terça-feira, 31 de março de 2015

O REGRESSO A NÓS MESMOS

Estas pessoas que vêm tranquilamente à confeitaria não são representativas da sofreguidão que vai lá fora. Não é vida o que lá se vive, é corrida, é competição. E os partidos de esquerda não falam disto, não sei porquê. É o "Big Brother" de Orwell, senhores. Os nossos pagamentos, os nossos movimentos na net são vigiados pelo Estado e pelo capitalismo. Os media atentam contra a nossa inteligência, contra a nossa sensibilidade. Sim, temos de saber ler. Senão os dias continuarão a ser monótonos, iguais. É necessária uma revolução. Primeiro, uma revolução nas nossas cabeças, uma revolta contra o instituído, uma revolta contra aquilo que nos querem impor, contra a "vida" que nos querem impor, contra os inimigos da vida autêntica: governo, capitalistas, especuladores, banqueiros, "investidores". É necessária a redescoberta da inocência, da infância, da criação, da arte. É necessário que discutamos o recomeço. Que nos encontremos sem pressas nem pressões, sem chefes a mandar em nós. É necessário que redescubramos a vida, o falar livremente, o cantar, tocar e dançar, o happening, a poesia. É necessário que voltemos a nós mesmos, àqueles que éramos na juventude, sem papões, sem opressões, sem castrações, sem fatalismos.

quinta-feira, 26 de março de 2015

O ÚLTIMO DOS HOMENS

Estou no café. A Cleo nunca mais vem. Ontem foi noite de glória no Pinguim. A brasileira e o amigo pedrado encantados com a minha poesia. Risos e palmas. Estarei a converter-me numa estrela? É o António Pedro Ribeiro, dizem. O poeta maldito que vai aos bares vomitar poesia. Sim, ganhei uma certa fama. Provavelmente quando ainda era o Peter Owne já a desejava. Fui construindo um caminho. A rádio. O DN Jovem, suplemento do "Diário de Notícias". O "Correio do Minho". "Gritos. Murmúrios", o primeiro livro com o Rui Soares. As primeiras sessões de poesia no Tuaregue, em Braga, com a Natércia. O JUP. Fui subindo. Construindo uma imagem. Os Ébrios. O hipermercado. O Jaime Lousa. A candidatura a deputado pelo PSR por Braga. As lutas estudantis. As listas R e Z. A Faculdade de Letras do Porto. Sim, às vezes abusei, às vezes segui a estrada do excesso e da loucura mas procurei sempre a liberdade livre, a mulher livre. Já em 2004 com a reportagem do "Comércio do Porto" no "Púcaros" sobre o "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" e com o anúncio da candidatura à Presidência da República a fama batia à porta. Mais tarde, em 2006, veio a "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro", graças ao Valter Hugo Mãe, e a actuação memorável no Festival de Paredes de Coura. Depois vieram as idas à Antena 1, à Antena 3, à "Prova Oral", ao "Valter Hugo Mãe" no Porto Canal e ao "É a Vida Alvim!" do Fernando Alvim, no Canal Q, bem como as críticas e notas no "Diário de Notícias" e "Jornal de Notícias". De facto, penso que estou a caminho de atingir alguma coisa. Tenho os meus admiradores e detractores. Tenho um legado a deixar, como diz a Maria Oliveira. Sou único, já o dizem. Passei pelo céu e pelo inferno. As pessoas dizem os meus poemas. Há quem me admire porque sou diferente. Não segui a linha recta. Ainda Inventamos. Discutimos ideias como Sócrates e Platão. Temos alma e coração. Por isso prosseguimos viagem. Por isso chegámos até aqui. Com todas as curvas que demos. Com todos os copos que bebemos. Com todos os que fomos. Não, miúda, não esperes de mim a normalidade. Eu não sou o senhor atinado que aparento. Eu berro. Eu vocifero. Eu sou louco. Eu sou o último dos homens.assim talvez tenha algo de santo, no sentido de Agostinho. Sim, tenho em mim a bondade mas também a sacanice. Venho de ti, Jaime Lousa. Venho de ti, Sebastião Alba. Venho de ti, Bukowski. Venho de ti, Henry Miller. Passaria o resto da tarde a beber. Não estou a disputar cargos, não estou a seguir uma carreira, não estou a atropelar ninguém. Consigo ser completamente louco, querida. Vê como danço, como parto os vidros. Não tenho escrito aqueles poemas satíricos que fazem rir. Tenho de retomá-los. Não te passa a ti, querida, enquanto lavas a loiça, as histórias por que passei. Desde julgar-me Deus, Jesus, Satã, até incendiar carros ou fazer revoluções. Mas hoje sou apenas um poeta pacato a beber a sua cerveja, a olhar para a menina. Volto ao palco na quinta, no Olimpo. Até lá leio, escrevo e espreito as mulheres. São diferentes umas das outras. Umas mais atiradiças, outras mais reservadas. Umas mais apagadas, outras mais vistosas. Todas, no entanto, desorientadas neste mundo mecânico de homens. De homens empreendedores, produtivos, técnicos, especialistas, sem sensibilidade, sem coração. Esses homens que dominam os bancos, os governos, as grandes empresas. Não somos como eles. Criamos na folha. 

