quarta-feira, 29 de abril de 2015

BEBO

Bebo e vou continuar a beber
Porque tu não me queres
Porque tu te afastas
E o álcool é o único remédio
A única cura
E eu sou o poeta bêbado
O poeta beatnick
Deixei de ser hippie
Há uns anos
Escrevo com toda a raiva
Aqui n’ “A Brasileira”
Pode ser que ainda telefones
Que dês sinais de vida
Ainda te amo
A loucura por vezes
Apodera-se de nós
Não sei explicar
Bebo e vou continuar a beber
À saúde dos bêbados
Dos desalinhados
É pena que venha o Marques
E não a empregada bonita
Bonita como tu
Que agora não me queres
Por isso bebo
Ninguém tem nada com isso
Sou poeta
Escrevo versos
E digo-os em público
Não suporto polícias
Nem controleiros
Nem que me digam
O que fazer
Sou poeta
Escrevo versos.

domingo, 26 de abril de 2015

A REVOLUÇÃO PERMANENTE

Segundo Herbert Marcuse, a tecnologia tornou-se um inaudito instrumento de coerção. Os média e os computadores que controlam os nossos pagamentos e movimentos na Internet constituem o moderno "Big Brother", a nova polícia. A sociedade brutalizou-se, desumanizou-se. Na TV assistimos a programas imbecis que nos fazem a cabeça e nos afectam a inteligência. Aparentemente nada é imposto. Mas acabamos por ser levados. Meus amigos, é uma questão de vida ou de morte. A nossa sociedade nega um mundo verdadeiramente novo e, portanto, o indivíduo deve travar uma oposição total contra o sistema, não em nome de uma classe, mas em nome do género humano ameaçado de destruição, como diz Rudi Dutchke. Quanto mais as "democracias" se tornam manipuladas, quanto mais se transformam em democracias controladas e tendentes a limitar os direitos democráticos, as liberdades e as possibilidades dos cidadãos, tanto mais se torna necessário acompanhar o nosso trabalho com uma oposição extraparlamentar, acrescenta Marcuse. Não somos, portanto, contra a participação nas eleições burguesas nem contra a entrada no Parlamento a fim de divulgar as nossas ideias. No entanto, pensamos que há um trabalho extraparlamentar a fazer junto dos estudantes, dos intelectuais, dos operários, da pequena burguesia. Um trabalho de revolução permanente.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

A MALVADEZ DAS TELENOVELAS

As telenovelas ensinam a malvadez, o passar por cima. Ao mesmo tempo, junto com a publicidade, atiram-nos para uma falsa felicidade. Tem que estar sempre tudo bem. Se te deprimes, se estás triste, és posto de lado. Quando, na verdade, há cada vez mais gente infeliz, com doenças mentais. E a culpa não é nossa, ao contrário do que dizem certos psiquiatras ou psicólogos. A culpa é de um sistema que atrofia, que está nas mãos de um punhado de imbecis que controlam a finança, a política e os media. Quem são eles mais do que nós? Que direito têm eles de controlar as nossas vidas? Nós viemos de graça. Nós viemos desfrutar da vida. Não viemos competir, não viemos guerrear-nos uns aos outros em busca do emprego, do estatuto, da carreira. Nós não somos escravos da TV, nem dos relógios, nem da máquina. Nós temos que discutir estas coisas, reflectir sobre elas. Só assim seremos senhores de nós mesmos. Senão eles vão tomar conta das nossas mentes. Senão vamos ficar sós, infelizes e frustrados. Senão nunca mais caminharemos livres sobre a Terra.

domingo, 19 de abril de 2015

O POETA A PRESIDENTE!

O POETA A PRESIDENTE!

No Piolho
O poeta escreve
Já aqui escreveu
Muitas vezes
Já aqui travou
Discussões violentas
Ultimamente não se tem
Exaltado tanto
Não faltam motivos
A opressão
A ditadura
As pessoas não têm consciência
Vêm cá jantar calmamente
O poeta escuta o Fred
O encantador
O macaco de Deus
Esse tem vergonha
Da Humanidade
O poeta vem à cidade
Ouve os estrangeiros
Cheios de nota
Enquanto que ele
Está quase sem cheta
Não é justa
A distribuição da riqueza
Uns nadam em milhões
Outros sem nada
O poeta apela à revolta
Mas vê esta gente parada
A olhar para a bola
Por isso escreve
A ver se alguém o lê
Talvez se candidate
A Presidente
No fundo, nada há a perder
Sempre aparece nos media
A difundir as suas ideias
O poeta é um incendiário
O mais louco dos homens
O poeta sabe-o
Apenas se tem mantido
Mais prudente
O poeta a Presidente!




