quarta-feira, 4 de abril de 2012

AS MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES




Para criar ou para dizer o que há muito não é dito temos à nossa disposição 26 letras. É sempre a partir daí, a menos que inventemos novas letras ou novas palavras, que podemos construir boa ou má literatura. Tudo depende da nossa imaginação, da nossa criatividade, da nossa curiosidade, da forma como pegamos no texto, como nos aventuramos pelas folhas adentro, há múltiplas possibilidades. A questão é mesmo chegar onde poucos chegaram ou, quem sabe, criar mesmo algo de totalmente novo. Daí que eu me esteja, neste preciso momento, a esforçar-me para fugir às temáticas que já tenho abordado, daí que eu esteja a tentar criar. Hoje é um bom dia para tentar. Abrem-se mundos, a mente está liberta. Vou tentar passar para o papel as explosões que neste momento se dão dentro da minha cabeça. Há uma luz. Várias vozes que me chamam. Infâncias que regressam. Tanto ouro. Tanto ouro. Eu sei onde. Eu era esse rapaz. Eu pensava, eu questionava. Depois houve o Jorge, o Rui. Amigos que me mostraram outras possibilidades, outras vias. A música, a literatura. Depois fui atrás do Morrison, do Mário de Sá-Carneiro, do Fernando Pessoa. Aos 18/19 anos escrevi alguns bons poemas. Digamos que comecei a desenvolver a arte. Escrevia de uma maneira diferente da de agora. Partia de ideias mas também de imagens. E são imagens que quero agora. Mas, voltando atrás, à ideia das múltiplas possibilidades, julgo que está muito aí, nas portas que se abrem. Há pessoas que nos influenciam mas nós depois seguimos esta ou aquela via. Eu nunca poderia ter sido economista, teria vergonha de mim próprio. Tinha as grandes depressões, ficava quase sem vontade, quase que vegetava mas depois, depois vinha aquela luz que me puxava. Questionava a vida que as pessoas levavam. A casa, o carro, o emprego, a sobrevivência. Hoje estou aqui, como Morrison, como Rimbaud, a dizer que a vida não se resume a uma forma única e irreversível. O que é muito mais do que ser anti-capitalista. É mesmo preciso trazer para cá a poesia, como diz Edgar Morin, não apenas a poesia escrita e dita mas também a poesia que já está na mente e nas coisas. Somos muito mais do que a sobrevivência. Somos a ideia. Alguns de nós somos sobretudo a ideia. Vamos atrás dela. Por isso abrimos as portas. O nosso caminho não tem que ser o do sucesso nem o do dinheiro, pelo menos daquilo a que se convencionou chamar sucesso. Este e aquela chegaram lá porque houve alguém que lhes deu um empurrão. É tudo relativo. Eu poderia ter tido aqui e ali mais sorte, passei pelas minhas castrações, frustrações, opressões mas, no fundo, nunca quis ser o homem médio, nunca quis seguir determinados caminhos.

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