segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

ROMPENDO AS AMARRAS


TERRORISMO POÉTICO
Hakim Bey

DANÇAR BIZARRAMENTE A NOITE INTEIRA em caixas eletrônicos de bancos. Apresentações pirotécnicas não autorizadas. Land-art*, peças de argila que sugerem estranhos artefatos alienígenas espalhados em parques estaduais. Arrombe apartamentos, mas, em vez de roubar, deixe objetos Poético-terroristas. Seqüestre alguém & o faça feliz. Escolha alguém ao acaso & o convença de que é herdeiro de uma enorme, inútil e impressionante fortuna - digamos, cinco mil quilômetros quadrados na Antártica, um velho elefante de circo, um orfanato em Bombaim ou uma coleção de manuscritos de alquimia. Mais tarde, essa pessoa perceberá que por alguns momentos acreditou em algo extraordinário & talvez se sinta motivada a procurar um modo mais interessante de existência.

Coloque placas de bronze comemorativas nos lugares (públicos ou privados) onde você teve uma revelação ou viveu uma experiência sexual particularmente inesquecível etc.

Fique nu para simbolizar algo.

Organize uma greve na escola ou trabalho em protesto por eles não satisfazerem a sua necessidade de indolência & beleza espiritual.

A arte do grafite emprestou alguma graça aos horríveis vagões de metrô & sóbrios monumentos públicos - a arte - TP também pode ser criada para lugares públicos: poemas rabiscados nos lavabos dos tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques & restaurantes, arte-xerox sob o limpador de pára-brisas de carros estacionados, slogans escritos com letras gigantes nas paredes de playgrounds, cartas anônimas enviadas a destinatários previamente eleitos ou escolhidos ao acaso (fraude postal), transmissões de rádio pirata, cimento fresco...

A reação do público ou o choque-estético produzido pelo TP tem que ser uma emoção pelo menos tão forte quanto o terror - profunda repugnância, tesão sexual, temor supersticioso, súbitas revelações intuitivas, angústia dadaísta - não importa se o TP é dirigido a apenas uma pessoa ou várias pessoas, se é "assinado" ou anônimo: se não mudar a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.

O TP é um ato num Teatro da Crueldade sem palco, sem fileiras de poltronas, sem ingressos ou paredes. Para que funcione, o TP deve afastar-se de forma categórica de todas as estruturas tradicionais para o consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas de guerrilha Situacionista do teatro de rua talvez tenham agora se tornado muito conhecidas & previsíveis.

Uma requintada sedução levada adiante não apenas pela satisfação mútua, mas também como um ato consciente por uma vida deliberadamente mais bela - deve ser o TP definitivo. O Terrorista Poético comporta-se como um trapaceiro barato cuja meta não é dinheiro, mas MUDANÇA.

Não faça TP para outros artistas, faça-o para pessoas que não perceberão (pelo menos por alguns momentos) que o que você fez é arte. Evite categorias artísticas reconhecíveis, evite a política, não fique por perto para discutir, não seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos, vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faça algo que as crianças lembrarão pelo resto da vida — mas só seja espontâneo quando a Musa do TP o tenha possuído.

Fantasie-se. Deixe um nome falso. Seja lendário. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte.

* Tipo de arte que usa a paisagem, normalmente natural, como objeto artístico, sendo a própria natureza (e seus fenômenos, chuva, vnto, etc.) elementos constitutivos da obra.

in http://rompendoasamarras.blogspot.com

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

UHF


"Violenta Violência" é o nova (velha, de 1979) canção forte dos UHF que pode ser ouvida em www.myspace.com/uhfrock. Os UHF acabam de editar o II Volume das Raridades- Canções Prometidas. Um abraço, António.
www.uhfrock.com

GOTUCHA

Faz hoje 15 anos que nos conhecemos.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

MARX E NIETZSCHE


Marx e Nietzsche
discutem no meu cérebro
e as mulheres
vêm à confeitaria
falar de doenças.

MANIFESTO ANTI-TELES OU EPOPEIA EM ROCHA MAIOR


O Teles estuda com método
O Teles é um aluno aplicado
O Teles tem horas certas
para se levantar, para se deitar
e para estudar
O Teles é um caso de sucesso
Morra o Teles! Morra! Pim!

O Teles tem uma carreira
O TEles trabalha com método
O Teles não apanha bebedeiras
O Teles não sai dos trilhos
O Teles está nos antípodas
do Rocha e do Ribeiro
O Teles é um antílope
O Teles anda sempre controlado
O TEles é disciplinado
O Teles nunca falta ao trabalho
O Teles é um caso de sucesso
Morra o Teles! Morra! Pim!

