sábado, 31 de janeiro de 2009

COMEÇAS A FICAR MESMO LIXADO, Ó ARROGANTE

Conversas em 2002 e 2003 repetidas a várias pessoas
Testemunhas ouviram Manuel Pedro dizer que pagou 500 mil contos a Sócrates
31.01.2009 - 12h27 PÚBLICO
Duas pessoas ligadas à empresa Smith & Pedro testemunham que Manuel Pedro, o sócio português da empresa de consultoria Simth & Pedro, disse várias vezes que pagou 500 mil contos (2,5 milhões de euros) ao então ministro do Ambiente e actual primeiro-ministro, José Sócrates, para que o projecto do centro comercial Freeport fosse autorizado do ponto de vista ambiental, para que pudesse avançar o processo de licenciamento, noticia hoje o semanário “Expresso”.

O jornal conta que esta semana ouviu pessoalmente as duas testemunhas, que disseram ter ouvido várias vezes, e na presença de outras pessoas, entre 2002 e 2003, aquela afirmação da parte de Manuel Pedro. As testemunhas não são identificadas pelo jornal.

O euro já tinha sido introduzido como moeda única, mas as notas e moedas de euros só começaram a circular em 2002, por isso nessa altura muita gente ainda falava em quantias em escudos e contos. A Smith & Pedro intermediou o negócio do Freeport e fechou as portas após o início das investigações ao caso.

O “Expresso” conta que soube que esta afirmação de Manuel Pedro a admitir uma comissão ilegal ao então ministro do Ambiente do primeiro-ministro socialista António Guterres não foi ainda denunciada aos procurados do DCIAP (Departamento Central de Investigação e Acção Penal, dirigido por Cândida Almeida) que assumiram o caso no final do Verão passado.

Em Alcochete começaram mais tarde a correr boatos sobre avultados pagamentos em “luvas” pela aprovação do Freeport, que as testemunhas do “Expresso” ligam àquelas repetidas afirmações de Manuel Pedro.

No mesmo artigo, fala-se de “um sentimento generalizado de medo e retracção” entre as pessoas que tiveram relações profissionais com o empresário, “pelo facto de o nome do actual primeiro-ministro estar envolvido no processo e do que isso poderá significar para o futuro das suas carreiras caso se comprometam com depoimentos tão graves e directos.”

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

POETA PANFLETÁRIO


Chove, sem parar, lá fora
e eu cá dentro co Pacheco e Al Berto
mantenho a conversa em dia
antes que feche a confeitaria
à falta de amigos reais
fala-se com os poetas
não está mal
sempre se aprende alguma coisa
as técnicas, a arte da literatura
com os mestres
não estou interessado em guerrilhas
com os meus iguais
como o Castro
e há uns tempos
que não me apresento a eleições
apesar de ter ultimado
mais um manifesto do PSSL
que vou mandar à Carlinha
que me quer entrevistar
no Jornal de Amarante
terra onde espero voltar
em Fevereiro
e a caneta foi-se
mas a D. Maria, de pronto,
me arranjou outra
os poetas panfletários
também podem ter maneiras
não andam sempre
a insultar toda a gente
a amaldiçoar o presidente
e vão jantar a horas
lêem o jornal
vêem o Telejornal
e adormecem pouco depois da meia-noite.

MANIFESTO DO PSSL

O Partido Surrealista Situacionista Libertário (PSSL) opõe-se à vidinha do rebanho, previsível, rotineira, sem interesse de todos os dias. O PSSL opõe-se à não-vida do mercado, da economia, do dinheiro, do lucro, do governo, do défice, das décimas, das percentagens. O PSSL recusa que o homem se reduza à condção de número, de mercadoria, de objecto de compra e venda, o PSSL abomina a troca mercantil "que emporcalha as relações humanas". O PSSL quer silenciar o discurso assexuado dos economistas. O PSSL acredita no amor, na liberdade e na poesia como forças inaugurais de um mundo onde o homem seja criador, deus, poeta. O PSSL acredita na vida autêntica, plena, divina tornada banquete permanente, onde sejamos profetas e afirmadores da vida. O PSSL quer acrescentar caos ao caos actual de forma a atingir a revolução. O PSSL entende que a culpa da crise do capitalismo é do próprio capitalismo e que, portanto, é preciso derrubá-lo mas sem as tácticas eleitoralistas dos partidos e organizações tradicionais que apenas contribuem para o reformar. O PSSL não acredita em transições pacíficas para o socialismo nem para o anarquismo por isso defende a revolta permanente.

OS MEUS AMIGOS


Ao André


os meus amigos
pagam-me jantares
e dão-me cerveja
se não fosse isso
levava uma vida casa-café
café-casa
como aqui em Vilar do Pinheiro
apesar da Maria e das outras senhoras
serem muito simpáticas
e de nunca me perguntarem qual a minha profissão
e de me deixarem ficar a dever 10 cêntimos

as últimas vezes
que tenho bebido
não me tenho sentido eufórico
limito-me a observar os outros
a cantar e a tocar viola
já quase esqueci a euforia do ano novo
ouvia vozes
o que vale é esta história do primeiro-ministro
para um gajo se rir um bocado
senão era a pasmaceira do costume
com uns copos a mais
com uns copos a menos
bem, sempre é melhor
do que andar por aqui
movido a café
sem movida nenhuma
quando um gajo sai à noite
sempre há a perspectiva da diversão
e os amigos
que nos pagam
copos e jantares.


Vilar do Pinheiro, 30.1.2009

MANA CALÓRICA


A banda Mana Calórica dá um concerto no Centro Português de Fotografia, antiga Cadeia da Relação, no Porto, amanhã, sábado, pelas 18 horas. O evento inser-se no lançamento da revista "Maioclaro".

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

AI SÓCRATES, SÓCRATES, QUE CAIS

Caso Freeport
Autoridades inglesas consideram Sócrates suspeito e querem ver contas bancárias do primeiro-ministro
28.01.2009 - 19h22 Sérgio B. Gomes, São José Almeida, Romana Borja-Santos
As autoridades inglesas consideram o primeiro-ministro José Sócrates suspeito no caso Freeport, de acordo com a próxima edição da revista "Visão" que sairá para as bancas amanhã. Por seu lado, a revista "Sábado" afirma na edição que também será publicada amanhã que "os investigadores ingleses querem ver as contas bancárias do primeiro-ministro". A Procuradoria-Geral da República informou que amanhã será divulgado um comunicado sobre o caso.

Ainda de acordo com a "Sábado", "as autoridades portuguesas estão a investigar um email que terá sido enviado pela empresa Smith & Pedro [intermediária no processo de licenciamento do "outlet"] para um alegado domínio pessoal de Sócrates". Este pedido, avança a mesma revista, "consta da carta rogatória que chegou este mês à Procuradoria-Geral da República" e "implicaria a quebra do sigilo bancário relativo às contas do primeiro-ministro".

Na carta rogatória, enviada às autoridades portuguesas pelo Serious Fraud Office - a unidade da justiça inglesa que investiga crimes económicos mais complexos -, a polícia quer ainda saber se José Sócrates terá “solicitado, recebido ou facilitado” pagamentos no âmbito do licenciamento do "outlet", diz a "Visão". Ainda de acordo com na revista, “os investigadores também apontam o dedo a Manuel Pedro e Charles Smith”, consultores contratados pelo Freeport para ajudarem nos trâmites necessários ao licenciamento do processo, e a quatro responsáveis ingleses ligados à empresa promotora.

A “Visão” recorda ainda o DVD com uma conversa entre Charles Smith e um administrador do Freeport, em que o primeiro terá confessado o pagamento de luvas e referido o nome de José Sócrates, na altura ministro do Ambiente . A alegada prova terá sido dada a conhecer às autoridades portuguesas em Novembro, mas a procuradora Cândida Almeida terá dito que aquele material nunca poderia ser incluído num processo em Portugal. Charles Smith já desmentiu também o pagamento de quaisquer luvas.

No artigo é ainda referida uma carta enviada pelas autoridades portuguesas, em que pedem aos ingleses para dizerem se Júlio Monteiro, tio de Sócrates, Charles Smith ou Manuel Pedro (sócio da consultora) tinham contas bancárias em Inglaterra ou em “paraísos fiscais”. A resposta nunca chegou mas a insistência sobre Sócrates manteve-se o que, segundo a “Visão”, pode dever-se aos conflitos institucionais que ficaram depois do caso Maddie e ao convite a Robert Mugabe para estar presente na Cimeira UE/África, sabendo que isso implicaria a ausência no primeiro-ministro inglês,

Perante as novas informações divulgadas hoje, o assessor de José Sócrates, Luís Bernardo, declarou ao PÚBLICO: “Remetemos qualquer questão sobre essas notícias para as declarações de hoje da procuradora Cândida Almeida e também para as declarações do próprio José Sócrates no hemiciclo da Assembleia da República e ainda para o comunicado anteriormente divulgado”.

José Sócrates nega assim, através da declaração do seu assessor qualquer actuação irregular em relação ao caso de aprovação da construção do complexo do Freeport em Alcochete, tal como tem feito desde o primeiro momento deste caso.

Alterações à Zona de Protecção Especial

O caso Freeport tornou-se público em Fevereiro de 2005, quando uma notícia do jornal “O Independente”, a escassos dias das eleições legislativas, divulgou um documento da Polícia Judiciária (PJ) que mencionava José Sócrates, então líder da oposição, como um dos suspeitos, por ter sido um dos subscritores daquele decreto-lei quando era ministro do Ambiente. Posteriormente, a PJ e a Procuradoria-Geral da República (PGR) negaram qualquer envolvimento do então candidato a primeiro-ministro no caso Freeport. Em Setembro passado, o processo do Freeport passou do Tribunal do Montijo para o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP).

Já este ano, a 10 e 17 de Janeiro, o Ministério Público emitiu comunicados a esclarecer que, até àquele momento, não havia indícios do envolvimento de qualquer ministro português, do actual governo ou de anteriores, em eventuais crimes de corrupção relacionados como o caso e, na semana passada, prometeu levar a investigação até ao fim.

O processo relativo ao espaço comercial do Freeport de Alcochete está relacionado com suspeitas de corrupção na alteração à Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo decidida três dias antes das eleições legislativas de 2002 através de um decreto-lei. Apesar disso, no fim-de-semana passado, o primeiro-ministro garantiu que participou em apenas uma reunião relacionada com o empreendimento Freeport, na Câmara Municipal de Alcochete, que teve como único objectivo "a apresentação das exigências ambientais que tinham levado ao chumbo do projecto".

www.publico.clix.pt

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

DEUSES


Despedacemos os carneiros
rebentemos com a economia
rebentemos com o real
demos o caos ao caos
tornemo-nos deuses

Olha! Somos deuses!
Dancemos
dancemos com as bacantes
loucos
em delírio
até ao fim dos dias
até que chegue Ariadne

naveguemos até à ilha

Olha! Somos deuses!
Nada nos pode deter
somos deuses
nada há a perder.

