domingo, 28 de dezembro de 2014

VAGABUNDO DAS ERAS


Devo ser bom

para estes débeis mentais?

Ou devo foder, foder, amar, amar

as damas de espadas?

Não há pachorra para tanta merda...

só falam da peste e de doenças...

da pele que queima

à flor da pele

à flor da Eva

rosa negra


merda para as ratas de sacristia!


com a canção a ferida sara

a coisa melhora

mas ainda não te percebem

vagabundo das eras.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

BEBE

Beber só te faz bem
não ouças a psicóloga
nem a mamã
a bebida liberta-te
solta-te o espírito
e a palavra
és mais tu
és algo mais
é Natal
e até nem ligas
são superstições
nada mais
o menino Jesus
morreu na cruz
e tu és doido
tu és livre
mais do que ele
e permaneces aqui vivo
celebras com Borges,
Swedenborg e Stirner
bebe, filho, bebe
de que te vale esforçares-te
como estes animais?
A glória vem ter contigo
tal como os livros
tal como o Graal
bebe, filho, bebe
não vais morrer hoje
nem tens de aturar imbecis
bebe, bebe
e caga no Natal.

BRAGA, MEU AMOR

Finalmente em Braga, na minha terra, na "Brasileira". Se pudesse viria viver para aqui. A cerveja dá-me alma. A cidade também. Vivi aqui momentos mágicos, outros piores, naturalmente. Vivi a noite e vivi a vida. Agora já poucos me reconhecem. Houve a história do hipermercado, as candidaturas a deputado pelo PSR. Houve e há, claro, a Gotucha. Hoje a "Brasileira" está a abarrotar. É Natal. O Natal nada me diz. Há a empregada bonita que traz as cervejas. Estou melhor. Tremo pouco. Houve também o Álvaro, o Alexandre, a Natércia. Dizem que sou o poeta da revolta, o último dos beats, o último dos poetas de café. Desejo o cu da empregada. Há quem elogie as minhas crónicas e os meus poemas. Há quem diga que sou único, original. Falta um maior reconhecimento dos media. No entanto, estou no bom caminho. "O Caos às Portas da Ilha" teve um bom arranque no Olimpo com a Maria Tomé a cantar, com a Albertina e a Georgina a dizer poemas do livro. E eu que não as conhecia de lado nenhum...o "Fora da Lei" vendeu mais de 100. As coisas rolam. O poeta está vivo. Aqui em Braga, na "Brasileira". As pessoas entram e saem. Lêem, conversam. O poeta arde. Sente a glória próxima. Aparenta ser um bom cidadão mas é louco, único, maldito. As barbas crescem. Até que ficam bem as brancas. Dão um ar de respeitabilidade. De senhor, de pensador. Ainda está por escrever a obra filosófica. Queria estar aqui em Braga todos os dias. Vir aqui à "Brasileira" ler e escrever. Ser o poeta reconhecido pelas pessoas. O poeta que fica irritado quando perde uma discussão. O poeta que debate e rebate. O poeta que conheceu o Jaime Lousa. Que o ouvia, que com ele aprendeu muitas coisas, tal como com o Artur Queiroz. Não, ainda não sou a estrela. Por norma sou simpático com as pessoas. Aprendi com os meus pais. Contudo, sei que me posso tornar agressivo. Em certas noites, em certos dias. Já andei a apedrejar carros e vidros da Câmara e da Junta de Freguesia. Não tenho a erudição do Rocha mas sei umas coisas. Agora sinto-me rei, soberano, com Max Stirner. A vida é minha. A cidade é minha. Danço com Diógenes e Luíz Pacheco. Tenho lido pouco autores portugueses, com a excepção de Agostinho da Silva. Talvez isso seja mau, não sei. Sou o último dos poetas ébrios. Sou guevarista, socialista utópico, anarquista. Sou utópico, assumo-o. Odeio a economia e a linguagem da economia. Conto os trocos, é certo. Tenho de sobreviver. Mas coloco a vida acima da sobrevivência. No poder, com algumas excepções, só vejo corruptos e vigaristas. O Estado está em causa. Talvez venha a anarquia. Finalmente, a anarquia. Esta merda a rebentar, o povo na rua a partir os bancos, a partir as montras. Desprezas o meu poder, ó Rocha. Sou dono de mim e da vida. Acredito num mundo de senhores. Senhores sem escravos. Desprezais o poeta, ó mundanos. Não sabeis até onde ele pode ir. O que é certo é que ele nada tem a perder. O que é certo é que ele é dono da palavra. O que é certo é que ele influencia as pessoas. Vai influenciando. Aos poucos, sem pressa. E a Gotucha nunca mais vem. E o poeta continua a escrever. Há outras gajas, outras miúdas. As pessoas ouvem-me, ó imbecil. Se eu disser o que é certo no local certo. Se eu publicar ou for às noites de poesia. Há quem me admire, quem me exalte, ó dono da verdade. A ti ninguém te ouve. Estás com todo esse paleio capitalista e economicista mas falas para as paredes e a mim não me convences, ó Rocha. O meu ego é superior ao teu, ó ginasta. Prepara-te para a próxima discussão. Virei armado.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O ÚNICO