O Teles está feito com o sistema
O Teles nunca tem um problema
O Teles é um dilema
O Teles está no poema
O Teles é uma borboleta
O TEles é uma marioneta
O TEles é uma avioneta
O Teles vai lá das canetas
O Teles é um maneta
O Teles bate uma punheta
O TEles é um esteta
O Teles é um personagem
de opereta
O Teles é um caso de sucesso
Morra o Teles! Morra! Pim!

O Teles é um burguês
O TEles é um gato maltês
O Teles anda sempre direitinho
O TEles está feito com o povinho
O TEles subiu a pulso
O TEles é eunuco
O TEles suou atrás do canudo
O TEles enganou meio mundo
O Teles nunca vai ao fundo
O TEles é politicamente correcto
O Teles nunca foi insurrecto
O Teles é um matreco
O Teles fala em dialecto
o Teles é o aluno predilecto
O TEles acende a tocha
O Teles nunca se deu com o Rocha
O TEles é o maior
O TEles não conhece a dor
O Teles foi ao cu ao professor
O TEles não escreve poemas
O Teles nunca esteve em Atenas
O TEles é um chato
O Teles é um pato
O TEles tem óptimas notas
O Teles anda de fatiota
O TEles não tem sexo
O TEles é um abcesso
O Teles é um sucesso
Morra o Teles! Morra! Pim!

O TEles não dança
O TEles não tem pança
O TEles nunca se cansa
O TEles é um carreirista
O TEles é um oportunista
O TEles dá-se bem com
os capitalistas
O TEles saúda-me
O TEles tem bom coração
O TEles é um cabrão
O TEles anda de pastinha na mão
O TEles obedece ao Estado
O Teles está em todo o lado
O TEles preenche-me o cérebro
O Teles não gosta dos Doors
O TEles torna o poema interminável
O Teles é reciclável
O Teles é um bom sacana
O Teles é um banana
O TEles nem imagina
o que escrevo acerca dele
O Teles desfila na passerelle
O TEles é um caso de mobilidade
e de ascensão social
o Teles não aparece no Telejornal
O Teles nunca vai às putas
O Teles não participa nas lutas
O Teles não tem depressões
O TEles está ao serviço
dos senhores dos milhões
O Teles é um pateta
Õ Teles não me sai da cabeça
O TEles não vai à bola
O TEles não fala da bola
O TEles é um estratega
O TEles é racional
O Teles tem moral
O Teles nunca se expõe
O Teles põe e dispõe
O Teles tem uma vida mesquinha
O teles come galinha
O Teles acredita no Pai Natal
O Teles nunca esteve num bacanal
O TEles vê o Telejornal
O Teles comenta o Telejornal
O TEles acredita nas notícias
O Teles nunca esteve no Jardim das DElícias
O Teles é o senso comum
O Teles faz pum
O Teles não nos deixa sair daqui hoje
O Teles ilumina-me
O Teles abençoa-me
O TEles não gosta de rock n' roll
O Teles só se envolve
quando lhe interessa
O Teles é uma peça
O TEles não tem pica
O Teles não tem piça
O Teles dá-me pica
O Teles é infinito
O Teles não vai ao pito
O Teles é adorado pelo Sócrates
O TEles está entre os deuses
O TEles é funcional
O TEles é capital cultural
O Teles nunca mais acaba
O TEles nunca se gaba
O Teles é comedido
O TEles nunca foi fodido
O Teles adora o Sócrates
O teles masca chiclete
O Teles vai à Rosete
O TEles é um cidadão empreendedor
O Teles é um cidadão cumpridor
e o poema nunca mais acaba
e o Teles nunca mais se enraba
talvez me ponha em Tribunal
talvez se queixe ao Comité Central
Que se foda!
Afinal de contas, não tenho nada a perder
não sou o Teles
talvez seja também burguês,
aristocrata talvez
não tenho de me identificar
com os explorados
não tenho de ser marxista-leninista
nem anarquista-moralista
não tenho de andar a enaltecer o povo
nem o polvo
afinal de contas, é mais propaganda
para o PSSL
precisamos de 5000 filiados
Morra o Teles! Morra! Pim!


