domingo, 31 de janeiro de 2010

DA VIDA


Não sou comerciante, não sou do mercado. Sou da dádiva, da gratuitidade, da vida. É isso a vida. A dádiva, a partilha, o amor. Se há algo que reprime essa dádiva, essa partilha, esse amor então temos de combatê-lo do primeiro ao último dia. A começar, claro, na nossa cabeça. É um combate de vida ou de morte esse combate de que falo. Mas é o único combate que vale a pena travar. Não estou a falar de lutar pela vidinha, não estou a falar do trabalhinho, não estou a falar de tostões nem de milhões. Já me armei em carapau e apanhei nos cornos. Agora assumo a minha liberdade. Com a humildade do actor. Com o narcisismo do actor. Viemos ao mundo de graça: já o disse. Não temos de pagar a ponta de um corno pela vida. Aliás, somos o pior dos animais. Somos o animal que inventou o dinheiro.

CRÓNICA


Já não tenho papel para escrever mas continuo a escrever. Até escrevo num guardanapo. Mudou a menina da padaria. Esta tem umas boas mamas e não é feia de cara. Estes gajos devem pagar miseravelmente para as gajas andarem sempre a mudar. Escravidão. Horários da revolução industrial. O dinheiro que se ganha não dá para nada. Assim, de facto, mais vale não trabalhar. Estamos na estrada certa. Olhamos para as gajas. Micamos o cu e as mamas. Quantas vezes já dissemos isto? Já chateia a conversa, ó poeta.

sábado, 30 de janeiro de 2010

POETAS MALDITOS


Poetas Malditos – Adolfo Simões Müller Abril 17, 2007
Arquivado em: Adolfo Simões Müller, poesia — looking4good @ 12:42 pm

Malditos poetas, que disseram tudo
e tudo tão bem dito!

Malditos poetas, que me deixam mudo,
sem um ai, uma súplica ou um grito!

Raios os partam, cada qual maldito!

Malditos, que roçaram no seu voo,
com asas de veludo
o infinito!

Malditos poetas: Eu os abençoo…

Adolfo Simões Müller (n. em Lisboa 18 Ago 1909, m. 17 Abr 1989)

Dizem que eu tenho de dar um grande salto para chegar lá. Não me parece. Acho que, a espaços, já lá cheguei. Escrevo demais, tenho escrito demais- é esse o problema. A loira não é má. Já lá estive. Quero chupar-lhe as mamas. É bonita.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


E as gajas não páram de limpar. Definitivamente, não sou como os outros. Não sou do negócio. Não sou do mercado. Divirto-me com o que sobra. Rio-me. Divirto-me com a vida. Gozo. Mas há muito tempo que não me rio a valer. Há muito tempo que não vem a gargalhada sarcástica, satânica. O que será preciso para ela vir de novo? Estas séries vampirescas na TVI despertam-me um bocadinho. Há um poder só teu. Um poder de que tomas consciência agora. As gajas falam. A série acaba. Há gente que entra. Sou candidato. Escrevo à mesa, como sempre. Sou um poeta. Mas não sou apenas um poeta. QUero o mundo! O Tavares continua a falar com toda a gente. Dá-se com toda a gente. Tem paleio para toda a gente. Fala com as gajas. Não o invejo. Sou do mundo. Quero o mundo! Sei perfeitamente onde quero chegar. Há 20 anos que o sei. A "Padeirinha" perdeu claramente clientela. TEnho de falar ao mundo. Mas não de qualquer maneira.

HAITI

Caos
motins
pilhagens
o homem reduzido
à besta
a imagem no ar
mortos à sobremesa

BRAGA CAMPEÃO


Depois de ter vencido em casa o FC Porto e o Benfica, foi a vez de o líder da Liga bater o Sporting (1-0). Bastou um golo de Paulo César para vincar ainda mais o estatuto do Sp. Braga de candidato ao título.

Num jogo em que o Sp. Braga entrou a mandar e no qual foi a equipa a colocar maior pressão sobre o adversário, o Sporting até podia ter empatado já aos 89', quando Yannick Djaló desperdiçou um passe magistral de Matías Fernandez com um remate ao lado. Já no período de descontos, Matías ainda cabeceou para uma grande defesa de Eduardo e Miguel Veloso assustou com um remate de longe.

Para trás, já tinham ficado um livre perigosíssimo de Hugo Viana, alguns lances quezilentos (o mais evidente dos quais protagonizado por Saleiro, com uma entrada duríssima sobre Alan) e uma lesão delicada de Eduardo, quando prendeu o pé direito no relvado após uma saída da baliza.

www.publico.clix.pt

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

ESCRITORES MALDITOS

ESCRITORES MALDITOS
EM DEBATE NO DOLCE VITA

A irreverência, a insubmissão e o espírito livre vão andar à solta na
próxima edição de “Cultura no Centro”, a realizar no dia 30 de Janeiro às 17
horas, no piso 2 do Dolce Vita Porto.

Num tempo em que escapar à submissão imposta por todos os tipos de poderes é
uma tarefa cada vez mais árdua, o que é ser um escritor maldito hoje? Como
pode a literatura contribuir para a consciência crítica de uma nação? E de
que forma devem os autores lidar com a crescente interferência do plano
económico? Estes são apenas alguns dos tópicos a abordar num debate onde os
autores presentes vão ler textos de sua autoria e no qual será possível
encontrar títulos das Edições Mortas.

*A Literatura: bênção ou maldição?
*30 de Janeiro, às 17 horas
*Dolce Vita Porto (piso 2)

A. Dasilva O.
Humberto Rocha
A. Pedro Ribeiro
Raul Simões Pinto
Virgílio Liquito*

*“Cultura no centro” é o título de uma série de debates organizados por
Sérgio Almeida, jornalista do “Jornal de Notícias”. Nos últimos sábados de
cada mês, às 17 horas, a cultura está no centro das atenções no Dolce Vita
Porto, com a discussão de temas ancorados na realidade.