Torna-te único, livre, singular. Afasta os dogmas da Igreja, do Estado, do capital. Mata-os na tua mente. Passeia-te pelas ruas como um senhor. Escreve, vive, cria. Não aceites o trabalho como uma fatalidade. Vieste para te ultrapassar, para desafiar os poderes, para voar. Nada está acima de ti. És Deus. A tua mente pode tudo. Mereces o paraíso que o outro Deus te roubou. Chama a tua Eva. Vive como poeta, como vadio. Reclama o que é teu. Chama os outros. Constrói uma comunidade. Dispensa a "verdade" do dinheiro. Vive plenamente. Estuda o homem e a mulher. Vive na pureza. Vive dentro de ti. Procura o bem, o belo e a verdade. Bebe. Brinda. Celebra. Os dias são teus. Goza-os. Fala aos homens e às mulheres. Diz-lhes que vivem enganados. Que há outra via, outra vida. Diz-lhes que o novo homem está a nascer. Que o paraíso está à vista. Que os poderosos vão cair.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014


Recuso-me a renunciar a mim mesmo
Recuso-me a obedecer ao que quer que seja
A Deus, ao Estado, aos patrões
Prefiro ser um vadio, um vagabundo
E dizer o que realmente penso
Não alinho na vossa lei,
Na vossa tranquilidade, ó burgueses,
Nasci diferente
Fui-me fazendo
Ouvi este e aquela
Li os mestres
Ouvi os discos
Tornei-me naquele que sou
Nada está acima de mim
Desprezo-vos, ó comentadores
Desprezo-vos, ó vedetas televisivas
Desprezo-vos, ó pregadores da morte
Eu vivo
Eu bebo
Eu brindo
Eu não me vendo
Eu venho dos sóis
Das estrelas
Nasci para passar a mensagem
A vida que levais é absurda
Sempre a correr atrás do dinheiro
Em vez de desfrutar da vida
Dos prazeres
Da sabedoria
Revoltei-me contra os números
E a economia
Não falo sequer a vossa linguagem
Vim para me completar
E para me dar
Ainda que esteja só
Ainda que poucos me sigam
Ainda que me queiram destruir
Matar-me à fome ou de tédio
Sou um homem livre
Um pensador
Um poeta
Escrevo para todos e para ninguém.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

ESTÁ TUDO BEM


"Meteis na prisão, como um criminoso, o homem honrado que fala abertamente contra o regime vigente, contra as sagradas instituições, etc, e a um refinado patife entregais-lhe carreira e "pasta" e outras coisas ainda mais importantes", afirma Max Stirner. Aqueles que combatem o sistema, o capitalismo, são silenciados, presos, diminuídos. O que interessa é manter a ordem dos negociantes, dos tiranos, dos corruptos. O que interessa é manter o sorriso dos apresentadores, das putas da TV, a hipocrisia do Natal, o que interessa é fazer de conta que está tudo bem, que nos damos todos bem, que somos felizes. O que interessa é dizer poemas que não incomodam, é ter conversas que não incomodam, é ser "amigo" de toda a gente. "A minha alma ou o meu espírito tem de afinar pelo que outros acham correcto e não pelo que eu próprio desejo", ainda Stirner. O que interessa é manter-se na manada, sem ter opiniões próprias, sem exercer a liberdade autêntica. Desde a infância, desde a adolescência que somos formatados, que somos ensinados a dizer "sim" ao patrão. É certo que há uns poucos que põem em causa, que na juventude ou na adolescência foram tocados por um livro, por um poema, por uma canção. Que tiveram determinados pais, determinados professores, que começaram a não ter medo de enfrentar a máquina, que seguiram a estrada do excesso e da revolta. Eles bem tentam mas só alguns os ouvem. Os outros arrastam-se, teleguiados pela moral burguesa, pelos preconceitos, pelo medo. Assim nunca sairão da prisão nem da caverna de Platão. Limitam-se a olhar para as sombras. Cumprem os dias, julgando que são livres, quando são rebanho, quando são autómatos a falar de banalidades. Nada trazem de novo, passam a vida a correr atrás do dinheiro, nunca alcançarão o divino, o homem-deus, o paraíso. Nunca serão capazes de dizer a palavra maldita.

domingo, 7 de dezembro de 2014

O CANTO DA EMBRIAGUEZ

Sim, ó poderosos, ó vedetas televisivas,
estou próximo de vós
mesmo que esteja aqui só
no centro comercial, no café da Cleo
sim, ó poderosos, ó vedetas televisivas,
não sou menos do que vós
eu brilho
eu canto
eu piso a Terra
sim, ó poderosos, ó vedetas televisivas,
eu sinto o apocalipse próximo
os tsunamis, os dilúvios, os tremores de terra
eu canto o caos e a barbárie
mas também o amor
a vida gratuita
eu canto o belo
as mulheres belas
sou o último dos beats
o poeta da revolta
da hybris
da desmesura
canto o xamã
as iluminações
as conversas em redor da fogueira
canto o homem livre
aquele que recomeça
que segue a estrada larga
canto os loucos divinos
Morrison
Rimbaud
Zaratustra
canto o que ainda não foi dito
o que é preciso dizer
as estrelas
a embriaguez
o céu na Terra.





