sexta-feira, 29 de abril de 2011

JIM MORRISON

A Celebração Do Lagarto


LEÕES NA RUA
Leões na rua & deambulando
Cães com o cio, enfurecidos, espumando
Uma besta encurralada no coração da cidade
O corpo da sua mãe
Apodrecendo no chão veronil
Ele abandonou a cidade
Foi para o Sul
E atravessou a fronteira
Deixou o caos & a desordem
Para trás
Por cima do ombro
Uma manhã ele acordou num hotel verde
Com uma estranha criatura gemendo ao seu lado.
Suada lamacenta da sua pele brilhante.
Estão todos?
Estão todos?
Estão todos?
A cerimónia está prestes a começar.
ACORDEM

ACORDEM!
Vocês não se lembram onde foi
Terá este sonho parado?
A serpente era ouro pálido acetinada & encolhida
Tínhamos medo de tocá-la.
Os lençóis eram quentes e mortas prisões.
E ela estava a meu lado, velha,
Ele é, não; jovem.
O seu escuro cabelo ruivo.
A suave pele branca.
Agora, corre para o espelho da casa-de-banho,
Olha!
Ela vem para cá.
Não consigo viver em cada lento século do seu movimento.
Deixo a minha bochecha escorregar
O ladrilho fresco e suave
Sente o bom e frio sangue borbulhante.
Os silvos suaves, serpentes de chuva...

UM PEQUENO JOGO
Antes eu tinha um pequeno jogo
Gostava de rastejar no meu cérebro
Penso que sabes qual o jogo que me refiro
Refiro-me a um jogo chamado Enlouquecer
Agora devias tentar este pequeno jogo
Apenas fecha os olhos e esquece o teu nome
esquece o mundo, esquece as pessoas
E nós ergueremos um campanário diferente.
Este pequeno jogo é divertido de fazer.
Apenas fecha os olhos, impossível perder
E eu estou aqui, eu vou também
Liberta controlo, estamos a atravessar

OS HABITANTES DA COLINA
Bem no fundo do cérebro
Passando bem o limiar da dor
Onde nunca há nenhuma chuva
E a chuva cai suavemente sobre a cidade
E sobre as cabeças de todos nós
E no labirinto de correntes por baixo
Sossegada e celeste presença de
Nervosos habitantes do monte nos suaves montes de volta
Répteis com fartura
Fósseis, cavernas, frescas elevações de ar
Cada casa repete um molde
Janela rolou
Um carro de besta trancado contra a manhã
Todos dormem agora
Cobertores silenciosos, espelhos livres
Pó cega debaixo das camas de casais legítimos
Enrolados em lençóis
E filhas, enevoada com sémen
Olhos nos seus mamilos
Esperem! Ouve um massacre aqui
Não pares para falar ou olhar em volta
As tuas luvas e o leque estão no chão
Vamos sair da cidade
Vamos de fuga
E tu és aquela que eu quero me vir!!

NÃO TOCAR NA TERRA
Não tocar na terra, não ver o sol
Nada mais a fazer a não ser fugir, fugir, fugir
Vamos fugir, vamos fugir
Casa no topo do monte, a lua jaz quieta
Sombras nas árvores testemunhando a brisa selvagens
Anda, querida, foge comigo
Vamos fugir
Foge comigo, foge comigo, foge comigo
Vamos fugir
A mansão é amena no topo do monte
Ricos são os quartos e os confortos lá
Vermelhos são os braços de luxuosas cadeiras
E não vais saber nada até entrares lá dentro
Corpo morto do Presidente no carro do condutor
O motor funciona a cola e alcatrão
Anda connosco, não vamos muito longe
Para Este conhecer o Czar
Foge comigo, foge comigo, foge comigo
Vamos fugir
Alguns foras-de-lei vivem junto ao lago
A filha do ministro está apaixonada pela serpente
Que vive num poço junto à estrada
Acorda, rapariga, Estamos quase em casa
Sol, sol, sol
Queima, queima, queima
Lua, lua, lua
Apanhar-te-ei em breve... em breve... em breve!
Eu sou o Rei Lagarto
Posso fazer qualquer coisa

OS NOMES DOS REINOS
Nós chegamos dos rios e auto-estradas
Nós chegamos de florestas e cascatas
Nós chegamos de Carson e Springfield
Nós chegamos de Phoenix encantada
E posso dizer-te os nomes dos Reinos
Posso dizer-te as coisas que sabes
Ouvindo por um punhado de silêncio
Trepando vales até à sombra

O PALÁCIO DO EXÍLIO
Durante sete anos habitei no livre Palácio do Exílio
Jogando estranhos jogos com as raparigas da ilha
Agora estou de volta à terra dos justos
E dos fortes e dos sábios
Irmãos e irmãs da pálida floresta
Crianças da noite
Quem de entre vós fugirá com a caça?
Agora a noite chega com a sua legião púrpura
Metam-se nas vossas tendas e nos vossos sonhos
Amanhã entramos na cidade do meu nascimentoQuero estar preparado.


"O GÊNERO DE LIBERDADE MAIS IMPORTANTE, É SERES VERDADEIRO / TROCAS A TUA REALIDADE POR UM PERSONAGEM / TROCAS OS TEUS SENTIDOS POR UMA ATUAÇÃO/ DESISTES DA CAPACIDADE E EM TROCA POES UMA MÁSCARA/ NÃO PODE HAVER UMA REVOLUÇÃO EM GRANDE-ESCALA, SE ANTES NÃO HOUVER REVOLUÇÃO INDIVIDUAL DA PESSOA/ PRIMEIRO TEM QUE ACONTECER CÁ DENTRO."


"As pessoas precisam de Fios

Escritores, heróis, estrelas,

dirigentes

Para dar sentido à vida

O barco de areia de uma criança virado

para o sol.

Soldados de plástico na guerra suja

em miniatura. Fortalezas.

Navios de Guerra de Garagem.

Rituais, teatro, danças

Para reafirmar necessidades Tribais & memórias

um chamamento para o culto, unindo

acima de tudo, um estado anterior,

um desejo da família & a

magia certa da infância."



"No primeiro brilho do Éden nós corremos para o mar, ficando por lá, na praia da liberdade

Esperando pelo sol.

Você não percebe que agora que a primavera chegou,

é hora de viver ao sol difuso?

Esperando pelo sol

sperando que você venha até aqui

Esperando que você me diga o que deu errado

Essa é a vida mais estranha que eu já conheci"

(Waiting for The Sun)


"Sabem do febril progresso sob as estrelas?

Sabem que nós existimos?

Esqueceram porventura as chaves do Reino?

Já foram dados à luz e estão vivos?

Vamos reinventar os deuses e os mitos das idades;

Celebrar símbolos do mais fundo das antigas florestas (Esqueceram as lições da guerra pretérita)



[...]

Sabem que temos sido levados

à matança por almirantes plácidos

e que lentos generais gordos se tornam

obscenos com o sangue jovem"

(Fragmento de Uma Oração Americana)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

RIBEIRO VOLTA A BRAGA


APRESENTAÇÃO DE "NIETZSCHE, JIM MORRISON, HENRY MILLER, OS MERCADOS E OUTRAS CONVERSAS" NO SUBURA (BRAGA)

A. Pedro Ribeiro apresenta o livro "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas" (Corpos/WorLd Art Friends) no bar Subura em Braga (à Sé) na próxima quinta, dia 28, pelas 22,30 h. A. Pedro Ribeiro ou António Pedro Ribeiro é autor dos livros de poesia e manifestos "Queimai o Dinheiro" (Corpos, 2009), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco, 2006), "Um Poeta no Piolho" (corpos, 2009), "Saloon" (edições Mortas, 2007), "Um Poeta a Mijar" (Corpos, 2007), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (Pirata, 2004), "Á Mesa do Homem Só. Estórias" (silêncio da Gaveta, 2001) e "Gritos. Murmúrios" (com Rui Soares, Braga, Grémio Lusíada, 1988). Foi fundador da revista "Aguasfurtadas" e tem colaborado em diversas revistas e fanzines como "Portuguesia", "Piolho", "A Voz de Deus" ou "Cráse".
"Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas" fala da construção e superação do Homem, da vida pela vida em oposição à não-vida, à vidinha do mercado e dos mercados, às percentagens das bolsas e dos banqueiros que nos espetam na cabeça todos os dias. Do grito "Queremos o mundo e exijimo-lo agora!" de Morrison, em oposição aos políticos do regime, aos pregadores da morte e da mercearia, ao homem pequeno de Nietzsche. Fala da vida enquanto dádiva, celebração, excesso, na esteira de Miller. Do homem nobre, do menino e do bailarino, do criador dionisíaco que tomará conta da Terra depois da queda do capitalismo predador dos mercados.
A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto em pleno Maio de 68. Tem vivido em Braga, Porto, Trofa, Póvoa de Varzim e Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). Frequentou os liceus Sá de Miranda e Alberto Sampaio em Braga e licenciou-se em Sociologia pela Faculdade de Letras do Porto. Foi activista estudantil na Faculdade de Letras do Porto e no Jornal Universitário do Porto. É actualmente candidato a deputado pelo PCTP/MRPP através do círculo eleitoral do Porto e já foi também candidato a deputado pelo PSR por Braga em 1991 e 1995 e candidato às Juntas de Freguesia de Vila do Conde e Póvoa de Varzim pelo Bloco de Esquerda em 2001 e 2005, respectivamente. Define-se como anarquista-nietzscheano-guevarista. Actuou como diseur e performer nos Festivais de Paredes de Coura de 2006 (ao lado de Adolfo Luxúria Canibal e Isaque Ferreira) e de 2009 (com a banda Mana Calórica), no Festival de Poesia de Salvaterra do Minho (Espanha) em 2007 e no Teatro Campo Alegre, nas "Quintas de Leitura" em 2009, local onde regressa a 26 de Maio próximo, acompanhado de Susana Guimarães, com a performance "Se Me Pagares Uma Cerveja Estás a Financiar a Revolução", integrado no evento "A Vida no Campo". É organizador, com Luís Carvalho, das noites de "Poesia de Choque" no Clube Literário do Porto e tem dinamizado diversas sessões de poesia nos bares Púcaros e Pinguim, no Porto, no antigo Deslize (Braga), no Pátio (Vila do Conde), bem como na Casa das Artes em Famalicão. Considera-se um homem liv

REVOLUÇÃO NO IÉMEN


Iêmen: A revolução árabe derrubará mais um?

Mais um governo está prestes a cair no Mundo Árabe. Após a Tunísia e o Egito, agora a ditadura de Ali Abdullah Saleh, que governa há trinta e dois anos o país, pode estar vivendo seus últimos dias. Aliado dos EUA no combate da Al-Qaeda, o país vive também conflitos ao norte (com a oposição minoritária xiita) e separatismo ao sul. Situado no extremo sudoeste da Península Árabe, é uma das nações mais pobres da região. Contudo, o que ocorrer por lá pode ter forte repercussão e se alastrar para a Arábia Saudita, que faz fronteira ao norte. O fim iminente da ditadura é indicado por uma proposta de transição política, feita há dias pelo Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). Inteiramente composto por aliados dos Estados Unidos – Kuwait, Catar, Arábia Saudita, Barein, Omã e Emirados Árabes – o CCG parece julgar a queda de Saleh inevitável. Busca uma saída não-traumática. O debate atual no Iêmen é precisamente sobre o caráter da transição política para um novo regime.



As mobilizações que desestabilizaram a ditadura começaram no final de Janeiro, contra a alta taxa de desemprego e a corrupção. Exigiam mais liberdade política. Ao longo desses meses, os protestos multiplicaram-se e assumiram caráter de luta contra o regime. Conflagrações políticas e tentativas de solução ocorreram sem sucesso. O governo recorreu a repressão violenta e provocou dezenas de mortes – mas isolou-se cada vez mais. A proposta do CCG busca uma saída negociada. Ela dá trinta dias para que Saleh deixe o poder. Ao 29° dia, o Parlamento decretará a imunidade do presidente e seus aliados. Um governo provisório será formado e dois meses depois ocorrerão eleições presidenciais.


Formado principalmente por estudantes e jovens, o setor que exige democratização ampla do país rejeita tal negociação. Mesmo após a proposta feita pelo CCG , protestos e repressão continuam. Hoje (26/4), mobilizações em Taez causaram três feridos; em Aden, outros três. Na capital, Saana, dezenas de milhares de pessoas fizeram sit-in pedindo a saída do presidente e seu julgamento.


Mas há um setor disposto a aceitar o acordo. Ontem, após conversa com o embaixador norte-americano, a vacilante oposição parlamentar decidiu fazer parte do governo de transição, chamado “de unidade nacional”. Denominada Fórum Comum e composta por dissidentes do poder, nacionalistas, islâmicos e ditos socialistas, apoiou a proposta de transição negociada apresentada pelo CCG. Na semana que vem, o secretário geral deste grupo de países, Abdullatif al-Zayani, viajará a Saana para definir concretamente os detalhes de dia e local do acordo de saída de Saleh e os outros pontos relacionados a transição negociada.


A reivindicação de lideranças estudantis, tais como Abdel Malik al Yusufi, é a mudança completa do regime, sem imunidade e concessões a Saleh e seus aliados. Nota para a imprensa lida ontem pelo jovem ativista Abdullah Al Sholif, do Comitê Organizativo da Revolução da Juventude, declara que a deportação e julgamento de Saleh e seus familiares é inegociável e que a posição dos grupos moderados, de apoio à imunidade, não representa a posição dos jovens. A nota exorta a população a não aceitar a amnistia.


Além da crise política, o Iêmen está passando por um aumento do custo de vida com a alta dos preços de alimentos e combustíveis. Pode ser mais um ingrediente convulsivo na atual conjuntura. Apesar de não se saber qual será o desenlace do processo, já está clara a delimitação política dos campos. A esta altura, o fim de mais uma ditadura aliada a Washington parece certa. Resta aguardar os próximos acontecimentos para saber o caráter da transição e o futuro do país.


Texto de Luís Nagao, retirado de Outras Palavras

VITORINO MAGALHÃES GODINHO

“O ruir do Império Soviético foi também a ruína do Ocidente, que permitiu a formação de um novo império – o império americano –, sem controlo e em moldes ultrapassados: continua a ser proibido estudar Darwin nas escolas, há perseguições às clínicas que praticam o aborto, há ataques à mão armada... Há meios de matar – a partir da transformação introduzida pela informática –, que estão ao alcance de qualquer pessoa. Foi tudo tão rápido, deu-se um vazio e uma incapacidade de organização para resistir, para orientar essa mutação para outros sentidos. Perderam-se as balizas. A humanidade perdeu o controlo. Inclusive, as estruturas económicas mudaram por completo. O capitalismo ruiu, como ruiu o estalinismo. Não há mais capitalismo. O que há é uma organização de redes mafiosas que controlam o mundo”, disse então. E manifestou também o seu mal-estar pela situação política em Portugal. “A minha opinião é a de que, hoje, não existe democracia. O grande erro é partir-se do princípio que se construiu uma democracia, quando não se chegou a construir uma democracia”, comentou então Vitorino Magalhães Godinho.

