domingo, 31 de dezembro de 2017

SEIOS

Ouço o comboio ao longe. Um carro na rua. A mesa das festas. A amiga que acolhe. A miúda que me encanta, que me enlouquece. Os seios. Os grandes seios. O abraço. O sexo. O coração que bate. Tantas noites à procura. Crescei e multiplicai-vos. Fecundar a fêmea. Fundar a própria tribo. Estou às portas dos 50. As barbas estão brancas. A noite. O sonho. A ressaca.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

É UMA CHUVA TERRÍVEL AQUELA QUE VAI CAIR

Agora que, aparentemente, está afastada a hipótese de doença e a quadra natalícia vai chegar ao fim, posso pensar noutros voos: nos livros, na banda, na revolução. De facto, por estes dias tenho-me mantido em sossego, com incursões à revolta catalã. Uns são muito simpáticos comigo, outros parecem recear qualquer coisa. A hora está a chegar. E vai ser uma chuva terrível aquela que vai cair, como cantava Bob Dylan.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

O POETA E JESUS

É, de novo, madrugada. O poeta arde. Não sabe se é Jesus ou se está em Jesus. Não sabe se o que está a viver é o princípio de uma alucinação ou se é algo mais, capaz de unir os povos da Terra. Tal como Jesus, o poeta quer derrubar os banqueiros e os mercados mas hesita quanto ao uso da violência. Vê as montras partidas em Paris, Roma, Atenas e acredita que a revolução passa por aí. Também Jesus apelou à espada. Também Jesus era provocador e insolente: "No mundo tereis aflições, mas tende confiança! Eu venci o mundo", disse. Venceremos o mundo, derrubaremos o poder. Companheiros, companheiras. Aproxima-se a hora. Contudo, o poeta ainda tem dúvidas. Teme a barbárie pura. Deseja o amor entre os homens mas odeia os governantes, os mercadores, os banqueiros. Quer um mundo novo e um homem novo despidos da moeda e da mercearia.
É, de novo, madrugada. O poeta arde. Não sabe se é Jesus ou filho de Jesus. A mente e o coração expandem-se. O poeta sente que está a iniciar uma nova vida. Uma vida de entrega ao próximo e ao longínquo, sem caridadezinhas. 0 poeta sabe que, sendo naturalmente irresponsável, tem responsabilidades. Como Nietzsche, cria, dança em redor da sabedoria. As suas palavras vão chegar mais longe. Sabe-o. Os próximos dias poderão ser decisivos. O poeta chegou onde queria. Não haverá mais escritos menores, gratuitos. O poeta é de graça e é da Graça. Canta, ri. O mundo está a seus pés, tal como as mulheres mais belas. Se bem que seja necessária alguma prudência com as mulheres. Mas o poeta começa a conhecer as mulheres. Já não é o rapaz ingénuo dos 18 anos. As ideias vêm. O cérebro quase rebenta. O poeta quer construir um mundo novo. Acredita. É isso que o distingue dos outros. Hesita entre a paz e a espada. Sabe que a morte espreita. Contudo, vai continuar. É para isso que veio ao mundo. Vai ao fundo do ser. Vive. É. Está a chegar a hora, companheiros, companheiras. Chegou o tempo de cerrar fileiras. O poeta sabe que a manhã virá. E com ela a luz. Mas também a vida da rotina. Talvez ainda não amanhã, domingo. Mas segunda-feira. O poeta escreve e os homens dormem. Já não é Natal. O poeta nasceu outra vez. Vai pregar na praça. Vai sujeitar-se ao desprezo dos homens e das mulheres. Mas vai chegar a muita gente. Dentro e fora dos livros. O poeta é aquele que quer ser. Pensa na amada. Os galos cantam. Pedro não o nega. Está a escrever verdadeiramente como os mestres. É aqui que queria chegar. Ou melhor, esta é uma das etapas do processo. O poeta já quase não sente medo. Prossegue. Escreve madrugada fora. Está na casa da mãe e dos irmãos. Consulta o Evangelho de João. Vive. Chama o pai. Ele ouve-o. A voz do pai ecoa na sua mente. Está em paz. Há outra vida na mente. Uma vida sem economistas nem conta-corrente.

domingo, 10 de dezembro de 2017

WE WANT THE WORLD AND WE WANT IT NOW!

"Adoro mulheres. Penso que elas são o máximo. São uma bênção para os olhos, um bálsamo para a alma. Que pesadelo seria o mundo sem mulheres", já cantava o Lou Reed. As mulheres acalmam-me, dão-me amor, salvo algumas excepções. Há muitos anos que as canto, apesar de já ter sido acusado de ser sexista nos meus escritos. Sobretudo nos tempos do Púcaros. Bendito Púcaros. Bendita Gilda Manarte. Bendito Carlos. Grandes noites em que eles me vinham trazer a Vilar do Pinheiro. Agora estou a subir novamente. Sinto-me a subir. Como em 2006, como em 2010, como em 2012/2013. E desta vez também na terra do meu pai. Desculpem, senhoras de idade, a linguagem excessiva. Eu, às vezes, excedo-me. Sou como o Bukowsky, como o Henry Miller. Lembro-me da minha avó. Das minhas avós. Sempre me deram tudo. Menino de ouro, no que te tornaste? Num punk, num poeta maldito. Já não tenho cura. Os galos cantam lá fora. O Pip e a Chiara, os gatos, dormem lá fora. E eu, hoje, consoante o que se passar em Jerusalém ou Belém, vou tomar decisões políticas. Passamos demasiado tempo à espera com o ouvido colado ao chão. WE WANT THE WORLD AND WE WANT IT NOW!

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

PARA A ETERNIDADE

É impressionante. Há pessoas que têm uma mentalidade exclusivamente comercialista. É evidente que conheço comerciantes que são óptimas pessoas, de bom coração, generosas. Mas há realmente pessoas mesquinhas, más, sem salvação. Do muito que vivi até hoje em Braga, no Porto, na Trofa, em Vilar do Pinheiro, em Lisboa, na Póvoa, em Vila do Conde, etc das patadas que levei mas também das festas, dos abraços, dos amores, da Luz que vi condeno esses macacos, os grandes e os pequenos. No fundo, sou um gajo porreiro, um tipo sincero, mas aprendi a ser sacana, nem que seja 2000 anos depois. Por isso trago a paz mas também a espada. Já fui candidato a vários cargos. Só fui eleito no JUP e na Faculdade de Letras. De resto, ainda bem que não fui eleito. Seria como o Fidel, que admiro. Mas não sou comunista. Sou anarquista. Bakuninista. Quero demolir o Poder. Contudo, para tal, paradoxalmente, preciso de poder. E não chega o Poder da Palavra. Mas, hoje, 4 de dezembro de 2017, sinto poderes. Estranhos poderes. Um misto de amor e ódio, de céu e inferno. E ainda é cedo. Muito cedo. Estamos no princípio do mundo. No Princípio do Mundo. AH!AH! Danço contigo, Goreti, no Deslize, no Juno, no V5. Danço contigo, Zaratustra. E bebo. Porque não tenho travões, porque sou louco, o mais louco dos poetas. E danço. E canto. E sou alegre como tu, Nietzsche, como tu, Walt Whitman. E estou na estrada larga. E estou com os meus amigos e amigas. E celebro. E sou Dionisos com as bacantes. E ainda é cedo. Muito cedo. Tenho muito tempo. Eternidades. Pai. Mãe. Nasço hoje. Outra vez.