terça-feira, 2 de dezembro de 2014

ÀS PORTAS DO PARAÍSO

Às portas do paraíso
As mulheres aproximam-se de mim
tratam-me bem
Reconhecem o fogo do poeta
Ontem no Pinguim
Fui o frontman
O animal de palco
A prima-dona
Tudo corre a meu favor
Os chacais na cadeia
Nunca houve dias como estes
Às portas do paraíso
As mulheres aproximam-se
Como gatas
O poeta reina
Dança com Zaratustra
Desce à aldeia
Nunca mais seremos
Os mesmos
Regressaremos à infância
Iremos correr para os bosques
Amaremos os animais e a natureza
Celebraremos o reino

domingo, 30 de novembro de 2014

QUE VENHA A REVOLUÇÃO

A Justiça em Portugal começa a funcionar. A prisão de José Sócrates e a condenação de Duarte Lima a 10 anos de prisão provam-no, tal como as investigações ao BES e a detenção de indivíduos que ocupam altos cargos no Estado no âmbito do caso dos vistos Gold. Cavaco, Passos, Portas, Dias Loureiro, Miguel Macedo e Marques Mendes também são suspeitos de ilegalidades e de corrupção. O PS, o CDS e sobretudo o PSD estão cheios de bandidos e de corruptos. Esses partidos não merecem o voto de ninguém. O próprio Estado burguês e o capitalismo estão em causa. Pensemos com Platão num governo de homens íntegros, justos, virtuosos ou na democracia directa. Pensemos no avanço da extrema-esquerda em Espanha com o Podemos ou na Grécia com o Syriza. Pensemos no ascenso da esquerda na América Latina: na Venezuela, na Bolívia, no Brasil, no Equador, na Nicarágua, no Uruguai, na Argentina. Pensemos nos anarquistas que ganham força. O mundo está, de facto, a mudar no sentido do verdadeiro socialismo e do anarquismo. Venha a revolução e venha depressa.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

ÁS PORTAS DO PARAÍSO

Aqui chegados. Sócrates preso. Um bando de vigaristas sob suspeita. Sim, tínhamos razão. Lutámos por isto quer na militância partidária, quer no palco ou na escrita. Dos escombros do capitalismo um novo homem vai nascer. Um homem livre do controlo, um homem sábio que cria, que procura, que descobre, um homem puro como à nascença. Está a acabar o vosso tempo, ó homens pequenos do sossego e da mercearia. O país começa a arder. As instituições desfazem-se. Tínhamos razão quando falávamos do controlo exercido pelos mercados e pela televisão. Tínhamos razão quando apelávamos à tomada de consciência . Quando dançámos com Morrison, Curtis e Zaratustra. Seguimos a estrada certa. Não seguimos a via do tem que ser, da populaça. Provocámos, partimos vidros. E agora a mente volta a abrir-se. Estão abertas as portas do paraíso. Não há limites. Não obedecemos ao relógio e à troca.Somos senhores sem escravos. 
De nada vos vale a conversa mole. Nunca descestes aos infernos. Começam a cair os partidos burgueses. É a hora do Syriza, do Podemos, do MRPP, do socialismo na América Latina. É a hora dos extremos. O fim do centro. Sim, caminhamos livres sobre a Terra. O vosso sossego, homens pequenos, está a chegar ao fim. Eis o tempo do caos e da viragem. Eis o tempo do homem ousado e audaz, aquele que cria e dança. Sim, a vossa tranquilidade está a chegar ao fim. Não vos fechareis mais no vosso mundinho, nas vossas casinhas. Agora é a doer. São tempos de revolução e de agitação.Celebremos. Tomemos a praça.

domingo, 23 de novembro de 2014

A CORJA E O ESTADO MORIBUNDO

O caso dos vistos "gold", o caso BES e a detenção de José Sócrates indiciam a queda do Estado e do sistema. Essa corja de corruptos do PS e do PSD levam muito boa gente a pôr em causa a credibilidade dos políticos do sistema, dos banqueiros, do Banco de Portugal, dos grandes negociantes. Nunca se viu nada assim em Portugal. Ninguém confia em ninguém. O caos e a barbárie andam à solta apesar da aparente tranquilidade. Bem podem muitos permanecer no seu sossego nas vindas à confeitaria de domingo arrotar vidinhas e banalidades. O Estado e o regime estão em causa. Levantem-se a extrema-esquerda, como o Podemos, o Syriza e o MRPP, e os anarquistas. O país está em cacos. Do meio da sofreguidão mediática virá a rebelião. Sejamos os donos do nosso destino, das nossas vidas, como diz Zizek. Não, não nos limitemos a escolher entre o detergente A e o detergente B. Chegou a hora. O Estado capitalista está moribundo.

