segunda-feira, 30 de novembro de 2015

POETA BÊBADO

Merda de álcool que me envenenas
estive com a Fernanda 
e não paro de beber
bebo se estou triste
bebo se estou alegre
vai ser assim até morrer
bebo
vou de bar em bar
o fígado aguenta
as gajas falam
preciso de uma mulher
mas não de uma qualquer
saí do partido
sou anarquista
poeta bêbado
candidato a Presidente
agora estou no Aduela
nunca escrevi aqui
já merecia uma estátua
vão-se lá foder
bebo porque quero
porque não os suporto
nem ao proletariado
nem ao comité central
afinal até descendo
de um rei
mas isso não me adianta
a ponta de um corno
reino nesta cidade
reino porque bebo
reino porque sou louco
Hamlet
Quixote
Zaratustra a bradar
a diferença é que a minha escrita
é automática,
senhores
não preciso de emendas
só de copos
e de empregados a servir
o senhor
mesmo que este pague
não quero educar
a classe operária!
A classe operária
nada me diz
os sem-abrigo sim
ao frio, nas ruas
a Fernanda sabe muitas coisas
falou do amor infinito
do amor universal
e eu fiquei siderado a olhar
preciso mesmo de uma mulher
mas não de uma qualquer
bebo a isso
bebo a tudo
é só fazer rolar o marfim
o amor está no fim
"o fim,
amigo querido,
o fim,
amigo único,
nunca mais te olharei
nos olhos
custa-me deixar-te
mas tu nunca me seguirias"
Morrison está aqui
e eu sou a estrela
a puta do rock n' roll
não tenho realmente limites
sou doido, querida
nada há a fazer
ride-vos
pensais estar na maior
mas o caos está à porta
o caos aperta
o caos dança
dancemos pois
o apocalipse
apocalipse now
Marlon Brando
xamã
estes gajos não percebem nada de nada
é a revolução
a puta da revolução
ardei pois
rebentai pois
a hora está a chegar
vós bebeis copos
eu bebo copos
não sabeis o que se está
a passar
o Che está aqui
Bakunine está aqui
dancemos pois
this is the beggining
of a new age
cantou Lou Reed
Take a walk on the wild side
nem do bom rock n' roll
vos lembrais?
Ai, eu canto
ai, eu sou supremo
ai, Arnaldo
como te gozo
a ti e ao teu proletariado
eh!Eh!Eh!Eh!Eh!Eh!
Agora a estrela sou eu
Virgínia
Gotucha
a estrela sou eu
e como a pena é poderosa
vale por mil armas
money
get back
i'm all right, jack
keep your hands
off my stack
Pink Floyd
Roger Waters
1984
não sabeis o que eu sei
não sou de Deus nem de Alá
mato a jihad mato americanos
como criancinhas
ao pequeno-almoço
ai, Maria
sou tão louco
tão louco
para esta gente
ainda vos ris
das prendas de Natal
dos telemóveis
da puta que vos pariu
estou como Charles Bukowski
e estou-me nas tintas
para os vossos risinhos idiotas
é tempo de combater
de pegar em armas
as gajas chegam
sentam-se
não me conhecem
sou o António Pedro Ribeiro,
47 anos,
poeta maldito,
ando por aqui
sei umas coisas
aprendi-as com o meu pai
com a minha mãe
mas também na rua
nos cafés
nos bares
no palco
e agora estou aqui
bebo
gosto de beber
como tu, Jaime
como tu, Pacheco
como tu, Joaquim
como tu, Alberto
somos assim
não somos como os outros
temos a ternura
mas também a manha
o rien-faire destes gajos irrita-me
a indiferença destes gajos
irrita-me de morte
põe Doors
põe Led Zeppelin
estou farto destes merdas
no Candelabro oferecem-me cervejas
sou a estrela
e estes gajos não me ligam
vão pagá-las
uma a uma
é o hedonismo
sem mais nada
filhos da puta
nada dizeis de jeito
nada que eleve
como a Fernanda.

