quinta-feira, 22 de maio de 2014

A MISSÃO DO POETA

"Ter uma acção sobre a humanidade, contribuir com todo o poder do meu esforço para a civilização vêm-se-me tornando os pesados e graves fins da minha vida."
(Fernando Pessoa)

Acrescentar algo ao homem, à humanidade. Eis a missão do artista, do poeta. Não se ficar por objectivos fúteis, meramente egoístas, não se ficar pela luta pela sobrevivência e combater pela civilização contra uma barbárie que se está a impor, eis o desígnio do intelectual, do poeta. Dar-se ao mundo, dar-se à vida, dar-se em amor e liberdade, eis o que o poeta faz aqui, mesmo que tenha de enfrentar os poderes, os tribunais, a polícia. Por isso Jesus e Sócrates foram condenados à morte. Por isso o poeta, o profeta, o filósofo devem ser incómodos, devem desafiar os poderosos. Devem descer à praça pública, denunciar os podres que por aí andam. Devem usar a pena no sentido de se construir um mundo novo, um homem novo. Devem manter-se firmes e apelar à consciencialização dos homens e à revolução. Está a chegar a hora.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

PÁTIO

Estou no Pátio, em Vila do Conde. Estive a falar com o Ramiro. As gajas vêm, insinuam-se. Eu, preso à mesa, observo. Não sou mais do que os outros. Escrevo. A escrita vem-me da alma, do pensamento. Apesar da juventude circundante, acho isto um tédio. Tédio que os guardiões da ordem estabelecida impõem. Porque não berrar, desatar aos saltos, lançar o caos? Porque não sair da net e do Facebook e encontrar os verdadeiros amigos? Porque não pôr bombas nos bancos e nas bolsas? Quem te ensinou a andar direitinho? Quem te fez a cabeça? Se tivesses mais nome ouvir-te-iam mais. Assim só chegas a alguns, poucos. Não falas com desconhecidos. No fundo, vives uma vida à margem. Sofres com a solidão mas é a solidão que te permite criar. Lês muito, lês livros, lês jornais. Conheces. Contudo, nem sempre consegues transmitir as tuas ideias. Estás triste. Os amigos partem. As amigas estão sempre ocupadas com a merda do trabalho. Trabalho que nos rouba a vida, que nos escraviza. Não que não seja necessário um esforço para escrever, para criar. Manténs-te fiel ao papel e à caneta, ó poeta. Preenches cadernos. Às vezes ficas tão tímido, quase não consegues falar. Outras vezes descarregas tudo. Nem tanto nos últimos tempos. Nem tens explodido. Nem sequer em palco. Andas contido. Só vês putos à tua volta. Putos e rock n’ roll. Podias ser um filósofo como Sócrates mas não tens discípulos. Podias pregar a virtude, a verdade, a justiça. Que se há-de fazer? És diferente deles. Nem sequer os conheces. Não conheces esta nova geração dos tablets, dos portáteis, dos smart-phones. Vens de outro tempo, de outra vida. Discutias a liberdade com os teus amigos do liceu. A cabeça deu várias voltas. Não és inferior aos escritores de sucesso. Falta-te um pouco de disciplina, talvez. De resto, leste os livros, ouviste os discos. Ainda não andas a vender poemas como o Ulisses ou como o Ramalho. A vender ou a oferece-los às gajas. Daqui a uns tempos possivelmente publicarás isto em livro. Algumas gajas lerão e far-te-ão elogios. Vives do aplauso, ó poeta. Vives das gajas, mesmo que elas não te liguem puto. Vives e bebes. Não há salvação, cara psicóloga. É o poeta maldito, a “Avis rara”, o homem de outras eras. Não vê a felicidade aqui. Também não acha que os outros a vejam. Conversam, riem mas não colocam as questões. Verdadeiramente não dialogam, não discutem as grandes questões da vida. Não percebem que para derrubar o capitalismo é necessária alguma violência. Nem percebem, principalmente a juventude, que só recebem umas migalhas. O grande dinheiro vai para os “credores”, para os especuladores, para os exploradores, para os mercadores. Paz podre, verdadeira paz podre. Não se incendeiam automóveis, não se partem lojas. Ficas reduzido a uma vida perfeitamente amputada, a uma vida ordenada, a uma vida sem gozo autêntico, sem liberdade autêntica. Trabalhas, serves o patrão ou o governo. Passas a vida a pagá-la. Não estudas para te enriqueceres. Fazes tudo em função do patrão, do papão. Acorda! Desperta do sono. Eles fazem-te a cabeça. Não percorres com Sócrates as ruas de Atenas. Não és convidado para entrar nas casas. Não discursas nem pregas como Jesus. Estás no tédio, no vazio. As gajas estudam. Duvido que seja literatura ou filosofia. Quem sabe? Desprezam-se as artes em favor da ciência e da tecnologia. Não há brilho. Não há união, unidade como em Abril. O homem escreve só, à mesa.