sábado, 22 de novembro de 2014

SÓCRATES APANHADO

Os podres começam a vir ao de cima. A detenção de José Sócrates e os casos de corrupção associados ao PSD provam que os dois partidos do centro estão cheios de aldrabões, vigaristas, carreiristas e oportunistas. Não é legítima uma república, uma democracia burguesa como esta. Platão falava de um governo de filósofos, de homens justos, sábios, íntegros. Outros falam na democracia directa. É tempo de revolucionar, de mudar de regime, de afastar esta corja do Sócrates, do Passos, do Portas, do Macedo, do Marques Mendes. Com juízes corajosos o jogo começa a virar. Sócrates foi apanhado. Finalmente. Sempre tínhamos razão no que fomos escrevendo e lutando.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

EU SÓ QUERO VER O PODER A ARDER

O caos
A barbárie
Eu só quero ver
O poder a arder
De nada te vale
O dinheirinho
De nada te vale
O alto carro
O alto cargo
Os vidros partem-se
A polícia cai
Bem-vindos à anarquia
O poder caiu na rua
Vamos para a festa
Fazer a revolução
Eu só quero ver
O poder a arder
As pessoas a correr
Acabou o tédio
Acabou o sossego
Acabou o relógio
Eu só quero ver
O poder a arder
Dança, dama triste
A noite é tua
A noite é nossa
O jogo está a virar
Vamos ocupar a televisão
Rir e gozar a valer
Até isto cair de vez
Dança, dama triste
O teu tempo chegou
Não chores mais
O país está a ferro e fogo
Vamos dançar

Até o dia nascer.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O CONTROLE

Eles entretêm-nos com o trabalho, com a TV, com lazeres controlados. Não querem que tenhamos tempo para pensar, para dialogar, para partilhar. Reduzem-nos a bestas de carga, a servos, a seres formatados. Fazem tudo para que não ponhamos em causa a máquina do dinheiro, da dominação, da castração. Daí que já rareiem as conversas elevadas, aquelas que falam do sentido de tudo isto, aquelas que falam da essência. Eles querem que o nosso divertimento seja contido, controlado, não querem que voemos. A educação é dirigida para o mercado, evita-se o conhecimento desinteressado, a elevação dos jovens, a busca da sabedoria. Eles querem que pensemos como eles, que nos moldemos à competividade, ao empreendorismo, à guerra de todos contra todos. Eles querem matar a nossa vida.

domingo, 16 de novembro de 2014

O MAIS LOUCO DOS POETAS

Sou o mais louco dos poetas
Sou capaz de incendiar o mundo

As musas amam-me
Beijam-me na boca

E eu danço com Deus e Satã.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

PIOLHO

Estou no Piolho e estou só. O Piolho já não é o ponto de encontro da conversa e da discussão. Mantêm-se os gerentes- o Edgar e o Martins-, mantêm-se o Adriano e os outros empregados mas o Piolho parece ter perdido o encanto. Os clientes comem, bebem, tomam café. Lá fora chove. Logo à noite tenho o aniversário da Maria Tomé. Há indícios de que posso estar às portas da glória, tenho uma escrita original. Nem todos os poemas e textos são bons, claro. Tendo a repetir-me na prosa. No entanto, tenho consciência de que tenho coisas de muito valor desde os 18/19 anos. Alguns entretêm-se com os tablets e os portáteis. Eu mantenho-me fiel ao papel e à caneta. Estou a iniciar um novo caderno. Qual será o futuro dos meus cadernos? Há textos que não passo para o computador. Quando eu morrer ou ficar gravemente doente talvez alguém pegue neles. Sim, talvez me torne um gajo reconhecido não apenas em certos meios. Talvez devesse organizar uma antologia. Bem, não me sinto a morrer. Sou um dos poetas da cidade e de Braga, da Póvoa e de Vila do Conde. Vivo disto e das declamações. Quero ser um filósofo, um pensador. Na verdade, não me incluo no grupo dos normais. Tenho a minha loucura. Acho absurda a dependência do dinheiro, acho absurda a vida de sacrifício e de obrigações que muitos levam. No fundo, aos 16/17 anos já tinha a ideia. Já era crítico em relação à sociedade. Aprendi com o Roger Waters, aprendi com o Jim. Continuo a escrever. Escrever é a minha vida.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