DEMOS CAOS AO CAOS


Nestes tempos de crise das bolsas, dos bancos, dos negócios, nestes tempos de falência, de desemprego em massa, em que a vida perde o seu valor, a mensagem de Nietzsche e de Jim Morrison ganha uma actualidade única. Ao homem-mercadoria, ao homem-percentagem, ao homem-número, ao homem vencido, há que opôr o homem criador, o homem que diz sim à vida, não à vidinha da submissão, não à vidinha da rotina, não à vidinha do rebanho, mas sim à vida plena, à vida alegre, à vida autêntica. É possível passar do sub-homem ao super-homem se acreditarmos que, como disse Jim Morrison, isto não passa de um jogo, de um jogo imbecil. Se num desafio de futebol um jogador, uma estrela qualquer, decidir, de repente, pontapear a bola para fora e, pura e simplesmente, abandonar o campo toda a gente vai dizer: ponham esse palhaço na rua! Mas ele responde: ora, isto não passa de um jogo, da merda de um jogo, não sei porque lhe dão tanta importância. E o que temos de fazer é isso: abandonar o jogo, deixar que façam de nós escravos, imbecis. Temos de fazer alguns sacrifícios, seguir a nossa via ("solitário, segue o caminho que conduz a ti mesmo", diz Nietzsche), descurar a sobrevivência, abandonar a máquina mas o ganho será muito superior: tornar-nos-emos livres, poetas, filósofos, super-homens. Temos de nos juntar, fazer a revolução, mas não uma mera revolução política como a de 1917, como a de 25 de Abril, uma revolução global do espírito, das consciências. Teremos de ser até algo irracionais contra a pretensa racionalidade das bolsas, dos bancos, das empresas, da economia. TEmos de derrubar todos os governos. Destruir para construir. Começar do zero. Não ouçamos os jogos eleitoralistas e tácticos dos partidos políticos, dos sindicatos e das outras organizações. Sejamos nietzscheanos, morrisonianos. Punhamos à prova os limites da realidade. SEjamos doidos! Sejamos poetas! Superemos o homem, superemos o real. Construamos a vida. Sejamos afirmadores da vida. Afastemos a morte! Afastemos Deus, o capital e o dinheiro! Brindemos a Dionisos. Construamos o Céu na Terra, o Paraíso na Terra. O mundo é nosso. Não há regras. Não há limites. Queimemos o dinheiro! Queimemos a economia! Calemos para sempre os economistas. Sejamos, como disse Nietzsche, "decifradores de enigmas". Tornemo-nos deuses em vez de carneiros. Demos caos ao caos.

domingo, 25 de janeiro de 2009

DIÁRIO


Lê-se
e não sobra nada
fica a pacatez de uma confeitaria vazia
e uma cerveja que se vai bebendo
na ausência do bêbado proscrito
há palavras que ficam
mulheres que ficam presas ás palavras
ainda há livros meus nas livrarias
a chuva bate lá fora
sou o poeta que, de vez em quando,
sai nos jornais
mas que está sem editora
as empregadas riem
e eu tenho o grande Luiz Pacheco
à minha frente
não tenho dinheiro para continuar a beber
como em Braga
a Idolátrica
apesar de tudo, sinto-me próximo da luz
apesar de tudo, há algo que me conduz
rumo ao sublime
mas a cerveja está a acabar
pouco mais há a contar
numa confeitaria pacata e vazia
as velhas barulhentas já saíram
e os carros continuam a passar
tal como o "Circo de Feras" do Xutos
tantas vezes ouvi isto
tantas vezes enamorado a pensar nisto
e a cerveja acaba
não há cacau para mais
resta-me regressar a casa.

POESIA


PUBLICO.PT

PÚBLICO: Edição Impressa Versão para cegos
18 de Janeiro de 2009 - 05h21

Secções PÚBLICO Edição Impressa: SUP. PÚBLICA, Destaque, Opinião, Portugal, Mundo, Temas, Economia, Desporto, Local Lisboa, Local Porto

Suplementos PÚBLICO: PÚBLICA, ÍPSILON, FUGAS, ECONOMIA,

Esta rua podia chamar-se "Rua da Poesia"
José Pedro Barros


As palavras de Cesariny ou de Eugénio de Andrade dão o mote a uma artéria onde
há bares, restaurantes, artesanato português e muita cultura despretensiosa

a Não se sabe bem como, mas o vírus da poesia parece ter contagiado toda a Rua Nova da Alfândega. Senão, vejamos: aqui temos o Clube Literário do Porto, onde há vários eventos ligados à arte de fazer versos, e as noites poéticas do bar Púcaros e do Clube das Avós. Para além disso, o café Porto Rosa e a loja de artesanato português Coração Habitado devem pelo menos o nome à poesia. Antes que o portuense mais atento comece a abanar a cabeça com um ar reprovador, assumimos a batota: neste texto, "anexamos" a Rua de Miragaia e o Largo da Alfândega. Não nos parece nada disparatado: foi a abertura da Rua Nova da Alfândega (entre 1869 e 1871), necessária para a ligação do edifício ao centro da cidade, que desenhou a actual configuração da Rua de Miragaia. Agora, é uma espécie de cave, amparada por um muro e dividida a meio pelo Largo da Alfândega.
A área geográfica aqui abordada, dividida entre as freguesias de São Nicolau e de Miragaia, é uma das mais rústicas da cidade e mantém um ambiente de bairro. "Ainda se ouvem as mães à janela a chamar os miúdos", nota Maria Inês Castanheira, programadora do Clube Literário do Porto. São esses mesmos miúdos que andam pendurados no eléctrico da Linha 1 - "o condutor até pára o veículo para lhes ralhar" - e que descem a vizinha Rua do Comércio do Porto de bicicleta, a alta velocidade, sem muita preocupação pelos transeuntes. Jorge Andrade, proprietário do atelier de escultura e cerâmica Arcos de Miragaia, prefere destacar que os habitantes são "pobres, mas solidários". No seu espaço, recebe crianças da zona ou dos problemáticos bairros do Aleixo e do Lagarteiro, especialmente durante o Verão, e também vende as suas obras, a partir de 10 euros. Até 2001, Jorge Andrade nunca tinha modelado uma única peça, mas um curso desenvolvido no âmbito da extinta Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto despertou-lhe a curiosidade. No entanto, confessa que é o único dos 16 alunos, com "problemas de droga e marginalidade", que "sobreviveu" com os ensinamentos daí retirados. As suas curiosas e despretensiosas criações justificam uma visita.

A tertúlia mais antiga
Mas retomemos o tema principal, a poesia, pelo exemplo do Clube Literário do Porto. Pertença da Fundação Luís Araújo, e inaugurado em 2005, este é um espaço multifuncional que combina livraria, piano-bar, duas galerias, auditório e uma agenda cultural diversificada e de entrada gratuita. Às sextas e sábados à noite, há música clássica ou jazz e os eventos poéticos permanentes são mensais: a tertúlia Quartas mal ditas, na última semana de cada mês, e Poesia de choque. Nestes eventos, cruzam-se alguns dos nomes que fazem a mais famosa noite de poesia do Porto: é no bar Púcaros, nas arcadas da Rua de Miragaia, e dá-se religiosamente às quartas-feiras, depois do toque de uma sineta, para lá das 23h00. De acordo com o proprietário, Carlos Pinto, trata-se da "tertúlia poética ininterrupta mais antiga da cidade", levando já 12 anos. Os novatos que queiram declamar são sempre bem-vindos. Para ajudar a descontrair, o ex libris é a sangria, servida nos púcaros que dão o nome à casa. Para terminar, há o Clube das Avós, que na primeira sexta-feira de cada mês organiza sessões de poesia, na Junta de Freguesia de São Nicolau. O evento é aberto ao público em geral.
Mas a torrente poética não acaba aqui. O café Porto Rosa, no Largo da Alfândega, tem nos vidros dois dos versos mais famosos de Mário Cesariny: "Queria de ti um país de bondade e de bruma/ queria de ti o mar de uma rosa de espuma". Lá dentro, há serviço de cafetaria e pratos do dia, com alguma sofisticação, ao almoço. Perto do Clube Literário, temos a Corações Habitados, designação inspirada no poema Coração Habitado, de Eugénio de Andrade. A proprietária, Isabel Dores, fez uma pesquisa por todo o país, em busca de objectos de artesão portugueses, desde os tradicionais aos mais urbanos. Aqui há livros, produtos gourmet, vestuário e sabonetes da Ach. Brito ou Confiança.
O Rádio Bar é uma alternativa no capítulo da noite. É um sítio pequeno, com paredes de pedra, calmo durante a semana, animado e mais electrónico nas noites de sexta-feira e sábado. O Giroflée, no número 1 da rua, é o espaço de restauração mais requintado das redondezas, sem ter um preço exorbitante (uma média de 20 euros por pessoa). A cozinha é de raiz portuguesa, mas com uma apresentação contemporânea. Se estiver numa de tapas, o La Pausa, uns passos à frente, é mais económico.
Falta falar do edifício que dá o nome à rua: a Alfandega Nova, construída sobre estacaria no antigo areal de Miragaia, e inaugurada em 1869. Em 1993, foi restaurada para instalar o Museu dos Transportes e Comunicações, de acordo com um projecto do arquitecto Souto Moura. Por 3 euros, é possível visitar duas exposições permanentes (O Automóvel no Espaço e no Tempo e o Museu das Alfândegas) e a temporária Duas Arquitecturas Alemãs: 1949-1989, até 5 de Fevereiro. Aqui também há uma bela e pouco conhecida biblioteca, onde é possível estudar com o rio Douro como pano de fundo.

sábado, 24 de janeiro de 2009


As mãos o medo a loucura
na fotografia do Rui Sousa
já não o vejo há uns tempos
tenho de lhe fazer uma visita
aqui na "Motina"
as coisas correm mornas
como uma meia-de-leite
leite que vem da teta
das mamas que apetece chupar
e a velha que não larga o jornal
nem os casos da polícia
que fazem a delícia
do cidadão comum.

MENINA BONITA


Uma menina bonita, afectuosa e comunicativa surge no café. Os gajos da "Voz da Póvoa" aligeiraram a minha prosa. É bom haver meninas tão simpáticas no meio deste marasmo. É bom haver meninas que nos olham quando dizemos poesia. E ela vai, pega nos cafés, arruma as mesas. Mal sabe que sou o poeta a que alguns chamam de maldito. Mal sabe que sou um poeta e que venho para o café olhar para as meninas e escrever sobre elas. POr falar nisso, vou pedir outro café para aguentar a leitura do Jim Morrison. Como há 21, 22 anos. Em Braga. Na Faculdade de Economia do Porto. A fazer que estudava. A vida às voltas. A vida que não está na TV nem nas séries juvenis. A vida vertiginosa, perigosa, sem limites que, às vezes, vem ter com a minha vida pacata.