Vilar do Pinheiro, 27.12.2007

CEUTA


4 poetas e 1 guitarrista almoçaram juntos no "Ceuta"
1 vocalista, 2 guitarristas, 1 baixista e 1 baterista almoçaram juntos no "Ceuta"
3 desempregados, 1 professor e 1 publicitário almoçaram juntos no "Ceuta"
4 poetas, 3 guitarristas, 1 vocalista, 1 baixista, 1 baterista, 3 desempregados, 1 professor e 1 publicitário almoçaram juntos no "Ceuta"
40 poetas, 30 guitarristas, 10 vocalistas, 10 baixistas, 10 bateristas, 30 desempregados, 15 professores, 12 publicitários, 5 contabilistas, 3 futebolistas, 2 chulos e 1 vendedor de vassouras almoçaram juntos no "Ceuta"
400 poetas, 321 guitarristas, 105 vocalistas, 97 baixistas, 120 bateristas, 314 desempregados, 137 professores, 117 publicitários, 17 contabilistas, 7 futebolistas, 5 chulos, 3 putas, 2 lixeiros e 1 vendedor de vassouras almoçaram juntos no "Ceuta"
4327 poetas, 3221 guitarristas, 1014 vocalistas, 999 baixistas, 1255 bateristas, 3417 desempregados, 1527 professores, 1884 publicitários, 115 contabilistas, 98 futebolistas, 54 chulos, 37 putas, 16 toxicodependentes, 9 homossexuais, 7 lixeiros e 1 vendedor de vassouras almoçaram juntos no "Ceuta"
40211 poetas, 30007 guitarristas, 11014 vocalistas, 11917 baixistas, 12323 bateristas, 31223 desempregados, 15616 professores, 18114 publicitários, 15007 cineastas, 8047 ginastas, 1015 contabilistas, 887 futebolistas, 535 empregados de mesa, 429 chulos, 357 putas, 127 toxicodependentes, 91 homossexuais, 73 lixeiros e 1 vendedor de vassouras almoçaram juntos no "Ceuta"

O "Ceuta" rebentou.

MRPP


Ninguém há-de calar a voz da classe operária!
Depois de dezenas de anos de tentativas frustadas e de enganos, e de cinco anos de luta tenaz empreendida pelo MRPP a classe operária portuguesa fundou o seu partido comunista em 26 de Dezembro de 1976. Hoje comemoramos os 31 anos do PCTP/MRPP. Também hoje o estado da ditadura da burguesia nos confronta com exigências para a continuação da nossa existência legal. Não foi a PIDE que nos calou, não foi o PCP nem o COPCON que nos conseguiu calar, não será o bloco central do PS/PSD, com a conivência dos restantes partidos parlamentares, que nos calará.

As tentativas têm sido muitas: primeiramente a negação de um tratamento igual a todas as outras candidaturas, das candidaturas eleitorais do partido, ao arrepio de qualquer princípio democrático, negando, simultaneamente, a liberdade da expressão das opiniões dos comunistas; não chegou! Juntaram umas multas sobre as contas, em que o que é exigido não é que as contas estejam certas mas que sejam organizadas como a contabilidade de uma empresa, quando é sabido que tal não é possível a um partido como o nosso; também não chegou! Agora põem uma condição que, se fossem sérios, levaria à auto-extinção dos partidos actualmente do arco do poder (nenhum deles manteve durante toda a sua existência 5.000 filiados, logo deviam auto-extinguir-se nesse momento e agora não existiriam), mas também não vai chegar.



NINGUÉM HÁ-DE CALAR A VOZ DA CLASSE OPERÁRIA!

FILIA-TE NO PCTP/MRPP! (envia para SEDE NACIONAL, Rua da Palma, 159, 2º dtº, 1100-391 LISBOA)

O POVO VENCERÁ!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

CÂNTICO A NIETZSCHE


Não peças!
Nunca mais te ponhas de joelhos!
Não fales. Canta! Dança!
Ri-te na cara dos imbecis
na cara dos bancos
das multinacionais
dos senhores do dinheiro
ri-te na cara de todos
os que te votam ao desprezo
ri-te loucamente demoradamente
dança! Canta! Voa!
Meu mago doido, meu poeta!

Ri-te cinicamente sarcasticamente
na cara dos patetas
dos Estados
dos governos
dos moedeiros
ri-te longamente satanicamente
na cara de Deus
na cara do dinheiro
esborracha-lhes a cara no chão
ri-te até que caiam
até que fiquem sem nada
ri-te até ao fim
e deixa-os tremer
ri-te
e deixa-os gemer de medo, sida, frio
fá-los sentir completamente na merda
fá-los sentir
o que os teus companheiros e tu próprio
já passaram
ri-te loucamente demoradamente
e dança
dança na cara deles
dança loucamente
dança até ao fim
e fá-los cair
meu rei, meu único rei,
my king, my only king,
meu mago doido, meu poeta.

Vilar do Pinheiro/Braga, 22/23.12.2007.

VOZES


Deixai-me, vozes!
Enlouqueço!

Deus em mim
esfaqueado
em sangue

Nietzsche! Nietzsche!
Meu canto ébrio!

Vozes que me perseguis
há milénios
deixai-me a sós
com os meus brinquedos

Flautistas de Holderlin
só vós me enfeitiçais
só vós dais cabo de mim

Deus...sangue de mim...
e os personagens multiplicam-se
Cristo ébrio
poema louco
Jim à beira do fim

Braços abertos
raciocínios libertos
a explodir
a transbordar
cálice Graal
para lá do bem e do mal

Deus em mim...doido
olha os cavaleiros
que ele tem
são sete
sete sóis sete luas
a caminho do infinito

Deus em mim...doido
Deus em mim...canto
Deus em mim...saqueio

Nietzsche em mim...a rir
com as Bacantes
cânticos dionisíacos
em redor da fogueira

Filho da mulher,
quem te quer?