WWW.PUBLICO.CLIX.PT

quarta-feira, 27 de abril de 2011

OTELO E A NOVA REVOLUÇÃO


Eduardo Lourenço, que assina o prefácio do livro "O dia inicial", escreve que o 25 de Abril foi "o dia de pura glória de Otelo e não terá outro maior". Talvez por isso Otelo Saraiva de Carvalho insista na ideia que, no dia 26, a sua missão estava cumprida e o seu desejo era voltar a dar aulas na Academia Militar. Não foi assim e, 37 anos depois, Otelo defende, com a mesma convicção de outros tempos, a democracia directa e justifica os excessos do PREC. "Exorbitei muitas vezes as minhas funções, eu reconheço isso, mas a revolução era para se fazer ou não?", diz a certa altura desta conversa o operacional de Abril, que, perante a insistência sobre os métodos utilizados durante o chamado período revolucionário em curso, remata com um "tinha de ser assim, pá". Foi nessa altura que mudámos de assunto para falar do país, do FMI, do governo ou das próximas eleições. Otelo resume o que pensa e sente numa frase: "O desgosto é grande."



No livro "O tempo inicial" relata o fim da acção que desenvolve no Posto de Comando e sublinha que ficou sozinho. Às 13 horas do dia 25 de Abril, quando toda a gente festejava nas ruas, o Otelo era um homem só?

Aquela gente toda que estava no Posto de Comando saiu para ir ver a alegria que estava nas ruas e eu dei comigo sozinho. Arrumei as coisas - as granadas e as pistolas que tinham para ali ficado - e fui-me embora. Estava sozinho. O Sanches Osório e o Lopes Pires disseram, mais tarde, que estiveram lá até ao dia 27, mas quando eu saí não estava lá ninguém. Apaguei a luz, fechei a porta, meti-me no carro e fui para casa. A minha missão estava cumprida.

E foi para casa?

Fui. Eu despedi-me da minha mulher no dia 23 e fui dormir à Pontinha nessa noite por uma questão de precaução. No dia 24 fui para o Posto de Comando. Na noite de 23 a minha mulher não sabia ainda o que eu era no movimento e expliquei- -lhe: "Vou fazer uma revolução. Aqueles papéis que eu andava a escrever estão relacionados com as missões que estão distribuídas e eu vou coordenar. Eu vou amanhã iniciar a revolução."

E qual foi a reacção da sua mulher?

Ela perguntou o que é que podia acontecer se nós fôssemos derrotados e eu disse-lhe: "Não, olha, na sexta-feira estou cá para almoçar contigo." Quando saí do Posto de Comando fui para casa e disse-lhe: "Vamos almoçar."

Estamos numa situação de crise grave. Não só financeira, como económica e política. Há o risco de haver uma nova ruptura como no 25 de Abril de 1974?

Estão a ser criadas condições para isso. Curiosamente o poder capitalista acaba sempre por se encaminhar para o suicídio. Estes regimes capitalistas, regimes da burguesia, têm tendência para isso. Vão sempre encontrando novas formas de se manter no poder, mas a verdade é que se vão suicidando.

Encontra algum paralelo entre o fim da ditadura e os tempos que estamos a viver?

Talvez pela teimosia na continuidade de uma política que já não é aceite. O aumento do desemprego e do custo de vida, que leva a uma cada vez maior dificuldade do povo, pode levar também a uma eclosão social que, sendo do tipo de uma insurreição popular sem nenhuma organização, sem nenhum comando, pode levar a um desastre. Por outro lado, se houver algum comando sobre essa insurreição levada a cabo ou por partidos ou por Forças Armadas pode vir a transformar-se numa nova ditadura. Correm-se sempre riscos, mas é o próprio regime que vai criando condições para ser abatido. Foi o que aconteceu com o fascismo em Portugal, que demorou muito tempo, mas acabou por acontecer.

Imagina hoje as Forças Armadas a tomarem alguma posição contra o regime?

Não, as circunstâncias são diferentes. Em 1974 as Forças Armadas estavam numa guerra colonial e era obrigatório o serviço militar. Com excepção do quadro permanente, os outros eram compelidos à prestação do serviço militar e quando se dá a oportunidade de alterar o sistema essa massa enorme tem tendência a apoiar uma acção deste género. Actualmente as Forças Armadas têm corpos de voluntários - houve uma redução enormíssima do número de efectivos - que ganham ajudas de custo e estão bem. Só se poderá criar condições no âmbito militar para uma revolta se o governo, a certa altura em desespero, começar a reduzir as vantagens económicas. Começar a reduzir os salários, as pensões ou a retirar regalias como o 13.o mês ou o 14.o mês.

O que pode acontecer com as medidas de austeridade que estamos a negociar com as instituições europeias?

O que vai acontecer agora, com a intervenção do FMI, se atingir os militares pode criar condições para uma revolta.

Se Marcello Caetano tem resolvido o problema da guerra colonial, o 25 de Abril não teria existido?

Se tivesse encontrado uma solução política para a guerra colonial acho que sim, mas já não ia a tempo. O grande culpado da guerra colonial foi o Salazar. O Marcello Caetano ficou com o menino nos braços e não teve força para encontrar uma solução política.

Vasco Lourenço diz que, se fosse ele a comandar, não teria sido o general Spínola a ir receber o poder de Marcello Caetano. Podia ter sido diferente?

Eu queria que fosse o Salgueiro Maia, mas o Marcello Caetano tinha aquela perspectiva de entregar o poder a um general e o livro "Portugal e o Futuro" tinha o nosso apoio. Há até um encontro, na rua, em que o general ia no carro e parou num semáforo vermelho, baixou o vidro e disse-me: "Otelo, o Marcello não quer que eu publique o livro." E eu disse: "O meu general tem de publicar." E então ele diz-me que o Marcello tinha dito que se demitia. Eu respondi-lhe: "Mas é isso que a gente quer e nós apoiamos." Portanto já havia um conjunto de circunstâncias que fizeram com que eu, com a concordância do Vítor Alves e do Charais [Franco Charais], tenha dito ao Spínola que estava mandatado para receber o poder.

Preferia que tivesse sido o Salgueiro Maia?

Podia ter sido entregue a um capitão, mas quem é que geria a política? A perspectiva de serem os generais a formarem uma Junta de Salvação Nacional foi uma proposta do Vítor Alves, que era um homem muito realista, e quando o Vasco Lourenço e outros voluntaristas diziam nós vamos ganhar o poder, eu dizia que não me sentia politicamente preparado para agarrar nas responsabilidades políticas do país. E para que a revolução fosse reconhecida em todo o mundo tínhamos de ter generais, e com o maior prestígio possível. O novo poder em Portugal foi reconhecido imediatamente em todo o mundo, mas se tivéssemos sido nós a tomar conta da situação o terceiro mundo era capaz de aplaudir, mas o mundo ocidental não.

Qual foi a participação de Spínola no 25 de Abril?

O Spínola colaborou à distância. O grupo político liderado pelo Vítor Alves entregava-me as bases programáticas que o Melo Antunes tinha deixado em 23 de Março e iam limando aquilo que poderia ser mais agressivo. E eu levava isso a um major spínolista, que todos os dias frequentava a casa do general, e ele dizia quais eram as suas discordâncias em relação a algumas frases. As frases ou os vocábulos tipo "fascista" ou "democracia" o Spínola cortava para não tornar aquilo um texto muito político. Depois disso eu voltava a entregar ao Vítor Alves. O resultado é que no 25 de Abril o programa político do MFA, alterado em algumas coisas pelo próprio Spínola, estava preparado para ser difundido. O Spínola estava hipotecado a esse programa.

O Otelo chegou a ser convidado para primeiro-ministro?

Fui convidado para tudo, mas recusei sempre.

Como é que foi gerindo o poder?

Com dificuldade. Logo a seguir ao 25 de Abril eu remeti-me ao meu cargo de professor na Academia Militar. E quando fui esperar o Vasco Lourenço, que regressou dos Açores no dia 28, eu disse logo que a minha missão estava cumprida. O Vasco Lourenço disse-me: "Tu és maluco, agora é que isto vai começar." Mas eu achei que a minha missão estava cumprida e fui mesmo para a Academia Militar.

Mas depois mudou de ideias...

Uns dias depois fui chamado para me apresentar na Cova da Moura e o Charais veio ter comigo e disse-me: "Nós estamos a preparar um decreto-lei que vai ser lançado dentro de dias, que é o Copcon [Comando Operacional do Continente] para acções de vigilância e de defesa da revolução e vais ser tu o comandante-adjunto e o general Costa Gomes assume o comando. A malta quer que sejas tu." E eu disse: "Eh pá, mas que chatice, mas para quê isso?" Depois fui chamado ao Spínola - ao gabinete do Presidente da República provisório -, que me disse que eu iria ser o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas.

E não aceitou.

E eu disse: "Não vou de certeza, não quero promoção nenhuma, não quero nada a cheirar a regalia." E, nessa altura, o Monge [Manuel Monge] propõe-me para a Região Militar de Lisboa e eu muito a contragosto lá aceitei. Mas também disse: "Vocês não esperem que eu vá ser um general tipo altos estudos militares. Vou ser um general revolucionário e depois não fiquem escamados comigo quando eu começar a tomar atitudes que transcendem os valores do regulamento de disciplina militar."

A verdade é que houve muita gente que não gostou que o Otelo tivesse ultrapassado os seus poderes.

Essa exorbitância decorreu naturalmente pelo facto de durante o PREC [Período Revolucionário em Curso] ter havido uma desresponsabilização total de todos os sectores da actividade pública. Os ministros existiam não sei para quê. Vinha gente ter comigo ao Copcon a dizer que era preciso resolver o problema na fábrica, porque o administrador tinha fugido para o Brasil com o dinheiro, e eu dizia que isso era com o Ministério do Trabalho, mas eles de lá diziam que o Copcon é que resolvia. As ocupações do Alentejo começaram por uma decisão minha. Os trabalhadores vieram ter comigo a dizer que estavam à rasca, porque se ouvia falar muito da reforma agrária, mas a verdade é que os latifundiários todos os dias estavam a levar o gado e a deixar as terras abandonadas.

Disse-lhes que a solução era ocupar as terras...

Disse-lhes para ocuparem as terras e dei ordens à GNR que os deixasse à vontade para começarem a trabalhar. Em pouco mais de uma semana um milhão e duzentos mil hectares de terras foram ocupados.

Que reacção houve a essa decisão?

O Vítor Alves disse-me: "És maluco, mandaste ocupar as terras." Exorbitei muitas vezes as minhas funções, eu reconheço isso, mas a revolução era para se fazer ou não?

Tomava essas decisões sozinho ou ouvia outras pessoas?

Nada, porque os conselhos eram sempre do género "tem calma, isso resolve-se daqui a três meses". Considerei que havia a legitimidade revolucionária.

Hoje reconhece que cometeu muitos excessos?

Reconheço, mas faria tudo outra vez. Não me arrependo daquilo que fiz. O único excesso que podia ter evitado foram os mandados de captura em branco, mas tinha uma diversidade tão grande de funções que não tinha a possibilidade...

... de fazer tudo ao mesmo tempo?

Eu era a única entidade no país que podia assinar mandados de captura. Ora eu era comandante da Região Militar de Lisboa, era comandante do Copcon. Eu saía do Copcon às quatro da manhã e no outro dia já lá estava às nove. E se fosse preciso um mandado de captura a meio da noite? Eu pensei que era preciso racionalizar e deixava dez mandados de captura por preencher. Foi uma decisão do Costa Gomes. É uma ordem que me é dada e o Costa Gomes invoca a legitimidade revolucionária. A Constituição tinha sido abolida. Uma revolução ou se faz a sério ou não e não podemos aplicar num processo revolucionário os ditames de uma democracia. Tinha de ser assim, pá.

Ficou surpreendido com o resultado das primeiras eleições, a seguir ao 25 de Abril, que deram a vitória ao PS?

As eleições foram uma aposta nossa. No prazo de um ano o objectivo era realizar eleições e até fiquei feliz, porque vi que o PCP, que se arvorava em dono da verdade e líder das massas, ficou em terceiro lugar.

Mário Soares diz que numa viagem a Lusaka em que os dois falaram pela primeira vez o Otelo se identificou como um socialista tipo Olof Palme...

Não me lembro disso, mas é possível que tenha reproduzido essa frase, que eu tinha ouvido do Vasco Gonçalves.

Do Vasco Gonçalves?

O Vasco Gonçalves tinha-me dito que seria bom, dentro de dois anos, ter uma democracia do tipo sueco.

E mais tarde conheceu Olof Palme.

Tive com ele na Suécia e gostei muito dele. Expus-lhe a minha perspectiva sobre a democracia directa e ele disse-me que isso era utópico e que não era possível implementar esse modelo no mundo ocidental. Não consegui convencê-lo.

Nem ele a si?

Nem ele a mim, mas é possível que eu tenha dito isso ao Mário Soares e na altura era essa a minha perspectiva. Eu tinha aderido facilmente ao programa do MFA, mas o PREC abriu o horizonte para outra possibilidade, de criar um modelo novo de regime, que era a democracia directa.

Um modelo com que nenhum partido concordava. Quais foram os líderes políticos que conheceu melhor?

O Sá Carneiro, conheci-o muito pouco. O Freitas do Amaral, nunca tinha falado com ele até há três anos, no lançamento de um livro, em que ele veio ter comigo e eu gostei de o conhecer, mas com quem eu tive mais contactos foi com o PS.

E com Cunhal?

Tivemos um contencioso sério por causa das presidenciais de 76. Durante o PREC ele promoveu um jantar em casa do Silva Graça, que foi comer para a cozinha com a mulher e com as filhas e deixou-nos a sós.

Cunhal não estava a gostar do rumo dos acontecimentos e convocou-o para o levar para o lado do PCP?

Tivemos um bate-papo violento. Ele começou a fazer críticas ao MFA e a dizer que o MFA devia fazer isto e aquilo. E eu disse-lhe: "Ó doutor, eu não lhe vou dizer o que é que deve fazer no Partido Comunista. Eu considero que o PC tem tido acções muito más, por vezes, que são prejudiciais à revolução e se quiser eu faço aqui uma lista do que é que o seu partido tem feito, mas não lhe admito que me dê orientações, porque o MFA não tem nada a ver consigo, nem com nenhum partido, e se eu precisar de orientações peço ao Melo Antunes..."

Nunca teve boas relações com Álvaro Cunhal?

Não. Foi o meu principal inimigo

Já com Mário Soares foi diferente.

Uma relação cordial. O Mário Soares e o Almeida Santos convidaram-me várias vezes para ser cabeça-de-lista do PS nas eleições para a Assembleia da República. E uma vez num jantar no Hotel Altis havia uma mesa com a malta toda da Internacional Socialista. O Soares, o Willy Brandt, o Shimon Peres... e a certa altura fui chamado para a mesa. O Soares levanta-se e logo a seguir levanta-se aquela malta toda da Internacional Socialista e eu pensei ''eh pá o que é isto?'' Apresenta-me o Willy Brandt, que era o presidente da Internacional Socialista, e diz-lhe: "O Otelo, o nosso herói, que nós já temos tentado trazer para o partido, mas ele não gosta de nós." E eu disse-lhe: "Os melhores amigos que eu tenho são no campo político do PS, mas eu não gosto de partidos."

