terça-feira, 13 de novembro de 2012
A ESSÊNCIA
No “Ceuta” como há 26 anos. Na altura escrevia uns poemas de vez em quando, lia muito. Frequentava a Faculdade de Economia, ainda não tinha desatinado com o curso. À semana ficava na casa de Vilar do Pinheiro com o meu pai. À terça ia para Braga e voltava na quinta. Ao fim-de-semana também ficava em Braga. Comecei a sentir-me deprimido na Faculdade mas como estava sempre a ir para Braga a situação não se agravou. Foi em Braga que comecei a sair à noite, a ir aos concertos, a apanhar bebedeiras. Aqui no Porto ia às livrarias, às sextas estava com a minha prima. Comprava livros. Hoje estou, de novo, aqui no “Ceuta”. Acabo de participar numa acção contra a Merkel.
Não tenho vontade nenhuma de ter um trabalho normal e, de qualquer forma, seria difícil alcançá-lo. Em vários aspectos coloquei-me à margem. Identifico-me com o xamanismo da Fátima Vale. Sou um estudioso mas sigo a religião da embriaguez. Acho ridículos e quadrados a Merkel, o Passos, o Cavaco. Acho ridículos os banqueiros, os especuladores, os grandes empresários e os grande media que nos controlam. São seres sem alma, sem amor, sem virtude. São assassinos que matam gente à fome. São vendilhões que nos vendem notícias formatadas, manipuladas. Penso até que deveriam ser expulsos do planeta tal o mal que nos fazem. Posso estar aqui sozinho com uns trocos no bolso mas considero-me digno da vida, rei de mim próprio. Não tenho dívidas à troika nem a ninguém. Movo-me livremente, escrevo livremente, escrevo com o meu próprio sangue. Ninguém me vem impor regras, ninguém me vem dizer o que devo dizer ou fazer. Era isso que eu começava a compreender há 26 anos quando era esse rapaz que se revoltou contra a economia. Ninguém tem o direito de jogar com a minha vida, ninguém me tira daqui. Sou absolutamente único. Sou absolutamente irrepetível. Venho de reis malditos, de outras eras, de outros seres, de outros sóis. Tenho todo o direito de estar aqui com uns trocos no bolso ou sem nenhuns. Estou vivo, porra! Tenho asma, tenho apneia mas estou vivo. Eles não são mais do que eu. Eles são menos do que eu. Faço guerrilha com a caneta. Espeto-lhes palavras nos cornos. Teria vergonha de ser igual a eles. Estou vivo, porra! Tenho um percurso. Se calhar já estava aqui há mil anos atrás. Sabes, eu não sou bem como os outros. Eu procuro a ideia de bem como Platão. Já fui a tribunal, já fui à Judiciária. Já enfrentei o sistema. Tenho todo o direito de estar vivo, de respirar, de escrever. Não há deuses acima de mim, talvez eles estejam dentro de mim. Hoje, 12 de Novembro de 2012, no café “Ceuta”, proclamo o meu reino. Danço, canto como o super-homem de Nietzsche. Sei que o homem e a mulher procuram a sua metade, a metade perdida. Sei que o homem e a mulher não estão satisfeitos. Não basta fazer manifestações. É preciso ir à essência. A essência do homem, da mulher está ferida, violentada. Eis o que os capitalistas e os mercantilistas conseguiram ao longo dos séculos. Mas nós não somos da mesma raça. Nós combatemos a morte em vida. Nós exigimos o sublime. Nós somos os novos magos. Nós queremos reinar sobre a terra.
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