TÉDIO

Voltamos ao tédio. Afinal os gajos da SIC não pegaram em mim. Já não estou a subir. Mas também já subi de outras vezes e depois caí. Não posso voltar a cair. Voltamos ao tédio. Nada se passa. Eu disse o que tinha a dizer aos gajos. Fui honesto. Fui sincero. Fui um homem livre. Um príncipe das ideias. Um cavalheiro. Um senhor. E é isso que sou neste momento. O sucessor do Joaquim Castro Caldas. Um provocador. O último dos malditos.
Tenho uma missão. Só quando a cumprir estarei disponível para outras coisas. Mas os gajos foram ter comigo e depois não publicaram. E assim fica o "Apocalipse Now". Depois dos elogios, dos abraços, da festa fica o vazio. E lá estou eu a escrever diários. Nada mais do que diários. Regresso à Terra. Não cheguei a subir. Não cheguei a ser sublime. Não penetrei no mundo da media, do imediato. A candidatura à Presidência é apenas um pretexto para passar ideias, mensagens. As ideias que estão nos livros mas que os media não passam, não têm passado. As palavras que é preciso dizer. Agora. As palavras que vêm do coração. As palavras.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

CANDIDATURA DE ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA E "UM POETA NO PIOLHO" NO PINGUIM


António Pedro Ribeiro, poeta anarquista e maldito, apresenta a sua candidatura à Presidência da República na segunda, 25, às 23 h no Pinguim Café no Porto. Apresenta também, à mesma hora e no mesmo local, o livro "Um Poeta no Piolho" (Corpos). The doors are open.

sábado, 23 de janeiro de 2010

ROSA LUXEMBURGO

"Liberdade apenas para aqueles que apoiam um governo ou que são membros de um partido – por mais numerosos que eles possam ser – não é liberdade. Liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa diferente."

MULHERES


As mulheres que amamos dão cabo de nós quando nos deixam à espera. Mais ainda quando definitavamente não aparecem. Fazes-me sofrer, menina! Há gajas que já não me dizem nada mas tu, definitivamente, fazes-me sofrer. É tempo de pedir um fino.
Às vezes convenço-me de que estou a escrever coisas sublimes e saem coisas com palavras a mais. O que é certo é que, mesmo sem ti, continuo com a pica toda. Muitos estranjas aqui no "Piolho". Não são esses que te vão bater palmas. Há aqueles que se fartam de viajar. A mim, às vezes, basta-me viajar até ao "Piolho". Depois há os outros que estão sempre a glorificar o passado como se nós não tivessemos passado, como se tivessemos eternamente 18 anos. Olha! Até era bom voltar a ter 18 anos e saber o que sabemos agora. É o eterno retorno. Estamos sós, Gotucha. Nascemos para a solidão. Há gajos que nos saúdam mas continuamos sós. Há ainda outros que são deputados de esquerda ou eurodeputados que se queixam que viajam muito e que trabalham 16 horas por dia. Enfim, há também outros que nos vêem a escrever e perguntam se estamos a trabalhar. Vá lá! O que é facto é que tu, Alexandra, ficaste de aparecer e não apareceste. E eu estou aqui meio fodido. Só não estou completamente fodido porque Nietzsche ainda me ilumina. E ainda há gajos que mal me conhecem e se sentam à minha mesa. O "Piolho" tem isto de bom. Um gajo senta-se e fica sentado o tempo que quiser, sem que ninguém nos chateie ou maldiga. Não sou o escritor consagrado mas tenho as minhas ideias, as minhas convicções. Aliás, estou farto de falar de gajas, de mamas e de cervejas. Até acho que o sexo é uma coisa secundária. O que me eleva é a descoberta da palavra, o conhecimento de mim mesmo e do mundo. O espírito a fluir. O resto é conversa.

NIETZSCHE, "ASSIM FALAVA ZARATUSTRA"


Tirai-nos este Deus! Mais vale não haver Deus, mais vale cada um fazer o seu destino guiando-se pela sua cabeça, mais vale tornarmo-nos loucos, mais vale ser cada um de nós o seu próprio Deus! (Nietzsche, "Assim Falava Zaratustra")

GUERRA NO AFEGANISTÃO

SOBRE A GUERRA NO AFEGANISTÃO


O debate sobre a guerra no Afeganistão e Paquistão atingiu um ponto crítico. A opinião pública de todo o mundo tem estado atenta e opõe-se à escalada da guerra, que tem sido vendida como «nova estratégia» pelos governos mais influentes da NATO. Até os meios de comunicação convencionais reflectem este debate e desilusão.
Nós sabemos que os conflitos nunca são resolvidos através de guerras.

Os 192 países-membros da ONU foram convidados a participar na Conferência Internacional sobre o Afeganistão em Londres a 28 de Janeiro de 2010. Esta conferência foi convocada por Gordon Brown depois de Nicolas Sarkozy e de Angela Merkel a terem anunciado há alguns meses atrás. Provavelmente, os únicos membros de governos aí presentes serão representantes dos países ocidentais e dos seus estados vassalos. Pode-se esperar pouco mais do que uma reavivar da campanha pública com vista a arrebanhar apoio à sua «nova estratégia» para a guerra, inspirada pela NATO.

Os movimentos para a Paz, as ONG pelos Direitos Humanos, os partidos políticos, sindicatos e indivíduos de todo o mundo que lutam pela paz, a justiça e a liberdade irão encontrar-se nesta ocasião. Temos apelado às organizações e activistas de todo o mundo para se juntarem a nós e se comprometerem na procura de uma solução comum e pacífica ao nível internacional para este beco-sem-saída do Afeganistão.

Um fim para a guerra obriga a que as tropas da NATO sejam retiradas do Afeganistão. Globalmente, precisamos e portanto estamos a trabalhar para, a dissolução e desmantelamento da NATO em ordem a contribuir para a segurança internacional. A NATO pode apenas trazer mais guerra. Nunca foi (e nunca virá a ser) uma organização destinada à nossa protecção e segurança. Depois de cerca de 9 anos de presença da NATO no Afeganistão, a situação actual reflecte a verdadeira natureza da NATO: uma aliança militar concebida para impor a vontade das elites dos países ocidentais.

São precisas respostas políticas e civis à crise no Afeganistão e Paquistão. Têm de respeitar as decisões do povo afegão e requerem soluções que envolvam todos os países vizinhos. Tais respostas poderiam incluir um programa não-militar sob liderança da ONU para substituir os militares sob mandato do ISAF no Afeganistão.

O Afeganistão precisa realmente de um real processo de reconstrução, em termos materiais, políticos e sociais e isto não se pode levar a cabo com balas, bombas e bombardeiros



Berlim, Boston, Londres, Paris

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010


Passam por mim escritores famosos, com nome na praça, mas nenhum se compara a ti, ó poeta das alturas!
Passam por mim pessoas e mais pessoas, mas ninguém se compara a ti, ó filósofo do "Anticristo"!
Passam por mim noites e noites, dias e dias, mas nada se compara a ti, ó Zaratustra!
Passam por mim todas as loucuras mas nenhuma se compara a ti, ó sábio das montanhas! Passam por mim todos os povos e idiomas, mas nenhum se compara a ti, ó grande Zaratustra!