Hei-de acabar entre destroços
e garrafas de whisky

To write all night long
to sing all my song
for you...just for you,
my queen
where have you been,
my only queen, my siren?

Exércitos que me perseguem
exércitos que me protegem
Deus...em sangue
Dyonisos, where is my queen?

Deixai-me vozes,
que enlouqueço!
Não quero mais o vosso jogo
não quero acabar no hospício
no precipício
a vegetar, postiço
inchado, medicamentado

Mas, por outro lado,
a luz chama-me chama-me ama-me
I'm beggining to see the light
Deus Satã Nietzsche Rimbaud
Dyonisos, my king,
where is my queen?

MANIFESTO ANTI-RIO


MANIFESTO DO PARTIDO SURREALISTA SITUACIONISTA LIBERTÁRIO PELA CANDIDATURA DE ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À CÂMARA DO PORTO
UM POETA A MIJAR-3

O poeta mijou na àrvore de Natal do Rio
o poeta plantou uma árvore mais alta da Europa
em todas as esquinas da cidade do Rio
o Rio prostitui-se na esquina

O Rio e o La Féria ocuparam o Rivoli
o poeta vomitou, em fúria,
as peças do La Féria
O Rio engoliu o vomitado
e masturbou-se no túnel
o poeta mijou no Rio
o Pai Natal e as renas
enrabaram o La Féria
As renas voaram com o poeta
o Pai Natal comeu o BCP
o PCP mantém-se marxista-leninista

O espírito do Natal mantém-nos juntos
o espírito do Natal está nos bancos
o Rio é o Pai Natal
a àrvore mais alta da Europa
é patrocinada pelo BCP
o poeta mija na árvore, na Europa e no BCP
o PCP mantém-se marxista-leninista
o poeta mantém-se surrealista
o Rio faz uma pirueta
e cai ao rio Douro
o La Féria enforca-se
na árvore mais alta da Europa
O PSSL ocupa a Câmara.

Porto, 24. Dez.2007

António Pedro Ribeiro e o Partido Surrealista Situacionista Libertário (PSSL) apresentam o manifesto e a candidatura à Câmara Municipal do Porto na próxima quarta, dia 26, pelas 23,30 horas no Bar Púcaros no Porto (à Alfândega). António Pedro Ribeiro ou A. Pedro Ribeiro acaba de lançar o livro "Um Poeta a Mijar" (Corpos Editora) e tem publicados "Saloon" (Edições Mortas, Março 2007), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro. Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário" (Objecto Cardíaco, 2006), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (Pirata, 2004) e "À Mesa do Homem Só. Estórias" (Silêncio da Gaveta, 2001). Nasceu no Porto em Maio de 1968, tendo sido pré-candidato à Presidência da República em 2005. Foi acusado de derrubar a estátua do Major Mota na Póvoa de Varzim em 2003 por motivos políticos e há 20 anos que diz regularmente poesia. É vocalista das bandas Mana Calórica (www.myspace.com.manacalorica) e Las Tequillas e é sociólogo. Disse poesia ao lado de Adolfo Luxúria Canibal no Festival de Paredes de Coura de 2006. O PSSL está em vias de legalização.

Com os melhores cumprimentos,
António Pedro Ribeiro
Maria Joana
tel. 229270069
http://partido-surrealista.blogspot.com
http://tripnaarcada.blogspot.com

OBRIGADO, DINO



Poema dedicada ao meu amigo António Pedro Ribeiro.


Vinte e dois de Dezembro de dois mil e oito.





Alguns minutos antes ou depois de um Natal qualquer!





De onde te avistei logo senti Deuses de canto e de luta,

homens nus no meio de um palco,

assassinos,

E porque tens esse dom de sangue e de palavra,

de livre pensamento e de catarse,

de ofegante sentimento e de extâse

pedra tua universal e pura.

Há em nós palavras não ditas, ideias perdidas ao longe,

E porque tens a vingança temente na língua pronta e audaz,

Como se fosses ceifar uma colheita urbana de gente, e morresses para a colher toda. Cessando logo

de seguida a empreitada, farto.

E para que um teu imperativo não seja ainda e só Kantiano nem Kafkiano, nem Guevarista nem

louco, nem Pessoano nem Camiliano

Nem Queirosiano...

Nem fiel a nenhuma pátria, nem dono de nenhum império,

Nem somente uno, nem teu,

Nem simplesmente tua posse ou tu seu feitor,

Pelo Natal me lembrei de dizer,

que senti no teu navio o canto de Deuses em luta.