sexta-feira, 20 de março de 2015

GENTE QUE AINDA VIVE

As manifestações e os protestos de Frankfurt provam que também na Alemanha, no império de Merkel, há vozes que resistem à austeridade e ao capitalismo. Os movimentos Blockupy e Attac solidarizaram-se com o povo grego e com os países mais afectados pela crise e denunciaram os 1,3 mil milhões de euros gastos na nova sede do Banco Central Europeu. É escandaloso que se gastem milhões em obras faraónicas enquanto muitos sobrevivem na miséria. É escandaloso que Draghi, Merkel e os banqueiros nadem em milhões enquanto nós contamos os trocos e outros dormem nas ruas. De qualquer forma, abre-se uma frente anti-capitalista e anti-imperialista na Europa e na América Latina. Muito graças à coragem e ao exemplo de Chávez, não o esqueçamos. Convém, no entanto, também não esquecer que o capitalismo não dorme. Que quer instalar um governo mundial não eleito. Que quer colocar tudo na mão dos computadores e da finança. Não esqueçamos que todas as nossas compras, todos os nossos movimentos na Internet são gravados e podem ser usados pelos governos ou por empresas privadas. Eis o novo "Big Brother" para lá da lavagem ao cérebro televisiva. A qualquer momento poderemos ser perseguidos pelas nossas posições políticas ou pelas nossas crenças religiosas. Contudo, como disse atrás, apesar do monstro há gente que se levanta. Gente que, se calhar, já pouco ou nada tem a perder. Gente que tem consciência de que está a ficar sem tempo porque o capitalismo lhe rouba o tempo, gente que não se quer limitar a trabalhar e a consumir, gente que se entedia de um dia-a-dia sem explosão, sem novidade, sem poesia. Gente que não suporta mais o controle e a polícia. Gente que ainda vive.

quinta-feira, 19 de março de 2015

A. PEDRO RIBEIRO AO JORNAL DIGITAL EM 16.6.2006

Braga - O politicamente incorrecto poeta portuense António Pedro Ribeiro veio a Braga, quinta-feira, apresentar a sua «Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro e Outras Pérolas - Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário», obra surrealista e directa que não poupa nas palavras fortes para fazer uso da liberdade de expressão.
«Ele tem um modo de estar arrogante, intolerante e mecânico, um modo de falar robótico, tecnológico», diz Pedro Ribeiro sobre José Sócrates, actual chefe do Governo português, a quem dedica o poema que dá nome ao seu mais recente livro. Mas além do primeiro-ministro, que o autor, rebelde assumido, pretende ver «num filme porno», há outros visados. «Este livro não é apenas uma dedicatória a José Sócrates, é um livro assumidamente anarquista, guevarista. Todos os poderes estão em causa, não é só o primeiro-ministro», explicou o próprio ao Jornal Digital aquando do lançamento na Livraria Centésima Página, em Braga, cidade onde viveu muitos anos.«Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro», título cuja escolha «não foi inocente», reconhece o autor, é também um manifesto contra o que se passa actualmente nos partidos políticos em Portugal. Os três primeiros textos são dedicados à Póvoa de Varzim, Porto e Vila do Conde «e respectivos presidentes de Câmara», refere o poeta. Com a primeira autarquia diz ter «uma especial relação de amor. Mais até do que com Sócrates». E nem a Igreja nem os jornalistas escapam à visceral «paixão» de Pedro Ribeiro.A obra, editada no início do ano pela objecto cardíaco, do escritor valter hugo mãe, que esteve presente na apresentação, é «muito influenciada» por leituras que o autor fez no Verão passado. Admirador dos situacionistas e dos surrealistas, o poeta utiliza algumas técnicas que estes usaram, nomeadamente a colagem. Em muitos dos seus textos mistura, por exemplo, excertos de notícias de jornais com frases suas ou de outros autores.Fundador da revista «aguasfurtadas», A. Pedro Ribeiro, que nasceu no Porto no famoso ano de 1968, publicou já outros livros e manifestos. «Eu também escrevo poemas de amor melancólicos», lembra o escritor que é também autor do blog «trip na arcada» e membro da banda Las Tequillas. Alguém que acredita «que a criatividade é o último reduto da rebelião».Madalena Sampaio

quarta-feira, 18 de março de 2015

O QUE TEM MAIS VALOR É O QUE NÃO TEM PREÇO

"O que tem mais valor é o que não tem preço", afirma Guilherme d' Oliveira Martins. E o que tem mais valor é a cultura, o amor, a liberdade. Daí que para combater a barbárie do capitalismo e do jihadismo faça todo o sentido o entregar-se ao debate, ao conhecimento, ao pensamento crítico. À idolatria do mercado e do dinheiro devemos contrapor a sabedoria dos mestres, a criação de obras de arte, o debate sobre a cidade. Só assim nos tornaremos nobres, só assim seremos livres. A cultura, a arte, a literatura elevam-nos. Não o safanço, não a adaptação a qualquer preço, não o passar por cima do outro. Cultivemos a criatividade do espírito. Enriqueçamo-nos. E demos amor uns aos outros.