CANDIDATURA DE ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA E "UM POETA NO PIOLHO" NO PINGUIM


APRESENTAÇÃO DA CANDIDATURA DE ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA E "UM POETA NO PIOLHO" NO PINGUIM



António Pedro Ribeiro, poeta anarquista e aderente nº 346 do Bloco de Esquerda, apresenta a sua candidatura à Presidência da República e apresenta também o seu livro "Um Poeta no Piolho" no bar Pinguim, no Porto, na próxima segunda, dia 25, pelas 23,00 h.



MANIFESTO DA CANDIDATURA DE ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO



Esta é, sobretudo, uma candidatura anti-mercado e anti-capitalista. Esta é, sobretudo, uma candidatura pelo Homem e pela Vida. Esta é uma candidatura que não aceita que o homem se reduza a uma mercadoria, a um objecto de compra e venda, ao macaco do lucro e da mercearia. Esta é uma candidatura que não faz o jogo dos partidos nem dos sindicatos, que nada negoceia porque nada há a negociar com o capitalismo. Esta é a candidatura que não está na Bolsa e que defende a extinção da Bolsa. Esta é a candidatura que se opõe aos banqueiros e ao mercado. Esta é a candidatura que diz que o homem nasce de graça, que o homem nada tem a pagar pela vida, que a Vida deve ser livre e gratuita. Esta é a candidatura que diz que a vida está muito para além da vidinha, da sub-vida do trabalho, da rotina e do quotidiano cinzento e vazio. Esta é a candidatura que fala do homem livre, do homem que cria e ri. Do homem que é afecto e mesa partilhada, do homem que está para lá da democracia burguesa. Do homem que não é da economia nem da finança nem do sacar dinheiro nem do desenrascanço. Do homem que ama, dança, canta e quer. Do homem sem chefes nem hierarquias.
E também:
Dar de comer a quem tem fome.
Dar de beber a quem tem sede.
Dar abrigo a quem não tem abrigo.



UM POETA NO PIOLHO



"Um Poeta no Piolho" é uma homenagem aos 100 anos do café "Piolho" feitos à mesa da cerveja e das mulheres que vêm ou não vêm. É o percurso de mais de 20 anos do poeta no "Piolho" em torno de discussões literárias, políticas ou amorosas, é a homenagem aos empregados e aos gerentes do "Piolho", a todos aqueles que por lá passam e continuam a passar, a todas aqueles que fizeram e que fazem do "Piolho" um café com História e recheado de estórias todos os dias.
António Pedro Ribeiro ou A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto no Maio de 1968. É autor dos livros "Queimai o Dinheiro" (Corpos, 2009), "Um Poeta a Mijar" (Corpos, 2007), "Saloon" (Edições Mortas, 2007), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco, 2006) e "Á Mesa do Homem Só. Estórias" (Silêncio da Gaveta, 2001), entre outros. Foi fundador da revista literária "Aguasfurtadas" e colaborou nas revistas "Cráse", "Bíblia", "Conexão Maringá" e "A Voz de Deus", entre outras. Foi activista estudantil na Faculdade de Letras do Porto e no Jornal Universitário do Porto. Fez performances poéticas no Festival de Paredes de Coura 2006 e 2009 (com a banda Mana Calórica) e recentemente nas "Quintas de Leitura" do Teatro Campo Alegre (Outubro de 2009). Diz regularmente poesia nos bares Púcaros e Pinguim e no Clube Literário (Poesia de Choque).

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

ENTREVISTA DE APR NO JORNAL "A VOZ DA PÓVOA"

SECÇÃO: Cultura

Entrevista a A. Pedro Ribeiro

Por José Peixoto
Poesia de Choque



A. Pedro Ribeiro
A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto, em 1968 e vive em Vilar do Pinheiro, Vila do Conde. É Licenciado em Sociologia. Foi fundador da revista literária Aguasfurtadas e colaborador de revistas e fanzines como a “Portuguesia”, “Cráse”, “Voz de Deus”, revista “Bíblia”, e “Conexão Maringá”, do Brasil. O último dos oito livros de poesia publicados tem o título, “Um Poeta no Piolho” e foi lançado em Dezembro de 2009. Pedro Ribeiro também diz poesia e faz performances poéticas e poético-musicais.


A Voz da Póvoa – Qual a razão de comemorar os 100 anos do Piolho com um livro?


A. Pedro Ribeiro – A ideia partiu do escritor Raul Simões Pinto, que me convidou a reunir os poemas escritos naquele café. Alguns poemas perderam-se, outros aparecem nos vários livros que fui publicando. Tem também poemas inéditos escritos no Piolho a partir de Junho último.


A.V.P. – Cafés como o Piolho são referências que começam a rarear nas cidades?


A.P.R. – O Piolho tem uma história de encontro de opositores ao regime, tanto da área política como artística. A tertúlia ainda se mantém viva. Já vivi naquele lugar grandes discussões literárias e políticas. O Piolho no Porto, a Brasileira em Braga, o antigo Diana Bar ou o Guarda Sol na Póvoa, são espaços que tem uma certa especificidade. Não é um lugar onde vais simplesmente beber uma cerveja ou tomar um café, tem uma história, uma vivência que vem de longe. Infelizmente alguns vão desaparecendo.


A.V.P. – A que se deve o facto de ultimamente publicar com mais regularidade?


A.P.R. – Tem a ver com o ritmo da escrita. Escrevo praticamente todos os dias e vou publicando nos meus blogs. Há sempre cinco ou dez pessoas que lêem. A partir daí faço uma selecção. Mas há sempre textos que ficam para trás e só mais tarde é que são recuperados e publicados em livro.


A.V.P. – O ritmo do espectáculo tem acompanhado o ritmo da escrita?


A.P.R. – As duas coisas estão ligadas, mas são distintas. A escrita é fundamentalmente um acto solitário, mesmo que estejas a escrever num lugar cheio de gente. Quando estou acompanhado não escrevo. Não troco um amigo por um texto ou um poema. Já o acto de estar em palco é dar alguma coisa. Não dependes só de ti, mas também das reacções do público. Boas ou más, lido com ambas.


A.V.P. – Os palcos de Paredes de Coura e do Teatro Campo Alegre, definem o poeta?