Dino Almeida.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

UM POETA A MIJAR


LANÇAMENTO DO LIVRO "UM POETA A MIJAR" DE A. PEDRO RIBEIRO

O livro "Um Poeta a Mijar" (Corpos Editora) de A. Pedro Ribeiro vai ser lançado no próximo dia 21, sexta, pelas 22,30 h, no bar Real Feytoria, no Porto (à Ribeira). "Um Poeta a Mijar" sucede a "Saloon" (Edições Mortas, 2007), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro. Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário" (Objecto Cardíaco, 2006), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (2004), "Á Mesa do Homem Só. Estórias" (Silêncio da Gaveta, 2001) e a "Gritos. Murmúrios" (com Rui Soares, Grémio Lusíada, 1988). "Um Poeta a Mijar" combina o surrealismo e o Dada com o beatnick, a mulher e a noite com o palco e a loucura.
A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto em Maio de 1968, viveu em Braga, no Porto e na Trofa e actualmente reside em Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). Diz regularmente poesia no norte do país, tendo actuado no Festival de Paredes de Coura de 2006 ao lado de Adolfo Luxúria Canibal e de Isaque Ferreira e no Festival de Poesia do Condado em Salvaterra do Minho em Setembro de 2007. Em 2005 alguns órgãos de comunicação social noticiaram uma candidatura sua à Presidência da República. Integra as bandas Mana Calórica- www.myspace.com/manacalorica- e Las Tequillas. Foi fundador e é colaborador da revista Aguasfurtadas.

ALEXANDRE O' NEILL


Um adeus português

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

Alexandre O'Neill

in http://porosidade-eterea.blogspot.com

PARABÉNS, JOANA

Poetisa Joana Serrado venceu prémio na Holanda

Joana Serrado, uma poetisa portuguesa que está desde 2005 na Holanda a fazer um doutoramento, venceu o Prémio Hendrik de Vries — do município holandês de Groningen, no valor de 6.000 euros —, com o projecto poético bilingue (português/neerlandês) «Emparedada/ Uit de Muur».
O seu primeiro livro, «O Tratado de Botânica» foi editado pela Quasi, ganhou uma menção honrosa no Prémio Daniel Faria (2006), instituído pela Câmara Municipal de Penafiel e está a ser traduzido para neerlandês.
Joana Serrado, especialista em mística feminina medieval, licenciou-se em Filosofia pela Universidade de Coimbra, onde trabalhou como assistente de investigação sobre escolástica conimbricense.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007


A mulher sofre na mesa do lado
e eu não consigo ler Holderlin
os clientes entram na confeitaria
e eu não consigo ler
os clientes conversam
e eu não consigo ler
os clientes saem
e eu não consigo ler
os clientes sorriem
e eu não consigo ler
os clientes olham
e eu não consigo ler
os clientes fazem acrobacias
e eu não consigo ler
os clientes fazem malabarismos
e eu não consigo ler
os clientes esvoaçam
e eu não consigo ler
os clientes saúdam-se
e eu não consigo ler
os clientes fazem amor
e eu não consigo ler
os clientes enlouquecem
e eu não consigo ler
os clientes mijam
e eu não consigo ler
os clientes lêem
e eu vou mijar.

Motina, 18.12.2007

VENHO AO CAFÉ


Venho ao café ler e escrever poemas
e as pessoas conversam
venho ao café ter ideias sublimes
e passá-las para o papel
e as pessoas conversam
venho ao café ter explosões
e as pessoas conversam
venho ao café dialogar
com os grandes poetas
e as pessoas conversam
venho ao café tomar café
e as pessoas conversam
venho ao café combater
a solidão e a loucura
e as pessoas conversam.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

MAMAS


MAMAS 2

Vem-se à cidade
E vêem-se mamas
Só mamas mamas mamas
Vens-te na cidade
E gritas
Ó mana, mana, mana…

Olhas para a TV
E mamas mamas mamas
Curtes o piercing
E queres
Dama dama dama
Dá-ma dá-ma dá-ma
Bebes o príncipe
E gramas gramas gramas
Curtes a branca
Ao grama grama grama
Gramas?