CATALUNHA LIVRE E INDEPENDENTE

A esmagadora vitória (mais de 80%) do "sim" na consulta popular à independência da Catalunha prova que o povo catalão quer mesmo a independência face ao Estado espanhol e que, mais tarde ou mais cedo, a conseguirá. A Catalunha, tal como o País Basco, tal como a Galiza, tal como a Escócia tem uma identidade própria. Os resultados da consulta põem também em causa uma União Europeia que se reduz ao económico e ao financeiro e que está rendida ao imperialismo alemão. Não faz sentido esta União do capital e não dos povos. Não faz sentido esta dominação por parte de um bando de malfeitores, por parte de uns crápulas financeiros e políticos sem alma nem coração. Urge a verdadeira união dos povos a nível mundial na liberdade, na igualdade e na fraternidade, a união de homens e mulheres livres, soberanos, sem negociatas, sem corrupção, sem bandidos.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

UM MUNDO DE POESIA

Um mundo livre, um mundo de homens e mulheres generosos que debatem e discutem na praça pública. Um mundo sem capitalistas, sem acumuladores de riqueza, sem ganância. Um mundo sem governos, sem poderes, sem polícias. Um mundo de prazeres, de criação, de festa. Um mundo que está na mente de alguns homens e mulheres. Um mundo que regressa ao uno primordial, ao amor, à vida interior. Um mundo onde todos possam ser poetas e criadores. Um mundo sem relógios e sem imposições. Um mundo de desejo e utopia. Um mundo de poesia.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A GRANDE REVOLUÇÃO

Cheguei até aqui. Produzi, fiz asneiras, criei. Ninguém me pode acusar de me ter vendido à máquina. Li os mestres, estudei, ouvi as bandas. O meu pensamento tem feito a grande viagem. Estou convencido de que consigo comunicar com algumas pessoas, que podemos descobrir novos reinos juntos. Que podemos debater tudo à volta da fogueira. Que a vida não se resume ao que os media nos impõem, nem à fatalidade da vidinha. Creio que a grande revolução é possível se as pessoas se encontrarem, se partilharem as suas experiências e a sua vida interior. Penso que temos capacidades prodigiosas, que temos o ouro dentro de nós. Não podemos viver acorrentados, reprimidos, deprimidos. A vida tem de ter uma verdade, um sentido. Não viemos só para trabalhar, para cumprir as horas. Não temos de aceitar o que nos vendem. Eles não são mais do que nós, pelo contrário. Eles são escravos do poder e do dinheiro. Não os invejo. Prefiro a minha liberdade, a minha utopia. Prefiro desenvolver as minhas potencialidades no papel, no palco. Sei-o, não sou o único. Continuarei a lançar ao mundo os meus escritos.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O PAPEL DO ARTISTA

"É esse o papel do artista: transportar-nos para lá da rotina desalentadora e entorpecedora da vida quotidiana", disse Anais Nin. É à criação, à vontade criadora, à viagem interior que compete afastar-nos do tédio, da rotina, da passividade televisiva. Por outro lado, há um mundo que se tornou demasiado objectivo, demasiado científico, demasiado tecnológico. Precisamos regressar à criança, à espontaneidade, precisamos encontrar a criança sábia de forma a atingirmos o novo mundo. O artista, o poeta tem a responsabilidade de provocar os seus semelhantes e o instituído, tem a responsabilidade de denunciar a sub-vida que os media, os poderes e a alta finança nos impõem. Porque, de facto, para a grande maioria das pessoas a vida é uma merda. Trabalham, curvam-se, obedecem. A compra e venda domina as relações. Está tudo no mercado e nos mercados. As pessoas compram e vendem-se. Não há brilho, não há vida interior, não há festa. 
Todos fomos crianças. As crianças dançam, cantam, pintam, escrevem poemas. Contudo, há um ponto na adolescência ou na juventude em que a escola e a família nos empurram para o mercado de trabalho, para a competição, para a guerra. Muitos de nós perdem-se, perdem a capacidade criativa, o fazer pelo gozo de fazer sem estar condicionado por objectivos. Deixam de ser potenciais artistas. Deixam de gozar a verdadeira vida.

domingo, 26 de outubro de 2014

DA ESCRITA E DA LITERATURA

"A literatura ensina-nos a falar uns com os outros. Foi pela escrita que ensinei a mim própria a falar com os outros", afirma Anais Nin. A literatura, a boa literatura, transforma-nos, enriquece-nos. Certos livros, como "Assim Falava Zaratustra" de Nietzsche ou "Plexus" de Henry Miller, dão-nos mesmo a volta à cabeça. Nunca mais fomos os mesmos. A nossa vida interior entra em contacto com a verdade, com o sublime, com o encantador. Também o acto da escrita nos liberta, nos faz crescer. Julgo que ficamos mais perto do amor. Evoluímos ao desenvolver as ideias, as imagens, ao passá-las para o papel. Ao mesmo tempo, descobrimos novas paisagens. A escrita e a leitura permitem-nos abordar novos temas, encontrar novos tópicos de conversa, abrir a mente. Atingimos o tesouro interior, entramos em contacto com a musa. Tornamo-nos também homens melhores, mulheres melhores, criadores. Devemos partilhar o que sabemos, o que aprendemos de forma a criar um novo mundo, um novo homem. Devemos unir-nos na arte e na palavra.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O RISO LIVRE