A.P.R. – Espero que sim, até porque fui dizer poemas meus e as reacções do público foram muito positivas. Talvez devido ao tipo de textos que seleccionei, com uma temática ligada à vida boémia, textos que falam do sexo, da mulher fatal, das gajas boas. São textos que resultam bem em certos sítios, para um certo público. Mas há lugares onde digo Mário Cesariny, Jim Morrison, Allen Guinsberg ou Nietzsche.


A.V.P. – Cita e recita muito Nietzsche é porque assim falava Zaratustra?


A.P.R. – Estou a ler pela quarta vez esse livro. O Nietzsche fascina-me quando fala da superação do homem, que não é este homem pequeno das mercearias, das contas, dos orçamentos, do homem económico. Como diz o padre Mário de Oliveira, o homem é afecto e espírito, ou deveria ser sobretudo isso. Mas esse homem é destruído por esta sociedade capitalista. Mas há também o homem artista, que canta que dança, que está ai.


A.V.P. – Sente que o artista deve ser cada vez mais interventivo?


A.P.R. – O artista não tem que ser como os outros e levar aquela vida regrada e certinha. Deve ir mais longe, quebrar rotinas, ser um desalinhado. As pessoas podem não estar de acordo com tudo o que tu dizes ou escreves, mas aquilo mexe com elas. Esse é o objectivo.

www.vozdapovoa.com

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

MANIFESTO DA CANDIDATURA DE ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA


Esta é, sobretudo, uma candidatura anti-mercado e anti-capitalista. Esta é, sobretudo, uma candidatura pelo Homem e pela Vida. Esta é uma candidatura que não aceita que o homem se reduza a uma mercadoria, a um objecto de compra e venda, ao macaco do lucro e da mercearia. Esta é uma candidatura que não faz o jogo dos partidos nem dos sindicatos, que nada negoceia porque nada há a negociar com o capitalismo. Esta é a candidatura que não está na Bolsa e que defende a extinção da Bolsa. Esta é a candidatura que se opõe aos banqueiros e ao mercado. Esta é a candidatura que diz que o homem nasce de graça, que o homem nada tem a pagar pela vida, que a Vida deve ser livre e gratuita. Esta é a candidatura que diz que a vida está muito para além da vidinha, da sub-vida do trabalho, da rotina e do quotidiano cinzento e vazio. Esta é a candidatura que fala do homem livre, do homem que cria e ri. Do homem que é afecto e mesa partilhada, do homem que está para lá da democracia burguesa. Do homem que não é da economia nem da finança nem do sacar dinheiro nem do desenrascanço. Do homem que ama, dança, canta e quer. Do homem sem chefes nem hierarquias.
E também:
Dar de comer a quem tem fome.
Dar de beber a quem tem sede.
Dar abrigo a quem não tem abrigo.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Dar de comer a quem tem fome
dar de beber a quem tem sede
dar abrigo a quem não tem abrigo

domingo, 17 de janeiro de 2010

RIBEIRO À PRESIDÊNCIA


CANDIDATURA DE ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
APRESENTAÇÃO DO LIVRO "UM POETA NO PIOLHO" NO PÚCAROS

António Pedro Ribeiro, poeta anarquista, diseur, performer e aderente nº 346 do Bloco de Esquerda anuncia na próxima quarta, 20, pelas 23,30 h, no bar Púcaros no Porto (à Alfândega) a sua candidatura à presidência da República nas Presidenciais/2011. O anúncio da candidatura coincide com a apresentação do livro "Um Poeta no Piolho" (Corpos Editora) no mesmo local e à mesma hora. A candidatura de António Pedro Ribeiro, embora respeite muito a figura de Manuel Alegre enquanto poeta e humanista, vai contra os entendimentos de mercearia entre o Bloco de Esquerda e o PS de Sócrates que se desenha em torno da candidatura do poeta. A candidatura de António Pedro Ribeiro é a candidatura do homem livre que está contra a economia de mercado e a social-democracia de mercado que nos enfernizam a vida. A candidatura de António Pedro Ribeiro é uma candidatura de ruptura contra todas as formas de capitalismo, estejam elas na bolsa, nos bancos ou no grande capital. É uma candidatura que não pactua com negociações e sindicatos em busca de influências, estatutos e poderes. É uma candidatura pela vida no sentido nietzscheano, pela vida autêntica, plena sem patrões nem grandes irmãos. É uma candidatura que olha para os desempregados e para os pobres sem estatísticas nem contas de mercearia. Todo o ser humano tem direito à sua subsistência e algo mais. Não tem de andar a mendigar coisa nenhuma. A candidatura de António Pedro Ribeiro é uma candidatura de rebelião e de ruptura com o instituído que acredita, com Rosa Luxemburgo, que os problemas não se resolvem no Parlamento mas sim na rua. Acredita também que o capitalismo destrói o homem e que, portanto, deve ser derrubado nas ruas como tem sido tentado na Grécia e em França. Acredita também que o melhor governo é não existir governo nenhum e que os partidos de esquerda (PCP, Bloco de Esquerda) têm feito, muitas vezes, o jogo do sistema aceitando migalhas do poder.
"Um Poeta no Piolho" é uma homenagem aos 100 anos do café "Piolho" feitos à mesa da cerveja e das mulheres que vêm ou não vêm. É o percurso de mais de 20 anos do poeta no "Piolho" em torno de discussões literárias, políticas ou amorosas, é a homenagem aos empregados e aos gerentes do "Piolho", a todos aqueles que por lá passam e continuam a passar, a todas aqueles que fizeram e que fazem do "Piolho" um café com História e recheado de estórias todos os dias.
António Pedro Ribeiro ou A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto no Maio de 1968. É autor dos livros "Queimai o Dinheiro" (Corpos, 2009), "Um Poeta a Mijar" (Corpos, 2007), "Saloon" (Edições Mortas, 2007), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco, 2006) e "Á Mesa do Homem Só. Estórias" (Silêncio da Gaveta, 2001), entre outros. Foi fundador da revista literária "Aguasfurtadas" e colaborou nas revistas "Cráse", "Bíblia", "Conexão Maringá" e "A Voz de Deus", entre outras. Foi activista estudantil na Faculdade de Letras do Porto e no Jornal Universitário do Porto. Fez performances poéticas no Festival de Paredes de Coura 2006 e 2009 (com a banda Mana Calórica) e recentemente nas "Quintas de Leitura" do Teatro Campo Alegre (Outubro de 2009). Diz regularmente poesia nos bares Púcaros e Pinguim e no Clube Literário (Poesia de Choque). "Um Poeta no Piolho" será apresentado pelo poeta Anthero Monteiro e pelo editor da Corpos Ricardo de Pinho Teixeira. O diseur Luís Carvalho dirá poemas do livro.
No dia seguinte, 21, quinta, pelas 22,00 h, António Pedro Ribeiro volta a apresentar a sua candidatura no Clube Literário do Porto, acompanhado por Luís Carvalho e pelo músico Luís Almeida, durante a habitual sessão de POESIA DE CHOQUE que tem lugar todas as terceiras quintas de cada mês.