Chegas à idade
E chamas chamas chamas
Amas?
Vens à cidade
E mamas mamas mamas…

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

OLHOS


olho-te do palco
sorris para mim
olho-te à mesa
és toda luz

olhas olho-te
acendes-me
renasço em ti

olhas olho-te
o mundo fica melhor

e a ternura não tem fim

DO AMARAL


O diseur

É um homem como os outros. Está sentado num café a beber cerveja. De repente, levanta-se e começa a recitar versos em voz alta. Um cliente aproxima-se e dá-lhe uma vigorosa bofetada. O homem, parecendo não se incomodar, redobra o tom de voz e insiste nos versos.
Uma velha, muito irritada com a pouca vergonha, ergue o punho e aplica, por sua vez, um soco rápido e seco na cara do impassível diseur, com uma agilidade e determinação surpreendentes para a sua idade. O homem, no entanto, cerra os olhos e esforça-se por elevar ainda mais a voz. Os empregados do café e os outros clientes caem-lhe então em cima, numa fúria avassaladora. Murros e pontapés seguem-se uns aos outros com uma constância assinalável. O homem muda de cor, perde o nariz, estilhaça as rótulas, mas não se deixa vergar pelo evoluir dos acontecimentos.
- Ah!, pudesse eu ser presa de um fogo cruel ou engolido pelo mar tempestuoso! – grita o homem, quase sem dentes, debaixo de uma nuvem de socos e bofetadas.
Ora, dadas as circunstâncias, é fácil prever o que se segue. O dono do café, que é uma alma justa e boa, segura um revólver e alveja o homem no peito. Em consequência, o homem morre. É muito bem feito. Ninguém recita versos nos cafés.
publicado por Rui Manuel Amaral às 1:18 PM 1 comentários

http://last-tapes.blogspot.com

O TRATADO DE LISBOA

O TRATADO DE LISBOA

António Pedro Ribeiro

Os 27 assinaram o Tratado de Lisboa. Sócrates, inchado, continua insuportavelmente arrogante. A TV imbeciliza. O povo come.
A Europa continua a ser construída nas costas dos cidadãos. Os cidadãos coçam as costas da Europa. Os cidadãos dão à costa na Europa. Os cidadãos comem. Sócrates, inchado, irrita-se. O povo come. Sócrates engole sapos e incha. Sócrates irrita. Sócrates imbeciliza.
A TV dá cultura aos cidadãos. Os cidadãos comem TV. Sócrates come TV. A cultura vai ter com os cidadãos. Os cidadãos comem cultura. Sócrates come cultura. A TV é uma benção de Deus. Deus vê TV. Deus fala com Sócrates. Sócrates é Deus.
Os 27 assinaram o Tratado Reformador. Durão Barroso está nas nuvens. Mais um passo de gigante na construção da Europa. Durão Barroso tem a Europa a seus pés. Durão Barroso é Deus.
Os programas da tarde da TV entretêm e educam. Os programas da tarde combatem o suicídio e a depressão. Os programas da tarde deprimem-se e suicidam-se. Sócrates e Durão Barroso vêm os programas da tarde. Sócrates e Durão deprimem, entretêm e educam. Sócrates e Durão são palhaços. O povo come.

PÁTIO


Venho ao "Pátio"
e as pessoas conversam
agarram-se ao computador
lêem jornais

Um dos futeboleiros entra
- o Rocha também é um futeboleiro
mas discorre sobre qualquer tema-

as gajas são boas mas inacessíveis

O que conta é o trabalhinho
e o dinheirinho ao fim do mês.

Puta de vida imbecil!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O líder do PSD
pede ao primeiro-ministro
para pedir desculpa
ao país
o líder do PSD
pede ao primeiro-ministro
mais polícia para o país
o líder do PSD
pede um polícia
para cada português
o líder do PSD
faz um broche ao país.

A dona do café
é uma perigosa revolucionária
a dona do café
manda todos os políticos
para a prisão
a dona do café
manda todos os malandros
trabalhar
a dona do café
resolve todos os problemas
do país
a dona do café
faz um broche ao país.

domingo, 9 de dezembro de 2007

UM POETA A MIJAR


LANÇAMENTO DO LIVRO "UM POETA A MIJAR" DE A. PEDRO RIBEIRO

O livro "Um Poeta a Mijar" (Corpos Editora) de A. Pedro Ribeiro vai ser lançado no próximo dia 21, sexta, pelas 22,30 h, no bar Real Feytoria, no Porto (à Ribeira). "Um Poeta a Mijar" sucede a "Saloon" (Edições Mortas, 2007), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro. Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário" (Objecto Cardíaco, 2006), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (2004), "Á Mesa do Homem Só. Estórias" (Silêncio da Gaveta, 2001) e a "Gritos. Murmúrios" (com Rui Soares, Grémio Lusíada, 1988). "Um Poeta a Mijar" combina o surrealismo e o Dada com o beatnick, a mulher e a noite com o palco e a loucura.
A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto em Maio de 1968, viveu em Braga, no Porto e na Trofa e actualmente reside em Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). Diz regularmente poesia no norte do país, tendo actuado no Festival de Paredes de Coura de 2006 ao lado de Adolfo Luxúria Canibal e de Isaque Ferreira. Em 2005 alguns órgãos de comunicação social noticiaram uma candidatura sua à Presidência da República. Integra as bandas Mana Calórica- www.myspace.com/manacalorica- e Las Tequillas. Foi fundador e é colaborador da revista Aguasfurtadas.

tel. 229270069.