Candidatou-se à presidência da República sem o apoio de nenhum partido. Não queria o poder, mas candidatou-se a Presidente...

Sabia que tinha poucas hipóteses de vencer com um candidato como o Eanes, que eu não tinha dúvida de que iria ganhar à primeira volta. Concorri para saber o que é que as minhas ideias valiam perante o povo. A ideia era uma democracia participativa, com as pessoas a participarem activamente e diariamente e não só de quatro em quatro anos.

Teve o apoio, entre outros, de Ferro Rodrigues, que mais tarde foi líder do PS.

Foi em casa dele que lancei os GDUP. Eu tinha vindo de Cuba e tinha visto essa ideia de poder popular. Eram os grupos dinamizadores de unidade popular, que surgiram como a base de apoio da candidatura, que não tinha nenhum partido a apoiá--la. Foi um êxito notável e a minha satisfação é verificar que hoje há no país gente que pertenceu aos GDUP que são presidentes de câmara. Ficou aí uma semente, que não sei se irá dar alguma erva.

Continua a culpar o PCP por ter sido preso preventivamente durante cinco anos, na sequência do caso FP-25?

Hoje não tenho dúvida nenhuma. Foi o secretariado do PCP que, quando em 84 anunciei que ia ser cabeça-de-lista da FUP [Força de Unidade Popular] por Lisboa ao parlamento, resolveu meter-me na prisão para impedir outro desastre eleitoral, como em 1976. E tenho dito isto sem que exista da parte da direcção do PCP alguma palavra em contrário.

Disse que se soubesse como o país ia ficar não tinha feito o 25 de Abril. Arrependeu-se?

Eu reportei-me à situação em que vivíamos antes do 25 de Abril para dizer que os jovens de hoje, que são obrigados a emigrar, estavam numa situação idêntica à nossa com uma guerra injusta. E o que digo é que se não tivesse havido o movimento dos capitães, eu isolado possivelmente teria sido obrigado a sair do país e não teria feito a revolução.

Vasco Lourenço diz que essa declaração é incompreensível.

Por causa dessa frase, que foi explorada como um sound byte, tenho recebido muitas mensagens a dizer que de facto a classe política pôs o país de rastos. A frase não foi bem entendida. O que eu digo é que as pessoas isoladas não conseguem um combate capaz de provocar alterações. Quando se juntam esforços então, sim, vale a pena.

Valeu a pena ter feito o 25 de Abril?

Sim, bolas. O derrube da ditadura e a possibilidade de sermos livres vale sempre a pena. É irrefutável.





http://www.ionline.pt/conteudo/119121-otelo-o-regime-esta-criar-condicoes-ser-abatido-como-aconteceu-com-o-fascismo?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

MANIFESTO ELEITORAL DO PCTP/MRPP


MANIFESTO ELEITORAL

A alternativa à fome e à miséria existe:
um governo democrático e patriótico!

ESTAS ELEIÇÕES SÃO UMA FRAUDE!

Neste momento, e a pretexto das eleições, toda a Direita se une para procurar convencer o Povo Português de que lhe não restaria outra hipótese que não fosse a de aceitar a canga em cima do pescoço, voltar a votar no PS ou no PSD e assim permitir que estes levem a cabo a política de fome, miséria e desemprego que, agora de braço dado e a mando directo do FMI e da União Europeia, nos pretendem continuar a aplicar, e que todos nós já conhecemos perfeitamente: despedimentos e desemprego, cortes nos salários e nas pensões, confisco dos subsídios de férias e de Natal, diminuição dos magros subsídios, a começar pelo de desemprego, aumento dos impostos, agravamento do custo de vida e privatizações de tudo o que seja rentável para o grande capital.

Estas eleições são assim e desde já uma gigantesca fraude, porquanto tudo está a ser preparado (desde a vinda do FMI precisamente nesta altura até às entrevistas e debates só com os partidos políticos do poder) para que os vencedores de tais eleições sejam aqueles partidos (PS e PSD) que precisamente conduziram o País à ruína em que actualmente se encontra e que agora chamaram para cá o mesmo FMI!

Ora, esta manobra chantagista e fraudulenta não pode passar em claro e os trabalhadores portugueses não podem permitir que os partidos que atraiçoaram o País decidam agora das eleições e se alcandorem de novo ao Poder, depois de terem enganado sucessivamente os eleitores, prometendo-lhes uma coisa para lhes sacar os votos e passando a fazer rigorosamente o contrário logo que se apanharam no Governo.

Na verdade, estas eleições são convocadas para resolver os problemas do défice e da dívida. Porém, e como se vê, tais problemas já têm afinal uma “solução” antecipadamente imposta pela “Troika” e esta manobra usurpa ao Povo Português a sua soberania.

O VOTO NO PS E NO PSD É UM VOTO DE TRAIÇÃO!

Quem atraiçoou o Povo Português e o País, quem conduziu uma política sistemática de liquidação da nossa capacidade produtiva, e transformou Portugal, que tem hoje de importar mais de 80% daquilo que consome, numa sub-colónia do imperialismo germânico, quem, sempre prometendo riqueza e progresso, utilizou os fundos europeus para arrancar vinhas e árvores, abandonar campos, abater a frota pesqueira, fechar fábricas e minas, quem criou toda a sorte de habilidades e trafulhices jurídico-financeiras como as “parcerias público–privadas” ou as empresas municipais e quem quer agora pôr os que vivem do seu trabalho e sobretudo as gerações futuras a pagar as consequências dessa politica criminosa não pode merecer um só voto que seja dos trabalhadores conscientes!

Votar no PS ou no PSD (acolitados pelo CDS) é aceitar que devemos pagar a dívida que os banqueiros e políticos corruptos contraíram, é concordar com o cortes salariais, com a contratação precária e com os despedimentos arbitrários, é ceder ao medo e à chantagem e é aceitar a política que aqueles que tudo têm e nada fazem e se foram enchendo à tripa - forra nos querem afinal impor.

LUTAR CONTRA A TRAIÇÃO E A FOME PASSA POR VOTAR PCTP/MRPP!

O Povo Português deve sublevar-se e deve dizer a tudo isto muito claramente “NÃO, não vou por aí!”. Deve denunciar e desmascarar os partidos que lhe mentiram e o atraiçoaram, deve erguer-se e lutar contra as medidas anti-populares que eles defendem, a começar pelos cortes nos salários. Deve recusar-se a pagar uma dívida que não é dele, pois que não foi ele que a contraiu nem foi contraída em seu benefício, mas que está a hipotecar o futuro não apenas dos nossos filhos, mas também já dos nossos netos!

Deve dizer claramente que não queremos e não precisamos do FMI e dos burocratas e banqueiros da União Europeia, que não trazem ajuda alguma a Portugal e que devem ser de imediato mandados embora.

Os deputados do PCTP/MRPP travarão, com firmeza e sem desfalecimentos, esta batalha de vida ou de morte pelo futuro do País, e ocuparão nela a primeira linha de combate.

O seu programa de luta – para o qual conclamam o apoio de todos os trabalhadores e demais elementos do Povo conscientes – assenta nos seguintes pontos essenciais:

1 – “FMI E TROIKA FORA DE PORTUGAL!” – Não são cá precisos e vieram agora a Portugal apenas para garantir que serão os Partidos da traição os que ganharão estas eleições.

2 – “QUEM CRIOU A DÍVIDA?” - Realização de uma auditoria independente para determinar quanto, a quem e porquê se deve (auditoria que nem o PS e o PSD nem a “Troika” querem que se faça porque bem sabem que, uma vez conhecidos os respectivos resultados, nenhum cidadão aceitaria dar nem mais um cêntimo que fosse do seu magro salário).

3 – “NÃO PAGAMOS!” - Recusa do pagamento da dívida dos Bancos e do Estado (só a “intervenção” no BPP e no BPN representou 2000 milhões de euros!!) que nos asfixia por completo.

4 – “NÃO AOS CORTES SALARIAIS, AOS DESPEDIMENTOS E ÀS PRIVATIZAÇÕES!” – Os trabalhadores portugueses devem, e em solidariedade com os restantes trabalhadores europeus, em particular os gregos e os irlandeses, opor-se resolutamente a que, para manter e financiar os lucros fabulosos da Banca nacional e estrangeira, os seus salários (que já são dos mais baixos de toda a União Europeia) sejam ainda assim objecto de qualquer espécie de cortes ou sejam feitos despedimentos. Nem mais uma só privatização!

5 – “POR UM GOVERNO DEMOCRÁTICO E PATRIÓTICO!” – Reunião de todas as forças democráticas e patrióticas – levando para esse efeito a cabo todos os debates e discussões que forem necessários – com vista à criação de um governo democrático e patriótico, com uma política totalmente diferente da do FMI e dos dois Partidos da Direita (PS e PSD), acolitados pelo CDS, e com um programa assente essencialmente num plano de desenvolvimento da economia nacional baseado em criteriosos investimentos produtivos nas áreas da Agricultura, das Pescas, da Indústria e da Tecnologia e num plano de combate ao desemprego. Na verdade, sem economia nunca deixaremos de ser os escravos da Europa!

ELEGER DEPUTADOS DO PCTP/MRPP FACILITA ESTA UNIDADE E DÁ VOZ A QUEM NÃO TEM VOZ!

É, pois, absolutamente imperioso que o PS e o PSD não tenham a maioria nas próximas eleições. E para isso é precisa uma política de unidade da esquerda.

Ora, a eleição de deputados do PCTP/MRPP não apenas sustenta e facilita essa política de unidade democrática e patriótica como constitui também uma garantia de que, qualquer que seja o governo eventualmente imposto pelo FMI, ele terá sempre contra uma voz firme, incorruptível, em suma, uma voz dos que não têm voz.

Os deputados do PCTP/MRPP são deputados contra o FMI e contra a “Troika”, contra o pagamento da dívida, contra os cortes salariais e contra os despedimentos, por um governo democrático que una todas as pessoas que querem defender o Povo e salvar o País.

Por isso, caros concidadãos, no próximo dia 5 de Junho votem contra as políticas do FMI e os partidos da traição, votem contra os cortes salariais e os despedimentos, e contra o pagamento da dívida, votem por um governo democrático e patriótico ao serviço do Povo, defendam o futuro dos vossos filhos e dos vossos netos, votem PCTP/MRPP!

FMI E TROIKA FORA DE PORTUGAL!

NÃO PAGAMOS A DÍVIDA, QUE NÃO É NOSSA!

CONTRA OS CORTES SALARIAIS E OS DESPEDIMENTOS! CONTRA AS PRIVATIZAÇÕES!

POR UM GOVERNO DEMOCRÁTICO E PATRIÓTICO, COM UM PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA NACIONAL!



Lisboa, 20 de Abril de 2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

REVOLTA NO IÉMEN

Movimento estudantil não aceita
Saleh aceita sair do poder no Iémen a troco de imunidade
23.04.2011 - 21:48 Por PÚBLICO

O Presidente do Iémen, Ali Abdallah Saleh, aceitou este sábado a proposta do Conselho de Cooperação do Golfo para deixar o cargo no prazo de trinta dias a troco de imunidade para si e para a família, anunciou o The Wall Street Journal, citando um conselheiro presidencial, Tariq Shami.
Os países vizinhos disseram a Saleh que está totalmente isolado (Khaled Abdullah/Reuters)

O desfecho de uma crise que dura há três meses surgiu depois de os países vizinhos deste Estado da Península Arábica terem deixado claro, durante a semana passada, que Saleh perdera e estava completamente isolado. O Conselho de Cooperação do Golfo, liderado pela Arábia Saudita, fez ainda saber que esta era a última hipótese de Saleh deixar o lugar com dignidade, disseram dois diplomatas árabes à Reuters.

“O Presidente aceitou. Apesar de ter o direito constitucional de se manter no poder, está disposto a abandonar o lugar de sua livre vontade”, disse Tariq Shami.

No último mês, Saleh, que está no poder há 32 anos, rejeitara várias propostas de outros negociadores e reafirmara que só abandonaria o posto em 2013.

Esta reviravolta coloca agora toda a pressão na oposição, que se fraccionou desde o início da contestação ao regime, a 27 de Janeiro. As duas facções da oposição enfrentaram-se nas ruas da capital, Sanaa, sendo que cada um dos lados está apoiados por diferentes corpos militares armados com tanques. Ontem, ambas aceitaram a cláusula da imunidade.

A partida se Saleh pode abrir caminho para um processo de transição pacífico, depois de receios de eclosão da violência generalizada. Mas a oposição necessita de convencer o movimento estudantil, que manteve nas ruas a revolta contra o regime, apesar da repressão armada, a aceitá-la.

Mal a aceitação foi conhecida, milhares de estudantes encheram as ruas de Sanaa, a capital iemenita, em protesto. “Nós, os jovens da revolução, rejeitamos qualquer proposta que não responsabilize Saleh pela morte de mais de 140 revolucionários”, lia-se num comunicado da organização de estudantes. “A proposta prevê que Saleh deixe o poder em trinta dias e nós exigimos a sua partida imediata. É contra a vontade do povo e a favor do opressor Saleh.”

“[A imunidade] é uma questão importante. Os estudantes querem ver Saleh julgado”, disse Mohammed Qahtan, porta-voz do comité que une os partidos da oposição.

O plano de transição prevê que Ali Abdallah Saleh transfira os seus poderes para o vice-presidente, Abdu Hadi. O filho e sobrinhos do Presidente conservam o controlo das forças de segurança — o Iémen é considerado um aliado fundamental pelos Estados Unidos na luta contra a Al-Qaeda — durante 60 dias, de forma a não haver quebras nas operações.

REVOLTA NO I

REPRESSÃO NA SÍRIA


Tanques e tropas entraram na cidade de Deraa, na Síria
25.04.2011 - 10:17 Por PÚBLICO

Votar
|
0 votos
1 de 1 notícias em Mundo
A cidade de Deraa, no Sudoeste da Síria, amanheceu esta segunda-feira com a entrada de militares e tanques leais ao regime de Bashar al-Assad que abriram fogo sobre a população.
Protestos em Damasco (Reuters)

A cidade é um dos pontos mais fortes de protesto contra o regime. Segundo grupos já foram mortas 350 pessoas desde o começo das revoltas, diz a Reuters, mas este fim-de-semana tem sido especialmente sangrento. No domingo, morreram pelo menos 13 pessoas na cidade de Jabla, adiantou a BBC News.

Testemunhos à AFP dizem que ao início da manhã desta segunda-feira entrou na cidade de Deraa uma força militar de 3000 homens. Com tanques a colocarem-se no centro da cidade e com atiradores a irem até aos telhados das casas.

“Há corpos deitados nas ruas e não conseguimos recuperá-los”, disse um dos activistas citados pela AFP.

Segundo um outro activista, citado pela televisão Al-Jazeera, as tropas estão a disparar. “Os homens estão a disparar em todas as direcções e estão a avançar atrás dos tanques que os protegem”, disse Abdullah Al-Harriri.

Também as cidades de Damasco e Durma estão a ser invadidas pelas forças militares, adianta a Reuters. Uma jornalista da Al-Jazeera defende que esta segunda-feira marca uma diferença no comportamento do regime que desde há um mês tem vindo a ser contestado nas ruas das cidades.