Com os melhores cumprimentos,
António Pedro Ribeiro.
tel. 965045714
http://tripnaarcada.blogspot.com
http://partido-surrealista.blogspot.com

CANDIDATO Á PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA


A partir deste momento António Pedro Ribeiro, poeta, diseur, performer, é candidato à presidência da república. E merda para o Cavaco e para o Miguel Portas!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

DO HOMEM


Safar-se. Arranjar um emprego. Sacar dinheiro. Sobreviver. Eis a que se resume a existência humana. Eis o que nos metem na cabeça ao longo dela. Que pobreza! Vir ao mundo para isto. Crescer para isto. Condicionar todos os passos em função da pequena esperteza, da safadeza. É isto o homem pequeno. O homem pequeno está por todo o lado. Este ainda é o tempo do homem pequeno. Reconhecido e respeitado por amealhar o maior quinhão, a maior parcela. A poesia, a filosofia são meros adornos subordinados à lógica do mercado e do desenrascanço. Não há aqui qualquer grandeza ou nobreza, não se questiona o homem, não se procura a evolução, o crescimento da espécie humana. Não há qualquer evolução, qualquer tentativa de superação, a superação do homem pela qual Nietzsche e outros filósofos se bateram. Macacos, macacos que trepam, sobrevivem e mercadejam. Não passam disso mesmo os homens pequenos. A ciência e o conhecimento estão reduzidos à lógica dos macacos. Acumula-se dinheiro, bens, poder, influências como se acumulam bananas. Para quê Platão? Para quê Nietzsche? Se continuamos reduzidos à lógica do sustento, da sub-vida. Não é possível o homem descer tão baixo. Não é possível ver a vida resumida a isto. Aliás, as imagens das pilhagens, do save-se quem puder no Haiti são sintomáticas. É o primarismo, o primatismo levado ao extemo, mesmo entre intelectuais. Não. O homem não é isto, não pode ser isto. Isto não é um jogo de futebol. A bola a rolar, a contabilidade dos ganhos e das perdas, a mercearia. O homem nasceu para se superar, para ser igual aos deuses, para ser ele próprio um deus ou, se quisermos, o super-homem. E o homem supera-se na criação, no afecto, no conhecimento, nas mesas partilhadas. O homem é questionamento e vontade. O homem não é submissão, conformismo, aceitação. "Viver segundo a minha vontade ou não viver", disse Nietzsche. O homem é criação e vontade. Não precisa de Deus nem de deuses. Não precisa sequer de governantes, nem de deputados, nem de chefes. O homem é tudo e nada. Não conduz nem é conduzido. Vive. Canta. Dança. Ri. Acredita em si mesmo. Ama. Supera-se. É livre. É caminho e fim em si mesmo.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

DOS FILHOS

Há poemas meus que são autênticos "hits", que fazem parte duma espécie de "Best Of": "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro", "O Poeta e as Gajas Boas", "O Beijo na Boca", "O Poema". Não entendo como há editoras que me rejeitam. A minha forma de escrever é original. Já o disse. Não sou o melhor seleccionador. Mas não faço outra coisa senão escrever...e ler. Vivo da escrita. Vivo literalmente da escrita. Os meus textos são todos meus filhos. À falta de amigos e de amigas tenho os meus filhos. Uns ficam. Outros são rejeitados. Outros ainda ressuscitam. Mas são todos meus filhos. Amo-os. Nascem de mim. Sou o criador. A mãe que os pare. E o criador é livre e feliz.

A MULHER. O HOMEM.


O homem senta-se. Lê o jornal. Depois observa. Vê a mulher. Quer falar-lhe. Está de costas. Ama-a. Perdeu a lata. Escreve. É isso que faz na vida. Deveria ser remunerado por isso. A mulher mantém-se de costas. Mexe os pés. Pensa. Olha para a estrada. O homem ama-a mas perdeu a lata. Chegam o leite e as torradas. A mulher come. O homem observa. Nietzsche escreveu coisas terríveis acerca das mulheres mas também disse que a felicidade é uma mulher. A felicidade é uma mulher. A felicidade está de costas para mim. A felicidade come e bebe leite. Não olha para o homem. O homem escreve. É o que sabe fazer. Contempla a felicidade. Ama-a. Mas não a consegue tocar.

DOS LIVROS


SECÇÃO: Opinião

A. Pedro Ribeiro


DOS LIVROS

Os livros, alguns livros, não são como as chicletes. Prova, mastiga, deita fora. Os livros ficam connosco para sempre. Os livros, alguns livros, são mais importantes do que as pessoas, do que a maioria das pessoas. Preenchem-nos, enriquecem-nos, dão-nos vida, tornam-nos mais humanos.


Os livros, alguns livros, são a vida, a própria vida. É nos livros que me refugio nestes dias sem ti. Só os livros, alguns livros e a escrita me dão o alento necessário para continuar, para combater a solidão. Os livros e também a música. De resto, é o de sempre. A chávena de café à minha frente. A D. Rosa que se ri e fala comigo. A empregada de amarelo, que também é Rosa, e que fala com o cliente. Mas, apesar dos livros, são dias sem ti. Sem os livros seriam vazios. Completamente vazios. Valham-me os livros, alguns livros, nestes dias sem ti.