AI, JOSÉ

Tio e primo do chefe do Executivo terão tentado cobrar favor por promover encontro com intermediário do empreendimento
Licenciamento do outlet de Alcochete põe primeiro-ministro em xeque
24.01.2009 - 00h18 PÚBLICO
José Sócrates viu-se ontem à noite no centro da polémica do licenciamento do Freeport de Alcochete, depois de a TVI ter posto no ar partes de uma entrevista dada ao semanário "Sol" pelo seu tio, Júlio Eduardo Coelho Monteiro, onde este afirma ter proporcionado uma reunião entre o promotor do empreendimento, o britânico Charles Smith, e o último ministro do Ambiente do Governo Guterres. Já perto das 22h00, o primeiro-ministro emitiu um comunicado em nome pessoal garantindo que “a aprovação ambiental do empreendimento Freeport cumpriu todas as regras legais aplicáveis à época”, rejeitando “todas as insinuações e afirmações caluniosas que envolvem o meu nome a propósito deste caso”.

Júlio Monteiro, tio de José Sócrates, reconheceu numa entrevista ao "Sol" que viabilizou uma reunião entre o responsável da consultora encarregue de conseguir o licenciamento do Freeport, Charles Smith, e o seu sobrinho, então ministro do Ambiente. Júlio Monteiro, que conhecia Smith porque a mulher era administradora na Quinta do Lago, diz que este se queixou que um gabinete de advogados lhe estava a pedir quatro milhões de contos pelo licenciamento do outlet. Incrédulo com a situação, Júlio Monteiro aconselhou o inglês a falar com o sobrinho e colocou Sócrates a par do assunto. “Foi através de mim que ele [Charles Smith] conseguiu esta audiência”, sustenta Júlio Monteiro, que garante nunca mais ter sabido do assunto. “Eu até fiquei chateado. Usam o meu nome e depois nem um obrigado.”

Na edição de hoje, o "Sol" revela pela primeira vez que o ministro de Guterres referido numa conversa entre Charles Smith e um administrador do Freeport é José Sócrates. Nessa conversa, gravada pelo administrador com recurso a uma câmara oculta, Smith diz que gastou avultadas quantias em “pagamentos corruptos”, de acordo com o que ficou combinado numa reunião com Sócrates. Este vídeo fará parte do processo de investigação que corre no Reino Unido, onde estará igualmente um e-mail enviado para o Freeport a pedir uma recompensa pelo desbloqueamento do licenciamento.

Essa mensagem electrónica é também notícia do semanário "Expresso" de hoje. Na edição online de ontem, o filho de Júlio Monteiro, Nuno Carvalho Monteiro, confirma a existência de um encontro entre um intermediário do negócio do Freeport e o então ministro do Ambiente. Ao Expresso, Nuno confirmou que, na sequência dessa reunião, a empresa de publicidade da família enviou um e-mail aos responsáveis do outlet “a cobrar o favor”. A intenção era, segundo contou ao "Expresso", que a empresa britânica usasse a agência de publicidade para promover o empreendimento.

O Freeport nunca terá respondido ao correio electrónico, mas terá sido este documento — acrescenta o "Expresso" — que levou as autoridades judiciais britânicas e portuguesas a relacionarem o tio de José Sócrates ao alegado pagamento de luvas para a aprovação do empreendimento de Alcochete. Contactadas pelo PÚBLICO, as autoridades inglesas continuam, contudo, a não fazer qualquer comentário sobre este caso.

José Sócrates confirma, no seu comunicado, ter havido uma reunião alargada no Ministério do Ambiente com os promotores do empreendimento, vários dirigentes do ministério e o secretário de Estado do Ambiente, Rui Gonçalves, assim como a Câmara de Alcochete, à qual atribui o pedido da reunião. “Admito, embora não recorde esse facto, que também o meu tio, Júlio Monteiro, me tenha pedido para receber os promotores de modo a esclarecer a posição do Ministério do Ambiente sobre o projecto”, acrescenta.

O governante esclarece que essa reunião — única em que diz ter participado — serviu apenas para os promotores afirmarem a sua intenção de reformular o projecto e para o ministério esclarecer as condições ambientais exigidas pela última declaração de impacte ambiental. De resto, acrescenta Sócrates, esta declaração “foi emitida pelo secretário de Estado do Ambiente [...] sem qualquer interferência da minha parte”.

A 14 de Março de 2002, três dias antes das eleições legislativas que retiraram o PS do poder, o Conselho de Ministros aprovou o decreto-lei que procedia à redefinição dos limites da Zona de Protecção Especial do estuário do Tejo. Aprovou-se igualmente o terceiro Estudo de Impacto Ambiental, essencial para licenciar a construção naquela área.

Em 2004, o Ministério Público do Montijo começa a investigar suspeitas de corrupção no licenciamento do Freeport de Alcochete, com base numa denúncia anónima. No ano passado o processo passa para a tutela do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, onde está actualmente. Esta quinta-feira, depois de no início da semana ter recebido das autoridades britânicas uma carta rogatória a pedir novas diligências, o DCIAP e a Polícia Judiciária realizaram buscas ao domicílio e escritório de Júlio Monteiro (onde apreenderam documentos), à sede da sociedade de advogados Vieira de Almeida e ao gabinete de arquitectura Capinha Lopes, que concebeu o Freeport de Alcochete.

POETA


Estou no "Piolho"
e escrevo
enquanto a TV fala de perseguições a funcionários
também eu, às vezes, me sinto perseguido
mas não por instituições nem por funcionários
por vozes
por pessoas concretas
que entram na minha cabeça
de resto, não sou funcionário de coisa nenhuma
e provavelmente nunca serei
sou apenas o gajo que escreve
o poeta
sim, posso dizer que sou poeta
apesar de ultimamente as relações com as editoras
não serem famosas
e a recessão, dizem
a recessão chegou à edição
e as gajas não param de entrar
quantas mais melhor
pode ser que alguma se sente à minha frente
e comece a falar:
"ah, então és tu o poeta
que costuma ir ao Púcaros,
e que há pouco esteve no Clube Literário?"
Sim, sou eu, sou o homem
àparte isso não sou mais nada
escrevo, digo poemas e sei umas coisas de política
nada mais
tudo o resto me passa ao lado
como o fado
e as teses do Rocha
e lá se foi a gaja que tu até conheces
não a chamaste
chapéu!
Continuas sózinho
e já bebeste o teu copo de vinho
enquanto os outros se empanturram
com francesinhas
se ao menos a Gotucha estivesse aqui
nem os chatos do costume aparecem~
és o poeta
não há dúvida
às vezes até te acham piada
tens a luz, o espírito
mas não és o deus que às vezes te julgas
nem és melhor do que os outros
escreves estes poemas longos
porque te saem
nada mais
não quer dizer que escrevas melhor
do que há 10 anos
apenas escreves mais
estás sempre a escrever
e isso também te ajuda a combater
as depressões
até já te dizem para teres cuidado
com os poemas que recitas
não vás escandalizar a populaça
não és como o Jim Morrison
não és bem como ele
mas herdaste algo de transgressor, de excessivo
as miúdas perguntam-te como vais ser no espectáculo
e tu lá te explicas
não te saem grandes explicações
e desconfias do Obama
achas que o colocaram nos píncaros
e agora a coisa vai doer
esta merda é a doer
e tu sabes que estás do lado da vida
és uma espécie de profeta da liberdade
por estranho e pouco organizado
que possa parecer
dentro de momentos tens a coisa no "Gato Vadio"
e depois ainda vais ao "Púcaros"
é sempre a abrir
ao menos quando estás assim estás activo
não é como quando ficas em casa deprimido
a olhar para as paredes
por muito que leias
por muito que te deixes levar pela leitura
por muito que queiras saber mais
és o poeta
és definitivamente um poeta
ninguém o pode negar
nem os puristas da literatura
nem os versejadores da corte
és um poeta
e, uma vez mais,
vais para o palco
amas o palco
amas que te olhem
que te batam palmas
que te amem
vieste ao mundo para ser
o centro das atenções
vieste ao mundo para ser amado
escreves um bocado à Álvaro de Campos
um Álvaro de Campos beatnick
um Álvaro de Campos no sec. XXI
e não consegues parar
falta-te uma gaja
falta-te definitivamente uma gaja
senão andarás sempre desiquilibrado
senão andarás sempre desorganizado
senão vais continuar a atirar-te contra a parede
convencido de que atravessas para o outro lado
como o Jim
convencido de que aguentas sempre
na estrada da subversão
convencido de que vais cantar a canção
convencido de que tudo está a rolar
como o rock n' roll
e que, na verdade, te afundas.



A. Pedro Ribeiro, 21.1.2009, Porto, Piolho.

Tenho a consciência de que estou a escrever uma tese filosófica. Talvez ela venha aos repelões, aos aforismos. Mas ela está a vir, tenho a certeza. Há bocado saiu daqui uma gaja jeitosa mas entrou muda e saiu calada. Estas tardes em Vilar do Pinheiro entediam-me. Nada se passa a não ser as minhas leituras. Desta feita, "Mensagens Revolucionárias" de Artaud e os "Últimos Escritos de Jim Morrison". Falta-me uma cerveja para acelerar. Mas não há cacau, gastei-o em fotocópias para a sessão de quarta-feira no "Gato Vadio". Mais uma oportunidade para brilhar. Só falta que as gajas venham ter comigo no fim do espectáculo e me amem e me beijem na boca. Começo a ficar com uma certa fama. AS pessoas reconhecem-me nos cafés e nas ruas. AS pessoas saúdam-me e eu não me lembro de onde as conheço. Mas a vida continua uma seca. Amanhã estarei em Famalicão. Agora lembraram-se de misturar o fado com a poesia. Isso não me afecta. Não sou fadista. A criança sorri para mim. Não há gajas para comer. Só automóveis a passar. E troféus expostos para a melhor confeitaria da zona. As pessoas falam com as crianças e parecem atrasadas mentais. Aliás, as pessoas parecem atrasadas mentais de qualquer forma. E chega a D. Rosa e suaviza-me a prosa.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

RIMBAUD

Um poeta torna-se um sonhador através de um longo, ilimitado e sistemático desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; investiga_se a si pròprio; consome dentro de si todos os venenos e preserva as suas quintessências: Um TORMENTO indescritìvel; ONDE irà encontrar a maior fè; uma força sobre_humana; com que se torna; entre todos os homens_ o grande invàlido; o grande maldito_ e o supremo cientista! Pois alcança o desconhecido! e o que interessa se for destruìdo no seu voo ex^tàtico por coisas inauditas e inominàveis:

DA UNIÃO DA ARTE COM A VIDA

A união da arte com a vida, eis o essencial para combater a sub-vida do sub-homem. Para combater a vidinha previsível, cheia de tédio com que banqueiros, capitalistas, economistas e políticos nos presenteiam. A união da arte com a vida para combater o império do deus-dinheiro que substituiu o outro Deus. O deus-dinheiro que nos tira a vida, que nos tira a alegria, que nos converte em mercadorias, em objectos de compra e venda. Não é possível o homem descer tão baixo. Não é possível o homem tornar-se um farrapo que se arrasta por aí. O sub-homem diminui os grandes homens. Torna-os frágeis, medrosos, hesitantes, sem iniciativa. Esta é também a sociedade do espectador. "Quem fica sempre a olhar, para saber o que vem a seguir, nunca agirá; e, assim deve ser, realmente, o espectador", diz Guy Debord.
Esta é a sociedade do espectáculo onde não participamos, onde nos limitamos a bater palmas. Onde o sub-homem é passivo e obediente. Enquanto a arte estiver ao serviço do espectáculo, a vida não é possível. A arte tem de conduzir-nos a um problema vital e não à não-vida. O homem tem de ser actor e poeta. O homem tem de criar, transformar, derrubar os velhos valores, como preconiza Nietzsche. A revolução não pode ser meramente material, referir-se apenas ás condições materiais de existência. A revolução comunista, o marxismo, segundo Antonin Artaud, ignora o mundo interior do pensamento, restringe-se ao exterior, ao material, ao económico. É da vida interior que nasce a criação, do espírito. Temos de ser espíritos livres como defende Nietzsche e não meros receptáculos económicos. A economia é inimiga da vida. Todos os economistas deveriam ser silenciados. O prazer e a alegria interior devem ser ampliados.