As pessoas deveriam dançar mais, soltar-se mais, falar com o desconhecido, não se fechar no grupo. Deveriam contar histórias em redor da fogueira, expor-se mais, rir mais. Um rir que não seja estúpido, um rir autêntico do fundo da alma, um rir absolutamente livre, sem obrigações nem castrações. Um rir que volte à curiosidade, à infância que tem sido estragada pela troca mercantil. Um festim permanente que fuja ao controlo da vida burguesa. Um voltar à utopia, à juventude perdida. Um voltar à rua que é nossa e não dos poderes. Um caminhar livre como no princípio do mundo. E, ao mesmo tempo, um espírito crítico que não aceite as convenções nem os dogmas. Que não se renda à fatalidade, ao fado, às ideias feitas. Que não se deixe vencer pela rotina.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A IDEIA

Reina a moral do forte e do fraco, do que tem e do que não tem, a luta competitiva daquele que ganha e daquele que perde. Segundo Raoul Vaneigem, a felicidade desdenha a competição e a concorrência. Ignora as noções de sucesso e fracasso. A felicidade é a alegria primordial, é o contar histórias em redor da fogueira, sem grupos fechados, sem fronteiras. A felicidade é a comunicação mas é também o acto de pensar livremente. Aliás, temos o direito de passar a vida a pensar. Pensar é um "trabalho" como qualquer outro. Não perdemos por isso o direito de pisar a Terra. Não temos de ganhar ou perder, podemos abandonar o jogo, atirar a bola para fora. Não temos que seguir o mediático nem a moda. Procuramos o ouro, o sublime. Eles existem dentro de nós. Mas nós procuramos também o amor. A mulher que passa. Não entramos em campeonatos. Não somamos pontos. Nós criamos, nós debatemos a ideia.

sábado, 18 de outubro de 2014

UM NOVO COMEÇO

No meio dos burgueses escrevo. A empregada traz o cinzeiro e sorri. Sou um dos poetas da cidade. O mais louco deles todos, certamente. Contudo, raramente o mostro. Mantenho a pose do intelectual distante. Solto uns berros nas sessões de poesia e em algumas discussões. Mas sou tendencialmente um solitário, um homem só. 
Está tudo à espera não sei de quê. Vão-se cumprindo os dias. Bebem-se uns copos. O trabalhinho. Todavia, não se passa disso. Uns sorrisos aqui e ali. Nenhum grande pensamento. Nenhum gesto memorável. Não há aquela alegria primordial, aquele espírito dionisíaco. Há mulheres bonitas, sim. Mas falta qualquer coisa. As coisas repetem-se. Não há a tal explosão que abane as consciências. Falta loucura, loucura sábia. Falta que algo rebente, que bombardeie a rotina. Falta o inesperado. A conversa inesperada. Falta uma nova voz. Um novo discurso. Uma nova luz. Falta um novo homem, uma nova mulher, um novo começo.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O PASSOS NÃO ESTÁ LONGE

O PASSOS NÃO ESTÁ LONGE

O Passos não está longe. Podes atacá-lo. Insurgir-te contra ele. O Passos e todos os poderes estão ao teu alcance. Quase que podes derrubá-los se tiveres companheiros, companheiras. Eles não são intocáveis. São suspeitos de desvios de fundos, de fuga ao fisco, de corrupção. O próprio homem da rua desconfia deles, embora esteja confuso. Que direito têm eles de exercer o poder em nosso nome? E os milionários, os banqueiros, os especuladores, quem lhes deu o dinheiro? Porque é que essa gente é superior a nós? Quais os seus feitos, para além da ladroagem, da rapina, da exploração? Não, merecem ser derrubados um a um, merecem ficar na miséria. Regressemos à Grécia antiga. Convoquemos assembleias de cidadãos. Discutamos livremente a cidade. Sejamos os mais justos, os mais virtuosos, os mais sábios. Celebremos a libertação. Brindemos à vida. O mundo é nosso. A vida é nossa. 

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A GRANDE REBELIÃO

No "Orfeuzinho" leio Byron e "A Voz do Operário". Já não acredito no papel messiânico da classe operária. Acredito mais em pequenos grupos revolucionários- jovens, estudantes, professores, intelectuais, artistas. Penso que a revolução virá nos próximos 20 ou 30 anos. Mas antes virão o caos e a barbárie. Por isso, acredito nos intelectuais e nos artistas. Penso que a cultura vencerá a barbárie. Que a arte e a beleza não convertidas ao capitalismo combaterão a alienação e a manipulação das massas. Penso que a educação revolucionada poderá conduzir ao amor pela sabedoria. Penso que temos de reclamar o mundo e a vida. Porque é que esses patetas que detêm o poder económico e político hão-de ser superiores a nós? Porque é que eles ganham milhares e milhões e aldrabam enquanto que nós estamos aqui a contar os trocos, ou então nem temos nada? Não é justo, porra, não é justo. Através dos media lavam-nos o cérebro e roubam-nos a vida. Porque não reagimos? Temos o direito de ser livres e felizes, no entanto, estamos condenados a passar fome, a viver no tédio, a viver uma existência absurda e estúpida, com horários para tudo, até para o lazer, com chefes a mandar, com polícias a controlar, com capitalistas a acumular, com colegas de trabalho a passar por cima de nós, com manha, com malvadez. Não, o homem não pode continuar assim. Vem aí a grande rebelião, a grande revolta.