www.vozdapovoa.com

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

OBRIGAÇÃO, TRABALHO, MERCADO

Obrigação, trabalho, mercado. Eis o que fizeram da vida esses pregadores da morte que se chamam políticos, banqueiros, grandes empresários, economistas. Reduziram a vida a cálculos financeiros e contabilísticos esses pregadores da morte que nos querem afastar dos nossos companheiros, dos nossos afectos. Revoltei-me contra esses profetas da morte e da conta quando estava na Faculdade de Economia do Porto. Comecei a pôr em causa as contas, os gráficos, os balanços, os orçamentos. Comecei a levar Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Jim Morrison, Nietzsche para as aulas. "Assim Falava Zaratustra". E agora que leio o "Zaratustra" pela quarta vez o espírito volta a dar voltas.
O homem pequeno só ouve os pregadores da morte, via media. O homem pequeno adora os pregadores da morte. Aceita que a vida se reduza aos ganhos e às perdas. Aceita que a vida não seja vida. Aceita ser reduzido a uma percentagem, a uma cotação da Bolsa. Preocupa-se apenas com o interesse mesquinho e imediato, com a sobrevivência. Não aspira às alturas, ao cume das montanhas. Rejeita o artista nietzscheano, o espírito livre, aquele que cria, aquele que busca o conhecimento, aquele que quer. Porque "o querer liberta"!
A vontade do homem está para lá das moedas e notas dos merceeiros do mercado. A vontade do verdadeiro homem que grita pela liberdade e pela vida nada tem a ver com negócios e com mera sobrevivência. O verdadeiro homem é corpo, espírito e afecto. O homem nobre não é o homem das meias medidas.

OS MERCEEIROS DO MERCADO


Mas em baixo tudo fala e nada se ouve. Pode anunciar-se a sabedoria com o toque dos sinos: os merceeiros do mercado hão-de cobri-la com o barulho das suas moedas!

(F. Nietzsche, "Assim Falava Zaratustra")

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

VELHOS AMIGOS, ONDE ESTAIS?

Fizeram da vida obrigação, trabalho, mercado. Urge voltar à verdadeira vida. Livre e criadora.

domingo, 10 de janeiro de 2010

NIETZSCHE


Criar- é a grande libertação da dor e o alívio da vida. Mas, para que exista o criador, é preciso muito sofrimento e muita metamorfose.
Sim, são precisas na nossa vida muitas mortes amargas, ó criadores! (...)
Para que o próprio criador seja a criança que renasce, é preciso que queira ser também a que gera e as próprias dores do parto.

(Nietzsche, "Assim Falava Zaratustra")

OS MEUS POEMAS


Afinal talvez os meus poemas não sejam assim tão bons. Há editoras que os rejeitam. Ou talvez só alguns o sejam e eu não o melhor seleccionador. Só sou, a espaços, o poeta que quero ser. Só sou, a espaços, o poeta maldito, talvez genial. Mas sei que sou. A isso dedico a minha vida. Talvez esteja a ser cabotino. Mas sei que tenho talento. Não me vou deixar abater pela nega da editora. "Da Merda até Deus" há-de sair, talvez com outros poemas, com novos poemas. E quero também escrever o tal livro profético à Nietzsche, à padre Mário de Oliveira. Não me posso deixar abater. Sei que tenho o talento. Sei que estou à procura. Sei que vou com Zaratustra. Sei que ainda tenho um caminho a percorrer. Sei que as pessoas vêm ter comigo a elogiar os meus poemas. SEi que estou a produzir mais e melhor. SEi que sou um rei nesta terra de cegos. Sei que tenho a luz. Amo aqueles que procuram. Amo aqueles que rejeitam o rebanho, a gentalha. O Peixoto quer um livro só com poemas de amor. Vai tê-lo.

sábado, 9 de janeiro de 2010

BRAGA CAMPEÃO

O Sp. Braga continua imparável. Para já é campeão de Inverno, mas hoje frente ao Nacional reforçou a ideia de que tem equipa para discutir o título. Com Hugo Viana em alta, os bracarenses destroçaram por completo o Nacional, que saiu do Estádio Axa derrotado por 2-0, números que pecaram por defeito.

O Nacional foi para o intervalo a perder por um golo. Um resultado que, ao contrário daquilo que se poderia pensar, até deveria deixar o treinador Jokanovik satisfeito, tal a superioridade dos bracarenses. Afinal, não é por acaso que chegam a esta altura na liderança da Liga. Nem a saída de João Pereira para o Sporting afectou o rendimento da equipa (o seu substituto, Filipe Oliveira, mostrou-se em bom nível e cruzou para o segundo golo).

O Sp. Braga mantém-se como uma formação que sabe o que fazer com a bola e com jogadores que marcam a diferença. Como Hugo Viana. Foi ele que pautou o jogo a meio-campo e soube tirar partido da liberdade concedida pelos madeirenses. Sempre que a bola saía dos seus pés, a baliza de Bracalli tremia. O guarda-redes brasileiro realizou uma boa exibição, mas pouco ou nada conseguiu fazer aos 2’: livre de Hugo Viana, a defesa do Nacional ficou de mãos nos bolsos e Vandinho apareceu a cabecear sem oposição.

Um golo que deitou desde logo por terra a estratégia do Nacional, que apostou numa equipa de tracção atrás. Nem a sua estrela Ruben Micael, demasiado recuado, conseguiu sobressair. Distribuídos num 4x2x3x1, os homens de Domingos Paciência - que tem em Rentería um reforço para breve, de novo emprestado pelo FC Porto - detiveram o controlo quase total da partida. Faltou só algum discernimento nos derradeiros momentos a Mossoró e Meyong para dar continuidade às jogadas e colocar o resultado noutro patamar.

As oportunidades sucederam-se. Aos 9’, Foi Bracalli que desviou para canto um remate de Mossoró. Pouco depois, Meyong não chegou a um bom passe de Hugo Viana. O camaronês voltou a falhar pouco depois, após um cruzamento de Alan. E, aos 42’, só a qualidade do guarda-redes evitou um golo de Hugo Viana.

O Nacional a tudo isto respondeu com quase nada. Nunca conseguiu ser a equipa que, por exemplo, criou muitas dificuldades ao Benfica na Luz. O único lance de verdadeiro perigo aconteceu já na segunda parte (52’), num remate de Ruben Micael que saiu junto ao poste. Três minutos depois, veio o golo que acabou com a partida: cruzamento de Filipe Oliveira, Moisés cabeceia contra Patacas e surge Leone a fazer o golo. O Sp. Braga conquistava o título de campeão de Inverno.

Positivo
Hugo Viana
O médio regressou depois de uma lesão e deu ainda mais força e qualidade ao futebol bracarense. Entrou em grande em 2010. Além de tudo o que fez na construção de jogo, fica ainda na retina o remate de fora da área que foi devolvido pelo poste.

Vandinho
Esteve muito bem na forma como conseguiu ajudar a sua equipa a ganhar a guerra no meio campo e aproveitou bem a oportunidade que lhe ofereceram nos primeiros minutos para colocar o Sp. Braga a ganhar.