AH, A FAMÍLIA


Primeiro-ministro recusa-se a comentar polémica
Caso Freeport: Sócrates espera que autoridades "façam o seu trabalho"
22.01.2009 - 17h00 Lusa
O primeiro-ministro espera que as autoridades judiciais sejam rápidas no trabalho que têm que fazer relativamente ao caso Freeport. José Sócrates recordou que durante a campanha eleitoral de 2005 o caso tinha sido abordado pela primeira vez, e alerta que o caso volta agora, quando vão ser disputadas eleições outra vez.

"Eu ouço falar disto desde a campanha eleitoral de 2005 e ouço agora novamente em 2009. Espero que procurem resultados que o país espera", disse o primeiro-ministro, à saída da Cimeira Ibérica, em Zamora, Espanha. Sócrates recusou-se a comentar as actividades das autoridades judiciais, e adiantou que espera que "façam o seu trabalho e o façam rápido".

O líder do PS disse que o licenciamento do projecto Freeport "foi feito obedecendo a todas as normas e exigências legais".

"E eu bem posso falar, porque era ministro do Ambiente. Embora não tivesse participado no licenciamento, o Ministério do Ambiente fê-lo obedecendo a todas as normas e exigências ambientais. Disse-o em 2005 e digo-o agora", frisou.

"O caso Freeport surgiu na campanha eleitoral de 2005 e volta agora, em 2009, quando vamos disputar novamente eleições", sublinhou. O primeiro-ministro reagia à notícia avançada pela edição online do semanário “Sol” que avança que as empresas de Júlio Carvalho Monteiro, empresário e tio materno de José Sócrates, bem como o escritório de advogados de Vasco Vieira de Almeida foram hoje alvo de buscas, no âmbito do “caso Freeport”.

Segundo disse Júlio Carvalho Monteiro ao semanário, a "Polícia levou diversa documentação", nomeadamente documentos de "offshores antigas". Numa empresa de Carvalho Monteiro, a ISA, em Setúbal, foi apreendida toda a contabilidade. Os investigadores referiram-lhe também um e-mail que terá sido enviado para o Freeport, sobre o licenciamento do "outlet".

Suspeitas de corrupção
O processo relativo ao espaço comercial do Freeport de Alcochete está relacionado com suspeitas de corrupção na alteração à Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo (ZPET) decidida três dias antes das eleições legislativas de 2002 através de um decreto-lei.

O caso tornou-se público em Fevereiro de 2005, quando uma notícia do jornal “O Independente”, a escassos dias das eleições legislativas, divulgou um documento da Polícia Judiciária. José Sócrates, então líder da oposição, estava descrito no documento como um dos suspeitos por ter sido um dos subscritores daquele decreto-lei quando era ministro do Ambiente.

Posteriormente, a Polícia Judiciária e a Procuradoria-Geral da República negaram qualquer envolvimento do então candidato a primeiro-ministro no caso Freeport. Em Setembro passado, o processo do Freeport passou do Tribunal do Montijo para o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), liderado pela procuradora-geral adjunta Cândida Almeida.

domingo, 18 de janeiro de 2009

À PROCURA DA REVOLUÇÃO


Andei à procura da revolução
mas não a encontrei
andei pelas sedes à hora marcada
e encontrei a porta fechada
errei pelo mundo
fui até ao fundo
e só vi futebol
bebi cerveja e vinho
enchi a pança
e nem vi rock n' roll
não há manifs
só o paleio dos palradores do futebol
a funcionar a toda a largura do campo
o risco sempre calculado
e as mamas da empregada
ao menos isso
com o crucifixo ao peito
em vez do Bakunine
procuro a revolução
mas não a encontro
mico as caras
mas não distingo camaradas
nem sequer Nietzsche nem o marquês de Sade
só tédio e pasmaceira
é isso que os gajos nos dão
tédio e pasmaceira
puta de vida!
Olha! Agarra-te às mamas da gaja
pode ser que ela te dê de mamar
só isso sobra
de revolução nada
só as revoluções das quatro da manhã
nos bares
onde toda a gente é capaz de tudo
partir vidros, pôr umas bombas
ver esta merda a arder
sabes quem eu sou?
Sou o gajo que bebe cerveja à tua frente
sou o gajo que come a gaja ao balcão
sou o gajo que procura a revolução
mas ela não vem
só vem cerveja
enquanto houver dinheiro para pagar
porque depois nem isso
nem as mamas da gaja te salvam
tornas-te um indigente
um parasita
um número ns mãos do ministro das Finanças
mais vale mandar foder tudo!
Pôr tudo a arder
como Nero
imperador de Roma
é isso que és agora
vê lá se te portas bem
se não te portares bem a polícia
vem pôr-te na ordem
a ti que queres a desordem
entre as mamas da gaja ao balcão
Só há futebol! Merda! Só há futebol!
Vem aí o Sporting!
O Sporting é mais importante do que a vida
e a gaja que vem jantar com o velho milionário
e eu que não tenho dinheiro para a sandes
e eu que procuro a revolução
e ela que não vem
espreita, por vezes,
mas esconde a cara
qual é a tua cara, ó revolução?
dá-me a insubmissão
a insubordinação
cura-me desta merda da pseudo-concórdia aparente
do sistema
faz-me dançar
cantar
andar livre pelas ruas
estoirar foguetes
partir vidros
pilhar bancos

e a cerveja acaba...

Porto, 18.1.2009

sábado, 17 de janeiro de 2009

DO HOMEM


Vivemos o tempo do sub-homem. Do homenzinho apagado, obediente, que segue os outros, incapaz de dizer "eu não vou por aí", como no poema de Régio. A religiao e o capitalismo reduziram o homem a uma caricatura de si mesmo, a um ser que não consegue ser livre nem consegue dizer basta. A mansidão, os cordeirinhos, os camelos, a obediência aos chefes, as palavras de Nietzsche continuam a fazer sentido em relação à sociedade contemporânea. É a sociedade do rebanho. Castra-se o desejo, castram-se os impulsos vitais, castra-se a própria vida. As potências originais da vida e o frémito fundamental da vida são relegados para segundo plano. O mundo dos padres e dos economistas é o mundo das castração. Que excitação podem causar percentagens da bolsa, números do orçamento, décimas, PIB's, IRS? Não é do sub-homem medroso que pode nascer o super-homem de Nietzsche. O super-homem de Nietzsche só pode surgir daquele que cria novos valores, daquele que grita "eu quero!" como o leão, daquele que é Artista, que enfrenta o perigo e se passeia pela corda-bamba do devir. O Artista é o menino que joga apenas com a vida, que faz dela um contínuo experimento de si mesmo e não pode ser um economista calculista nem um político virado para questões sectoriais como o funcionamento do mercado ou as preferências do gado eleitoral. É do Artista que nasce o Super-homem. Mas não do artista versejador da corte, do artista feito com o poder. "A arte tem o dever social de dar saída às angústias da sua época. O artista que não abrigou no fundo do seu coração o coração da sua época, o artista que ignora ser um bode expiatório, que o seu dever é atrair a si, como um íman, fazendo cair sobre os cseus ombros, todas as fúrias dispersas da época, de modo a livrá-la do seu mal-estar psicológico, esse não é um artista", disse Antonin Artaud. O Artista é que aquele que alberga as fúrias da época, é o artista da ruptura que cria novos valores: os valores da vida, da liberdade e do amor, como defendiam os surrealistas e não os valores da morte e do tédio. O super-homem, o Ubermensch, não é mais do que a superação do homem, no seu espírito, no seu corpo, na sua totalidade. O Artista tem de combater "o mundo (moderno) que perdeu todo o vigor no dia em que o homem se meteu em si mesmo e renunciou a procurar forças na vida difusa do universo", como diz Artaud. E acrescenta o poeta: "o homem da Europa sente-se cheio de tédio e não acha explicação para essa perda do gosto de viver. Não compreende que, à força de considerar a vida apenas sob o seu aspecto material acabou por confundir a vida com simples aparências mortas".

Que é Deus, senão a mais ignóbil invenção do homem? Uma espécie de consolo para as almas fracas e doentes. Um ser tirânico, castrador, um vendedor de ilusões. Quantos já não caíram em nome de Deus ou de Alá? Deus é um embuste. REsulta de um conjunto de rituais de feitiçaria. Deus só existe na cabeça de gente pequena, do sub-homem. Deus só existe para o rebanho.

A GAJA E O TÍMIDO


Amanhã vou ter um teste importantíssimo às minhas qualidades vocais e performativas. Amanhã tenho de estar em forma. De puxar o máximo por mim. De ser o animal de palco. O gajo que grita poesia. O gajo que vai ao fundo das coisas. O gajo que olha para a gaja ao balcão de preto e não tem coragem de lhe dizer a palavra a não ser para lhe pedir cafés e cervejas. Vais acabar como o Ramalho, companheiro. O que te vale é que a gaja te inspira enquanto arruma a loiça. Vais acabar a vender poemas pelos cafés. O teu "Á Mesa do Homem Só" ainda circula por aí. A gaja também, à tua frente. Como te apetece beijá-la, amá-la, tê-la nos teus braços. Mas não és capaz de lhe dizer uma só palavra. Uma única palavra. E ela lá te vai inspirando. A gaja que está do lado de lá do balcão. E tu escreves. EScreves como um louco. Escreves como nunca escreveste. Devias agradecer à gaja. Mas nem isso fazes. Falta-te uma cerveja. Falta-te uma merda de uma cerveja mas não tens mais dinheiro. Deste os últimos trocos ao teu amigo Ramalho. E a gaja agarra-se à caixa registadora. E as horas passam. ÉS um poeta. Não há dúvida que és um poeta. E és tímido. Podias oferecer um livro à gaja. Afinal, hoje estás cheio deles. A gaja fuma e pousa o tabaco diante de ti. Talvez até goste de ti, ó tontinho. Talvez até goste de ti e a história tenha um final feliz.

JUSTIÇA!

Polícias e jornais tentam assustar pessoas
contra a manifestação de amanhã, no Casal de S. Brás, Amadora,
contra o assassinato do jovem Kuku
A resposta só pode ser uma: temos de ser muitos, e ainda mais!