sábado, 20 de setembro de 2014

BANDO DE CORRUPTOS

O BANDO DOS MALFEITORES

Somos governados por corruptos, por aldrabões, por vigaristas. Passos Coelho não foge à regra. Somos controlados por mercadores, por malfeitores, por seres sem alma que exploram e acumulam. Nunca houve tamanha manipulação, tamanha sacanice, tamanha filha da putice. E os "homens de baixo", em vez de se revoltarem, atropelam-se, trepam como macacos, compram, vendem e vendem-se. Nos nossos dias não faz sentido escrever historiazinhas engraçadas, romances cor-de-rosa como muitos escritores fazem. A função do poeta é apelar à revolta, é despertar as consciências, é combater a máquina. Voltámos à Idade Média. O homem é diminuído, desprezado, crucificado. Os poderes político e económico-financeiro tratam-no como um número, como um robô, como uma mercadoria. Esta gente vem tranquilamente à confeitaria e não tem noção do caos, da barbárie que se abateu sobre eles. Agarra-se a conversas fúteis, ao dinheirinho, à sub-vida de todos os dias. Nunca houve tantas depressões, tantas doenças mentais, tantos suicídios. Esta vida de tédio que nos vendem não presta. Temos todo o direito de derrubar os vigaristas que nos governam, de afastar a corja dos banqueiros, dos especuladores, dos agiotas. Temos todo o direito de reclamar a Terra. De expulsar os vendilhões do templo.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

DA POESIA SUBVERSIVA

Segundo Benjamin Péret, os senhores do mundo consideram a poesia autêntica nociva porque esta ajuda à emancipação do homem. A poesia subversiva incomoda os poderes porque denuncia a corrupção, as negociatas e as falcatruas. Porque grita “nem Deus, nem amos”, porque alerta os homens para a sua própria destruição, para a escravidão, para o tédio. Esses poetas querem um mundo novo, um novo homem sem inveja, sem competição, sem intriga. Por isso, os senhores do mundo os querem silenciar, afastando-os dos media. Esses poetas resistem subindo aos palcos dos bares, publicando em livros, nos jornais locais, nos jornais on-line, no facebook, em revistas. Tentam, assim, chegar a mais gente, procurando convencer as pessoas. Talvez desse passar a palavra surja a rebelião, a revolta, a emancipação do homem.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O CAOS

O mundo está um caos. Nunca houve tanta malvadez, tanta pulhice, tanta ganância. O negócio é sinónimo de aldrabice, de corrupção, de roubo. Não há valores éticos. Banqueiros, especuladores, governantes, empresários, "credores", todos estão no mesmo saco. Todos pilham e passam por cima do parceiro. Mas o homem comum imita-os. Aldraba os seus semelhantes por causa do dinheiro, do emprego, do estatuto, da carreira. Raros são aqueles que se revoltam, que questionam, que procuram a virtude, a justiça, a sabedoria. Raros são aqueles que seguem Sócrates, Nietzsche, Agostinho da Silva. Raros são aqueles que se conhecem a si mesmos. É só sacar e safar-se. As pessoas não se abrem às outras, têm dificuldade em expressar sentimentos, estados de alma. As vedetas da televisão vivem por nós. As pessoas saúdam-se, cumprimentam-se, trocam umas piadas. Nada mais do que isso. Salvo raras excepções, não se dão ao outro, não dão o coração. Quase não existe o amor louco. As pessoas têm medo. Realmente são escravas, não vivem. Não celebram a vida. Perdem-se em mexericos, pouco pensam, têm preguiça mental. Arrastam-se. E assim vai o mundo até à grande revolução, até à tomada de consciência. Não se discute a pólis, a própria humanidade, a vida. Os indivíduos agem, pensam e opinam convencidos de que o fazem livremente mas, na realidade, estão contaminados pelos media, pelos negociantes, pelos capitalistas. O alto nível técnico-científico atingido coincide com um desprezo total pela vida humana e pela liberdade psíquica do homem, segundo diz Andrea Devoto. Apesar disso, a revolução continua a estar nas nossas mãos.