UM POETA


Um poeta vem ao café
passa despercebido
apesar de aparecer nos jornais
e de ser lido em Lisboa

um poeta vem ao café
vem de um longo interregno
não pára de olhar para a menina

um poeta vem ao café
pouco mais sabe fazer
está longe do Rocha

um poeta vem ao café
escuta as conversas
esta vida é uma merda.

POESIA NO PALÁCIO

RECITAL DE POESIA DE 2006 E JANTAR COM POESIA A MOTE
14 DE DEZEMBRO, SEXTA, PALÁCIO FRONTEIRA-LISBOA

19,00 h- Recital de poemas publicados em 2006 de autores com menos de 50 anos

Leitura: Antónia Brandão, Fernando Mascarenhas e Pedro Sena-Lino.

Poemas de: Afonso de Melo, Alexandre Nave, A. Pedro Ribeiro, Catarina Nunes de Almeida, Fernando de Castro Branco, Frederico Mira George, HEnrique Dinis da Gama, Joana Serrado, João Habitualmente, João Pedro Mésseder, João Rios, Jorge Melícias, JOrge Reis-Sá, José Félix Duque, JOsé Rui Teixeira, Luís Adriano Carlos, Manuel de Freitas, Paula Gândara, Pedro Sena-Lino, Pedro Teixeira Neves, Rui Lage e valter hugo mãe.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

OBRIGADO, JOANA


Dos Líquidos

Devo dizer com orgulho que ja tive este poeta a dormir (e ressonar) na minha sala (sim, sala) depois de uma magnifica discussão politica, terminada com uma francesinha no Café novo, e que tivemos até de chamar a policia porque esta senhora que vos escreve esqueceu-se das chaves dentro de casa.
O A. Pedro dizia - calma, calma. Devia ser dos efeitos do molho picante das francesinhas...Este poema deu um grande salto, Pedro. Parabéns.


"Um Poeta a Mijar" é o título do novo livro de A. Pedro Ribeiro, publicado pela Corpos Editora. O livro vai ser lançado dia 21 de Dezembro, sexta, pelas 22, 30 horas no bar Real Feytoria, no Porto (à Ribeira). "Um Poeta a Mijar" situa-se entre o surrealismo, o dadá e o beatnick, entre a mulher e os bares, entre o palco e a loucura. "Um Poeta a Mijar" sucede a "Saloon" (Edições Mortas, 2007), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (2006), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (2004), "Á Mesa do Homem Só. Estórias" (2001) e a "Gritos. Murmúrios" (1988).


BORBOLETAS


PEDRO RIBEIRO + FERNANDA PEREIRA


Borboletas na Internet disquete cassete sai e mete na Rosete que nos submete e promete ceias de Natal à entrada do centro comercial à saída do Telejornal cacetete tête-à-tête confidencial dá-me a tua morada a tua namorada o teu portal envia-me um postal uma queca no matagal uma mulher fatal e diz aos putos para parar com o cagaçal não me trates mal não me ponhas mole, ó Amaral.
Chiclete na net orgia na retrete revista coquete croquetes amor de trotinete atómica supersónica harmónica filarmónica filantrópica psicotrópica Mónica, volta aos meus braços aos meus cansaços aos meus bagaços aos meus palhaços em pedaços laços estilhaços calhamaços caracóis duquesa de Góis rouxinóis prato de rissóis cachecóis em Cascais aos casais jornais informais ais aias saias sais minerais saque no cais de embarque um traque no Iraque tic-tac xeque-mate Camarate serrote garrote pote pichote Senhora do Ó tende piedade do Tó que anda metido no pó Aniki-bobó às quartas-feiras dentro das eiras dentro das freiras dentro das frieiras na àgua das torneiras no universo dos Pereiras das colmeias e das onomatopeias ah já dá cá cara de amenduá meu xará vem cá saravá em Dakar junto ao mar
recomeçar dar as cartas cavalgar inventar assassinar penar pinar reinar alcatroar albatroz fêmea feroz fêmea atroz fêmea atrás fêmea com gás que leva e traz prazeres em ruínas suíças preguiças tesão que não sobe mulher que fode mulher que pede e escraviza e sodomiza Torre de Pisa rio Tamisa camisa falsa alça alce alface vegetal tribunal Cabral ao comité central ministros no bacanal com o teu soutien acampado na Lousã no comício do Louçã na casca da maçã a anciã masturba-se turva-se lava-se conserva-se foda-se! Latas de sardinhas minhas campainhas picuinhas lingrinhas xoninhas xanax pentax de alcoolemia cloreto de Eufémia mezinhas da Roménia Ofélia à janela Hamlet dentro dela omelete de cabidela cidadela sitiada aguarela sentinela ao relento rebento em movimento sedento sebento sardento sargento lá dentro whisky alento talento.

http://tratadodebotanica.blogspot.com

DO PARAÍSO


1

O empregado do "Piolho"
traz-me a torrada
e simpatiza comigo
O pintor
simpatiza comigo
e aprecia a minha poesia
O Rocha
simpatiza comigo
e chama-me pelo telefone
A Maria do "Nova Europa"
simpatiza comigo
e entrega-me as chaves

O paraíso está à vista.