terça-feira, 13 de maio de 2014

A REVOLUÇÃO DE HOJE

A revolução de hoje não se faz só com os trabalhadores. Faz-se com toda a gente que toma consciência de que o capitalismo actual explora, aliena, conduz à miséria. Diminuição dos salários e das pensões, aumento dos impostos mas também, e sobretudo, o "Big Brother" que faz as consciências, que molda o pensamento e a acção. Um "Big Brother" nas mãos dos imperialistas, dos grandes negociantes, dos políticos do sistema, dos banqueiros, dos mercados. Nada é inocente. Esta gente quer destruir o homem, convertê-lo num autómato obediente que produz e consome. Esta gente opõe-se ao conhecimento, ao questionamento, à reflexão e atira-nos para o rebanho. A revolução de hoje faz-se pelo passar da mensagem, não descurando a presença nos media sempre que possível. A revolução de hoje faz-se pela construção do homem livre, do homem que cria, do homem que dá. Exige leitura, estudo mas também acções provocatórias como, por exemplo, em sessões de poesia. Exige a revolução nas nossas cabeças.

domingo, 11 de maio de 2014

ALMA E CÉU

Não sou um revolucionário tradicional nem um militante normal. Sou um poeta, um escritor, um intelectual. Tenho um partido- o MRPP- mas não sigo a cartilha oficial. Penso que a revolução acontecerá dentro de 20 ou 30 anos. O homem está a ser assassinado, a natureza está a ser destruída. Está tudo na mão dos mercados, dos especuladores, dos salteadores. Estamos num casino. Os poderes políticos obedecem ao casino, aos grandes grupos financeiros. Nada disto é feito em prol do desenvolvimento da humanidade. Os poderes querem que os povos permaneçam na cegueira e na ignorância enquanto facturam e avançam. A ciência e a tecnologia avançaram extraordinariamente mas não respondem às questões fundamentais nem resolvem os grandes problemas do homem. Quem somos? Porque viemos? O que fazemos aqui? A pobreza e a miséria alastram. Além das revoltas que têm acontecido na Europa e na América Latina já se adivinham grandes catástrofes naturais. O capitalismo rebentará. Não somos apenas corpo e Terra, somos também alma e céu. Alguns de nós perseguimos a poesia, a beleza, a sabedoria. Temos de ser mais. Viemos para nos realizarmos, não para sermos escravos, não para sermos autómatos. Temos em nós algo de divino. Não podemos aceitar que a vida se resuma a comer, beber e ganhar dinheiro. Temos capacidades mentais e espirituais prodigiosas. Juntêmo-nos. Revoltemo-nos. Construamos um mundo novo.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