Exemplo: o artigo do DN de hoje, assinado por Valentina Marcelino, intitulado "Extrema esquerda ameaça bairros de risco" (sublinhado nosso). Como se a ameaça não fosse exactamente a inversa, a de haver por aí polícias armados que repetidamente assassinam jovens pobres e ficam impunes, este artigo do DN (http://dn.sapo.pt/2009/01/16/tema/extrema_esquerda_ameaaa_bairros_risc.html) coincide perfeitamente com as opiniões que se podem ler em sites e blogues fascizantes, nomeadamente ligados aos neonazis do PNR, e revela uma total sintonia com as diversas polícias e serviços secretos.

Os objectivos deste artigo, hoje sexta-feira, - como os de outros artigos e "notícias" - são:
1 - atemorizar e desmobilizar os cidadãos que se disponham a participar no protesto de amanhã, no Casal de S. Brás, Amadora, frente à 60ª esquadra;
2 - justificar antecipadamente acções de repressão violenta e desproporcionada que as polícias venham a provocar nessa manifestação;
3 - criminalizar os jovens imigrantes e a população dos bairros pobres diariamente assediada e agredida pelas polícias, incluindo as suas associações e movimentos;
4 - descriminalizar os assassinatos - que já são dezenas - e a violência sistemática praticados pelas polícias em nome da "ordem" e da "segurança", semeando, isso sim, a insegurança generalizada nas camadas pobres da população e o caos (supostamente não político) propício à fascização, à repressão e ao aparecimento de caudilhos salvadores;
5 - criminalizar os protestos e os grupos que os promovem, numa estratégia progressiva de assimilar a esquerda aos "terroristas": hoje os "pretos" dos bairros periféricos, amanhã os grupos da esquerda extraparlamentar, a seguir os professores e os grevistas, finalmente qualquer pessoa que publicamente se coloque contra o discurso único ou contra o capitalismo.

Por isso, se preferes dobrar a espinha e não exercer o teu direito democrático de protestar, não venhas depois queixar-te: se és uma mulher ou um homem livre, acabarás por estar algures na lista deles, e sofrerás as consequências se te encolheres e os deixares agir sem oposição (como diz o célebre poema alemão, divulgado por Brecht: "quando vieram prender-me a mim, eu já não tinha ninguém para me defender").

Por isso, incitamos todos e todas a - por maioria de razão - participarem no protesto de amanhã, sábado, às 16h, frente à60ª esquadra da PSP no Casal de S. Brás, Amadora, contra o assasssinato do jovem Kuku (14 anos), contra a impunidade dos polícias que assassinam e espancam, contra as mentiras das televisões, rádios e jornais que são puros porta-vozes do aparelho repressivo fascizante.


Somos todos pretos! Somos todos pobres! Somos todos irmãos do Kuku!
Justiça para os assassinados e perseguidos! Justiça para os asssassinos e perseguidores!
Fim a esta sociedade errada em que vivemos!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

EDITOR, EDITA-ME


Editor, edita os meus escritos
não me deixes aqui a escrever para minorias minoritárias
que só, de vez em quando, dão um sinal
editor, edita-me
põe os meus escritos em livro
tira-me do marasmo
faz-me famoso
bem sei que a fama sobe à cabeça
bem sei que não é bonito o auto-elogio
mas eu só quero aparecer no papel de livro
bem sei que já tenho quatro ou cinco livros
mas isso n~~ao me chega
quero publicar mais, muito mais
quero aparecer nas livrarias
e nos media
bem sei que sou um bocado narcisista
mas també, é preciso sê-lo
senão estamos sempre na merda.

AMIZADES

O Rocha, afinal, já fala comigo
só não quer misturas com o baiano
o Rocha é um gajo esquisito
mas ainda é o meu melhor amigo
os homens só olham para a bola
mas sacam do dinheiro
apesar da recessão
eu é que me vejo à rasca
com essa merda toda
nem há aqui mulheres que me excitem
pois a mulher do patrão já tem dono
nem pode ler o que eu escrevo hoje
as crianças riem
os homens bebem
e o meu reino está podre
mas como tenho cacau
faço a festa

Hoje falei ao telefone com dois velhos amigos
que não vejo há séculos
um está em Londres, outro teve uma hérnia
ficamos de nos encontrar em breve
tanto poema, tanto poema
e nada publicado
só as saudações entusiásticas
do barbeiro preenchem o dia
o resto é pasmaceira
como as conversas dos patrões com o cliente
que só quer falar de coisas alegres
já o disse. Detesto os sempre bem dispostos
os de sempre bem com a vida
irritam-me solenemente
e os media não me contactam
a propósito da fundação do novo partido
nem do manifesto anti-Sócrates.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

POESIA DE CHOQUE NO CLUBE LITERÁRIO DO PORTO


POESIA DE CHOQUE-POESIA INCÓMODA

A primeira sessão de Poesia de Choque tem lugar na próxima sexta, dia 16, pelas 21,30 horas no Clube Literário do Porto (à Âlfândega). A organização e as performances são de António Pedro Ribeiro e de Luís Carvalho.

A poesia não tem que ser a poesia dos prémios nem das honras nem das solenidades. Essa poesia existe. Respeitamo-la, mas não é dela que vamos tratar. Nós vamos tratar da poesia que incomoda, da poesia que se diz e se escreve a gritar, da poesia que vai contra a norma, da poesia daqueles que não se conformam com um mundo único e irreversível. Vamos tratar da poesia que fala do amor mas não o amor ingénuo e previsível, do amor como urgência do ser humano íntegro e integral. Vamos tratar da poesia que fala da liberdade, da liberdade sem limites, absoluta, da liberdade livre da criação. Vamos tratar da poesia que canta o decadente, o maldito, aquele que vive como poeta para lá das convenções, para lá das linhas rectas. Vamos tratar da poesia que intervém, que não se contenta com a vidinha, que faz a crítica do instituído. Vamos tratar da poesia que rompe as fronteiras entre o leitor e o poeta, entre o performer e o público, que quebra as distâncias que ainda acontecem nas sessões de poesia.

Poemas: Charles Bukowski, Nietzsche, Charles Baudelaire, A. Pedro Ribeiro, Camilo Pessanha, Mário de Sá-Carneiro, Jim Morrison, Antonin Artaud, Henri Michaux, Levi Condinho, José Mário Branco, Almada Negreiros, Mário de Cesariny, ÁLvaro de Campos, Lentre outros.


Com os melhores cumprimentos,
António Pedro Ribeiro.
tel. 229270069.

ÍNDIO


A cabeça explode. AS ideias vagueiam por aí sem rumo definido. Sou um índio. sou um xamã. UM touro enraivecido. Não tenho limites. Danço na pista. Como em 95 no Clube 84. A pista é minha. AS mulheres vêm ter comigo. São minhas. Êxtase. Loucura. Como Artaud no México. Como Artaud no manicómio. AS barbas crescidas. A loucura. A minha loucura. AS empregadas não me topam. O dinheiro vai e perde-se. Que se foda! A cerveja dá-me vida. A vida que vou perdendo se permanecer na aldeia. O homem entra, a medo, na confeitaria. E eu sou o xamã. O que comunica com deuses e espíritos. A cerveja bate. A cabeça explode. Os gajos t~em de me publicar. A escrita é automática. Sou um filósofo alucinado, UM filósofo de caforismos. TEnho de reunir os textos. Ordená-los. Coisa que sempre tive dificuldade em fazer. E entregá-los ao R. Isto ele publica. Estou certo. E pronto. Já me apetece apanhar bebedeiras. DAnçar na corda-bamba. EXperimentar-me. Enfrentar o perigo. EStou próximo de ti, ó Morrison. Estou próximo de ti, ó Nietzsche. Isto é que os gajos não passam na RFM. Os gajos não passam Doors nem Led Zeppelin na RFM. T~em medo. E os Led Zeppelin fazem hoje 40 anos. 40 anos. Mr. Page, mr. Plant. E eu bebo não sei a quê. JUlgo-me superior. O homem superior. Eh, pá! ESta merda está muito para lá da realidade mesquinha do Sócrates. Eh, pá! Com uma cerveja derroto o Sócrates. Eh, pá! O sócrates não vale nada. Sou um índio. Sou um xamã. "Os ritos e as danças sagradas dos índios são as mais bela de todas as formas de teatro, a única que realmente pode ter justificação. Os ritos primitivos dos índios estão em comunicação com a terra; as suas danças, os seus hieróglifos animados, os seus movimentos ocultos traduzem inconscientemente as suas leis" (Antonin Artaud). Nietzsche também fala da terra. Do amor à Terra. Não há além. O além está aqui. Alguma lucidez ainda se apodera de mim. Não vou pedir outra cerveja. Ainda não enlouqueci por completo. Vou visitar o meu amigo.
Chegam as gajas ao café
mas já estão tomadas
anda tudo às compras
antes que vá tudo de vez
e eu leio Nietzsche e bebo
para não enlouquecer
além disso estou com fome
e o gajo ao balcão
continua vidrado no Liverpool.

40 Anos de Led Zeppelin


40 anos de Led Zeppelin. O rock visceral e autêntico. "Whole Lotta Love".

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

MANIFESTO ELEITORAL E ANTI-SÓCRATES


Sócrates é um castrador
Sócrates vem dar-te palmadas se não te portares bem
Sócrates quer a maioria para governar sem oposição
Sócrates não pode com a oposição
Sócrates, se pudesse, acabava com a oposição
Sócrates é um ditador
Sócrates é um inimigo da vida
Sócrates detesta as pulsões vitais
Sócrates não tem coração
Sócrates é um robot
Sócrates calca os adversários
Sócrates rouba-nos o salário
Sócrates deixa na merda o desempregado
Sócrates é um vendilhão
Sócrates é um cabrão
Sócrates fala como um computador
Sócrates não conhece o amor.

O Partido Surrealista Situacionista Libertário (PSSL) vai legalizar-se e apresenta-se a eleições porque já não suporta mais SócratES. O PSSL entende que a recessão não se combate com receitas sociais-democratas. O PSSL aposta na criação, no amor, na liberdade, na revolução. EStamos fartos de morte e de tédio! EStamos fartos de rebanhos que dizem avé-maria a tudo. Estamos fartos da sociedade do rebanho como Nietzsche. Queremos uma sociedade sem intriga, sem usura, sem competição, sem trabalho, sem dinheiro. Queremos o mundo e exigimo-lo agora!, como gritou Jim Morrison. Queremos acabar com a bolsa, com o discurso das décimas, dos défices, das percentagens assexuadas. O nosso teatro "é o teatro da revolta humana que não aceita a lei do destino, é um teatro cheio de gritos, não de medo ma de raiva e mais do que de raiva do sentimento do valor da vida. É um teatro que sabe chorar, que tem todavia enorme consiência do riso, e que sabe existir no riso de uma ideia pura, uma benéfica e pura ideia das forças eternas da vida", como escreveu Antonin Artaud em "Mensagens Revolucionárias".