Negativo
Nacional
Foi uma sombra da equipa que tem surpreendido nesta Liga. Nunca conseguiu equilibrar o jogo e as situações de perigo que criou contam-se pelos dedos de uma só mão.

Leandro Salino
Aos 77’, o médio teve uma entrada muito dura sobre Alan, viu o segundo cartão amarelo e deixou a equipa a jogar com dez. O Nacional, que já pouco podia, acabou nesse momento.

Ficha de jogo
Sp. Braga, 2
Nacional, 0

Jogo no Estádio Axa, em Braga.
Assistência cerca de 8000 espectadores.

Sp. Braga Eduardo, Filipe Oliveira, Leone, Moisés, Evaldo, Mossoró (Diogo Valente, 87’), Vandinho, Hugo Viana, Alan (Yazalde, 83’), Paulo César e Meyong (Matheus, 74’).
Nacional Bracalli, Patacas, Tomasevic, Felipe Lopes, João Aurélio, Cléber Oliveira, Salino, Pecnik, Ruben Micael, Amuneke e Edgar.

Árbitro Artur Soares Dias, do Porto.
Amarelos Leone (59’), Salino (64’ e 77’), Patacas (90+1’). Vermelho Salino (77’).

Golos 1-0, por Vandinho, aos 3’; 2-0, por Leone, aos 56’.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O DIA TRIUNFAL

SECÇÃO: Opinião

António Pedro Ribeiro


O Dia Triunfal

Estou em Braga e este é um dia triunfal, um dos mais felizes da minha vida. Tenho apenas uns trocos mas sou feliz. Abençoado por Zaratustra e pelos pássaros da manhã. Sou a criança sábia. Estou a regressar á infância. Não tenho de fazer pactos com a social-democracia nem com os Sócrates deste mundo. Não tenho de me ajoelhar diante do grande capital ou dos senhores do dinheiro.


Sou um homem livre. Escrevo o que quero. Assumo o que quero. Sou o que quero. Nem sequer preciso de Deus, caro padre Mário. Basta-me o Jesus que expulsou os vendilhões do templo. Expulsar os vendilhões do templo, é isso que temos de fazer agora. Expulsar os senhores do dinheiro, do poder. Expulsá-los da vida. Eis a nossa missão na Terra. Demandar o Graal, o sagrado feminino, o amor das mulheres. Não devemos nada a ninguém.


Entraremos na casa das pessoas como Jesus. Sem dinheiro. Somos deuses. Comportamo-nos como reis no mundo do dinheiro, da intriga, da mercearia. Não podemos ser iguais aos outros. Nascemos de graça, na graça do divino. Nascemos e vivemos na dádiva, no coração, no espírito. Somos absolutamente livres. Amamos a eternidade do instante. Por isso, às vezes somos doidos, completamente fora. Não temos limites. Não somos formatados pela tradição ou pelo medo. Dançamos na corda bamba de Nietzsche. Provocamos como Debord, como os surrealistas, como os dadaístas. Gozamos com o quotidiano imbecil dos outros porque queremos provocá-los, trazer-lhes a luz.


E é a luz que vemos neste momento. A luz que queremos trazer aos outros, aos que ainda não estão completamente mortos para a vida. É a vida que queremos, não a vidinha das trocas, do mercado e do tédio. Sentimo-nos iluminados mas não somos mais do que os outros. Apenas diferentes. E exigimos sermos respeitados como tal. Somos do mundo. Deste mundo e não do outro. Profundamente deste mundo. “Humanos, Demasiado Humanos”. Desde a infância que pensamos mais do que os outros, que questionamos mais do que os outros, que observamos a realidade mais do que os outros. Nascemos com um dom. Já atravessamos muitos desertos, muitas idades de dor mas agora estamos curados. Estamos de volta á Idade do Ouro dos anos 80 e 90. Mas mais sábios, mais purificados, mais livres. Estamos prontos para enfrentar a cidade. Chegámos à idade de passar a mensagem. Este é o poema. O poema em prosa que há muito queríamos escrever. O poema bendito e maldito. O início do novo livro. O livro que pretende mudar a face da Terra. O livro que se dirige ao mundo. O livro que escrevo com o meu próprio sangue.

in www.vozdapovoa.com opinião

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

PAPÁ

Papá
faz hoje três anos
que foste

papá
deveria estar hoje
a falar contigo
a dizer-te as coisas
que não te disse
ao longo da vida
ou estava demasiado deprimido
como tu estiveste
nos últimos tempos
ou estava eufórico
em mundos que tu desconhecias
tivemos algumas conversas sinceras
mas foram poucas
os teus cálculos matemáticos
as tuas reflexões
não lhes consegui dar sequência
venho, como tu,
para a confeitaria criar
somos, á nossa maneira,
uns incompreendidos
não suportamos ficar apenas
a olhar para o ar
temos de estar a criar
a produzir qualquer coisa
sejam versos
sejam teoremas
não incomodamos ninguém
mas quase ninguém
nos tenta compreender
estamos sós
estamos condenados a ficar sós

Papá
agora compreendo
as tuas fases eufóricas
as tuas descobertas
o teu Totobola

papá
era agora
que te queria aqui
a esta mesa
mas tu não vens
já não podes vir
bem sei que ás vezes
ouço a tua voz
mas não é a mesma coisa
falavas de atrasados mentais
e de cretinos
e eu agora compreendo
o mundo é tão pequeno

papá
tu sim, eras um senhor
tu sim, tinhas classe
eu, às vezes, tenho
outras perco-me
escrevo umas merdices
a que alguns acham graça
mas não é verdadeiramente isso
que eu quero escrever
eu quero escrever na graça
na glória
no sublime

papá
não segui a via
que tu querias para mim
também, a partir de certo ponto,
isso passou a contar pouco
mas pode ser
que através da escrita e do espectáculo
eu chegue lá

papá
queria tanto
que estivesses aqui.


Vilar do Pinheiro, "Motina", 5.1.2010

Regresso à "Motina"
e aos cafés da "Motina"
depois de uns dias em Braga
com a Gotucha
regresso aos livros e aos papéis
ao trabalho do artista
apesar do tédio
gosto de estar aqui
sem multidões
nem confusões
no centro da confeitaria
a música que eleva
o poeta que aumenta
a vida
gratuitamente
graças a Miller
"Sexus"
do coração
do artista
que é, ele próprio,
a vida.