SERES SEM ALMA

Passos Coelho e Paulo Portas são castradores, inimigos da vida. Além de baixarem os salários e as pensões e de aumentarem os impostos, roubam-nos a vida. Para eles e para os comentadores do regime, a vida resume-se ao negócio, ao empreendorismo, aos mercados, à finança. São seres sem alma que seguem a cartilha de Merkel e do capitalismo. A sua função é destruir o homem, afastá-lo do belo e do maravilhoso. Mas nós sabemos que o homem vem do céu e vem da Terra. Nós sabemos que o homem quando sair da cegueira vai ser capaz de voar. Vai descobrir em si a divindade e a santidade. E nunca mais se deixará enganar. Há um outro mundo dentro deste mundo. Um mundo de alma e espírito, um mundo de amor, bem e liberdade. Passos e Portas são tão limitados. Agarrados à conta e aos jogos de poder estão nos antípodas da vida livre. Da vida que vem da sabedoria, dos céus, do eterno. Descubramos o homem interior, o homem que dança e ri. O homem que faz e vive a poesia.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

VIRTUOSOS

Temos de ser virtuosos, justos e procurar a sabedoria. Eis porque viemos. Não para levar uma vida fútil. Não para combater os nossos iguais. Viemos para ser poetas, escritores, diseurs. Não temos de ter outro trabalho. A vida é muito mais do que a sobrevivência. A vida é espírito. São o espírito e o pensamento que nos mantêm vivos. Até poderíamos passar a vida a pensar. Não temos de pagar a vida. Não temos de pagar coisa nenhuma. Procuramos a paz interior mas também a revolução. A maior parte das pessoas não sabe o que veio fazer à vida. Não sabem que nos devemos construir do nascimento ao momento presente. Não deveríamos precisar de ganhar a vida. Ansiamos pelo grande banquete gratuito. Ao homem sem dinheiro como Sócrates ou Jesus. Deveríamos ser convidados para ir às casas das pessoas. Deveríamos falar na praça pública. É evidente que há muita gente com fome, muita gente desempregada, os impostos sobem, os salários diminuem tal como as pensões. Mas nós viemos falar do homem livre, do homem que é pensamento e acção. Viemos dizer que muitos são controlados mesmo que não tenham noção disso. Viemos dizer que a ciência e a tecnologia conheceram avanços extraordinários mas o homem é o mesmo das tragédias de Shakespeare. Alguns homens estão mesmo ao nível dos macacos. Não são capazes de ter uma conversa elevada. Procuram o poder, o estatuto, a riqueza. Como estão longe dos filósofos de Platão. Virtude, justiça, amor, liberdade, sabedoria. Muitos nem sequer são capazes de pegar num livro, permanecem voluntariamente na ignorância. Outros vivem da rapina, do trepar por cima do outro. Não, não contemos com essa gente. A revolução será feita por uma minoria esclarecida.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

A ECONOMIA DA FRATERNIDADE

“Primeiro a família trata de a domesticar (à criança) (…) de maneira que ela desempenhe muito bem o seu papel na sociedade. Ou, por outro lado, mete-se na escola que vai dar a continuação, que vai fazer dela um profissional acima de um ser humano, mais importante do que um ser humano.”
(Agostinho da Silva, “Vida Conversável”)
Na ânsia da sobrevivência, na ânsia de vir a ter dinheiro e sucesso, a família e a escola esquecem a construção do ser humano. Descura-se o saber pelo saber, a criação, a descoberta. Como afirma Agostinho da Silva, as pessoas têm o direito de comer mesmo que não trabalhem. Temos de sair deste mundo de competição, de rapina, temos de passar de uma economia de concorrência, de luta para uma economia de fraternidade. Temos de ser a criança sábia de Nietzsche. Não temos dúvidas de que à civilização técnica de massa e de rebanho, que ao caos e à barbárie sucederá um novo mundo de amor, paz, liberdade e sabedoria. Pode ser daqui a 20, 30 ou 100 anos mas ela virá. Não é possível o homem tão escravizado, tão manietado pelos media e pelos mercados, tão cheio de medo. Não é possível o homem deixar de ser homem. Não é possível anular a vida.