TERRORISTA POÉTICO


Escrevo mas tenho o blog parado. Não sei quanta gente lê aqueles blogues mas sei que é alguma gente. Ontem A. percebeu que estou interessado nela. Ao menos é sincera. A verdade é que os "Ditirambos de Diónisos" me puxaram para cima, apesar dos delírios. Crio, tento fazer a fusão de todas as artes. Sou furacão, sou dinamite, como Nietzsche. TEnho calor. Dispo o casaco. Hoje não neva. Tenho Proudhon para ler. A polícia ocupou a casa dos okupas no marquês. A polícia é uma delícia. A gaja é bonita mas parece enjoada. Dar-te-ei o mundo. Ficarei apenas com uma parte para mim e para os meus para fazermos uns disparates, para partirmos uns vidros, para pintar a manta. Acredito numa revolução artística, numa bomba artística global. Que provoque, que inquiete, que choque, que dê a volta às cabeças. ACredito em Dionisos entre as bacantes embriagadas. É nisso que acredito. Não em qualquer tipo de lucro, dinheiro, mercado ou capital. Sou o homem da liberdade, como o Jim Morrison. E os editores que nunca mais respondem. O que é que querem que eu escreva mais? Sou um terrorista poético, não sou o Bin Laden nem o primeiro-ministro de Israel. Defendo a violência libertária da Grécia. Sou um terrorista poético.

O BÊBADO DA MOTINA


O bêbado foi expulso da "Motina"
nada posso fazer para o salvar
também não sei as malandrices
que andou a fazer
ordens da Maria
a Maria controla
sem o bêbado a "Motina" pede encanto
bem, o que realmente importa é que
acabo de descobrir o poeta Jim Morrison
no seu esplendor
até posso dar uma volta por aí à Nietzsche
e nem sequer assistir ao debate sobre a Palestina
Infelizmente, haverá mais debates e manifestações
e eu ainda não estou a 100%
descarreguei as baterias
até parece que me querem pagar uma actuação
isso é que é bom
estou farto de fazer coisas de borla
enquanto os outros empocham.

MARIA


A Maria deu-me um papel com o mail dela
mas estupidamente acho que perdi o papel
a mARIA é uma gaja muito fixe
que escreve livros
e que estava com as mamas de fora
encontrei-a no "Insólito"
foi aí que comecei a ser prvocado
foi aí que a cabeça começou a andar às voltas
Braga é a cidade onde estoiro
onde vou ter amiúde com a loucura
depois as pessoas sáúdam-me
tratam-me como a um rei
ou então temem o revolucionário
que pode rebentar bombas a qualquer momento
mas que depois se arrepende
e pensa na paz e pensa na Gotucha
e agarra a humanidade
e sobe ao Bom Jesus
e dá o amor.

NIETZSCHE


Tu vítima, não penses que não tens culpa; e tu, carrasco, não penses que não sofres.

LOUCURA

Tenho travado combates com a loucura. As vozes ouvem-se, tentam dominar-me. O ódio tenta dominar-me. Mas eu caio abaixo da cama e recupero a lucidez.

MORTE AOS NAZIS


Nazis em Gaza
Baader-Menhoff no papel
balázios nos cornos dos inocentes
Hitler a rir novamente
paz, paz, mas não podre
revolta nas ruas de Lisboa
contra o Cavaco
contra o Sócrates
nazis em Gaza
balázios nos cornos
nazis de ganga
FP-25 no olhar
paz, paz, mas não podre
as forças da anestesia capitalista
não podem levar a melhor
Morrison, Dylan, Nietzsche, Che Guevara
não lhes daremos os trunfos de mão-beijada
combateremos os impérios
até que caiam
morte aos nazis!
Morte aos nazis!
Morte aos nazis!


Vilar do Pinheiro, 7.1.2009

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O POETA SENTADO QUE BEBE E ESCREVE


O poeta senta-se, bebe e escreve
não há mais do que o poeta que se senta, bebe e escreve
o mundo todo se dilui aí
é certo que há pessoas que andam e se movimentam
é certo que há pessoas sentadas a tomar café
mas o poeta mantém-se inalterável, bebe e escreve
pela cabeça passam-lhe muitas coisas
desejos, histórias, memórias,
e as pessoas passam, mostram os novos rebentos ao mundo
mas o poeta está fora do mundo
o poeta não se preocupa com as questões do senso comum
o poeta quer ser grande e livre e sublime
o poeta preocupa-se com a qualidade dos seus escritos
sabe que nunca escreveu tanto
como no ano que agora finda
sabe que a musa vem ter com ele
mas agora foi aos saldos fazer as compras da época
o poeta não liga a essas coisas
desde que ela continue bonita
desde que ela venha ter com ele
e o poeta sentado, bebe e escreve
as conversas mundanas, por vezes,
são o mote dos seus escritos
mas, no fundo, o poeta não lhes dá grande importância
o poeta sentado que bebe e escreve
as preocupações do poeta são outras
se a caneta falha
se há papel que chegue
o poeta sentado que bebe e escreve.

A VIDA INTERIOR


Há, de facto, uma vida interior onde coexistem céus e infernos, deuses e demónios, montanhas e abismos. No interior dessa vida trava-se um combate mortal entre o bem e o mal mas, por vezes, ficamos além do bem e do mal. A racionalização não é capaz de apreender esse mundo mágico onde é possível o homem ser homem e atingir o paraíso. Como diz Artaud, a revolução comunista ignora o mundo interior do pensamento. O pensamento está para lá da experiência. A vida interior, o pensamento é que nos permite criar, é que nos permite aproximarmo-nos dos deuses mas também dos demónios. O céu na Terra de Henry Miller está dentro das nossas cabeças. O conbhecimento poético é interno e mágico, como diz Artaud. Os poetas são mágicos, criam mundos. O materialismo capitalista persegue o pensamento poético e inveja-o.

O mundo interior, esse mundo que inventa mundos, personagens desde a infância. É lá que está o ouro. É agora que posso escrever a obra. Vou enviar estes textos a um editor. Estes textos têm de ser publicados. Não falam de gajas nem de mamas. Mas são importantes. Vêm da alma. Vêm da vida. Abominam a morTE. Vêm de Nietzsche, do homem nobre. O homem nobr não tem de se preocupar com a populaça. O homem nobre não tem de ser socialista. TEm de fecundar a mulher que o enfeitiça. TEm de ser mágico, "supõe a presença do fogo em todas as manifestações do ensamento humano", afirma Artaud. "A música é a tua única amiga/dança em cima do fogo se ela te convidar" (Jim Morrison). Dionisos copula com as bacantes em fúria. Dança em redor da fogueira. Incendeia lojas, bancos, automóveis. Cospe na polícia e no exército.Cospe no senso comum e na normalidade. Canta a canção do "Fim": " É o fim, amigo querido/ é o fim, amigo único/ custa-me deixar-te mas tu nunca me seguirias/ o fim das risadas e das doces mentiras/ o fim das noites em que fizemos por morrer, é o fim". O fim que é o princípio, o fim que é o princípio do fim do capitalismo. E chego so fim vidrado por Zaratustra, apaixonado pelas alturas e pela grandeza.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A APOLOGIA DE SÓCRATES (EM BOLA MAIOR)


A linguagem do futebol é feita de rdundâncias
a linguagem do futebol é feita de ideias feitas
o discurso do futebol é extremamente pobre
jogámos bem, ganhámos os três pontos
ao fim e ao cabo isso é que é importante
o adversário é difícil, respeitamos o adversário
mas vamos ganhar
os jogadores da bola ganham milhões
e tem o cérebro na ponta dos pés
afinal de contas é apenas um jogo
a merda de um jogo
nem sei porque é que um gajo
dá tanta importância a essa merda
jogamos bem, fomos os melhores
perdemos, tivemos azar, o àrbitro roubou
quantos golos meteste hoje?
Foste disciplinado tacticamente?
Fizeste as transicções defesa-ataque?
Sabes os resultados da liga escocesa
e da 4ª distrital?
Criaste automatismos?
Puxaste o autoclismo?
Tudo por causa de uma bola
por causa da merda de uma bola
Para quê correr atrás de uma bola?
22 imbecis atrás de uma bola
ainda se fosse de uma mulher...
queres que a tua cabeça se torne uma bola?
É só a merda de um jogo
a merda de um jogo,pá
porque não sais do campo?
porque é que continuas a olhar para auela merda?
Eh, pá! É penalty!
Que se foda lá o penalty!
Que se foda o guarda-redes
que se foda lá essa malta toda a fazer barulho
o que é que trazeis de novo à Terra?
Que ouro trazeis?
Que criais de sublime, de grandioso?
Não. Vou sair do jogo
atirar a bola às couves
de uma vez por todas
não fui feito para competições
nem para taças
vim ao mundo para algo mais
vim ao mundo em busca da luz
não sei se é o Graal
nem sei o que hei-de pensar do Cristo
Nietzsche dizia que ele era o único cristão
que se vivesse mais tempo, teria mudado de ideias
não tenho que levar a minha vida em função dele
nem sou ele, tanto quanto sei
mas sei que nós temos a divindade
que procuramos a divindade
em tudo quanto há
não o Deus dos cristãos, nem o dos muçulmanos
não o deus tirano, moralista, castrador
não o deus que traz a morte
disfarçada de amor
eh, pá, diz-me algo de novo
algo que me faça pensar
não venhas com o paleio futebolístico
nem com a reabertura do mercado futebolístico
nem com a merda do mercado
espetado nos cornos de toda a gente
o mercado do arrendamento
o mercado do casamento
o mercado do amor
que se foda o mercado!
Que porra de vida imbecil!

Já disse:
saí do jogo
abandonei o campo
procuro a minha estrela
sei que ela está, em parte, nos olhos da menina~
mas quero a outra parte
é isso que eu quero
e isso não está no mercado, no trabalho
nem no caralho do Sócrates
o Sócrates deprime-me, sabes,
aquele jeito tecnológico, tecnocrático,
demagógico, quadrático
deprime-me
vejo o gajo na televisão e fico deprimido
ouço os discursos do gajo
e apetece-me vomitar
sabes, aquele gajo é um inimigo da vida
aquele gajo quer castrar toda a gente
aquele gajo tem a peste
ouve bem, aquele gajo tem a peste
não te deixes contaminar
não te deixes contaminar
não te deixes contaminar
não te deixes contaminar...


Braga, Dez. 2008

POETA E REVOLUCIONÁRIO


Isto de ser poeta e revolucionário
tem que se lhe diga
não podemos embarcar nas conversas
do senso comum
temos de filtrar a informação
temos de fazer de conta
que somos cidadãos respeitáveis
isto de se ser poeta e revolucionário
ainda por cima de café
não é fácil
olho para as gajas mas tenho de as respeitar
como possíveis camaradas
não devo proclamar à mesa a qualquer momento:
- sou revolucionário!
se não chamam-me doido
não devo sequer insultar a polícia e os padrecas
isto de se ser poeta e revolcionário
tem muito que se lhe diga.
Estou a anos-luz dos raciocíneos menores
da gente comum
penso na revolução mundial
enquanto eles pensam em sapatos.