Porto, Aduela, 28.11.15

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

CAMELOT

O reconhecimento. Algum narcisismo, confesso. Mas se não fosse narcisista já teria dado um tiro nos cornos. Já estive na merda várias vezes, meses seguidos no inferno da depressão. Agora é a minha vez de reinar. Sou candidato anti-capitalista à presidência da República. Sou anarquista-guevarista-nietzscheano. Isso não me impede de passar noites de bar em bar, de copo em copo. Venho de Henry Miller, de Jim Morrison, de Charles Bukowski. As pessoas olham para mim porque sou diferente. Não sou escravo do trabalho nem das horas. Escolhi a vida que quis. Falta-me a mulher amada. Falta-me a revolução concretizada. No entanto, sinto-a próxima. O capitalismo está num caos por causa dos atentados dos fanáticos de Alá e da barbárie interna. As pessoas não sabem o que querem. Falam de futilidades. Não se calam. Pobres vidas. Anda um gajo em busca da glória e esta gente contenta-se com telemóveis, televisão, dinheiro e sobrevivência. Sim, estou na estrada de Camelot, de Artur, do Santo Graal. Não como desse pão!, como disse Péret. Estive muito tempo calado, a ouvir os outros, agora é a minha vez de me dirigir ao mundo. Agora o mundo é meu, nada está acima de mim nem da minha vontade. Sou deus de mim e da minha vida, como afirma Max Stirner. Sou único, sou soberano. As palavras saem livres, soltas. Sou aquele que dança. Dionisos a Presidente. E mulheres, muitas mulheres, mulheres belas, as minhas bacantes. Não, este mundo não me agrada. Eu sou da celebração do lagarto, do banquete permanente, da criação. "A estrada do excesso conduz ao palácio da sabedoria", já dizia William Blake. Não sou sequer deste tempo, deste século, venho de Camelot, de Elsenor, da Grécia Antiga. Amo-vos mas tenho pena de vós.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

MAGOS, POETAS

Queria transmitir o que sei aos mais novos. Mas raramente estou com eles. Nem sei bem o que eles pensam. Queria transmitir-lhes que esta via não é única nem irreversível. Que, dentro de nós, existem forças maravilhosas, forças que nos elevam, que fazem de nós poetas, magos, criadores. Que o mundo de todos os dias, das obrigações, do trabalho não é o único. Pelo menos alguns de nós somos capazes de superar esse mundo porque somos enviados dos céus e podemos construir o céu na terra. Temos capacidades mentais prodigiosas. Não as desperdicemos.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

NEM JIADISMO NEM CAPITALISMO

Nem jiadismo nem capitalismo. Condenamos os atentados de Paris, condenamos os carniceiros de Alá mas também condenamos um complexo mediático "que manipula sistematicamente as consciências, mantendo a população numa condição de passiva inconsciência", como afirma Herbert Marcuse. Condenamos também os bombardeamentos franceses na Síria que matam inocentes, tal como condenamos os bombardeamentos americanos e ocidentais no Iraque e no Afeganistão, bem como os bombardeamentos israelitas sobre os palestinianos. Condenamos a sociedade de consumo e da opulência que aspira por aparelhos de televisão, computadores e telemóveis cada vez mais eficientes, por automóveis cada vez mais velozes e sofisticados, por este ou aquele conforto. Nada queremos com essa merda! Nada queremos, como dizia André Breton, com este "monstruoso sistema de fome e escravidão". Nada queremos com uma sociedade que castra o desejo e a própria vida. Não temos que defender uma sociedade que, ao contrário do que pregam Hollande, Obama ou Cameron, já não é a da liberdade, igualdade e fraternidade. A revolução prepara-se, apenas, retomando a expressão de Trotsky, para "conquistar para todos os homens direito, não apenas ao pão, mas também à poesia".

domingo, 15 de novembro de 2015

COMPRAM. VENDEM-SE.

