quinta-feira, 29 de março de 2018

BRAGA, OS UHF E O ENTERRO DO SENHOR

Posto isto, aqui chegados, reinamos. O sr. José agarrado ao JN. A miúda canta. Lembro-me do Nélson, do Albérico, do "Ribeirinha", do "Academia". Bons tempos. Bebia, Dançava. Divertia-me a valer. 1996. Tribunal. Lisboa. UHF. Entre o céu e o inferno. É um passo. Dá-me um bilhete para o inferno. Braga, Sexta-Feira Santa. Enterro do Senhor. Paulinha. Alucinações. Jesus na cruz. Braga, de novo, Braga. Dá-me esta noite e outra noite, Braga. Braga, Parva, Projéctil, Sereias. Animal de palco. Whisky. Vai ser a arder. Goreti. Leonor. Matemática. Pai. Galileu.

quinta-feira, 8 de março de 2018

O CAMINHO DO SOLITÁRIO

Podia dar-me para escrever uma história, um romance, mas não dá. Ou saem poemas ou saem crónicas políticas ou filosóficas. Por isso, desconfio que nunca ganharei muito dinheiro com a escrita. No entanto, lá vou remando contra o papel e vão-me saindo coisas novas. Na verdade, hoje também vou ocupando o tempo. Uns anos depois de ter deixado a "Voz da Póvoa" como jornalista conquistei o meu tempo como escritor e leitor. Penso que até deixei de ter depressões. Tempo não me falta. Solidão também não. Eis os requisitos ideais para escrever poemas melancólicos, que não tem saído por aí além. Que falta me fazem as minhas amigas...Irritam-me estas pessoas que parece que estão sempre bem, que parece que não têm problemas. Como já disse, passei grande parte da minha vida sozinho e precisei disso...bom, às vezes custa...mas aprende-se...o caminho do solitário...Recordo os meus amigos do liceu, Jorge e Rui, as conversas que mantínhamos...o que aprendi com eles...as boas notas...a adolescência...lembro-me de ter escrito um texto sobre a liberdade...perdeu-se...as letras dos Vikings...este que está aqui, agora...49 anos...vivo...outros já partiram...os livros...a obra...o sol lá fora...confusões no cérebro...explosões...eu era o menino Pedrinho...o que se portava muito bem na escola...agora tenho fama de maldito...cofio as barbas...trip na Arcada...a Paulinha?...Onde pára?...Demasiado tempo aqui na aldeia...relógio...17,30...ainda é cedo...muito cedo...os livros...os óculos...a chávena de café...O que é a vida? Solidão...muita solidão...pensamento...observação...tenho que sair daqui...falar com amigos...não mereço esta provação...tenho tanto para dizer...tanto para dizer...cara linda...mas há fronteiras, divisões e eu perdi a lata...não, não estou bem...comércio, comércio, comércio. Hipocrisia. Tanta hipocrisia.

sexta-feira, 2 de março de 2018

REDUZIDOS A MERCADORIAS

A grande maioria das pessoas passa a vida a pastar ou a sacrificar-se sem sentido. É a prisão. É a tropa. Se observarmos bem, a maioria dos seus gestos são mecânicos, previsíveis, tal como as conversas. O Poder teme as crianças, talvez mais do que qualquer outra coisa, Daí que as atrofie com ocupações, daí que, desde muito cedo, lhes tente fazer a cabeça. Muitos adolescentes e jovens levam uma existência infeliz, depressiva, tentam ou concretizam mesmo o suicídio, porque não se adaptam ao ritmo mercantil, à ditadura dos relógios, à quantificação da vida. Poucos são livres, poucos vivem a verdadeira vida, livre, solta, sem castrações nem amarras. A própria tecnologia robotiza o homem, limita-lhe o desejo, os sentimentos, a alma. Os personagens e as vedetas televisivas vivem a nossa vida, roubam-na, reduzem-na a uma insignificância, de anónimos contribuintes, de meros votantes num universo de 10 milhões, uma gota de àgua no oceano. Os partidos, os grandes media e os grandes empresários controlam a vida pública. Nós não temos qualquer influência. Alienados, explorados, escravizados, somos reduzidos a números e a mercadorias. Como não questionamos, como não debatemos, o Poder agradece e amealha.