MANIFESTO DO PARTIDO SURREALISTA SITUACIONISTA LIBERTÁRIO


Caa vez duvido mais que as massas sejam capazes ou mesmo estejam interessadas na revolução. As massas vivem em crise, em recessão mas só falam da família, das baixas nos hospitais, das doenças. Temos de ser nós revolucionários, poetas, criadores, a provocar a explosão. QUeimemos o dinheiro, queimemos os nossos próprios poemas ou obras na praça pública. Pode ser que assim consigamos captar a atenção.
Não acredito em transição pacífica para o socialismo. A defesa e o uso do parlamentarismo significam a perpetuação do parlamentarismo. Podemos eventualmente concorrer a umas eleições mas como forma de propaganda, como defende Rosa Luxemburgo. Nesta época de crise dos bancos partamos os bancos, dinamitemos a bolsa, tomemos a rua. Como diz Raoul Vaneigen o dinheiro é o deus dos nossos dias. Combatamos o dinheiro. Esse deus é, nas palavras de Nietzsche, inimigo da vida, das pulsões vitais, e amigo das sociedades do rebanho, da doença, do servilismo, da morte. Morte aos economistas! Aos profetas dos números, das percentagens, das contas, dos orçamentos. O melhor governo é não haver governo nenhum. Não queremos governar nem ser governados. Somos homens livres, nobres, senhores sem escravos, supeiores, na acepção nietzscheana. Somos Poetas, Artistas. Nós somos os meninos e os bailarinos. Não temos culpa se muitos permanecem na ignorância como camelos.

PARTIDO SURREALISTA SITUACIONISTA LIBERTÁRIO

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O HOMEM DA LIBERDADE


O vosso mundo das horas certas, das linhas rectas, da ordem, dos empregos, dos sorrisinhos, da justa medida, do andar dentro dos trilhos e sair às vezes um bocadinho, só um bocadinho, não me interessa. O vosso mundo é um mundo de mortos. Não passais de um bando de escravos. Eu quero a grande liberdade, a vida autêntica. Sois escravos dos relógios, escravos do dinheiro, escravos do trabalho. Não vim ao mundo para ser escravo. Eu quero ser Artista. Criador, como Jim Morrison, como Nietzsche. Quero ser eu próprio o deus. O deus que cria, o deus que canta, o deus que dança, o deus que vai atrás da loucura. Quero a grande liberdade, a vida autêntica. Quero errar pelo mundo, sem destino definido, sem objectivos de eficácia ou mercantis. Não quero que nenhuma lei, que nenhum governo, que nenhuma Igreja, que nenhum filho da putame venha dizer o que fazer. Sou o homem da liberdade. SOU O HOMEM DA LIBERDADE.

JUSTIÇA!

Mais um jovem negro e pobre assassinado pela polícia.

A plataforma Gueto não pode deixar de denunciar mais uma execução sumária, com pena de morte, dum jovem negro por parte da polícia, e um julgamento injusto feito no tribunal dos media, que condenou o nosso irmão e absolveu mais um assassino.

Uma perseguição policial do passado domingo, 4 de Janeiro às 21h, ditou a morte de Kuku, com apenas 14 anos.
Segundo a versão "oficial" de fontes policiais os agentes identificaram o carro furtado, onde seguiam 4 jovens, no bairro de Santa Filomena. Por não terem respeitado a ordem para parar, a polícia iniciou uma perseguição que só acabou no bairro da Quinta da Lage quando os jovens abandonaram o carro e continuaram a fuga a pé. Depois de terem disparado tiros para o ar, a polícia alega que Kuku, que foi o último a sair da viatura, apontou uma arma de calibre 6.35 a um agente, tendo este, em legítima defesa, disparado um tiro que o feriu mortalmente na cabeça. Outro irmão foi ainda atingido com uma bala na perna.

Ainda na sua versão oficial a polícia declara que o agente não atirou para a matar. Quem não quer matar não aponta uma arma à cabeça, portanto a intenção do agente era matar ou teria apontado a outra parte do corpo.

Na manhã seguinte os media iniciaram a sua propaganda, usando apenas as fontes policiais, para sujar a imagem do jovem e legitimar a acção do polícia, alegando que se tratava de um jovem referenciado por crimes violentos.
Com esta propaganda os media conseguiram transmitir a ideia de se tratar dum jovem violento que era uma ameaça para os agentes, e para a sociedade, bem como glorificar a polícia por mais uma "missão cumprida": assassinar um negro.

Como se não bastasse a idade de Kuku, 14 anos, para que este não pudesse ser considerado um criminoso violento, o mesmo foi referenciado como tal apenas por furtos, dos quais não resultou nenhuma condenação. Ainda que tal tivesse acontecido, em nenhum dos casos houve uso de violência. Tendo em conta aquilo os media têm propagandeado nos últimos meses como "criminalidade violenta" só prova que esta usa e abusa de tais critérios sem nenhum rigor para operar a sua propaganda racista e continuar a fomentar o medo dos imigrantes seus descendentes na opinião publica.

Segundo os jovens envolvidos na fuga, o carro em que seguiam já tinha sido furtado anteriormente, tendo estes, sabendo que estava abandonado, aproveitado o facto para nele se dirigirem ao bairro de Santa Filomena onde iam ver um jogo de futebol. Os mesmos disseram ainda que Kuku não trazia nenhuma arma consigo.
Tal como os restantes ocupantes do carro, vários amigos que estiveram com Kuku naquele dia, negam tê-lo visto com qualquer arma, e acrescentam ainda que nunca viram Kuku armado quer com faca, quer com pistola, e duvidam bastante que ele fosse capaz de apontar uma arma a outra pessoa e muito menos a um agente "Kuku era um puto.. ainda que tivesse uma arma, jamais a apontaria a um bófia". Eles descrevem-no como "calado, tranquilo, talvez até um pouco tímido".

Estes afirmam ainda que Kuku estava marcado desde um episódio em que, logo após acordar, e tendo dormido em casa, foi abordado pela polícia na sua porta, alegadamente por ter sido visto a conduzir um carro roubado nessa madrugada. Indignado negou qualquer relacionamento com o que quer que fosse que tivesse ocorrido naquela madrugada e ao ser agredido e arrastado pelo chão Kuku resistiu à detenção apelando aos seus direitos. A sua resistência originou ainda mais agressividade da polícia. Kuku tentou resistir e só a intervenção da mãe e outros familiares demoveu os agentes de quaisquer que fossem as suas intenções.

Kuku foi julgado e executado pela polícia à semelhança de Angoi, Tony, Tete, Corvo, PTB, etc. Nos últimos meses vários irmãos foram perseguidos e agredidos nas ruas, nas carrinhas e dentro das esquadras. Este não foi um acidente, nem um acto isolado, foi o desfecho que já esperávamos. Destes assassinatos e agressões nunca resultou uma única condenação. Pelo contrário a polícia têm sido aplaudida pelo Ministro da Administração Interna e pela opinião pública manipulada, pela propaganda racista dos media. Resta uma conclusão: face a esta impunidade a polícia tem "luz verde" para matar jovens negros em Portugal. Já não acreditávamos que fosse feita qualquer justiça nos tribunais mas agora sabemos mais que isso.
Num país que nem aplica a pena de morte, até um "criminoso violento" teria direito a um julgamento antes de ser executada qualquer pena. Mas para nós negros, a pena de morte está em vigor e a "justiça" não é lenta, é veloz feita na hora pela polícia. O nosso julgamento é feito todos os dias na imprensa matinal e no noticiário das oito.
Apelamos à mobilização de tod@s os irm@s contra a violência policial, a propaganda racista e contra a opressão autoritária. Se a impunidade, o conformismo e o silêncio continuarem os assassinatos continuarão também.

Apelamos também ao apoio à realização dum funeral digno para Kuku na compra do Cd dos Mentis Afro, duma T-shirt do Kuku, ou através de donativo para o NIB 0010 0000 27703050 0022 0. Para mais info escrevam para o mail indicado em baixo.

Plataforma Gueto. Sem Justiça não haverá Paz.
Plataforma.gueto@gmail.com

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À RUA DE BAIXO EM 2006


Visuais & BarulhosEdição Nº36, Outubro, 2006 António Pedro Ribeiro

O que tem a ver José Socrates com os Doors, Nietszche ou H. Miller?Por vezes, ao observarmos uma fotografia antiga de Oscar Wilde, de Ernest Hemingway ou um qualquer outro mestre da literatura, somos invadidos por uma vaga de nostalgia; a da figura romântica do escritor, despreocupado pelos pormenores secundários de uma vida passada nas boémias tertúlias de café, por entre o tabaco, o ópio e o álcool, em viagem recreativa por entre as paisagens paradisíacas de países estrangeiros ou em comunhão telúrica com a terra em qualquer esconderijo pessoal no meio da Natureza.

Quem nunca teve um secreto ensejo de ser um Fernando Pessoa a escrever na esplanada d’A Brasileira, um Sebastião da Gama a colocar por palavras a beleza da Serra da Arrábida ou um Almeida Garrett a inspirar-se nas paisagens verdejantes do Douro, que atire a primeira pedra.

Claro que estou a exagerar, esta é apenas uma visão romântica do escritor. No entanto, é uma imagem que já não colamos aos autores contemporâneos. A culpa é da sociedade moderna e de conceitos como o capitalismo ou a globalização. Actualmente, existem demasiadas coisas com que nos preocuparmos, demasiada informação para assimilarmos e bastante pouco tempo livre para desfrutarmos.

O poeta portuense António Pedro Ribeiro parece não querer acreditar nisso e poderá vir a ser o último poeta romântico português. Isto apesar de “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro e Outras Pérolas – Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário”, o livro que acaba de editar pela Objecto Cardíaco, ser uma obra política, irónica, satírica e algo surrealista, directa e quase panfletária.

“Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro…” é ainda uma obra influenciada pelos situacionistas, que não se furta a utilizar a técnica da colagem, ao utitilizar machetes ou excertos de notícias da comunicação social escrita misturadas com palavras suas.

A Rua de Baixo decidiu dar a conhecer um pouco mais sobre o poeta (e músico) António Pedro Ribeiro, que fez furor na recente edição do festival Paredes de Coura com as suas declamações. Foi sobre isto, sobre o seu inusitado amor pelo primeiro-ministro, sobre os The Doors e sobre muitas outras coisas que conversámos. Para conferir nas linhas seguintes.

Confessou-se apaixonado pelo primeiro-ministro. Pelo actual em particular?

A “Declaração de Amor…” não se aplica só a um primeiro-ministro, aplica-se a todos os poderes que estão podres, como dizem os surrealistas, os situacionistas, os anarquistas e outros esquerdistas. É claro que José Sócrates merece uma menção especial pela sua postura mecânica, robótica, arrogante e intolerante. Julga-se um super-homem, um homem-providência, cheio de rigor e competência como Salazar, mas é uma grande treta. Aliás, tal como a maior parte dos dirigentes dos partidos portugueses. Além disso, faz o jogo do imperialismo e do capitalismo mundial. Nada faz para combater a pobreza ou o desemprego. Os únicos primeiros-ministros portugueses que estimo são Afonso Costa, Vasco Gonçalves e Maria de Lourdes Pintassilgo.