Até agora as forças militares estavam a reagir aos protestos. “Hoje, estamos a ver uma táctica diferente com os militares a entrarem nas cidades”, disse Rula Amin, que obteve testemunhos de pessoas que viram os militares a entrarem e a vasculharem nas casas e a fazerem prisões.

Os revoltosos “esperavam que os militares não fossem envolvidos”, disse. “E sentem que isto é apenas o início de uma repressão muito séria.”


www.publico.clix.pt

NIETZSCHE, MORRISON, MILLER E OS MERCADOS EM BRAGA


APRESENTAÇÃO DE "NIETZSCHE, JIM MORRISON, HENRY MILLER, OS MERCADOS E OUTRAS CONVERSAS" NO SUBURA (BRAGA)

A. Pedro Ribeiro apresenta o livro "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas" (Corpos/WorLd Art Friends) no bar Subura em Braga (à Sé) na próxima quinta, dia 28, pelas 22,30 h. A. Pedro Ribeiro ou António Pedro Ribeiro é autor dos livros de poesia e manifestos "Queimai o Dinheiro" (Corpos, 2009), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco, 2006), "Um Poeta no Piolho" (corpos, 2009), "Saloon" (edições Mortas, 2007), "Um Poeta a Mijar" (Corpos, 2007), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (Pirata, 2004), "Á Mesa do Homem Só. Estórias" (silêncio da Gaveta, 2001) e "Gritos. Murmúrios" (com Rui Soares, Braga, Grémio Lusíada, 1988). Foi fundador da revista "Aguasfurtadas" e tem colaborado em diversas revistas e fanzines como "Portuguesia", "Piolho", "A Voz de Deus" ou "Cráse".
"Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas" fala da construção e superação do Homem, da vida pela vida em oposição à não-vida, à vidinha do mercado e dos mercados, às percentagens das bolsas e dos banqueiros que nos espetam na cabeça todos os dias. Do grito "Queremos o mundo e exijimo-lo agora!" de Morrison, em oposição aos políticos do regime, aos pregadores da morte e da mercearia, ao homem pequeno de Nietzsche. Fala da vida enquanto dádiva, celebração, excesso, na esteira de Miller. Do homem nobre, do menino e do bailarino, do criador dionisíaco que tomará conta da Terra depois da queda do capitalismo predador dos mercados.
A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto em pleno Maio de 68. Tem vivido em Braga, Porto, Trofa, Póvoa de Varzim e Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). Frequentou os liceus Sá de Miranda e Alberto Sampaio em Braga e licenciou-se em Sociologia pela Faculdade de Letras do Porto. Foi activista estudantil na Faculdade de Letras do Porto e no Jornal Universitário do Porto. É actualmente candidato a deputado pelo PCTP/MRPP através do círculo eleitoral do Porto e já foi também candidato a deputado pelo PSR por Braga em 1991 e 1995 e candidato às Juntas de Freguesia de Vila do Conde e Póvoa de Varzim pelo Bloco de Esquerda em 2001 e 2005, respectivamente. Define-se como anarquista-nietzscheano-guevarista. Actuou como diseur e performer nos Festivais de Paredes de Coura de 2006 (ao lado de Adolfo Luxúria Canibal e Isaque Ferreira) e de 2009 (com a banda Mana Calórica), no Festival de Poesia de Salvaterra do Minho (Espanha) em 2007 e no Teatro Campo Alegre, nas "Quintas de Leitura" em 2009, local onde regressa a 26 de Maio próximo, acompanhado de Susana Guimarães, com a performance "Se Me Pagares Uma Cerveja Estás a Financiar a Revolução", integrado no evento "A Vida no Campo". É organizador, com Luís Carvalho, das noites de "Poesia de Choque" no Clube Literário do Porto e tem dinamizado diversas sessões de poesia nos bares Púcaros e Pinguim, no Porto, no antigo Deslize (Braga), no Pátio (Vila do Conde), bem como na Casa das Artes em Famalicão. Considera-se um homem livre.

domingo, 24 de abril de 2011

NUCLEAR NÃO, OBRIGADO!


Em Tóquio, milhares disseram “adeus” ao nuclear
24.04.2011
AFP

Milhares de pessoas manifestaram-se hoje no centro de Tóquio para dizer “adeus” ao nuclear e pedir o desenvolvimento de energias renováveis, depois do acidente na central de Fukushima 1, há mês e meio.

Erguendo cartazes onde se lia “Bye Bye Genpatsu” (Adeus nuclear), os manifestantes desfilaram pelas ruas da capital, a partir do Parque de Yoyogi. Entre os participantes, crianças e famílias inteiras.

“Estamos preocupados. Antes de Fukushima, nunca pensei nisto. Mas agora precisamos fazê-lo, pelos nossos filhos”, explicou Hiroshi Iino, 43 anos, que veio à manifestação por uma “mudança de energia” com a sua mulher e os dois filhos, com cinco e nove anos.

Esta é a segunda vez que Yoko Onuma, professora de 48 anos, desde às ruas para se manifestar, desde o acidente com a central nuclear de Fukushima 1. “Antes, não tinha consciência dos perigos do nuclear”, disse. “Mas hoje, é preciso mobilizar todas as pessoas, como aconteceu em outros países, como na Alemanha, por exemplo”.

Para Junichi Sato, director-executivo da organização Greenpeace no Japão e um dos organizadores da manifestação, a mobilização relativamente fraca no país até agora explica-se com o drama dos 28 mil mortos e desaparecidos no sismo e tsunami de 11 de Março. “Até aqui, a prioridade estava concentrada nas vítimas”, explicou. “No estrangeiro, a problemática era diferente. Agora, o debate energético vai subir de tom” no Japão.

A poucos quilómetros, uma outra manifestação. Organizada com o slogan “Anti-Tepco” – nome da empresa operadora da central nuclear -, a marcha saiu do Parque de Shiba e reuniu alguns milhares de pessoas.

A questão de uma eventual saída do nuclear ainda não foi debatida abertamente no palco político japonês. “Não podemos passar sem energia nuclear mas devemos reflectir nos planos e no calendário de construção das nossas centrais”, comentou na sexta-feira o número dois do partido de centro-esquerda no poder, Katsuya Okada.

A energia nuclear representava, antes do tsunami de 11 de Março e a suspensão do funcionamento de uma dezena de reactores, perto de 30 por cento da electricidade consumida no Japão. A Tepco estima que serão precisos nove meses para pôr um fim à crise nuclear.

REVOLTA NO IÉMEN


Manifestações prosseguem
Oposição do Iémen dividida sobre a imunidade garantida ao Presidente Saleh
24.04.2011 - 19:13 Por PÚBLICO

Votar
|
0 votos
15 de 15 notícias em Mundo
« anteriorA instabilidade política continua a ameaçar o Iémen, apesar da notícia de que o Presidente Ali Abdallah Saleh sairá do poder nos próximos 30 dias. Isto porque o acordo que Saleh aceitou lhe garante imunidade, a si e à sua família, e a oposição está fraccionada sobre a questão.
Manifestação de estudantes junto da Universidade de Sanaa (Ammar Awad/Reuters)

Hoje, os opositores ao regime de 33 anos, encheram as ruas da capital do país, Sanaa, rejeitando o acordo traçado pelo Conselho de Cooperação do Golfo Pérsico e aceite por Saleh, que contudo ainda não o assinou. Este prevê que o Presidente entregue o poder nos próximos 30 dias a troco de imunidade.

Os partidos da oposição, que no sábado fizeram saber que aceitavam este termo polémico do acordo, voltaram a fraccionar-se. No tema imunidade, mas sobretudo sobre outra alínea do documento que estipula a formação de um Governo de unidade, juntando as duas principais formações da oposição.

Yaseen Noman, presidente do maior grupo da oposição, a União Conjunta de Partidos, disse à BBC que não aceitam participar num Executivo conjunto e que não irão forçar os manifestantes a pararem com os protestos.

Num comunicado, a Organização dos Jovens da Revolução, constituída maioritariamente por estudantes universitários, fez saber que rejeita a proposta "se Saleh não for responsabilizado pela morte de mais de 140 manifestantes".

A polémica em torno do futuro do Governo e do futuro do Presidente Saleh fez-se sentir em todo o país e, esta tarde, realizaram-se protestos em 14 cidades, segundo as agências noticiosas.

Ibrahim al Baadani, uma conhecida figura da oposição da cidade de Ibb, disse à CNN que ficou "surpreendido" quando soube que a oposição aceitou a imunidade para o actual chefe de Estado e a permanência do chefe de Estado no cargo maus 30 dias. "Nós continuaremos com os protestos pacíficos enquanto ele não sair do poder", frisou.

A proposta dos países do Golfo preconiza a criação de um Governo de unidade que prepare o país para eleições legislativas e presidenciais no prazo de dois meses após a partida do Presidente.

E se alguns opositores e analistas diziam que a demora de Saleh em assinar o acordo pode significar que está a jogar com a fractura da oposição, uma fonte dizia à CNN que o Presidente está mesmo convencido a saír, apenas manobra para que todos aceitem as suas condições. "Ele sabe que o seu tempo acabou e, sendo um animal político, vai continuar a movimentar-se até que esteja tudo como ele quer", disse um seu confidente árabe que pediu à CNN para não ser identificado.

Ataque em Aden
Noutro ponto da Síria, cinco soldados e um membro de uma tribo morreram durante uma emboscada a um combóio militar perto da cidade portuária de Aden.

Os atacantes dispararam armas automáticas e lançaram granadas contra o combóio e tentaram apoderar-se dos alimentos e combustível que os militares transportavam para abastecer o destacamento estacionado nas montanhas de Al Aar.


www.publico.clix.pt

25 DE ABRIL, SEMPRE!


MundoPolíticaEconomiaDesportoSociedadeEducaçãoCiênciasEcosferaCulturaLocalMediaTecnologiaMaisMais canais no PUBLICO.PTRegresso ao IraqueReportagens de Sofia Lorena e Nuno Ferreira Santos Especial África do SulAs reportagens de Alexandra Lucas Coelho e Pedro Cunha Especial SaramagoTudo sobre a vida e obra do Nobel da Literatura Edição Ultra-leveVersão ultra-leve das notícias de última hora do Publico.pt Público para CegosEdição digital do Público para cegos Público na EscolaProjecto de incentivo ao uso dos media na escola MeteorologiaPrevisão do tempo para os próximos dias Três perguntas ao historiador
Miguel Cardina: “O património cívico e simbólico do 25 de Abril está em erosão”
24.04.2011 - 20:16 Por Sofia Rodrigues

Votar
|
0 votos
2 de 2 notícias em Política
« anteriorPreocupações do presente com uma referência do passado. Um grupo de 74 portugueses nascidos depois de 1974 assinou um Manifesto para que a revolução de Abril não seja esquecida.
Alguns subscritores pertencem ao movimento Geração à Rasca (Daniel Rocha)

É preciso “manter vivo o património cívico e simbólico do 25 de Abril que está em erosão”, justifica Miguel Cardina, historiador, e um dos subscritores do texto intitulado “O inevitável é inviável”.

Na lista (que não se quis compor de notáveis) constam nomes como o dos humoristas Ricardo Araújo Pereira, Jel, Marta Rebelo, ex-deputada do PS, mas também elementos do movimento Geração à Rasca e muitos anónimos – médicos, engenheiros e estudantes.

Como é que surgiu a ideia do manifesto?
A proximidade do 25 de Abril tornava urgente a tomada de posição sobre Portugal. O 25 de Abril tem sido uma comemoração com discursos de circunstância. Os discursos dominantes, nomeadamente dos políticos, rasuram completamente o combate de democrático, de luta por direitos. Essa dimensão tem desaparecido. Há uma espécie de consensualização do 25 de Abril que está tornar-se num outro 5 de Outubro que é comemorado como data fundante mas que é secundarizado. Comemoramos o 25 de Abril, mas ao mesmo tempo vermos algumas perversões no dia-a-dia. Corremos o risco sério de perdermos o conjunto de direitos, de conquistas e de lutas que foram o 25 de Abril.

Este manifesto é um grito de alerta?
Sim, de preocupação de gente que não existia no 25 de Abril de 1974. Vivemos num tempo em que quem manda é o FMI e os consensos alargados. Democracia não é isso, pressupõe debate e discussão de ideias. Era bom que neste momento eleitoral os partidos apresentassem alternativas e as pessoas decidissem. O que estamos a ver é uma espécie de apagamento do processo eleitoral. Convinha que os partidos fizessem política e não arranjos prévios. O manifesto é também um convite a que as pessoas saiam à rua, cada um com os seus activismos, para manter vivo o património cívico e simbólico do 25 de Abril que está em erosão.

Partilham o desencanto de Otelo Saraiva de Carvalho sobre a revolução?
Falo em nome pessoal. Acho que o país está melhor depois do 25 de Abril. Não acho que não tenha servido para nada. Muitas das conquistas de Abril estão de pé, é preciso é defendê-las. Uma ruptura política e democrática não se constrói com gestos heróicos e individuais. O 25 de Abril foi feito por muitas pessoas anónimas e feito de muita esperança. Uma pessoa não pode ficar dona de um momento colectivo.

JORGE TAXA

DATA 6 – Cerca de 1850 / 1880 d. C –

Karl Marx escreve: “Se o homem é formado pelas circunstâncias, é preciso formar as circunstâncias humanamente”.

*****

DATA 7 – Cerca de 1885 d. C. –

Nietzsche escreve: “Temos sempre de defender os fortes dos fracos”.
Nietzsche também escreve: “Oportunidades iguais para os iguais; oportunidades desiguais para os desiguais – que tal esta equidade?”.

*****

DATA 8 – Ano 1945 d. C. –

Numa lista do clímax d’O Triunfo dos Porcos, de George Orwell, lê-se: “Todos os animais são iguais, mas há alguns que são mais iguais do que os outros”.
DATA 9 – Cerca da década de 90 do Século XX d. C. –

Agustina Bessa-Luís afirma: “José Saramago é um produto das circunstâncias”.

*****

DATA 10 – Poucas semanas ou talvez um mês depois –

José Saramago propõe o nome de Agustina para um prestigiante prémio literário.

*****

DATA 11 – Poucas semanas ou talvez um mês depois – ainda na década de 90, Século XX, d. C. –

Agustina Bessa-Luís, ainda na sequência desta discussão, responde: “Pelos vistos, tenho de mudar de política”.

*****

DATA 12 – Por volta da passagem do 2º milénio d. C. –

José Saramago propõe – mais ou menos com estas palavras – a seguinte hipótese: “Quando morrer o último homem existente no Universo – isto é: quando a espécie humana se extinguir em absoluto –, então acabará, com esse homem, a ideia de Deus”.