Eles andam por aí como macacos. Saúdam-se, cumprimentam-se. Dizem umas graçolas. Compram e vendem. Assim existem. Não lêem. Não evoluem. Repetem os dias, os comportamentos, as ideias. Reproduzem as ideias que lhes vendem. Não têm pensamento próprio. Macaqueiam. Arrastam-se. Pagam. Compram. Vendem. Mexem no dinheiro. Propagam a espécie. Reproduzem-se. Passam o Natal, a Páscoa, o Ano Novo. Falam. Conversam. Mexem no telemóvel. Comem. Bebem. Mijam. Cagam. Dormem. Fodem. Compram. Vendem.

sábado, 14 de novembro de 2015

A EXTREMA-ESQUERDA CONTRA A EXTREMA-DIREITA

"Depenai os ricos, fazei-os pagar por toda a gente."
É uma guerra da extrema-esquerda contra a extrema-direita. O centro tende a desaparecer. Em França tende a ganhar, para já, a extrema-direita por causa dos atentados e dos refugiados. Em Portugal há as tendências ou correntes revolucionárias no Bloco de Esquerda e no PCP, há o MAS, há o MRPP, há os anarquistas. Em Espanha há o Podemos, a Esquerda Unida, a CUP independentista na Catalunha e outros grupos revolucionários. Na Grécia há facções do Syriza, há Varoufakis, há o partido comunista, há grupos revolucionários, há dissidentes do Syriza, há anarquistas. O que é certo é que as posições anticapitalistas, contra uma sociedade que não serve, que não traz a felicidade nem a liberdade se tendem a extremar. No Japão, o partido comunista já é o segundo partido. Por outro lado, há os bárbaros do Estado Islâmico, que foram armados pelos americanos e pelos ocidentais e que são consequência das guerras do Iraque e do Afeganistão. Nada justifica os seus actos hediondos. Contudo, o ocidente, Israel e sobretudo os Estados Unidos também têm as mãos manchadas de sangue, além de diariamente matarem milhares à fome e de tédio. Estamos numa nova Idade Média, numas novas cruzadas e contra-cruzadas, apesar de todo o aparato tecnológico. A extrema-direita não está só em Marine Le Pen, está nos senhores do dinheiro e do poder, naqueles que nadam em milhões enquanto os outros morrem e sofrem, naqueles que vendem pai e mãe na busca embriagada do lucro, naqueles que não são sequer humanos, tal como os fanáticos de Alá. Por isso urge a revolta. Aliás, com esta "vida" de falso sossego, de falso conforto, de prisioneiros da ordem, o que temos a perder? Como disse: é a extrema-esquerda contra a extrema-direita.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

CANDIDATURA DE ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

CANDIDATURA DO POETA ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

António Pedro Ribeiro é candidato à Presidência da República. António Pedro de Basto e Vasconcelos Ribeiro da Silva nasceu no Porto em Maio de 1968 e viveu em Braga, Trofa e Porto, residindo actualmente em Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). Poeta, escritor, diseur e cronista é licenciado em Sociologia pela Faculdade de Letras do Porto e foi jornalista. Publicou 13 livros entre os quais “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro”, “Queimai o Dinheiro”, “Fora da Lei”, “Café Paraíso”, “O Caos às Portas da Ilha”, “Um Poeta a Mijar”e “Á Mesa do Homem Só”. Foi fundador da revista literária “Aguasfurtadas” e é ou foi colaborador das revistas “Piolho”, “Flanzine”, “Estúpida” ou “Portuguesia”. É militante do PCTP/MRPP, tendo sido mandatário distrital pelo Porto nas recentes eleições legislativas de Outubro e candidato à presidência da Câmara da Póvoa de Varzim em 2013 por aquele partido. Anteriormente havia sido candidato às Juntas de Freguesia de Vila de Conde e da Póvoa de Varzim pelo Bloco de Esquerda em 2001 e 2005 e candidato a deputado pelo PSR nas listas de Braga em 1991 e 1995. Foi dirigente associativo e activista estudantil. Actuou como diseur e performer no Festival de Paredes de Coura e nas “Quintas de Leitura” do Teatro Campo Alegre no Porto. Diz e disse regularmente poesia nos bares Pinguim, Púcaros e Olimpo no Porto e Pátio em Vila do Conde. Mantém, com Luís Beirão, a rubrica “Poesia de Choque” na Casa da Madeira no Porto.

