SEGUE A TUA ESTRELA
Os debates dos políticos e dos economistas incomodam-me. Só se fala de economia, não se discute o homem integral. O homem que quer crescer, que quer o paraíso na terra. O mundo está cheio de castradores, de forças que querem destruir a nossa individualidade, a nossa alma. Governos, especuladores, máquinas de propaganda. Todos eles nos querem roubar o amor, todos eles nos querem separar, isolar, impedir que dêmos as mãos. Entram nas mentes, nos corações das pessoas, tornam-nas falsas, dissimuladas, frias. E depois elas tratam-nos mal, enganam-nos, querem mandar em nós. O capitalismo e a sua máquina destroem as pessoas, tornam-nas competitivas, negociantes, merceeiras, manipuladoras. Convencem-nos também de que não há alternativa possível, que até é possível ser feliz debaixo das suas condições. Mas nós queremos realmente crescer no amor, na liberdade, na poesia. Queremos voltar ao xamã, ao grande espírito. Sabemos que é uma luta constante. Eles vêem-nos sós, deprimidos, desanimados e tentam apoderar-se de nós, mandar em nós. De forma a que aceitemos ser governados, submetidos, manipulados. Mas depois há uma estrela em nós, dentro de nós, uma estrela que nos diz que nós não somos como eles, que nós não viemos para servir nem para andarmos cabisbaixos. Não temos de andar atrás da selecção nacional, não temos de andar atrás da publicidade, não temos de seguir governo nenhum, não temos de andar atrás do grupo, nem da massa, nem da maioria. Não temos de ser direitinhos, alinhadinhos. Somos pensamento, somos vida. No papel expressamos o que somos. Somos também a música que nos eleva. "The End" dos Doors ou "Love Will Tear Us Apart" dos Joy Division. Estamos aqui para nos questionarmos. Estamos aqui para dizer que não aceitamos a vossa "felicidade", essa que nos vendeis todos os dias, mesmo que venha acompanhada das imagens das mulheres mais belas, mesmo que, por vezes, quase nos deixemos levar por ela. Não, a felicidade não é isso. A felicidade é poder dialogar com Jesus, Sócrates e Nietzsche, a felicidade é conversar, discutir com os amigos e as amigas, a felicidade é celebrar a noite e o dia, subir ao palco, dizer a palavra, a felicidade é amar livremente, sem castrações nem máquinas de propaganda, a felicidade é aumentar a alma e a vida, é tomar parte do banquete permanente. Vivamos o banquete, derrubemos a máquina. Aí seremos plenos, criadores, super-homens. As nossas potencialidades serão infinitas. Vive o homem livre, o homem nobre, companheiro, companheira. Apaga a televisão. Não te deixes mais levar pela conversa. Não te deixes tornar naquele que eles querem que sejas. Torna-te naquele que és. Naquele que se descobre, naquele que se encontra. Sê verdadeiramente revolucionário. Segue a tua estrela.
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PRISÃO
Que faço aqui?
Porque tenho de usar dinheiro?
Porque tenho de ter um trabalho?
Quem me meteu essas coisas na cabeça?
Que existe na cabeça senão o que penso?
Porque é que as pessoas são tão mesquinhas?
Porque não hei-de inventar ideias novas,
porque não hei-de atingir a Ideia de Platão?
Porque não hei-de ser sábio?
Porque há-de existir um governo?
Porque há-de existir Deus?
Porque há-de alguém mandar em mim?
Porque passei a questionar tudo isto?
Porque passo tanto tempo só?
Porque não me limito a agarrar os segundos?
Porque ainda acredito no amor e na liberdade?
Porque não sou apenas mais um?
O que é que me empurra?
O que é que me faz subir?
Porque me tornei diferente?
O que me afasta da vidinha?
Porque penso tanto?
Porque é o que os meus pais me puseram aqui?
Porque me fascinam tanto a loucura e a embriaguez?
Que tenho a ver com Dionisos e os xamãs?
Quem me ama?
Quem me dá a mão?
Porque fazem disto uma prisão?
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Edição 83, 14 Dezembro 2012
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