2

Vou às sessões de poesia
dizer poesia
e as pessoas batem palmas
Vou à confeitaria
e a empregada felicita-me
por não fumar
Saio à rua
e as pessoas saúdam-me
Escrevo poemas
e olho para as gajas

Decididamente
o paraíso está à vista.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

MANA CALÓRICA

www.myspace.com/manacalorica

O FUTEBOL E O PAÍS


O FUTEBOL E O PAÍS



O futebol pára o país

O país e o futebol jantaram juntos

O país, o futebol e o jantar

Reuniram-se na Junta de Freguesia



A água é o sangue da Terra



O que importa é que seja um bom jogo

E que ganhe o melhor



O país janta frango

O frango e o país foram ao futebol

O país deu um frango



O que importa é que seja um bom jogo

E que ganhe o melhor



O futebol encanta multidões

As multidões e o futebol comem frango

O futebol, o frango e as multidões

Comem o país



O que importa é que seja um bom jogo

E que ganhe o melhor



O Rocha é um analista reputado

O futebol, o frango e o Rocha

Banharam-se na Praia da Rocha

O futebol e o país foram às putas



O que importa é que seja um bom jogo

E que ganhe o melhor.



1.12.2007

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

MANIFESTO ANTI-TRABALHO


Estou farto dos velhos
que mandam os malandros trabalhar
estou farto do paleio imbecil
do Governo e da televisão
estou farto das Finanças
e da Segurança Social!

Que se foda o dinheiro!
O Sócrates que vá trabalhar!

Quero passar passar o dia
a escrever poemas
e a olhar para as gajas.

Estou farto de défices,
de percentagens e de economistas!
Estou farto de racionalistas,
de ponderações e de analistas!
Estou farto de santas, de seitas
e da moral!
Estou farto dos políticos
e das directivas do comité central!
Estou farto do Rocha, do Makukula
e do país!

Que se foda o dinheiro!
Não quero trabalhar!

Quero passar o dia
a escrever poemas
e a olhar para as gajas.

PARTIDO SURREALISTA SITUACIONISTA LIBERTÁRIO

DOIS POETAS


AO RUI LAGE

Dois poetas marcaram encontro
no café "Ceuta"
um poeta espera pelo outro
que nunca mais chega
um poeta bebe café e pensa
um poeta enlouquece à mesa

Dois poetas conversam no café "Ceuta"
dois poetas bebem café
e falam de poesia
dois poetas abandonam o café
e percorrem as ruas
dois poetas conversam na rua
dois poetas conversam
dois poetas.

QUOTIDIANO

Os deuses dançam a meus pés
mas o quotidiano não se altera

Mantenho diálogos absurdos com o Rocha
mas o quotidiano não se altera

Tenho pensamentos sublimes
mas o quotidiano não se altera

Tenho explosões constantes
mas o quotidiano não se altera

O doutor persegue-me por todo o lado
mas o quotidiano não se altera

O país ama o futebol
e o quotidiano não se altera

O país, o Rocha e o doutor
vão ao futebol
e o quotidiano não se altera

O país, o Rocha, o futebol e o quotidiano
andam metidos na heroína
e o quotidiano não se altera

A heroína vai ao futebol
e o quotidiano não se altera.

2.12.2007
mais em http://partido-surrealista.blogspot.com

sábado, 1 de dezembro de 2007

CABELOS BRANCOS

CABELOS BRANCOS

Os cabelos
Vão ficando brancos
As amigas morrem
Ao telefone

Conversas
Que se repetem

A cidade
perde o encanto.

Set. 2004.

LUZ


Luz! Luz! Faça-se luz!
Possuído por um deus
celebro festins interiores

Luz! luz! Faça-se luz!
Em busca de iluminações
atiro-me contra as paredes

Luz! Luz!
Pedaços de mim
esvoaçam sublimes

Luz! Luz!
Meu canto doido
para lá dos homens!

Luz! Luz!
Para lá das montanhas
para lá das cidades!

Luz! Luz!
À mesa do café
percorro eternidades

Luz! Luz!
Ao poeta das trevas
ao vagabundo das eras!

Luz! Luz!
Dá-me vinhos, licores
mostra-me a saída!

Luz! Luz!
Ilha dos amores,
minha rainha!

Luz! Luz!
Meu canto doido
e um deus
que dança
a meus pés.

A. Pedro Ribeiro, Motina/Clássico Real, 1.12.2007.