MANIFESTO PRESIDENCIAL

A queda do governo fascista Passos Coelho/ Paulo Portas e a provável emergência de um governo de esquerda liderado por António Costa abrem novas perspectivas. Com efeito, a reposição dos salários e das pensões, a anulação da privatização da TAP e dos transportes de Lisboa e Porto, o aumento do salário mínimo e uma sensibilidade social antes inexistente que comporta políticas voltadas para o combate à pobreza, ao trabalho precário e ao desemprego consubstanciam uma viragem histórica nas relações entre as esquerdas em Portugal. É preciso também derrotar o candidato presidencial fala-barato e ao serviço dos grandes negócios Marcelo Rebelo de Sousa. O capitalismo, infelizmente, continua bem vivo:
O homem está a ser assassinado. Está a ser castrado pela finança, pelos mercados, pelos políticos ao seu serviço. É obrigado a lutar na arena, a disputar uma corrida, uma guerra com os seus semelhantes em busca do emprego, do cargo, do estatuto. As pessoas atropelam-se umas às outras sob a lei do dinheiro e do mercado. Aparentemente existe uma certa paz, uma certa harmonia mas, ao fim e ao cabo, reinam o caos e a barbárie. O homem é reduzido a um número, a uma coisa, a uma mercadoria. As relações humanas são cada vez mais superficiais e mecânicas. Estamos cada vez mais sós e deprimidos. A sociedade capitalista só traz infelicidade. É a lei do mais forte, do mais matreiro, do mais sacana. As próprias relações de amor e de amizade são postas em causa. É a esquizofrenia. Os donos das grandes multinacionais, dos bancos, das bolsas, dos impérios controlam-nos e lavam-nos o cérebro. Os senhores do dinheiro nadam em milhões e exploram, enquanto outros contam os trocos e outros vegetam na miséria. Não é justo. Não é humano. Não é digno. Não pode haver seres humanos de primeira e de segunda. Trabalha-se mais horas em vez de menos. Há menos tempo para o encontro, para o ser humano dispor de si, para a alegria. O lazer é cada vez mais consumismo. Os jovens estão confusos, não sabem a que valores se agarrar, são empurrados para o safanço, para o sucesso a qualquer preço, por exemplo em concursos de talentos. A televisão atira-nos pimbalhadas, programas da tarde sentimentalóides e imbecis. É o "Big Brother" de Orwell. Sim, podemos deslocar-nos, vir até ao café, ler, conversar, mas há sempre algo que nos condiciona. Sejam as directivas de Bruxelas ou do imperialismo alemão, sejam os humores dos mercados e da corja financeira, seja esta maldita máquina, a que só alguns escapam, que reprime os nossos impulsos, as nossas forças vitais, a nossa liberdade. Revoltemo-nos, pois.