"Motina", 5.1.2010

PASSAGEM DE ANO

Foi a passagem de ano em que mais bebi nos últimos anos. Whisky, vinho, cerveja. Estávamos em Braga. Fomos ao "Insólito". Não deixaram o Manuel entrar. Já passou o tempo em que era eu que armava confusões à porta dos bares. De qualquer modo, não simpatizo com porteiros. Seguimos para o Porto. O Manuel foi buscar erva. Eram quatro horas. Não me lembro de nada do que se passou à meia-noite na casa das três irmãs. Fomos a um bar nas galerias. Um gajo perguntou-me se eu era comunista e eu respondi-lhe que sou anarquista. A Gotucha dançava, dançava. Eu também. Mas a barriga está inchada. O Pena saúdou-me efusivamente. A Gotucha dançava, dançava. Ainda em Braga lembro-me que tanto a chateei que até convenci a Fernanda a sair de casa. No bar perdi o cartão. Fui honesto. Lá fui falar com o gajo. Paguei o mesmo. A Gotucha fumava, fumava. Regressamos a Braga. A ressaca durou dois dias.

O NATAL DOS BANQUEIROS

Assunto: Fwd: O Natal dos banqueiros



Por: José Niza - In ''O Ribatejo''

1. Depois do que aqui escrevi na semana passada sobre “o dinheiro”, não esperava tão depressa voltar ao assunto: preferia que, em tempo de Natal, a caneta me conduzisse para outras paragens, e me levasse por caminhos que fossem de procura, ou de descoberta, de uma réstia de esperança, de uma festa numa praça de amor, de paz e de canções.
Mas não. O homem põe. E a banca dispõe.
2. Um relatório há poucos dias divulgado pela CMVM – a Bolsa – deu-me um murro no estômago. Não é que eu tenha andado distraído da ganância e dos festins da nossa alta finança. Mas tudo tem que ter limites: os números revelados nesse relatório sobre os salários dos administradores dos bancos e das empresas mais importantes do País, para além de aterradores, são um insulto ao povo português e, em especial, aos mais de 500 mil trabalhadores que estão no desemprego.
3. O salário mínimo em Portugal é de 450 euros por mês. 90 contos por mês. 3 contos por dia. Muito pouco para pagar a renda da casa, a comida, as roupas, os sapatos, a água, a luz, os transportes, talvez o telemóvel…
Há um ano, o governo, as confederações patronais e os sindicatos, assinaram um acordo para, em 2010, aumentar o salário mínimo de 450 para 475 euros. Menos de 1 euro por dia! Mas agora, as tais confederações patronais – que assistem mudas e quedas ao escândalo dos vencimentos dos gestores – vêm ameaçar que se o salário mínimo subir para 475 euros será um desastre nacional. E, em contrapartida, propõem 460 euros! Isto é, uma subida de 33 cêntimos por dia!
4. O relatório da CMVM revela que o salário anual médio dos administradores da banca e empresas cotadas na bolsa foi, em 2008, de 777 mil euros, isto é, de 64.750 euros por mês (cerca de 13 mil contos mensais ou 426 contos/dia).
64.750 euros por mês equivalem a 136 salários mínimos. Isto é, para atingir o valor do ordenado mensal de um desses gestores, um trabalhador que receba o ordenado mínimo terá de trabalhar mais de 11 anos!!!
5. Mas ainda não é tudo. Há mais, bastante mais.
2008 – como todos nós sabemos – foi um ano de crise, de falências, de desemprego galopante, de apertar o cinto. Mas, enquanto a esmagadora maioria dos Portugueses fazia contas à vida, cortava nos gastos, fazia sacrifícios ou – nos casos mais dramáticos – passava fome, os senhores do dinheiro tiveram, em média, aumentos de 13 %.
13% sobre 777 mil euros são cerca de 100 mil euros, qualquer coisa como 20 mil contos por ano e para cada um. Só de aumentos!
2009 – um ano que agora se vai embora sem deixar saudades – foi também um ano de enorme crise na indústria automóvel. Mas nem tudo foram desgraças: no Vale do Ave, território dos têxteis e do mais alto desemprego do País, nunca se venderam tantos Porches. Quanto mais desempregados na rua, mais Porches na estrada!
Como se tudo isto ainda não bastasse, os próprios ex-administradores da banca – como é o caso do BCP – têm regalias e mordomias que ultrapassam todos os limites do imaginável: jactos privados para viajarem, seguranças, automóveis de luxo, motoristas, etc. Foi-me contado um caso em que a excelsa esposa de um banqueiro se deslocava regularmente a Nova Iorque – em Falcon privado pago pelo BCP – para ir ao dentista e fazer compras! E que o seu excelso marido (ex-presidente do BCP e membro da Opus Dei) dispunha de um batalhão de seguranças 24 horas por dia, também pagos pelo banco.
Será que uma pessoa com a consciência tranquila precisa da protecção de 40 seguranças? Nem Sadam Hussein tinha tantos…
6. Mas, afinal de contas, quem paga tudo isto?
Para além dos pequenos accionistas, é óbvio que são os clientes dos bancos, essa espécie sub-humana que a banca submete à escravatura e trata a chicote, essa legião de explorados que ainda olha para os bancos – e sobretudo para os banqueiros – com o temor reverencial de quem vê um santo como Jardim Gonçalves em cima de uma azinheira.
Quando um banco remunera um depósito a prazo com 1% de juros e cobra 33% nos cartões de crédito, é-lhe fácil conseguir dinheiro para cobrir todos os excessos e bacanais financeiros do sistema bancário. Quando um banco paga metade dos impostos de qualquer empresa em situação difícil, o dinheiro jorra, enche os cofres dos bancos e os bolsos dos banqueiros.
É nisto que estamos. Até quando?
Será que a um sistema que assim existe e que assim funciona – encostado ao Poder e protegido pela Lei – se pode chamar Democracia?
PS – E que ninguém, de má consciência, tenha a desvergonha de me vir dizer que isto é demagogia!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

AUMENTAR A VIDA


Aumentar a vida. Eis a missão do artista, segundo Henry Miller. De facto não estamos aqui para outra coisa. A "vida" quotidiana, a vidinha do trabalho é essencialmente tédio, rotina. O artista, ao ultrapassar-se a si próprio, ultrapassa também a vidinha. Quando lemos Henry Miller, quando lemos algo que aumenta a vida, quando criamos algo que aumenta a vida, estamos a alimentar-nos, estamos a alimentar a nossa alma. Enchemo-nos de júbilo. Engrandecemo-nos. É isso que nos faz estar aqui, é isso que nos faz continuar.