Porto, Piolho, 16.4.15

terça-feira, 14 de abril de 2015

A DEPRESSÃO

Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses, 17% dos portugueses sofrem de depressão ao longo da vida. No ano passado foram vendidas 8 milhões de embalagens de antidepressivos em Portugal, o que dá uma média de cerca de 23 mil por dia. Ainda assim a percentagem declarada da população com depressão está aquém da realidade já que muita gente não pede ajuda por causa por causa do estigma. A maioria das depressões são determinadas por factores externos, nomeadamente por uma sociedade que condena os seres humanos ao tédio, a trabalhos repetitivos, ao controle exercido pelos media que exibem programas imbecis, infantilizantes, notícias narcotizantes, comentadores que nos fazem a cabeça, que nos dão um circo, um parque de diversões. Por outro lado, as pessoas estão cada vez mais isoladas em frente ao computador, em frente à Internet, deixam de se encontrar, de celebrar a vida e por isso se se deprimem cada vez mais. A depressão implica a perda de auto-estima, a falta de vontade de ter uma vida social e o sentimento de que o futuro nada tem para oferecer. A depressão castra a vontade de viver, torna o raciocínio mais lento e reduz a capacidade de comunicação.

domingo, 12 de abril de 2015

A MENTE PRODIGIOSA


A mente humana é prodigiosa. É capaz das maiores obras, capaz de ir até ao infinito. Claro que também é capaz do mal e tem sido. Ao longo dos milénios a Humanidade não tem sido capaz de resolver os grandes problemas da existência. Muitos sofrem, muitos passam fome, enquanto que um punhado de privilegiados nadam nos milhões e no poder. É intrigante como um ser com tantas capacidades continua a maltratar tanto o seu irmão, o seu semelhante por questões de ganância, inveja, domínio. Em vez de um governo de homens sábios, íntegros, justos como defendiam Sócrates e Platão ou de pequenas comunidades autónomas, de comunas, temos governos de corruptos, de ladrões, de gente sem qualquer ética, de burgueses, de capitalistas. Nas escolas, na família e nos media incentiva-se o sucesso fácil, a competividade, o passar por cima em vez do gosto pelo conhecimento e pela sabedoria. Na verdade, não se aproveita o potencial humano, o culto do pensamento, o abrir da alma e do coração. Na verdade, não se aprofunda o humano, o ser interior, o sonho. Fica-se pelo limite estreito da vida quotidiana, pelo trabalho aborrecido, quase sempre sem graça, pelo homem sem visão, sem altura. Existe o caminho do bem, da verdade, da virtude. Não me venham dizer que o capitalismo é eterno. Se temos consciência de que o nosso pensamento, de que a nossa mente é infinita então podemos matar em nós o capitalismo e a ganância. Basta que cheguemos a mais gente. Criemos então grandes obras, grandes edificações em prol da nova sociedade. Nós somos capazes. Nós vamos à lua e às estrelas. Nós viajamos no cosmos. Nós somos xamãs. Nós falamos com os espíritos.

domingo, 5 de abril de 2015

A CORRIDA


Não há dúvida. A sociedade mercantil não presta. Explodem as depressões, as doenças mentais, os suicídios. Muita gente não encontra motivos para viver. A publicidade bombardeia-nos com doses massivas de felicidade obrigatória. A solidão digital afasta-nos. O capitalismo financeiro obriga-nos a trabalhar o dobro para ganhar metade. Vivemos numa sociedade assustada com a vinda do inesperado, numa sociedade passiva que aceita tudo desde que o conforto esteja garantido. Daí que muitos se juntem aos jihadistas. A vida tornou-se desinteressante, entediante, castradora. Eis o que esses pregadores da morte fizeram à vida. A vida que era bênção, milagre, aventura. Está transformada numa guerra, numa corrida. As pessoas atropelam-se por um emprego, por um pouco mais de poder, por uma carreira. Reinam a intriga e a inveja. Enquanto que um punhado de poderosos factura e acumula, os outros desfazem-se na arena. Onde chegámos. Para que viemos?

quinta-feira, 2 de abril de 2015

O FADO


Esta gente vive no tem que ser, no fado, no fatalismo. É o trabalho, as horas de trabalho que se cumprem, o ir para casa, o trabalhar em casa, o sentar-se em frente à TV, o dormir. Depois o aceitar dos governos capitalistas e do capitalismo, o aceitar de uma vida sem novidades, quase sempre igual, o perder para sempre da juventude e da infância. Tem que ser. Não lêem livros. Nunca leram Platão, Nietzsche ou Henry Miller. Nunca tiveram curiosidade. Até se julgam satisfeitos desde que não caiam na miséria. Mas, de facto, que vida é esta? Cumprem-se os dias, nada mais. Para quê estar vivo assim? Para quê levantar-se da cama? Sim, há umas graçolas aqui e ali, e depois? Que leva esta gente da vida? A família? E daí? Porra! Foi para isto o milagre da vida? Era para isto que brincávamos na infância, que inventávamos personagens? Foi para isto que discutíamos a vida com os nossos colegas de liceu? Não, nós não somos assim. E outros também não são. Nós ainda temos curiosidade. Nós rejeitamos o poder e procuramos o conhecimento. Nós não somos do tem que ser. Preferimos ser poetas, eternos jovens, eternas crianças. Viemos para a vida em abundância mesmo que momentaneamente estejamos tristes ou sós, viemos para a criação, viemos fazer a hora. Não somos dos merceeiros nem da morte. Viemos completar as nossas vidas.