terça-feira, 31 de maio de 2005

Poesia no Pátio

Hoje hà poesia no "Pátio" em Vila do Conde às 22,30 horas.

segunda-feira, 30 de maio de 2005

O Génio do Coração

O génio do coração, como o possui aquele grande desconhecido, o deus tentador, o caçador de ratas de consciência, cuja voz sabe descer até ao mundo subterrâneo de cada alma sem pronunciar uma palavra nem lançar um pensamento sedutor, em que o saber atrair faz parte da sua mestria, integrando nesta não a ciência, mas aquilo que para aqueles que o seguem é mais uma persuasão para se aproximar dele, para o seguir cada vez mais completamente, mais intimamente...(...)
O génio do coração de cujo contacto todos se afastam mais ricos, não favorecidos e surpreendidos, não como abençoados e oprimidos com os bens dos outros, mas mais ricos em si, mais novos do que antes e libertos, enquanto um vento de degelo sopra sobre eles e surpreende o mais secreto deles, porventura mais incerto, mais enternecedoramente frágil e abalado, mas cheio de esperanças ainda sem nome, cheios de nova vontade e corrente, cheios de novas más vontades e contracorrentes...
Friedrich Nietzsche, "Ecce Homo".

Em palco.

NON

O "não" francês à Constituição Europeia é um travão ao neoliberalismo.

Noite

noite dentro do corpo
depois do copo o fumo
fêmeas nos olhos confusos
machos com ócio pálido
elas não dão por ela
produzem-se para eles
e cacarejam fora dos poleiros
os pitos sequestrados
por compromissos jurados
o altar reúne a família
na cama os amantes
perdem o nome do baptismo
os gritos não pedem socorro
os gemidos acabam sorrisos
no amor somos todos órfãos
e depois tal e qual.

José Fontes Novas.

sábado, 28 de maio de 2005

Canalha

A canalha agora maior
acasinou-se nas mesas
especializando-se na bisca
com intervalos de beijos
e acesas interrogações
tardes de risco inteiras
com os livros encerrados
ao discurso das copas
o vício já não quer
outro pau que não seja
esta juventude vai acabar
envelhecendo na estufa
e depois o espelho
vai quebrar de espanto
com o mundo lá fora
a rir da globalização.

José Fontes Novas.

quinta-feira, 26 de maio de 2005

Poema do défice

Um défice a caminho dos 7% mostra um país. Um défice de 7 % mostra um país a caminho. Um défice em cada caminho do país. Um défice na caminha com o país.
Os políticos têm pensado que atribuir culpas aos outros e maquilhar os défices é preferível a corrigi-los. Os défices maquilhados atribuem culpas aos políticos. Os políticos maquilhados engatam o défice. O país maquilhado ainda caminha. O país, o défice e os políticos maquilharam-se em Caminha.
Não é normal que os políticos continuem a debater eternamente o valor do défice. Os políticos normais batem ternamente uma punheta enquanto debatem o défice. Os défices anormais não batem.
Apesar de Sócrates, a vida pública permanece deficitária. Apesar do défice, Sócrates existe. Apesar de Sócrates, a vida existe.

Infância

Pela manhã abre-se o infantário pátio
todos os pinotes
leites e outras desavenças chupam a paciência
e os rebuçados ao ramiro
as condições são apenas as que se apresentam
os papás deliram
e as mamãs arrumam a casa para a rua
enquanto os petizes esvoaçam a passarada
e crescem para a escola.

José Fontes Novas.

quarta-feira, 25 de maio de 2005

à solta

À solta, sem juízo.

terça-feira, 24 de maio de 2005

Contra todos os comités centrais

Abaixo os organismos de cúpula,
vivam os orgasmos de cópula.

Stefan Zweig

Nós vivemos miríades de segundos e, no entanto, não há nunca mais do que um, um só, que põe em ebulição todo o nosso mundo interior; o segundo em que (Stendhal descreveu-o) a flor interna, já impregnada de todos os seus sucos, realiza, como que num relâmpago, a sua cristalização- segundo mágico, semelhante a esse da procriação e, como ele, oculto no âmago do próprio corpo: invisível, intangível, imperceptível- mistério que se vive uma só vez.
Stefan Zweig, "Confusão de Sentimentos".

domingo, 22 de maio de 2005

OS BIGODES DO TONY

POEMA QUE IMORTALIZA O PROPRIETÁRIO DA SAPATARIA TONY

Um doido inofensivo gesticula no café
os clientes habituais olham para a TV
que transmite uma reportagem
acerca de um condutor apanhado com 4,92 graus
de alcoolemia que se espetou na montra e nos bigodes
do Tony da Sapataria Tony

E eu nunca mais consigo acabar
as "Recordações da Casa dos Mortos" de Dostoievski.