quinta-feira, 12 de março de 2015

O COMBATE PELA MENTE

Como avisar as pessoas de que estão a ser controladas? Elas têm acesso à net, aos livros de Chomsky, de Zizek, de Sartre, de Marcuse. Mas, na sua grande maioria, não os procuram. Aliás, uma grande parte está perdida, irremediavelmente perdida. Penso que teremos que nos dirigir preferencialmente aos jovens e à pequena burguesia urbana. Lamentavelmente, já não acredito na classe operária. Os filósofos e os sociólogos raramente são chamados a intervir nos grandes canais de televisão. Nós próprios não somos convidados a escrever nos grandes jornais. Porquê? Porque nós pomos os media e o próprio sistema em causa. Teríamos de ter o nosso próprio jornal. Meus amigos, estais a ser levados por um bando de moedeiros e merceeiros que vos quer fazer a mente e vos quer condenar à lei do dinheiro e do lucro. O grande combate do século é o combate da mente. Tendes de ser os donos da vossa mente e não os escravos dos merceeiros. Tendes de pensar por vós próprios e desligar a televisão. Meus amigos, eles controlam o vosso trabalho e o vosso "tempo livre". Meus amigos, não podeis aceitar mais. A vida é vossa. Viestes ao mundo livres. Não viestes para uma prisão. Viestes para a festa e para a sabedoria, não para o controlo, não para a castração. Viestes debater o homem como Sócrates em Atenas. Viestes para o amor. Não para um trabalho alienado, para uma vida alienada que vos afasta da felicidade por muito que disfarceis. Não para o tédio e para a rotina que vos infernizam os dias sempre iguais. Não para a não-vida. Não para a morte em vida.

segunda-feira, 9 de março de 2015

MANIPULAÇÃO MEDIÁTICA

Segundo Noam Chomsky, há várias estratégias de manipulação mediática capitalista. A primeira consiste em desviar a atenção dos problemas mais importantes. Daí a relevância dada aos programas de entretenimento, à vida das vedetas, às telenovelas, ao futebol, à "Casa dos Segredos". Outro estratagema é criar/inventar uma crise económica para que as pessoas aceitem o retrocesso social, a baixa dos salários, o desemprego, as privatizações. Há ainda a aceitação pública do sacrifício futuro. As massas têm esperança que tudo melhorará amanhã por isso aceitam o sacrifício. Outra arma é a infantilização do telespectador. Este fica desprovido de sentido crítico como Homer Simpson. Aceita tudo passivamente. A emotividade sobrepõe-se ao racional. O público mantém-se na ignorância.
Por outro lado, a qualidade dada à educação das classes inferiores deve ser o mais pobre e medíocre possível. A escola pública deve ser desprezada.
O que passa nos media, as próprias letras de algumas canções fazem o indivíduo acreditar que é o culpado da sua própria desgraça, tal muitos psicólogos e psiquiatras. Não há causas exteriores, o indivíduo é o culpado de todos os males, a sociedade não é culpada.
De realçar ainda que os avanços da ciência têm provocado clivagens entre os conhecimentos do público e o das élites dominantes. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo. O sistema exerce um controle maior sobre os indivíduos do que os indivíduos sobre si mesmos.

terça-feira, 3 de março de 2015

O HOMEM DA CIDADE E DA REPÚBLICA

Há, sem dúvida, pessoas de bem, que se preocupam com os outros, que reconhecem o valor dos outros, que colocam a família acima de tudo, que abrem o coração. Admiro essas pessoas como o sr. Gilberto. No entanto, eu não sou assim. Eu tanto sou do eu como sou da cidade. Eu sigo Max Stirner quando ele proclama o eu soberano, quando diz que nada está acima de mim, do meu espírito, nem juízes, nem Estado, nem polícias. Contudo, eu também sou o homem da cidade, da pólis, da república, que se preocupa com o bem-estar e com a felicidade dos outros cidadãos, que que quer edificar uma nova educação, o conhecimento pelo conhecimento, que quer elevar os pensamentos. Compete-me a mim construir uma filosofia política que contribua para tornar os homens melhores, menos agressivos, menos competitivos, mais críticos em relação à engrenagem. Compete-me denunciar que o capitalismo e o dinheirismo representam a morte e que é preciso elevar as nossas consciências. Há, sem dúvida, pessoas de bem. No entanto, há também muita gente adormecida. Que não tem noção de que está a ser levada, explorada, alienada, de que o mundo, a natureza e o próprio homem estão a ser destruídos. Sim, os dias passam. As pessoas percorrem as ruas. Estão cada vez mais sós, apesar dos Smartphones, apesar do Facebook. Alguns sinais vêm de Atenas. Atenas onde nasceram a democracia, as assembleias, a filosofia. Atenas onde temos de regressar. Porque o homem pensa por si mesmo. Porque o homem não pode ser escravo de outros homens. Porque o homem é um criador, um filósofo. Porque o homem é livre e persegue o bem, a virtude, a verdade, a justiça. Porque o homem não é meio-homem, nem um farrapo, nem um carrasco. Porque o homem é amor.