*****

DATA 13 – Ano 2093 d. C. –

É deliberada, por unânime plebiscito e em pleno consensus universalis, a radical abolição do dinheiro, a absoluta supressão do capital (recicla-se o papel das notas para cadernos, por exemplo, e o metal das moedas funde-se para, por exemplo, dar origem a partes metálicas de aviões). Não se dá o “igual para todos”, não se dá o “todos com as mesmas coisas, não se dá a “divisão ou partilha, de bens e recursos, igualitária”. Não. É muito diferente. Os recursos naturais já estão de tal maneira optimizados que já só há abundância, abundância, abundância... É dizer: tudo sobeja para todos, tudo sobra, sobra sempre. É até abolido o trabalho, a cargo dos humanóides robots – necessariamente, segundo Roger Penrose, desalmados e insensíveis, sem que, porventura, patenteiem um amável antropomorfismo, mas sem que lhes aflore, a um coração ou a uma consciência de que são destituídos, algum ressentimento ou despeito por não passarem de úteis servos dos terráqueos que somos –. Por outro lado, nenhum humano será impedido de trabalhar, se assim o entender.

*****

AINDA A DATA 13 – Ano 2093 d. C. –

Estando os trabalhos constrangedores a cargo dos humanóides robots (ou a cargo dos humanos que de livre e espontânea vontade os quiserem praticar), resta à demais humanidade – talvez uma esmagadora maioria –; resta-lhes tornarem-se filósofos, artistas ou investigadores científicos – e só o fazem quando muito bem lhes apetece –.

*****

AINDA A DATA 13 – Ano 2093 d. C. –

Efectua-se clinicamente o desmantelamento de seja que religião existir. Efectua-se o esclarecimento – por meio de espirituosos diálogos, por sua vez, por meio de filósofos-médicos calmos e pacientes –; efectua-se a “desevangelização” dos crentes, efectua-se a Libertação dessa terrível e fatal patologia que os possui.
Nem sequer se exclui desta razia sem gota de sangue – desta razia das religiões, dos padres, dos papas, dos beatos, das beatas, dos “sobrenaturais”, dos “Aléns”, dos alienados, destes tumores malignos – cancros – da epiderme do planeta (e, se for preciso extirpá-los de catacumbas...); – não se exclui desta razia nem sequer o budismo. Budismo que parece, também ele, querer descartar-se que, também ele, é uma religião. Na realidade, devemos admitir que o budismo é um estádio niilista mais avançado que o niilismo cristão, um estádio mais serôdio – é para onde a Europa, é para onde o Ocidente, caminham.
Mas nós não queremos eliminar nem o desejo nem a obliquidade agressiva da Eris. Nós dizemos: “Desejo”; nós dizemos: “Estrela”; nós dizemos: “Acontecimento”. A hipótese de Saramago estava errada: os humanos sobrevivem, mas Deus, antes, desapare_Céu.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

OS MALDITOS SEGUNDO VALTER HUGO MÃE

Cadeirão Voltaire
Saltar para o conteúdoInícioSFC ← Festival Literário da Madeira: segunda mesaFestival Literário da Madeira: a solidariedade da concorrência →Abril 2, 2011 · 15:54 ↓ Jump to CommentsFestival Literário da Madeira: os escritores malditos
valter hugo mãe conta que a primeira vez que lhe chamaram maldito foi quando roubou uvas num quintal, em miúdo, e a dona da fruta lhe disse “maldito cachorro, vou dizer à tua mãe” . Depois vieram os livros da Hiena, “essa editora toda maldita”, que lhe deu Baudelaire e Genet, entre outros, e cujos livros, transportados na mochila, lhe davam a ideia de deixar um rasto de sangue à passagem da mala. E os episódios sucedem-se: o elogio de Alberto Pimenta e a acusação da professora, dizendo que estava a encher os colegas “de porcarias”, as histórias de Adília Lopes, distribuindo pagelas, ou de Isabel de Sá, fugindo de encontros e respondendo que não a tudo o que se lhe pergunta, ou de A. Pedro Ribeiro entrando num hipermercado com um faclhaão na mão e gritando palavras contra o capitalismo. E encerra dizendo que ‘não é maldito quem quer’. Já se desconfiava.

Mantendo os seus gestos de professora, Isabela Figueiredo avança para a semântica da palavra ‘maldito’, para depois afirmar que “a maldição é mostrarmos que somos gente, nem melhores nem piores do que os outros”. E entre as maldições várias da nossa condição, fica a certeza de que o muito que nos une, entre escatologias e humores vários, se torna subversiva quando se revela.
Sandro William Junqueira partilha com a audiência a descoberta juvenil da Poesia Toda, de Herberto Helder, e o modo como essa descoberta foi fundacional para a sua noção de liberdade na escrita, ainda que nessa altura tenha percebido muito pouco do que leu naqueles versos.

Paulo Sérgio Beju expressa o seu desconforto por estar no meio de escritores, ele que é ilustrador, e depois de uma facadinha no excesso de laranja da ilha (a cor, não a fruta), deixa o humor tomar conta da sala. E ainda que algumas das histórias que conta, à volta dos enganos que o nome de valter hugo mãe costuma provocar, já sejam conhecidas de uma pequena parte da audiência, nem por isso o efeito é menor.

POESIA DE CHOQUE COM ASSOCIAÇÃO JOSÉ AFONSO

Hoje, 21, pelas 22,00 h, tem lugar mais uma noite de Poesia de Choque no Clube Literário do Porto. A Associação José Afonso/Norte, a "Cadeira de Van Gogh" e "Os Cadernos do Caos" levam à cena o projecto "Em Cada Rosto Igualdade". Intervenções dos diseurs "habitués" Luís Carvalho e António Pedro Ribeiro. Apareçam!

GARCIA PEREIRA


Legislativas
Garcia Pereira questiona líderes partidários sobre “debates discriminatórios”
21.04.2011 - 00:35 Por Luciano Alvarez

Dirigente do PCTP/MRPP escreveu uma carta Sócrates, Passos, Portas Jerónimo e Louça sobre debates televisivos
Garcia Pereira, cabeça de lista do PCTP/MRPP por Lisboa às legislativas de 5 de Junho, enviou uma carta aos líderes dos partidos com representação parlamentar em que os questiona se concordam que os debates televisivos excluam todas as restantes candidaturas.

O dirigente do PCTP/MRPP lembra, na carta enviada na tarde desta quarta-feira, que o acordo feito entre as três televisões e os partidos com assento parlamentar para os debates a dois, “excluindo assim, com manifesta violação da Lei e da Constituição, todas as restantes forças políticas concorrentes às mesmas eleições”.

“Com vista a permitir que a candidatura do PCTP/MRPP a que tenho a honra de presidir, com os poucos meios de que dispõe, possa esclarecer a opinião pública acerca de qual é a posição sobre tais debates do Partido Político a cuja direcção Vª Exª preside, venho por este meio solicitar-lhe o favor de me informar se concorda ou não com estes debates discriminatórios e excludentes de todas as restantes candidaturas”, pergunta Garcia Pereira aos líderes dos cinco partidos com assento parlamentar.


www.publico.clix.pt

quarta-feira, 20 de abril de 2011

VIVO


Não tenho escrito. Mas a quantidade não é sinónimo de qualidade. As gajas entram. Estou em Pedras Rubras. A TV fala de distúrbios no Benfica-Porto. A máquina do metro ontem engoliu-me dois euros. Faziam-me falta agora. Paciência. O que importa é que estou vivo. E razoavelmente com saúde. Isso é que interessa. Estar aqui vivo. A vida, verdadeiramente a vida. Isso é que conta. Já dizia Henry Miller. A vida pela vida. O café mudou de gerência. Há uma série de cafés a fechar ou a mudar de gerência aqui na zona. Até a "Motina". A minha querida "Motina" da escrita e das leituras. A Claudia Schiffer ainda está viva e está aí para as curvas. Um canto à mulher bela. O poeta fala aos anjos. Escreve. É louco mas também consegue ser sensato. Vai até ao fim. É publicado pelo padre Mário no "Fraternizar". Vai ler outra vez o "Livro da Sabedoria". Quer isso mesmo. A sabedoria. É louco. Procura o excesso e a sabedoria. Aprendeu com Blake e Morrison. É doido. Aprendeu com o Jaime Lousa. Embora o Jaime fosse quase sempre sensato e nunca se vendesse. É doido. Com todo o gosto. Vai até ao fim como o Jim. Acredita. É isso que o faz mais homem. É isso que o faz verdadeiro, autêntico. Escreve. É essa a sua missão. Ama a revolução e a anarquia. Está em Londres, está na Síria. É doido mas mantém a sensatez. Vai do inferno ao céu num só dia. É capaz de escrever como os maiores. Sobe ao palco. Gosta de lá estar. É doido. Tem essa fama. Ninguém lha tira. Aliás, ninguém lhe tira nada. É um deus. Acredita que alguns podem ser deuses. Outros estão irremediavelmente perdidos. Há os Eleitos e os não eleitos. Nada a fazer, minha rica. Ou és ou não és. Loucos divinos como Jesus, como Morrison, como Nietzsche, como Blake, como Breton, como Miller. Nada a fazer. Tudo a fazer. Tudo a revolucionar. Fora da cruz.

O PAÍS A ARDER


Incumprimento da dívida e convulsão social colocam Portugal no mapa de risco político mundial - Estudo
Lisboa, 20 abr (Lusa) - Portugal apresenta, pela primeira vez em dez anos, um risco político com ameaças de greves, de motins e de comoção civil, bem ...



Incumprimento da dívida e convulsão social colocam Portugal no mapa de risco político mundial - Estudo
Lisboa, 20 abr (Lusa) - Portugal apresenta, pela primeira vez em dez anos, um risco político com ameaças de greves, de motins e de comoção civil, bem como de incumprimento da dívida soberana, revela um estudo da Aon a que a Lusa teve acesso.

"Embora tenha mantido o mesmo 'rating' - aquele que indicia o mais baixo patamar de risco - pela primeira vez foram especificados dois riscos específicos, nomeadamente, o de incumprimento da dívida soberana e o de ocorrência de fenómenos de violência pública", disse à Lusa o diretor geral da Aon, Pedro Penalva.

De acordo com o responsável pelo estudo da Aon Risk Solutions, a empresa global de gestão de risco da Aon Corporation, "Portugal é um dos países que surge pela primeira vez na história do 18.º Mapa de Risco Político, dada a conjuntura atual em comparação com outros anos".

O legado da recessão mundial, a recente crise da dívida soberana, os desenvolvimentos ocorridos na Grécia neste domínio e o consequente risco de contágio são fatores que contribuíram para atirar Portugal para a lista dos países em risco, num universo composto por mais de 211 países a nível mundial.

As conclusões do estudo referem-se ao ano de 2010, e resulta de uma avaliação da AON em conjunto com diversas entidades, como universidades, agências de 'rating', seguradoras e bancos de investimento.

O mesmo estudo conclui que "para promover o crescimento, a competitividade, a coesão e a robustez da economia portuguesa é fundamental que a execução orçamental em 2011 seja eficiente de forma a que se criem novas plataformas e estruturas que tornem o país um alvo de interesse por parte dos investidores estrangeiros, e dos grandes grupos privados".

A Aon mediu o risco político de 211 países e territórios, baseado em inúmeros indicadores, designadamente impossibilidade de conversão de moeda e transferência de dinheiro, greves, motins e comoção civil, guerra, guerra civil, não pagamento da dívida soberana, interferência política, quebra na cadeia de abastecimentos e riscos legais e regulatórios.

O Mapa de Risco Político da Aon avalia os países numa escala de seis pontos, que compreende um intervalo que vai de risco reduzido a risco muito elevado. Uma redução nos indicadores significa que a severidade do risco cresceu, enquanto que o seu aumento representa um risco menos grave.

SMS

Lusa/fim

BRAGA (DÁ-ME O BOM JESUS FORA DA CRUZ)


BRAGA (DÁ-ME O BOM JESUS FORA DA CRUZ)

António Pedro Ribeiro

Braga, percorro as tuas ruas e torno-me naquele que sou. Braga, vou ao Sá de Miranda e lembro-me do rapaz amedrontado que esperava pelo Pai. Braga, aqui encontrei a noite e a música e também a mulher. Braga, nos braços da minha mãe e da minha avó. Da Rua Nova de Santa Cruz à igreja de São Vítor. Braga, do Pedro, do Jorge e do Rui. Braga, por tantos andei e volto sempre. Da "Cachapuz" à "Brasileira". Dos meus irmãos à brincadeira. Braga, aqui te canto. Dos primeiros poemas à banda imaginária. Do Peter Owne no "Café Central", antes do "Astória" e do "Vianna". Do rapaz tímido, do puto que desenhava ao Che Guevara do "Feira Nova". Braga, das conversas depois do Alberto Sampaio e da Fátima dos beijos na quinta. Da Goreti a pedir para ficar com ela. Braga, por onde andei e por onde ando agora. Braga, quem sou hoje? Que me dizes agora? Braga, por onde sigo? Braga, pego ou não na espada? Braga, serei eu o Poeta? Dá-me o Bom Jesus fora da cruz. Dá-me o Bom Jesus fora da cruz. Na Rua Nova de Santa Cruz. DÁ-ME O BOM JESUS FORA DA CRUZ!

terça-feira, 19 de abril de 2011

O HOMEM DE ABRIL E A DÍVIDA



O HOMEM DE ABRIL E A DÍVIDA

O homem de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho, disse que esta é uma óptima ocasião para substituir a democracia representativa pela democracia directa. Tal já acontece, em parte, na Islândia, onde sucessivos referendos têm dito que o povo se recusa a pagar a dívida aos mercados ingleses e holandeses. Também aqui é preciso dizer não à dívida. Não devemos nada a ninguém. Não somos caloteiros. Caloteiros e ladrões são os homens e mulheres dos bancos, da bolsa, da finança, dos mercados, da União Europeia, do FMI, os boys and girls do PS e do PSD, a Angela Merkel e o Durão Barroso. Otelo, o homem de Abril, proclama que é preciso um novo 25 de Abril. E nós estamos com ele. A democracia representativa está podre, já deu o que tinha a dar. Agarremos a democracia directa com as nossas mãos. Construamos o presente e o homem novo. Sem intrigas, sem ganância, sem mercearia. Como em Abril, como o homem de Abril. Eles que paguem a dívida. Eles que paguem a crise.

CHOMSKY


Sobre la sociedad anarquista. Conversaciones con Noam Chomsky
Martes, 19 de Abril de 2011 22:12 | Escrito por Noam Chomsky | | |
Pensamiento Libertario

P.J.: Profesor Chomsky para empezar quizá sería lo mejor que tratara de decirnos qué es lo que no se ha de entender por anarquismo; la palabra anarquía, como es sabido, proviene del griego y significa literalmente sin gobierno, pero supongo que quienes hablan de anarquía o de anarquismo como sistema de Filosofía política no quieren con eso decir simplemente que son partidarios de que a partir del 19 de enero del año que viene, pongamos por caso, deje de existir de repente todo gobierno tal como hoy lo entendemos y que ya no habrá ni policía ni normas de la circulación, ni leyes ni recaudadores de impuestos y ni siquiera servicios de correos, teléfonos y telégrafos, etc. Me imagino que con esas palabras entienden algo más complicado que todo eso.