Vila do Conde, 12 de Novembro de 2015

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O PASSOS CAIU

O governo Passos/Portas caiu. Finalmente. É tempo de festejar. De sair à rua. Os fascistas e os ultra-liberais foram derrotados. Em princípio teremos o governo de esquerda ou o governo PS com o apoio da esquerda. Não deixam de ser tempos históricos estes. São barreiras que se quebram. Quanto a mim, sou colocado num estudo de Nelson de Oliveira no Brasil ao lado de nomes como Valter Hugo Mãe, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto ou Adília Lopes. As coisas rolam. O poeta maldito que vai aos bares vomitar poesia. De facto, cometi os meus erros mas concluo que, ao longo destes anos, fui tendo razão. Falta-me ter uma coluna num jornal aqui de Braga, ser lido por esta gente boa aqui n' "A Brasileira". Sim, efectivamente as minhas ideias hoje fazem todo o sentido. Sou marxista libertário. Merda. O Passos caiu. Vamos festejar, Gotucha. Dançar noite fora. Aqui em Braga reino. As pessoas são amáveis, vivas. As miúdas são bonitas. Espero a Gotucha. Bebo. Chamo o Marques. Sou poeta. Poeta-vidente, segundo diz o Nelson de Oliveira. Ando à solta. Tantas noites. Tantas vidas. As lojas lá fora. O Passos caiu. Apetece-me celebrar. O país está em chamas. Tanto tempo à procura. Tanto tempo, loucura. "Queimai o Dinheiro" é um marco. "Queimai o Dinheiro" é um livro satírico, profético, que fala de sexo e de revolta. Em certa medida, os dois próximos livros voltam um pouco lá. Tenho de agradecer ao Ricardo e à Adriana, à Corpos. Hoje estou feliz aqui em Braga n' "A Brasileira". Que é feito de ti, Fátima? Que é feito das duas Fátimas? Nunca mais as vi. Não há dúvida que me começo a sentir mais solto. Não há dúvida que começo a sentir mais poder. O poder está na rua. Reclamemos a vida...agora! É em Braga que vai nascer a revolução. Acabaram-se os espartilhos. Acabou-se a castração. Agora somos livres, Gotucha. Podemos dançar noite fora. Celebremos com Dionisos e com as bacantes. Ah, Jaime, ah, Pacheco, se estivesses aqui a beber à minha mesa! Ah! Eles começam a tremer. Ah! Olha as mulheres belas. Podem ser nossas. Não são mais dos gajos da nota. Ah, como reino. Ah, como rio. Ah, como sou tão louco. Ah, como tudo é meu. Sim, posso recomeçar a abusar. E eu vou abusar. Não há limites. Vem aí a puta da revolução, senhores. Isto vai arder a sério. E eu vou gozar. Ah, se vou gozar. O Passos caiu. O reino está próximo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A DITADURA

Para o grego antigo, o homem é inseparável do cidadão. A reflexão é o privilégio dos homens livres que exercem a sua razão e os seus direitos cívicos. É isso que falta: cidadania. Só existe no momento no voto (e ainda assim...). De resto, os financeiros e os capitalistas acumulam, a TV imbeciliza, os políticos e os comentadores ao serviço da máquina ocupam o espaço todo. O cidadão comum é reduzido à esfera privada, às suas contas, aos seus negócios, à sua vidinha. Não existe nenhuma ágora. A maior parte das pessoas nem sequer discute política, a vida pública no café. Poucos têm consciência política e mesmo esses têm poucas hipóteses de a manifestar publicamente. Reina uma ditadura. Reinam também o caos, o confusionismo, as coisas misturam-se propositadamente sem qualquer lógica. Poucos mantêm convicções fortes. A máquina de lavar os cérebros avança todos os dias. Rareia a discussão filosófica, o diálogo sobre a polis, sobre a cidade a construir. As frustrações afogam-se no álcool. Não há democracia. Resta o homem só à mesa.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

DA GANÂNCIA E DA RIQUEZA

"Aqueles que hoje mais têm, cobiçam o dobro. A riqueza torna-se no homem loucura", dizia Teógnis, na Grécia antiga. Quem tem quer ter ainda mais. A riqueza acaba por não ter outro objectivo senão ela própria; feita para satisfazer as necessidades da vida, simples meio de subsistência, passa a constituir o seu próprio fim, coloca-se como necessidade universal, insaciável, ilimitada, que nunca poderá ser satisfeita, acrescenta Jean-Pierre Vernant. É o desejo de possuir mais do que os outros, mais do que a parte que lhe cabe, de possuir a totalidade. É esta ganância que domina as relações de hoje, que nos torna ferozes competidores, em vez de cooperadores. É esta ganância que destrói o amor e a amizade. Que faz com que uns sejam escravos dos outros. Que traz a depressão, a infelicidade. Um mundo assim não serve. Perdemos a vida, perdemos a humanidade.