Devo passar para o papel o que penso e sinto. Habituei-me a beber e será muito díficil deixar. A bebida ajuda-me a enfrentar os dias de tédio e mesmo que não haja tédio bebo na mesma. É assim desde os 18 anos em Braga. Dizem-me que o álcool também tem um efeito depressor e eu acredito. A seguir à euforia vem a depressão. Eufórico não estou. Mas vou subindo. Aqui no Pátio. Vou chegando à estrela. Vou abrindo caminho. O poeta bebe. Como nos velhos livros. Ganhei a fama. O poeta marginal, o poeta maldito. Eu era feliz. Ebriamente feliz. Dizia poesia no Tuaregue. Já então recebia palmas. E também vaias. Ainda assim agora nem sempre saio em glória. Tenho os meus picos. Os meus fãs, as minhas fãs, temporários ou permanentes. Creio que, em certa medida, a minha linguagem consegue ser mais eficaz do que a dos partidos. Talvez porque consiga ser mais abrangente. Eu falo da alienação, da imbecilização, via media, do agravamento das doenças mentais. Raramente falo do primário, da economia. Falo da vida, da vida autêntica de Rimbaud, de Morrison, de Nietzsche. Talvez aí esteja a diferença. Talvez por isso receba mais palmas.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

A VIDA NÃO PRESTA

Bem sei que é necessário derrubar esta gente. Mas não menos necessário é esclarecer as pessoas. Em 2013, sec. XXI, a vida não presta. O safanço, o interesse, a competição, a rapina sobrepõem-se à inteligência, à cultura, à curiosidade, à verdadeira vida. Triunfam os oportunistas, os vendilhões, os executivos. O homem perde até a capacidade de amar, muitos afogam-se na depressão, alguns no suicídio ou então caem na uniformidade do pensamento, no conformismo. O trabalho é intragável, o lazer muitas vezes é controlado pelas modas ou pela ideologia dominante, o desemprego avança, tal como a pobreza e a miséria. A vida torna-se repetitiva, entediante, monótona. As vedetas cor-de-rosa vivem a nossa vida. Não, não há razão para sorrir. No entanto, ainda podemos buscar a vida dentro de nós. No entanto, se ainda não estamos moldados podemos ainda encontrar-nos. Ainda somos donos de nós próprios. Ao contrário do que nos vendem, ainda somos donos da verdade e da beleza, ainda podemos criar e dançar, ainda podemos mudar o mundo.

sábado, 8 de junho de 2013

M.

Tu não sabes os lugares por onde andei. Tu não sabes porque que é que a voz me falha e as pernas tremem. Tu não conheces os meus desertos. Beber sete cervejas e cambalear por causa de uma conversa e de uma foto do Che. Emborcar whisky após whisky e debitar poemas de amor e sangue perante uma plateia que tanto me ama como me odeia. Tu não sabes os paraísos e os infernos que levam a uma só palavra, a uma só canção. Há um mundo entre nós. Um mundo que nos separa e divide. Mas eu estranhamente, primitivamente amo-te. Tu desconheces os meus caminhos. Conheces parte das minhas fraquezas e dos meus silêncios. Talvez nunca seja possível encontrarmo-nos. Talvez os nossos caminhos nunca mais se cruzem. Talvez o código, a tribo, o ritmo não coincidam. Talvez a linguagem não se esteja a adequar. Talvez eu seja sorumbático. Mas eu estranhamente, primitivamente amo-te. In “Sexo, Noitadas e Rock n’ Roll”