domingo, 26 de fevereiro de 2017

A CIDADE LIVRE DE ZECA AFONSO

Mesmo antes de nascermos a "sociedade" já determina uma boa parte do que vamos ser. Mesmo antes de nascermos já somos dinheiro e trabalho. Mesmo antes de nascermos a vida já está algo deteriorada. E depois metem-nos o medo, a insegurança, a ignorância na cabeça. Poucos conseguimos ser nós mesmos. Poucos somos como Sócrates ou Jesus. Cedo nos privam da juventude e da infância. Cedo nos impõem "juízo". E só às vezes nos libertamos: concertos rock, danças, rebeliões, manifestações políticas ou artísticas. Urge, urge mesmo acabar com esta prisão que nos sufoca e com os nossos carrascos no sentido de construir a cidade livre que cantava Zeca Afonso.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

PREGUIÇA MENTAL

Penso que é um caso de preguiça mental. As pessoas não se esforçam, acomodam-se, não querem saber mais. Isso passa-se com muita gente. Mesmo com gente licenciada que se recusa a pegar num bom livro depois de acabar o curso. Depois dá nisto: somos governados e controlados por imbecis. Gente incapaz de discutir uma ideia, de estabelecer um diálogo produtivo. Só se agarram ao dinheiro, ao poder e à sobrevivência. Não vivem o presente, não criam, não celebram. Passam a vida numa competição feroz, devoram-se uns aos outros na arena. Tudo porque não são capazes de se elevar, de buscar a sabedoria.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

XAMÃ URBANO

No café da Vera. As coisas até me correm de feição. O Nelson de Oliveira chama-me xamã urbano desde o Brasil. O livro deve estar a sair. Sim, segui uma via errática mas fui construindo um caminho, uma "carreira". Fiz por isso. Às vezes abusei. Provavelmente teria que o fazer. Segui ideias, ideais. Mudei de partido, de concepção política. Presentemente só acredito numa federação de comunas livres ou num governo de filósofos, como Platão. De resto, vejo o povo agarrado ao dinheiro. Nem sequer têm noção de que o poder e as armas têm mais importância do que o dinheiro. No entanto, só dão valor ao dinheiro. Claro que o poder corrompe. Só aqueles que estão desapegados do poder como Sócrates ou Jesus se dirigem aos outros, aos poderosos, como se tivessem poder. Sem armas, é esta a via que devemos seguir. Falar como os xamãs, como os profetas. O Nelson de Oliveira afirma que eu ridicularizo isto tudo: o capitalismo, os media, as vedetas, a corrida feroz em que vejo os humanos envolvidos. Mas eu tenho momentos de fraqueza. Não sou sempre Diógenes nem Zaratustra. Bom, pelo menos, sou um poeta com uma história. A minha vida não tem sido em vão.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

NÃO ACEITAMOS A NÃO-VIDA

Sim, caro Vítor, a maioria das pessoas não se interessa pelos temas fundamentais. Não põem em causa a alienação capitalista, nem têm uma visão espiritual das coisas. Às vezes parece que andamos a pregar no deserto. No entanto, ainda acredito que os jovens e as crianças podem transformar o mundo. Por isso é que o sistema se preocupa tanto com as crianças, que as ocupa tanto, que lhes retira o tempo de jogo, brincadeira e invenção. Sim, caro Vítor, não tenho dúvidas de que temos razão. Não embarcamos na linguagem mediática e superficial dos comentadores. Aprofundamos as questões. Filosofamos. Detestamos o útil, o prático, o pragmático. Não aceitamos a não-vida do tédio.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

ASAS

Segundo Henry Miller, a missão do artista é derrubar os valores existentes, é "fazer do caos que o cerca uma ordem que é sua", é semear confrontos de modo a que os que estão mortos regressem à vida. "Graças à febre e ao fermento", os inumanos, os artistas transformam o pão em vinho e o vinho em canção. São capazes de saquear o universo para ir em busca do deus fora do alcance.
Eu não sou Henry Miller. Não me consigo expressar com a sua vertigem e eloquência. No entanto, também me sinto deslocado neste mundo de contabilidade e comércio. Dentro e fora de mim há um além que me chama. Há pensamentos e criações que me distinguem do comum dos homens. Ardo. Tenho êxtases. Iluminações. Busco o infinito e a sabedoria. Não sou do prático, do útil, do pragmático. Tenho asas. Sou capaz de voar. Desde a infância. Nasci para viver, para experimentar.