A. Pedro Ribeiro, in "Fora da Lei" & "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll".

sexta-feira, 20 de maio de 2005

O CU DA VIZINHA

O cu da vizinha do lado sobressai na paisagem. O proletariado não se revolta. Os ruídos da clientela impedem-me de aprofundar a "Revolução Permanente" de Trotsky. A ambulância passa a correr. A mulher sorri. E eu preciso de outro café senão morro de sono.

quarta-feira, 18 de maio de 2005

Bloco de Esquerda

O que conta, antes de mais, é a organização geral da nossa agitação e da nossa imprensa a fim de levar as massas trabalhadoras a contar cada vez mais com as suas próprias forças e com a sua acção autónoma e deixar de se considerar as lutas parlamentares como o eixo central da vida política. (Rosa Luxemburgo, "O Estado Burguês e a Revolução")

Na 4ª Convenção Nacional do Bloco de Esquerda várias intervenções e documentos afirmam o Bloco como força anticapitalista. Temos dúvidas se o Bloco é uma força anticapitalista. De um modo geral, a sua acção centra-se no grupo parlamentar- cujo papel é brilhante-, está perfeitamente institucionalizada e cai, por vezes, no eleitoralismo.
A maior parte das vezes o Bloco tem tentado reformar as instituições da democracia burguesa. Temos dúvidas que isso conduza à revolução socialista. Mudar o capitalismo por dentro leva a avanços muito pontuais e limitados porque os poderes instituídos não permitem mais do que isso. Começa a chegar o tempo do caos, do tudo ou nada. Desconfiamos de todos os poderes. Não acreditamos em transições pacíficas para o socialismo. Estes são tempos de rebelião e de provocar o sistema. O capitalismo e o Estado burguês têm de cair.

Frente Guevarista Libertária

quinta-feira, 5 de maio de 2005

SALOON

Calor tórrido no velho Oeste. A dona do "Saloon" sorri. Se não fosse casada...
Oiro de fino. Oiro de sol. Oiro que queima.
"Saloon". Marta, por onde andas? Marta, fia-me um fino. Conversa comigo. A vida de rock n' roll e de rebelião também cansa. Preciso de paz, de ternura. Ontem deixei escapar a Vanda. Já estava podre de bêbado e declarei-me. Sei lá porquê. Apesar de tudo, as mulheres amam-me, parecem ter uma ternura especial por mim. Mesmo quando se afastam, mesmo quando me renegam. Preciso de uma mulher que me ampare. Que estanque a minha loucura. Que me abrace no fim do concerto. Que me dê àgua no deserto.
O suor aperta. O sol. O sol. O teu vestido branco. O meu lenço à cowboy. Neste momento só quero ternura. Beijos. Muitos anos, muitas noites, muitas performances. A garganta seca. Matar a sede. Ter dinheiro e não ter. Ficar a dever. As dívidas acumulam-se mas um gajo vai-se aguentando. De qualquer forma, a bonança é passageira. O caos impera e pode estoirar a qualquer momento. "Saloon" e tu dás-me a àgua. Foge comigo. Mas tu ficas à porta, ao sol, de branco, angelical. Gesticulas ao infinito. Vives. Sorris. No teu "Saloon". À porta.

segunda-feira, 2 de maio de 2005

DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS DA FGL

Nos propósitos da Frente Guevarista Libertária há sobretudo uma rejeição do capitalismo mas também do mercantilismo, do economicismo e da mentalidade pequeno-burguesa. O revolucionário deve ser um criador no sentido nietzscheano, um provocador no quotidiano. No fundo, a tarefa permanente é ridicularizar o absurdo da vida quotidiana, dos valores instituídos.
Como libertários defendemos a acção directa individual ou de pequenos grupos. Como guevaristas revoltamo-nos contra todas as injustiças e renegamos os poderes, o dirigismo, os aparelhos e o acomodamento. Como nietzscheanos tentamos preconizar o criador, o espírito livre que provoca, agitando as consciências.

FRENTE GUEVARISTA LIBERTÁRIA.