Chomsky: Bueno, entendámonos; le digo sí a algunas de sus cuestiones y no a otras. Lo más probable es que los defensores de la anarquía o del anarquismo sean partidarios de que no haya policía, pero no de que deba prescindiese de las normas del tráfico. Yo querría empezar diciendo que el término anarquismo abarca una gran cantidad de ideas políticas y que yo prefiero entenderlo como la izquierda de todo movimiento libertario. Desde estas posiciones podríamos concebir el anarquismo como una especie de socialismo voluntario, es decir: como un socialismo libertario, o como un anarcosindicalismo, o como un comunismo libertario o anarquismo comunista, según la tradición de Bakunin, Kropotkin y otros. Estos dos grandes pensadores proponían una forma de sociedad altamente organizada, aunque organizada sobre la base de unidades orgánicas o de comunidades orgánicas. Generalmente, por estas dos expresiones entendían el taller y el barrio, y a partir de este par de unidades orgánicas derivar mediante convenios federales una organización social sumamente integrada que podría tener alcances nacionales e internacionales. Toda decisión, a todo nivel, habría de ser tomada por mayoría sobre el terreno y todos los delegados representantes de cada comunidad orgánica han de formar parte de ésta y han de provenir de la misma, a la cual han de volver y en la cual, de hecho, viven.

P.J.: Así que no se trata de una sociedad en la que no haya, literalmente hablando, gobierno, sino más bien de una sociedad en la que la dirección principal de la autoridad viene de abajo. Contrariamente a las democracias representativas tales como las que existen en Estados Unidos y en Gran Bretaña que adoptan una forma de autoridad de arriba abajo, aunque en última instancia decidan los votantes.

Chomsky: Esa democracia representativa estadounidense o británica la critica un anarquista por dos razones. Primero porque se ejerce un monopolio del poder centralizado en el Estado y, segundo -críticamente hablando-, porque la democracia representativa está limitada a la esfera política sin extender de un modo consecuente su carácter al terreno económico. Los anarquistas de la tradición a que aludimos siempre han creído que el control sobre la propia vida productiva es la condición sine qua non de toda liberación humana verdadera, de hecho, de toda práctica democrática significativa. Es decir, que mientras haya ciudadanos que estén obligados a alquilarse en el mercado de mano de obra a quienes interese emplearlos para sus negocios, mientras la función del productor esté limitada a ser utensilio subordinado, habrán elementos coercitivos y de opresión francamente escandalosos que no invitan ni mucho menos a hablar en tales condiciones de democracia, si es que tiene sentido hacerlo todavía.

P.J.: ¿Da la historia ejemplos duraderos y a cualquier escala un tanto sustancial de sociedades que se hayan aproximado al ideal anarquista?

Chomsky: Sí, han existido sociedades cuantitativamente pequeñas que creo han logrado bastante realizar ese ideal, aparte de que da la historia ejemplos de revolución libertaria a gran escala de estructura principalmente anarquista. Pero volviendo a lo primero, personalmente creo que el ejemplo tal vez más dramático es el de los kibbutzim israelíes, los cuales durante un largo periodo estuvieron realmente regidos por principios anarquistas, es decir: autogestión, control directo de los trabajadores en toda la gestión de la empresa, integración de la agricultura, la industria y los servicios, así como la participación y prestación personales en el autogobierno. Me atrevo a afirmar que tuvieron un éxito extraordinario en casi todas las medidas que tuvieron que imponerse.

P.J.: Pero seguramente estaban, y aún lo están, encuadrados esos kibbutzim en el marco de un Estado tradicional que les garantiza cierta estabilidad fundamental.

Chomsky: No siempre ha sido así. La historia de los kibbutzim es bastante interesante a este respecto. Sólo desde 1948 están engranados en la maquinaria de un Estado convencional. Antes sólo obedecían a los imperativos de un enclave colonial y, en realidad, existía una sociedad subyacente, mayormente cooperativista, que de hecho no formaba parte del sistema supraestructural del mandato británico, sino que funcionaba subrepticiamente fuera del alcance de este mandato. Y aun hasta cierto punto, esa sociedad cooperativista sobrevivió a la fundación del Estado de Israel, pero -naturalmente- acabó por integrarse en él perdiendo así, a mi parecer, gran parte de su carácter socialista libertario la región de los kíbbutzim israelíes, por razón del proceso político que la misma fundación de una nación acarreaba, amén de otros procesos acarreados por la historia de la región en su coyuntura internacional que no hay por qué tratar aquí.

Sin embargo, como instituciones socialistas libertarias en funciones, creo que los kíbbutzim israelíes pueden pasar por un modelo interesante y sumamente apropiado para sociedades industriales avanzadas en la medida en que otros ejemplos existentes en el pasado no lo son.

Un buen ejemplo de revolución anarquista realmente a gran escala -de hecho el mejor ejemplo que conozco- es el de la revolución española de 1936, durante la cual, y en la mayor parte de España republicana, se llevó a cabo una revolución anarquista (o eminentemente inspirada en el anarquismo) que comprendía tanto la organización de la agricultura como de la industria en extensiones considerables, habiéndose desarrollado además de una manera que, al menos visto desde fuera, da toda la impresión de la espontaneidad. Pero si buscamos las raíces más hondas y sus orígenes, caemos en la cuenta de que ese resultado es debido a unas tres generaciones de abnegados militantes organizando sin cesar, experimentando, pensando y trabajando por difundir las ideas anarquistas entre vastas capas de la población en aquella sociedad eminentemente preindustrial, aunque no preindustrial del todo. También esta experiencia tuvo gran éxito, tanto desde el punto de vista de las condiciones humanas como de las medidas económicas. Quiere decirse que la producción continuó su curso con más eficiencia si cabe; los trabajadores del campo y de la fábrica demostraron ser perfectamente capaces de administrar las cosas y administrarse sin presión alguna desde arriba, contrariamente a lo que habían imaginado muchos socialistas, comunistas, liberales y demás ciudadanos de la España republicana (¡por no hablar de la otra!) y, francamente, quién sabe el juego que esta experiencia habría podido dar para el bienestar y la libertad del mundo. Por desgracia, aquella revolución anarquista fue destruida por la fuerza bruta, a pesar de que mientras estuvo vigente tuvo un éxito sin precedentes y de haber sido, repito, un testimonio muy inspirador en muchos aspectos sobre la capacidad de la gente trabajadora pobre de organizar y administrar sus asuntos de un modo plenamente acertado sin opresión ni controles externos o superiores. Ahora bien; en qué medida la experiencia española es aplicable a sociedades altamente industrializadas, es una cuestión que habría que investigar con todo detalle.

P.J.: Lo que aparece claro para todo el mundo es que la idea fundamental del anarquismo se ancla en la prioridad del Individuo -no necesariamente aislado, sino precísamente junto con otros individuos- y la realización de su libertad. Esto nos suena a lo que proclamaban los fundadores de los Estados Unidos. ¿Qué ha pasado con la experiencia estadounidense que ha hecho de aquella libertad invocada por dicha tradición una palabra sospechosa y hasta corrompida en los oídos de los pensadores anarquistas y de los socialistas libertarios como usted?

Chomsky: Permítame aclarar ante todo que yo no me considero un pensador anarquista. Digamos que soy un compañero de viaje por derivación, del anarquismo. Siempre se han expresado los pensadores anarquistas muy favorablemente respecto a la experiencia estadounidense y al ideal de la democracia jeffersoniana. Ya sabe que para Jefferson el mejor gobierno es el que gobierna menos, o la apostilla a este aforismo de Thoreau según la cual el mejor gobierno es el que no gobierna nada en absoluto. Ambas frases fórmulas las han repetido los pensadores anarquistas en toda ocasión y a través de los tiempos desde que existe la doctrina anarquizante.

Pero el ideal de la democracia jeffersoniana -dejando aparte el hecho de que fuese todavía una sociedad con esclavos- se desarrolló dentro de un sistema precapitalista, o sea: en una sociedad en la cual no ejercía el control ningún monopolio ni habían focos importantes de poder privado. Es realmente sorprendente leer hoy algunos textos libertarios clásicos. Leyendo, por ejemplo, La crítica del Estado (1791) de Wilhelm von Humboldt, obra muy significativa que de seguro inspiró a Mill, se da uno cuenta que no se habla en ella para nada de la necesidad de oponerse a la concentración del poder privado y más bien se trata de la necesidad de contrarrestar la usurpación del poder coercitivo del Estado. Lo mismo ocurre en los principios de la tradición estadounidense. ¿Por qué? Sencillamente, porque era ésa la única clase de poder que existía. Quiero decir que Von Humboldt daba por supuesto que todo individuo poseía más o menos un grado de poder similar, pero de poder privado, y que el único desequilibrio real se producía en el seno del Estado centralizado y autoritario, y que la libertad debía ser protegida contra toda intervención del Estado y la Iglesia. Esto es lo que él creía que había que combatir.

Ahora bien; cuando nos habla, por ejemplo, de la necesidad de ejercer control sobre la propia vida creadora, cuando impreca contra la alienación por el trabajo, resultante de la coacción o tan sólo de las instrucciones o dirigismo en el trabajo de cada uno, en vez de actuar por autogestión, entonces revela su ideología antiestatal y antiteocrática. Pero los mismos principios sirven para la sociedad industrial capitalista que se formó más tarde. Estoy inclinado a creer que Von Humboldt, de haber persistido en su búsqueda ideológica, habría acabado por ser un socialista libertario.

P.J.: Todos estos antecedentes, ¿no sugieren que hay algo inherente al estado preindustrial en todo lo relativo a la aplicabilidad de las ideas libertarías? En otras palabras: que las ideas libertarías presuponen necesariamente una sociedad básicamente rural con una tecnología y una producción bastante simples y cuya organización económica tienda a ser de pequeña escala y localizada.

Chomsky: Vamos a ver, separemos su cuestión en dos preguntas: primera, ¿qué han pensado al respecto los anarquistas?; y segunda, ¿cómo opino yo? En lo que respecta a las respuestas anarquistas tenemos por lo menos dos. En primer lugar hay una tradición anarquista -que podríamos hacer partir de un Kropotkin- con ese carácter que acaba de describirnos. Pero en segundo lugar existe otra tradición anarquista que al desarrollarse desemboca en el anarcosindicalismo y que ve en el anarquismo la manera adecuada de organizar una sociedad compleja de nivel industrial altamente avanzado. Y esta tendencia dentro del anarquismo se confunde, o por lo menos se relaciona muy estrechamente con una variedad de marxismo izquierdista de la especie de los comunistas espartaquistas, por ejemplo, salidos de la tradición de Rosa Luxemburgo y que más tarde estuvo representada por teóricos marxistas como Anton Pannekoek, quien desarrolló toda una teoría sobre los consejos obreros de la industria, siendo él mismo un hombre de ciencia, un astrónomo.

Pues bien; ¿cuál de estos dos puntos de vista es el que se ajusta a la verdad? O en otros términos: ¿tienen por objeto los conceptos anarquistas una sociedad preindustrial exclusivamente o es el anarquismo también una concepción adecuada para aplicarla a la organización de una sociedad industrial altamente avanzada? Personalmente, creo en la segunda opción, es decir, creo que la industrialización y el avance de la tecnología han cerrado consigo posibilidades de autogestión sobre un terreno vasto como jamás anteriormente se habían presentado. Creo, en efecto, que el anarcosindicalismo nos brinda precisamente el modelo más racional de una sociedad industrial avanzada y compleja en la que los trabajadores pueden perfectamente tomar a su cargo sus propios asuntos de un modo directo e inmediato, o sea, dirigirlos y controlarlos, sin que por eso no sean capaces al mismo tiempo de ocupar puestos clave a fin de tomar las decisiones más sustanciales sobre la estructura económica, instituciones sociales, planeamiento regional y suprarregional, etc. Actualmente, las instituciones rectoras no les permiten a los trabajadores ejercer control ninguno sobre la información necesaria en el proceso de la producción ni tampoco poseen por lo demás el entrenamiento requerido para entender en esos asuntos de dirección. Por otra parte, en una sociedad sin intereses creados ni monopolios, gran parte de ese trabajo -administrativo incluido- podría hacerse ya automatizado. Es del dominio público que las máquinas pueden cumplir con un gran porcentaje de las tareas laborales que hoy corren a cargo de los trabajadores y que, por lo tanto, éstos -una vez asegurado mecánicamente un alto nivel de vida- podrían emprender libremente cualquier labor de creación que antes objetivamente les habría sido imposible imaginar siquiera, sobre todo en la fase primeriza de la revolución industrial.

P.J.: Seguidamente querría atacar el problema de la economía en una sociedad anarquista, pero ¿podría pintarnos con algo más de detalle la constitución política de una sociedad anarquista tal y como se la imagina usted en las condiciones modernas de vida actual? Se me ocurre preguntar, por ejemplo, si existirían en esa sociedad partidos políticos y qué formas residuales de gobierno seguirían existiendo en la práctica.

Chomsky: Permítame esbozar lo que yo creo podría obtener aproximadamente un consenso entre los libertarios, esbozo que naturalmente me parece en esencia, aunque mínimo, correcto para el caso. Empezando por las dos clases de organización y control, concretamente: la organización y el control en el lugar de trabajo y en la comunidad, podríamos imaginar al efecto una red de consejos de trabajadores y, a nivel superior, la representación interfábricas, o entre ramos de la industria y comercio, o entre oficios y profesiones, y así sucesivamente hasta las asambleas generales de los consejos de trabajadores emanados de la base a nivel regional, nacional o internacional. Y desde el otro punto de vista, o sobre la otra vertiente, cabe imaginar un sistema de gobierno basado en las asambleas locales, a su vez federadas regionalmente y que entienda en asuntos regionales, a excepción de lo concerniente a oficios, industria y comercio, etc., para luego pasar al nivel nacional y a la confederación de naciones, etc.

Ahora bien; sobre el cómo se habrían de desarrollar exactamente estas estructuras y cuál sería su interrelación, o sobre si ambas son necesarias o sólo una, son preguntas éstas que los teóricos anarquistas han discutido y acerca de las cuales existen muchas variantes. Por ahora, yo no me atrevo a tomar partido; son cuestiones que habrá que ir elaborando y dilucidando a fondo y con calma.

P.J.: Pero, ¿no habrían, por ejemplo, elecciones nacionales directas, o partidos políticos organizados de punta a punta, como si dijéramos? Claro que si así fuera posiblemente se crearía alguna especie de autoridad central lo que sería contrarío a la idea anarquista.

Chomsky: No, bueno, la idea anarquista propicia que la delegación de autoridad sea la mínima expresión posible y que los participantes, a cualquiera de los niveles, del gobierno deben ser directamente controlados por la comunidad orgánica en la que viven. La situación óptima sería, pues, que la participación a cualquier nivel del gobierno sea solamente parcial, es decir: que los miembros de un consejo de trabajadores que, de hecho, ejercen sus funciones tomando decisiones que los demás trabajadores no tienen tiempo de tomar, sigan haciendo al mismo tiempo su trabajo en el tajo, taller o fábrica en que se empleen, o su labor o misión en la comunidad, barrio o grupo social al que pertenecen.