Depois de algumas edições de autor, “Declaração De Amor Ao Primeiro-Ministro…” é o seu primeiro livro publicado por uma editora. Como surgiu o encontro com a Objecto Cardíaco?

A “Declaração de Amor” não é o primeiro livro publicado por uma editora. Em 2001 publiquei “À Mesa do Homem Só. Estórias” através da Silêncio da Gaveta, uma pequena editora sedeada em Vila do Conde e na Póvoa de Varzim, dirigida pelo João Rios e pelo José Peixoto. Ainda assim, em Maio desse ano, surgiu uma boa crítica na revista do “Diário de Notícias” [DNA] que já falava numa certa “descida aos infernos do álcool”, só que como nem eu nem a editora éramos conhecidos, a coisa caiu no esquecimento. Eu e o Valter Hugo Mãe, da Objecto Cardíaco, já nos conhecíamos das andanças dos bares e da poesia. Contudo, no ano passado o Valter ouviu-me recitar no café Pátio, em Vila do Conde, o “Poema do Défice” e o texto “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro”. Perguntou-me se eu tinha mais coisas do género e eu disse que tinha quatro ou cinco coisas antigas e inéditas. Depois, de Julho a Setembro, escrevi o resto, até porque encontrei na casa da minha avó em Braga uma antologia do surrealismo francês e a “Arte de Viver para a Geração Nova” do situacionista Vaneigem. Foi mais uma volta à cabeça. O livro, no fundo, é um manifesto surrealista situacionista libertário em linguagem poética.

É o A. Pedro Ribeiro um autor exclusivamente político, de intervenção, ou o seu próximo livro poderá muito bem ser sobre outra coisa qualquer?

Não me considero um autor exclusivamente político. Até porque, na senda de Breton, a política não existe separada da vida. O amor, o sexo, a liberdade e a revolução são todas uma coisa só que as máquinas castradoras do sistema sempre tentaram dividir. Mas, ao fim e ao cabo, felizmente nunca o conseguiram no que respeita a alguns homens e mulheres. Nietzsche fala no espírito livre e em Dionisos e eu acredito.

Eu tenho um livro para sair há um ano chamado “Saloon”, através das Edições Mortas. O problema é que o editor - António Oliveira, mentor da livraria “Pulga” no Porto - anda teso e eu também. Esse livro é diferente. Tem a ver com a atmosfera dos bares, com as mulheres que estão do lado de cá e de lá, com o sexo que espreita mas raramente vem, com o engate, com as mulheres que amamos e com as outras que passam, com a noite e com os copos até cair, com o pistoleiro que entra no saloon a gingar e que assusta toda a gente, ou então é ostracizado. O meu próximo livro talvez se chame “Um Poeta a Mijar” e terá talvez duas partes ou dois livros: uma das partes vai ser estilo Dada e humorística com textos já conhecidos mas nunca editados em livro, como “Borboletas”, “Futebol Dada” ou “Mamas2″. A segunda parte ou livro poderá conter as tais iluminações, delírios ou alucinações - a fronteira é ténue -, estilo “Eu vi a morte nos olhos de Deus”, os tais textos que não sabemos de onde vêm. Contudo, não deixarei nunca de tomar posições políticas, talvez até funde uma coisa nova, mas não um partido, não suporto mais ver a coisa dividida entre dirigentes e dirigidos.

Não teme que não o levem a sério?

Eu já fiz muitos disparates. Mas se não tivesse feito alguns deles teria apodrecido de tédio ou de depressão. Mesmo quando estou a brincar ou com os copos, penso que as pessoas inteligentes entendem que já escolhi o meu lado da barricada. Há quem me ame e quem me odeie. Isso é natural quando dizemos ou cantamos determinados textos ou tomamos determinadas posições. É claro que custa não reagir às provocações quando insultam aqueles que amamos.

Sente-se um “poeta maldito”, como o eram Rimbaud, Baudelaire ou Sade?

Não me coloco ao nível de Rimbaud, Baudelaire ou Sade. No entanto, tenho a certeza que sou deles, que venho dessa linha de malditos onde incluo também Blake, Lautreamont, Jim Morrison, Nietzsche, Henry Miller, Bob Dylan, Allen Gingsberg, Péret e tantos outros. Não nasci para os empregos das 9 às 5 - dou-me mal neles, a rotina mata-me. Léo Ferré disse que o artista aprende a profissão no inferno. Eu vou lá muitas vezes e gosto, porque o céu, muitas vezes, é uma seca, com todos aos beijinhos, aos abracinhos, aos boatos, aos mexericos, às panelinhas e eu detesto. Serei um poeta maldito, mas isso não significa que não ame a Humanidade, as mulheres bonitas, o sol, as crianças. Esta merda que nos querem impingir é que eu não aceito. De qualquer modo, não sou, não quero ser, o versejador da corte.

São eles as suas referências ou existem outros?

Antes de falar em mais artistas queria elogiar todas as mulheres bonitas que amei e continuo a amar (mesmo quando nos chateiam a cabeça…). O meu amigo António Manuel Ribeiro, dos UHF, dizia que “a mulher é fundamental para o homem na sua criatividade”. Além do mais, tudo quanto nos rodeia, tudo quanto nos vem à cabeça, são referências. Posso também falar de Salvador Dali, Mário de Sá-Carneiro, Pessoa, Herberto, Cesariny, António José Forte, Led Zeppelin, Deep Purple, Breton, Artaud, Monty Phyton, Lucky Luke, Obélix, Eurípedes, Dioniso, Afrodite, Sócrates (o filósofo), Agostinho da Silva, Jack London, Henry Miller, Jack Kerouac, Platão, Marx, Bakunine, Rosa Luxemburgo, Hugo Chavez, Trotsky, Proudhon, Pasolini, Fellini, João César Monteiro, Marlon Brando, Bárbara Guimarães, Merche Romero, Minka, Sharon Stone, Kim Basinger, Pamela Anderson, Zapata, Pancho Villa, Marcos e Che Guevara. E tantos outros e outras…

O A. Pedro Ribeiro foi um dos grandes destaques das sessões de leituras realizadas este ano no festival Paredes de Coura, promovidas pela Objecto Cardíaco. Sentiu-se como uma estrela de música?

Essa coisa da estrela do rock n’ roll… da fama… é muito perigosa. Já me aconteceu antes por motivos políticos enquanto candidato do PSR, do Bloco ou à presidência da República. Os gajos põem-nos nos píncaros e depois, no fim, dão-nos porrada. Todos nos vêm cumprimentar, somos os maiores, mas passado um mês ou dois tudo se esquece no altar do tédio e da rotina. É uma ilusão. É claro que eu sempre tive a noção de que esta é uma sociedade de imagens. Mesmo quando cantava numa banda chamada “Ébrios” em Braga em 1990 e fui acusado de mandar fechar o hipermercado Feira Nova com um bando de guerrilheiros imaginários. Delírios, né? Às vezes temos de utilizar os “media” a nosso favor, sem os desprezar como fazem alguns dos meus camaradas anarquistas. Não nos podemos fechar num “ghetto” elitista, onde somos os detentores da verdade. O Rui Reininho fala em “subir ao povo”. Agora só me falta que o povo suba até mim… a coisa tem de ter uma sequência, senão torna-se uma viagem sem regresso. De qualquer modo, se vier a ser uma estrela (se não for preso ou internado antes…) acho que me vou retirar para o deserto ou para a montanha, para um sítio onde ninguém me conheça, ou então… talvez vá ter com os meus camaradas revolucionários da América Latina.

Ainda Paredes de Coura: um dos poemas que declamou foi «When The Music’s Over», de Jim Morisson. Porquê essa escolha?

Aos 16/17 anos, um amigo do Liceu Sá de Miranda, em Braga, – o Jorge Pereira – emprestou-me o disco “Strange Days” dos Doors, banda que eu só conhecia muito vagamente. À primeira audição estranhei. À segunda, sobretudo quando ouvi a canção «When The Music’s Over» parecia que o mundo recomeçava ali. Eu já percebia as letras críticas do Roger Waters, dos Pink Floyd, mas ali foi uma porta que se abriu, uma luz que veio ter comigo e nunca mais foi embora. “We want the world and we want it…Now!”, gritou o Jim Morrison e todos os sinos, todas as missas, todas as convenções, todas as ilusões, todas as falsas convicções, todas as aparências, todas as conveniências, todas as normas, todas as infâncias acabaram ali, naquele momento. E depois veio o “The End” e o “Apocalipse Now” do Coppola com o Marlon Brando no papel de xamã, como o Jim era. E, a partir daí, tive de ir sempre atrás da loucura… até hoje.

A música é também um dos seus prazeres? Houve algum grupo que tivesse gostado particularmente de ver em Paredes de Coura?

“Music is your only friend”, canta outra vez o Jim. A música sempre foi fundamental na minha escrita e na minha alma. Lembro-me do “boom” do rock português em 80/81 com os «Cavalos de Corrida» dos UHF, o «Chico Fininho» do Rui Veloso, a «Chiclete» dos Táxi, os Jafumega. Mais tarde, os Xutos, os GNR, os Mão Morta. E depois, claro, os Pink Floyd, os Doors, os Velvet Underground, a Nico e o Lou Reed, os Bauhaus, os Joy Division, os Led Zeppelin, os Rolling Stones, a Patti Smith, os Who, o Freddy Mercury, o John Lennon e o Bob Dylan. Ultimamente, ando mais virado para o punk (Clash, Sex Pistols), porque a linguagem directa do punk é a que melhor se aplica a estes dias de tédio e imbecilidade militante, e também para os blues – B.B.King, Muddy Waters, John Lee Hooker –, mas continuo a ouvir o José Mário Branco, o Zeca Afonso, o Fausto e o Pedro Barroso.

Em Paredes de Coura adorei os Panico, os Yeah, Yeah, Yeah, os Cramps e os Bauhaus – embora tivesse gostado mais deles no Coliseu em 99, estavam mais “iluminados”. A minha maneira de escrever sempre foi muito musical, muito rítmica. As letras que escrevo para a minha banda – Mana Calórica & Las Tequillas, que inclui o Rui Costa (guitarra), o Henrique Monteiro (guitarra), a Betânia Loureiro (baixo) e o Hélder Sottomayor (bateria) –, reflectem isso mesmo e são cada vez mais directas.

E quanto ao futuro, pode-nos adiantar algo sobre o seu próximo livro, ou sobre os seus planos para o futuro próximo?

De futuro espero estar vivo e inteiro, com ou sem as mulheres que amo, fazer concertos e performances com a Mana por todo o país e pelo estrangeiro e viver disso. Conto também escrever mais livros/fanzines “underground” como o “Sexo, Noitadas e Rock n’ Roll” (2004) e participar activamente na revolução mundial.

Comentários (0)Por Pedro Soares

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