Y respecto a los partidos políticos, mi opinión es que una sociedad anarquista no tiene forzosamente por qué prohibirlos. Puesto que, de hecho, el anarquismo siempre se ha basado en la idea de que cualquier lecho de Procusto, cualquier sistema normativo impuesto en la vida social ha de restringir y menoscaba notablemente su energía y vitalidad y que, más bien, toda clase de nuevas posibilidades de organización voluntaria pueden ir apareciendo a un nivel superior de cultura material e intelectual. Pero yo creo, sinceramente, que si llega el caso de que se crea necesaria la existencia de partidos políticos habrá fallado la sociedad anarquista. Quiero decir que, a mi modo de ver, en una situación con participación directa en el autogobierno y en la autogestión de los asuntos económicos y sociales, las disensiones, los conflictos, las diferencias de intereses, de ideas y de opiniones tendían que ser no sólo bien acogidas, sino cultivadas incluso, para ser expresadas debidamente a cada uno de los distintos niveles. No veo por qué habrían de coincidir esas diferencias con unos partidos que no se crean a partir de las diferencias, sino para crearlas precisamente. No creo que la complejidad del interés humano y de la vida venga mejor servida dividiéndola de ese modo. En realidad, los partidos representan fundamentalmente intereses de clase, y las clases tendrían que haber sido eliminadas o superadas en una sociedad como la que nos ocupa.

P.J.: Una última pregunta sobre organización política. Con esa serie jerárquica de asambleas y de estructura cuasi gubernamental, sin elecciones directas, ¿no se corre el peligro de que el órgano central o el organismo que está en la cúspide de la pirámide, como si dijéramos, se aleje demasiado de la base y que si tiene poderes en asuntos internacionales, por ejemplo, podría incluso disponer de fuerzas armadas u otros instrumentos de violencia y que, a fin de cuentas, estaría menos vigilado que lo está un gobierno en las actuales democracias parlamentarias?

Chomsky: Es condición de primera importancia en toda sociedad libertaria prevenir semejante rumbo en los asuntos públicos de carácter nacional e internacional y a ese fin hay que crear las instituciones necesarias. Lo que creo que es perfectamente factible. Personalmente, estoy convencido de que la participación en el gobierno no es un trabajo full-time. Puede serlo en una sociedad irracionalmente regida en la que se provocan toda clase de problemas por la misma irracionalidad de las instituciones. Pero en una sociedad industrial avanzada funcionando como es debido por cauces libertarios, me imagino que la puesta en ejecución de las decisiones tomadas por los cuerpos representativos, es una ocupación part-time que tendría que ser llevada a cabo por turno en el seno de cada comunidad y que debería además exigir como condición a los que la ejerzan el no dejar sus propias actividades profesionales, siquiera en parte. Supongamos que fuese posible entender el gobierno como una función de empresa equivalente a la producción de acero, pongo por caso. Si eso fuese factible -y yo creo que es una cuestión de hechos empíricos que tiene que obedecer a sus propias determinaciones y que no puede proyectarse como pura teoría-, si eso fuese factible, digo, la consecuencia natural sería organizar el gobierno industrialmente, como si fuera una rama más de la industria, con su propio consejo de trabajadores y su propia disciplina autogestionaria y su propia participación en las asambleas de mayor extensión o alcance.

Podría añadir aquí que así sucedió en los consejos de los trabajadores formados espontáneamente en algunas partes, como por ejemplo en la revolución húngara de 1956. Había en efecto, si no me equivoco, un consejo de empleados del Estado que se habían organizado sencillamente a la manera industrial o empresarial como otras ramas de la industria de tipo tradicional. Cosa semejante es perfectamente posible y tendría que ser -o podría ser- una barrera que impidiese la formación de esa especie de remota burocracia represiva que los anarquistas temen tanto, como es natural.

P.J.: Suponiendo que continuase existiendo una cierta necesidad de autodefensa a nivel bastante perfeccionado, no comprendo por su descripción de la sociedad anarquista cómo podría ejercerse un control efectivo por parte del dicho sistema de consejos representativos par-time y aun a varios niveles de abajo arriba, sobre una organización tan poderosa y técnicamente tan perfeccionada por la fuerza de las cosas como el pentágono, por ejemplo.

Chomsky: Bien, bien, precisemos un poco la terminología. Usted habla del Pentágono como organización defensiva, que es lo corriente. En 1947, cuando se aprobó la Ley de Defensa nacional, el antiguo Ministerio de la Guerra -que así se había venido llamando honradamente- pasó a llamarse Departamento de la Defensa. Por entonces era yo aún un estudiante y no me creía muy ducho en la materia, pero sabía, como todo el mundo, que si el ejército estadounidense hasta entonces podía haber estado implicado en la defensa de la nación -y parcialmente así había sido- en adelante ya no sería el Departamento de Defensa más que un ministerio de la agresión, y nada más.

P.J.: Según el principio de que no hay que creer nada hasta que se niegue oficialmente.

Chomsky: Exactamente. Un poco bajo el supuesto con que esencialmente había concebido Orwell el Estado moderno y su naturaleza. Y éste es exactamente el caso. Quiero decir que el Pentágono no es de ningún modo el instrumento del Ministerio de la Defensa. Jamás ha defendido a los Estados Unidos contra nadie y lo único que ha producido ha sido agresión; por eso creo que el pueblo norteamericano estaría mucho mejor sin Pentágono que con él. Pero en todo caso no lo necesita para su defensa. Su intervención en los asuntos internacionales nunca ha sido -bueno, nunca es mucho decir, pero costaría trabajo encontrar una excepción- su posición o actitud característica la de apoyar la libertad o la de defender al pueblo. No es éste el papel que desempeña la organización militar tan vasta que controla el Departamento de la Defensa. Sus tareas son más bien dos bien distintas y ambas bastante antisociales.

La primera es la de salvaguardar un sistema internacional en el que los llamados intereses estadounidenses -con lo que se quiere significar principalmente intereses comerciales sigan floreciendo. La segunda tarea cumple una misión económica internacional. De ahí que el Pentágono haya sido el más importante mecanismo keinesiano por el cual el gobierno interviene para mantener lo que cómicamente se llama la salud de la economía mediante la incitación a producir, es decir, llevando a la producción del despilfarro.

Ahora bien, ambas funciones sirven a ciertos intereses, a intereses dominantes de hecho, intereses dominantes de clase en la sociedad estadounidense. Pero no creo que sirvan ni poco ni mucho al interés del público y un semejante sistema de producción de despilfarro y de destrucción sería desmantelado en lo esencial en una sociedad libertaria. Pero no hay que hablar demasiado de estas cosas. Si nos imaginamos, por ejemplo, una revolución social en los Estados Unidos -cosa que está muy lejos, diría yo-, mas si esto ocurriera, es difícil imaginar que hubiese un enemigo real de fuerza capaz de amenazar la revolución social del país; no iban a atacarnos Méjico o Cuba pongamos por caso. No creo, pues, que una revolución en Estados Unidos necesitase defenderse contra un agresión exterior. Mientras que si se proclamase una revolución social en Europa occidental, creo que en tal caso el problema de la defensa adquiriría caracteres críticos.

P.J.: Iba a decirle que seguramente no puede ser inherente a la idea anarquista la falta de autodefensa, ya que hasta ahora todos los experimentos anarquistas han sido aniquilados desde fuera.

Chomsky: Ya, lo que pasa es que a esas cuestiones no se puede contestar más que específicamente y siempre en relación con casos históricos concretos y en condiciones objetivas.

P.J.: No, es que se me hacía difícil entender lo que decía del control democrático adecuado para esa clase de organización, ya que me parece muy improbable que los generales se controlasen a sí mismos del modo que a usted le pareciese bien.

Chomsky: La dificultad estriba en que yo quiero apuntar la complejidad de la cuestión. Todo depende del país y de la sociedad de que se trate. En los Estados Unidos se plantea una clase específica de problemas. Si la revolución social libertaria se declara en Europa, creo que entonces los problemas que surgirían serían muy serios, ya que se plantearía de inmediato un gran problema de defensa. Porque supongo que si en la Europa occidental se consiguiese un socialismo libertario de cierta envergadura, se ceñiría sobre ella una amenaza militar inminente por dos partes, por la parte de la Unión Soviética y por la de Estados Unidos. Luego, el primer problema sería cómo defenderse. Con este problema tuvo que enfrentarse la revolución española. Porque no sólo estaba amenazada in situ por la intervención militar fascista, sino también por las unidades armadas comunistas y por los enemigos liberales de la retaguardia y de las naciones vecinas. Ante semejante magnitud y número de ataques, el problema de la defensa era el más grave, por ser de vida o muerte.

A pesar de todo esto, creo que hay que plantearse la cuestión de si la mejor manera de hacerlo es a base de ejércitos centralizados con toda su tecnología disuasiva; la verdad, no creo que la cosa sea tan de cajón. Por ejemplo, no creo que un ejército europeo-occidental centralizado impediría un ataque ruso o estadounidense con el fin de acabar con un socialismo libertario, porque la suerte de ataque que esperaría, francamente, no sería quizá militar, sino económico por lo menos.

P.J.: Pero por otra parte, tampoco es de esperar ya las clásicas algaradas de campesinos armados con horcas y hoces...

Chomsky: No hablamos de campesinos, sino de sociedades desarrolladas industrialmente y de elevado urbanismo. Se me ocurre que su mejor arma sería atraer la simpatía de las clases trabajadoras de los países atacantes. Pero repito que hay que ser prudente. Y no es nada improbable que la revolución necesitara tanques, ejército y que así se labrara su propia ruina por las razones antedichas. Es decir, creo que es muy difícil imaginarse cómo podría funcionar en régimen revolucionario un ejército central con sus tanques, aviones y armas estratégicas. Y si eso es necesario para salvar las estructuras revolucionarias, ¡ay de la revolución!

P.J.: Si el mejor método de defensa es, como usted dice, granjearse las simpatías de las organizaciones políticas y económicas, tal vez sería a este propósito oportuno entrar más en el detalle. En uno de sus ensayos dice usted que en una sociedad decente, todo el mundo tendría la oportunidad de encontrar un trabajo interesante y a cada cual le estaría permitido usar sus talentos por ofrecérsele las más amplías oportunidades a ese mismo objeto. Después se pregunta: ¿Y qué más haría falta? ¿Acaso una recompensa exterior en forma de lujos o de poder? Eso en el caso de que supongamos que el hacer uso de los propios talentos en un trabajo interesante y socialmente útil no nos recompensa por sí solo. Creo que esta manera de razonar agrada a mucha gente. Pero aun así necesita alguna explicación. Personalmente creo que el trabajo que a la gente puede parecer interesante o atractivo o satisfactorio no tiene por qué coincidir necesariamente con la clase de trabajo que tiene que hacerse por necesidad, sí queremos mantener el nivel de vida que la gente exige y al que está acostumbrada.

Chomsky: En efecto, hay una cantidad de trabajo que tiene que hacerse, si queremos mantener el actual nivel de vida. Está por contestar la pregunta: ¿en qué medida este trabajo tiene que ser oneroso? Recordemos que ni la ciencia, ni la tecnología ni el simple intelecto se han dedicado a examinar la cuestión con el fin de abolir el carácter pesado y autodestructivo de algunos trabajos necesarios en nuestra sociedad. Esto es debido al hecho de que siempre se ha contado con la reserva de un cuerpo considerable de esclavos a sueldo que harán cualquier trabajo, por duro que sea, antes que morir de hambre. Pero si la inteligencia humana se aplicara a resolver el problema de cómo hacer tolerables los trabajos más pesados que la sociedad requiere, no sabemos cuál sería la salida. Tengo para mí que gran parte de esos trabajos podrían hacerse totalmente tolerables. Esto aparte de que me parece un error creer que toda labor físicamente dura tiene que ser onerosa. Hay mucha gente -yo incluido- que emprende trabajos duros para relajarse. No hace mucho, por ejemplo, se me ocurrió plantar treinta y cuatro árboles en un prado detrás de mi casa, lo que implicaba tener que cavar treinta y cuatro hoyos. Considerando lo que normalmente hago como ocupación, eso representa un trabajo bastante pesado, pero he de confesar que disfruté haciéndolo. Sin embargo, estoy seguro que no habría disfrutado de tenerlo que hacer con un capataz delante y a horas fijas, etc. Aunque si es una tarea tomada por interés también puede hacerse. Y sin tecnologías, sin pensar en cómo planear el trabajo, etc.

P.J.: A esto podría decirte que existe el peligro de que esta manera de ver el problema sea una ilusión bastante romántica, sólo posible de abrigar por una pequeña élite de intelectuales, profesores, periodistas, etc. que están en la situación tan privilegiada de ser pagados por lo que les gusta hacer y harían de otras formas.

Chomsky: Por eso empecé por poner por delante un gran si condicional. Dije que primeramente hay que preguntarse hasta qué punto el trabajo necesario para la sociedad -o sea, el trabajo requerido para mantener el nivel de vida que queremos- ha de ser por fuerza pesado u oneroso. Yo creo que la respuesta sería: mucho menos de lo que lo es hoy; pero convengamos en que hasta cierto punto siga siendo sucio. Aun así, la respuesta es muy simple: ese trabajo sucio debe ser distribuido equitativamente entre todos los que son capaces de hacerlo.

P.J.: Entonces, que cada cual se pase cierto número de meses al año en la cadena de producción de automóviles y otro tanto recogiendo basuras u otras faenas ingratas...

Chomsky: Si es que efectivamente son éstas tareas de imposible autosatisfacción. Pero yo no lo creo, francamente. Cuando veo trabajar a los operarios, digamos a los mecánicos de automóvil por ejemplo, creo que muchas veces puede ser no poco motivo de orgullo cumplir con la tarea. El orgullo de un trabajo complicado y bien hecho en el que hay que hacer uso de la inteligencia, especialmente cuando uno está interesado en la gestión de la empresa y hay que contribuir a las decisiones de cómo organizar el trabajo, para qué sirve, cuáles son los objetivos de ese trabajo, etc. Yo creo que todo esto puede ser una actividad satisfactoria y recompensadora que, de hecho, requiere las capacidades que los trabajadores despliegan de buen grado. Pero la verdad es que estoy hablando hipotéticamente. Supongamos que quedase un residuo de trabajo que nadie quisiera hacer; en tal caso no hay más que distribuirlo entre todos equitativamente, pero por lo demás que la gente ejerza libremente sus talentos a su buen entender.

P.J.: Supongamos ahora, profesor, que ese residuo fuese muy grande, como hay quien sostiene que sería si el trabajo para producir un noventa por ciento de lo que todos quisiéramos consumir se realizara cumplidamente. En tal caso, organizar la distribución de este trabajo sobre la base de que todo el mundo hiciera una pequeña parte de los trabajos sucios o pesados, resultaría echar mano de algo absurdamente ineficaz. Porque para eso habría que entrenar y equipar a toda la gente, porque toda tendría que pasar por los trabajos sucios, de lo que sufriría la eficacia de toda la economía y, por consiguiente, el nivel de vida se rebajaría ostensiblemente.

Chomsky: Bueno, ante todo hay que convenir en que nadamos sobre puras hipótesis, ya que no creo que sus porcentajes sean ni mucho menos reales. Ya he dicho que si la inteligencia humana se aplicara a proyectar una tecnología adaptada a las necesidades del productor humano en vez de hacerlo al revés tendríamos la solución. Ahora se plantea el problema inverso: cómo adaptar el ser humano a un sistema tecnológico ideado para otros objetivos, es decir, la producción para el beneficio. Estoy convencido de que si se hiciera lo que digo el trabajo indeseado será mucho menos cuantioso de lo que usted sugiere. Pero como quiera que sea, fíjese que tenemos dos alternativas: la primera es distribuirlo equitativamente, la segunda es crear las instituciones adecuadas para obligar a un grupo de la población a hacer los malos trabajos so pena de morirse de hambre. Esas son las dos alternativas.

P.J.: No digo obligados, sino que podrían hacer esos trabajos incluso voluntariamente los que considerasen que valía la pena hacerlos a base de una mayor remuneración correspondiente.

Chomsky: Ah no, supongo que ya ha sobreentendido que para mí todo el mundo ha de recibir por su trabajo, sea cual sea, una recompensa igual. Y no olvide que actualmente vivimos en una sociedad en que la gente que hace los trabajos pesados no es mejor remunerada que la que hace su trabajo voluntariamente; todo lo contrario es verdad. De la manera en que funciona nuestra sociedad, una sociedad de clases, los que hacen los trabajos más duros, más pesados o más sucios son los que cobran menos. Esos trabajos se hacen, sin más, pero nosotros no queremos ni pensar en que existen, porque sabemos que hay una masa de gentes miserables que sólo controlan un solo factor de la producción: su fuerza de trabajo, que tienen que vender; o tendrán que aceptar esa clase de trabajos porque no tienen otra cosa que hacer y antes que morir de hambre se emplean por los más bajos salarios. Acepto la corrección. Imaginémonos tres clases de sociedades: la primera, la corriente, en la cual el trabajo indeseable se da a los esclavos a sueldo. Luego un segundo sistema en que el trabajo ingrato, después de haber hecho todo lo posible para darle sentido, es distribuido y, en fin, el tercer sistema en el que el trabajo malo da derecho a una paga extraordinaria, tanto que por ella acceden a hacerlo algunos voluntariamente. Pues bien; yo creo que el segundo y el tercer sistema están de acuerdo -en estos términos vagos en que estamos hablando- con los principios anarquistas. Personalmente me inclino por el segundo, pero ambos están totalmente alejados de toda organización social vigente y de toda tendencia a cualquier organización social en la actualidad.

P.J.: Se lo plantearé de otra manera. Me parece que se está ante una opción fundamental, por mucho que se la quiera camuflar, entre el trabajo satisfactorio de por sí y el trabajo que hay que organizar sobre la base del valor que tiene lo producido para la gente que lo usa o consume. Y la sociedad organizada sobre la base de dar a todo el mundo las mismas oportunidades para llevar a cabo sus más caras aficiones, lo que expresa en esencia la fórmula del trabajo por el trabajo mismo, tiene su culminación lógica en el monasterio o convento, donde la clase de trabajo practicado, o sea, el rezo, es un trabajo de autoenriquecimiento del propio trabajo. No se produce nada que sea de provecho para nadie, así que, o bien hay que vivir a un nivel de vida lo más bajo, o bien hay que resignarse a morir de hambre.

Chomsky: Bien, aquí hace usted unas suposiciones de hecho con las que no estoy de acuerdo en absoluto. Yo creo que parte de lo que le da sentido al trabajo es su utilidad, es el hecho de que sus productos se puedan utilizar. El trabajo del artesano tiene su sentido al menos en parte por la inteligencia y la destreza que ha de poner en él, pero también en parte porque es un trabajo útil. Lo mismo diría yo que vale también para los hombres de ciencia. Creo que el hecho de que la clase de trabajo que uno está haciendo sirva para otra cosa -que es el caso del trabajo científico, como usted sabe-, que contribuya a algo más es muy importante, aun prescindiendo de la elegancia o la belleza que uno pueda lograr con su trabajo. Estoy convencido que esto vale para todas las actividades humanas. Creo además que si echamos una ojeada por una buena parte de la historia de la humanidad, nos daremos cuenta de cuántos han sido los que han sacado satisfacción -y no poca- del trabajo productivo y creador que han estado haciendo; pero también creo que la industrialización propicia enormemente esa satisfacción. ¿Por qué? Pues porque gran parte de las faenas fastidiosas y sin atractivo pueden hacerlas las máquinas, lo que significa que automáticamente el radio de acción del trabajo humano realmente creador resulta muy notablemente agrandado. Pero a otra cosa. Usted habla del trabajo libremente emprendido como afición o hobby. Yo no lo juzgo así. Pienso que el trabajo libremente elegido y ejecutado también puede ser trabajo útil e importante.

También plantea usted un dilema que muchos se plantean, a saber: entre el deseo de satisfacción en y por el trabajo y el deseo de crear cosas de valor para la comunidad. Pero no está tan claro que se trate, en efecto, de un dilema y menos de una contradicción. No me parece obvio, ni mucho menos -yo creo que es falso- eso de contribuir a un mayor placer y satisfacción en el trabajo sea inversamente proporcional al valor del resultado.

P.J.: Yo no diría inversamente proporcionado para mí podría no tener relación alguna. Pongamos algo muy simple como vender helados en la playa un día de fiesta. Es un servicio a la sociedad. Hace calor y no hay duda de que el público quiere helados. Por otro lado, es difícil ver aquí en qué medida llevar a cabo esta tarea de vender helados puede ser motivo de placer profesional ni pueda tener algún sentido, virtud o ennoblecimiento social. ¿Por qué razón habría de dedicarse a prestar ese servicio sí no te recompensa de alguna manera?

Chomsky: Le advierto que más de una vez he visto a vendedores de helados con cara de pascuas...

P.J.: Sí estaban ganando dinero a puñados lo creo.

Chomsky: ... y que parecían muy contentos de estar vendiéndoles helados a los niños, lo cual me parece una manera de pasar el tiempo perfectamente razonable y estimulante, si se compara con otras ocupaciones, con miles de ocupaciones diferentes. Recuerde que cada persona tiene su ocupación y me parece que la mayoría de las ocupaciones existentes -y en esencial aquellas que entran en la clasificación servicios, o sea, que entran en relación con el prójimo-, conllevan de por sí una satisfacción u otra y unas recompensas inherentes a ellas asociadas, esto es, en el trato con los individuos a los que prestan sus servicios. Para el caso es lo mismo dar clases que vender helados. Admito que para vender helados no se necesitan ni la dedicación ni la inteligencia necesarias para impartir enseñanza y que tal vez por esta razón sea una ocupación menos envidiada. Pero si así fuera, tendría que ser repartida entre todos.

Pero todo esto aparte, lo que trato de decir es que nuestra creencia caracterizada de que el placer en el trabajo, la satisfacción en el trabajo o no tiene o tiene relaciones negativas con el valor del resultado, está estrechamente relacionado con un estadio particular de la historia social, esto es: el capitalismo, en cuyo sistema los seres humanos son instrumentos de producción. Lo dicho antes no tiene por qué ser, ni mucho menos, la verdad. Por ejemplo, si pasamos revista a las numerosas entrevistas hechas con obreros que trabaran en cadena por sicólogos industriales, echaremos de ver que una de las cosas de que más se quejan es de que su trabajo no pueda hacerse bien, que la cadena va tan de prisa que no pueden hacer su trabajo decentemente. Hace poco leía en una revista gerontológica un estudio sobre la longevidad en el que se trataba de encontrar los factores útiles para predecir la longevidad -ya sabe: el fumar, el beber, los factores genéticos-, todo lo habían examinado. Pues bien, ¿sabe cuál es el factor más favorable? La satisfacción en el trabajo.

P.J.: Ya, la gente que tiene un trabajo agradable vive más, ¿no?

Chomsky: Bueno, sí, la gente que está satisfecha con su trabajo. Lo que me parece muy lógico, puesto que no sólo nos pasamos en el trabajo una gran parte de nuestra vida, sino que en el trabajo es donde más ejercemos nuestra capacidad creadora. Ahora bien; ¿qué es lo que lleva a esa satisfacción en el trabajo? Creo que son muchas cosas, pero el saberse haciendo algo útil para la comunidad es un factor nada desdeñable. Muchos están satisfechos de su trabajo por creer que están haciendo algo importante, algo que vale la pena hacer. Igual pueden ser maestros como médicos, científicos como artesanos o agricultores. Sentir que lo que uno está haciendo es importante, digno de hacerse, no sólo refuerza los vínculos sociales sino que también es un motivo de satisfacción personal, porque con un trabajo interesante y bien hecho nace esa especie de orgullo de quien se autorrealiza, de quien pone en práctica sus habilidades personales. Y no creo que esto vaya a dañar de cualquier modo que sea el valor de lo producido, sino más bien al contrario. Pero concedamos que hasta cierto punto lo perjudicase. Llegada la sociedad a tal punto, debe decidir la comunidad cómo hacer los compromisos necesarios. Al fin y al cabo, cada individuo es a la vez productor y consumidor y por lo tanto cada individuo ha de tomar parte en esos compromisos socialmente determinados, es decir, si verdaderamente hay necesidad de establecer compromisos. Porque me permito insistir en que se ha exagerado mucho la naturaleza de estos problemas a causa del efecto aberrante del prisma que interpone el sistema verdaderamente coercitivo y destructor de la personalidad en que vivimos.

P.J.: De acuerdo. Usted dice que la comunidad tiene que tomar decisiones sobre compromisos eventuales, pero no es menos sabido que la teoría comunista previene estas posibilidades completamente, ya por la planificación, ya en materia de inversiones, de prioridades de inversión nacional, etc. En una sociedad anarquista cree usted que no se tolerara tanta superestructura gubernamental necesaria al parecer para hacer planes, tomar decisiones sobre inversiones por ejemplo si hay que dar prioridad a lo que la gente quiera consumir o a lo que la gente quiera hacer en materia del trabajo.

Chomsky: No estoy de acuerdo. Me parece que las estructuras anarquistas, o para el caso las de los marxistas de izquierda, basadas en el sistema de los consejos y federaciones de trabajadores, se bastan y se sobran para tomar una decisión sobre cualquier plan nacional. De igual manera funcionan a ese nivel -digamos nacional- las sociedades de socialismo estatal al tener que elaborar planes nacionales. En esto no hay ninguna diferencia. Donde la hay -y grande- es en la participación de tales decisiones y en el control que sobre ellas se ejerce. Los anarquistas y marxistas de izquierda -consejistas, espartaquistas- toman estas decisiones desde la base. Es la clase trabajadora informada la que las toma a través de sus asambleas y de sus representantes directos que viven y trabajan entre ellos. Pero en los sistemas de socialismo estatal, el plan nacional viene trazado por la burocracia nacional que acumula para sí y monopoliza toda la información necesaria y que toma las decisiones. De vez en cuando se presenta al público y le dice: Podéis escogerme a mí o a ése, pero todos formamos una misma burocracia remota que no está a vuestro alcance. Éstos son los polos, éstas son las oposiciones polarizadas dentro de la tradición socialista.

P.J.: O sea que, de hecho, sigue desempeñando un papel importante el Estado, e incluso posiblemente los empleados públicos, la burocracia, pero lo que es distinto es el control ejercido sobre ellos.

Chomsky: Bueno, yo no creo, francamente, que se necesite una burocracia separada del resto para poner en ejecución las decisiones gubernamentales.

P.J.: Se necesitan varias formas de pericia.

Chomsky: Ya, pero digamos que se trata de una pericia en materia de planificación económica, puesto que no hay duda de que en toda sociedad industrial compleja tendría que funcionar un grupo de técnicos encargados de trazar planes, de explicar las consecuencias de toda decisión importante, de poner en antecedentes a las personas que han de decidir sobre las consecuencias de sus propias decisiones según se desprende del estudio y modelo de programación, etc. Pero lo importante es que estos sistemas de planificación no son otra cosa que industrias, con sus propios consejos de trabajadores y formando parte de todo el sistema de consejos; la diferencia consiste en que estos sistemas de planificación no son los que toman las decisiones. Producen planes de la misma manera que las fábricas de automóviles producen coches. Los planes están, pues, a disposición de los consejos de trabajadores y se someten a las asambleas de consejos, de la misma manera que los automóviles se fabrican para correr con ellos. Ahora bien; lo que este sistema requiere es una clase trabajadora educada. Y esto es exactamente lo que somos capaces de conseguir en sociedades industrializadas de alto desarrollo.

P.J.: ¿En qué medida el éxito del socialismo libertario, o del anarquismo, depende realmente de un cambio fundamental en la naturaleza humana, tanto en su motivación como en su altruismo, así como en sus conocimientos y su grado de refutamiento?

Chomsky: No sólo creo que depende de eso, sino que todo el propósito del socialismo libertario contribuye a lo mismo, efectivamente. Se trata de contribuir a una transformación de la mentalidad, exactamente la transformación que el hombre es capaz de concebir en cuanto concierne a su habilidad en la acción, su potestad de decidir en conciencia, de crear, de producir y de investigar, exactamente aquella transformación espiritual a que los pensadores de la tradición marxista izquierdista, desde Rosa Luxemburgo, por ejemplo, pasando por los anarquistas, siempre han dado tanta importancia. De modo que por un lado hace falta esa transformación espiritual. Y por otro, el anarquismo tiende a crear instituciones que contribuyan a esa transformación en la naturaleza del trabajo y de la actividad creadora, en los lazos sociales interpersonales simplemente, y a través de esa interacción, crear instituciones que propicien el florecimiento o eclosión de nuevos aspectos en la humana condición. En fin, la puesta en marcha de instituciones libertarias siempre más amplias a las que pueden contribuir las personas ya liberadas. Así veo yo la evolución del socialismo.

P.J.: Y por último, profesor Chomsky, ¿qué opina de las posibilidades hoy existentes para fundar sociedades según acaba de bosquejarlas en los países Industriales más importantes de Occidente en el próximo cuarto de siglo más o menos?

Chomsky: No creo ser lo bastante sabio ni estar lo bastante informado como para hacer predicciones de este tipo, es más: creo que aventurarse a semejantes pronósticos dice más de la personalidad que del juicio del que los lanza. No obstante, tal vez podría decir esto: hay tendencias obvias dentro del capitalismo industrial hacia una concentración de poder en estrechos imperios económicos dentro de un marco que se está convirtiendo cada vez más en un Estado totalitario. Estas tendencias vienen desarrollándose desde hace bastante tiempo y, francamente, no veo nada que pueda contenerlas. Creo, pues, que estas tendencias seguirán su curso formando parte del anquilosamiento y la decadencia de las instituciones capitalistas.

Ahora bien; creo que este recurso hacia un totalitarismo de Estado y hacia una concentración económica exasperada -ambas cosas en conexión, por supuesto irán engendrando reacciones, tentativas de liberación personal, de liberación social, que adoptarán toda clase de formas. Por toda Europa se levanta un clamor reclamando la participación obrera o la codeterminación y hasta el control de los trabajadores. Por ahora todas esas tentativas son mínimas. Más bien creo que son engañosas y que, de hecho, pueden minar los serios esfuerzos de la clase obrera por liberarse. Pero en parte constituyen también una respuesta pertinente por representar una intuición y un entendimiento robustos de que la coerción y la opresión, ya sean hechas poder económico privado o burocracia estatal, no forman parte necesariamente de la vida humana, ni muchísimo menos. Cuanto más concentración de poder y autoridad, más rebelión y mayores esfuerzos para organizarse a fin de destruirlas. Tarde o temprano esos esfuerzos serán coronados por el éxito. Así lo espero.



wwww.portaloaca.com