sábado, 13 de setembro de 2014

SEREMOS MUITOS MAIS

O homem é infinito mas está reduzido à sobrevivência. Capaz dos maiores prodígios, de grandes obras, o homem deixa-se controlar por uma minoria que está nas grandes corporações e que comanda o mercado e os governos. O homem está doente, gravemente doente, com depressões e outras doenças mentais. O homem está isolado no meio da internet e dos media. Não dialoga com Sócrates, não sobe à montanha com Zaratustra. 
A vida é um milagre, não temos de a pagar, não temos de fazer o que nos mandam fazer. Não temos de ser escravos de ninguém. O homem é curiosidade, sabedoria, descoberta. É vida em abundância, é mesa partilhada, é o amigo que vem e nos abraça, é celebração, é brinde, é resistência. Por isso não nos atirem mais TV, mais circo, mais guerra, mais competição. Por isso não nos façais mais a cabeça. Alguns de nós já percebemos as vossas manhas. Alguns de nós caminhamos livres. E seremos mais, muitos mais.

domingo, 7 de setembro de 2014

A NOVA HUMANIDADE

O sistema quer que não pensemos muito, que não aprofundemos as questões. Os media entretêm-nos com parques de diversões para matar o tédio. Tudo é feito para que aceitemos o poder, para que tomemos por realidade tudo o que vem da televisão. A vida não vivida não faz sentido. Não há incentivos à leitura, ao conhecimento. Somos levados pelas imagens. O homem leva uma existência vazia, controlada. Que são eles mais do que nós? Eles que lucram com as guerras, que lucram com a fome, que jogam com as nossas vidas. Somos seres humanos, porra! Merecemos uma vida livre. Por isso viemos ao mundo. Somos um só, unidos no amor. Ainda temos muito por descobrir. Estamos no princípio do mundo. Não deixemos que eles nos tomem a mente, que nos instalem um "chip". Pensemos. Questionemos as coisas. Eduquemos os nossos filhos na sabedoria. Criemos a nova humanidade. Sem chefes, sem governos, sem especuladores, sem capitalistas.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

CONTRA A BARBÁRIE

Atingir o homem total, integral, abolir as relações mercantis, estão entre os propósitos de Karl Marx e de outros pensadores. Propagar o amor entre os homens, chegar ao homem criador, ao homem enquanto ser supremo para o homem, eis porque estamos aqui. "O homem não é plenamente homem senão quando tem a ambição de ser mais do que é", afirma Roger Garaudy. O homem veio para se ultrapassar. Nesta sociedade que castra o desejo, que castra a liberdade, que nos impõe chefes e capitalistas, é preciso que o homem se reencontre consigo mesmo. Que regresse ao xamã, ao espírito, à antiga sabedoria. Senão não passamos de homens pequenos, de merceeiros, que vêm à confeitaria coscuvilhar ou falar de doenças, dinheiro ou trabalho. Senão não passamos de escravos que se atropelam uns aos outros em busca do dinheiro ou da posição social, à mercê dos media, dos especuladores e da finança em geral. Recuperar o sonho, a poesia, a utopia permite-nos ultrapassar este estado sub-humano. Debater o que é o homem, porque veio, discutir a literatura, a História, a filosofia permite-nos atingir patamares superiores e afastar a barbárie. Porque o mundo está cheio de caos, de guerras, de massacres e vêm aí grandes tragédias naturais. O homem só se salvará na busca da sabedoria, da virtude, do bem e no combate contra as forças da barbárie e do imperialismo. O homem só se salvará se vencer a indiferença, a exploração, a rapina.

domingo, 31 de agosto de 2014

É PRECISO AVISAR OS JOVENS E AS CRIANÇAS

É preciso educar os jovens e as crianças. Afastá-los do mercado e da competição. Ensiná-los no bem, na justiça, no amor da sabedoria. Porque eles são estragados na família, nos media, na escola. Não são incentivados à curiosidade, à leitura. São encaminhados para uma guerra pelas notas e, posteriormente, por uma posição social. Está instalada a barbárie. As pessoas vêm à confeitaria conversar mas não amam o próximo nem o longínquo. Está tudo convertido num negócio com os vendilhões que Jesus expulsou do templo. As pessoas vivem no medo dos patrões e da "autoridade". Cada vez se encontram menos. Este é o tempo do homem sentado à mesa da solidão. O capitalismo mata de fome e de tédio. É preciso avisar os jovens e as crianças. Esta vida não serve. Venho à confeitaria e não ouço conversas elevadas. É preciso discutir o mundo e o homem. É preciso promover uma discussão alternativa à dos comentadores televisivos. É preciso dizer que o mundo é nosso. Que não temos que aceitar governos nem lavagens ao cérebro. Os donos do dinheiro não são mais do que nós, pelo contrário. É preciso revolucionar o pensamento, libertarmo-nos de todas as escravidões. É preciso o homem livre.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

HOMEM LIVRE

Não sou o maior dos poetas. Ainda não atingi a perfeição. Mas há dias em que sou plenamente eu, em que me reencontro. Uso o computador, uso a net mas não sou adepto da sociedade tecnológica. Por isso procuro a verdade nos livros, em algumas pessoas. A verdade que me permite construir, elevar a discussão. Tenho 46 anos. Já vi muita coisa. Acredito nas árvores, nas flores, acredito que é possível transformar o homem. Alguns homens e mulheres, pelo menos. Acredito que a máquina, a busca do lucro e do interesse, vão cair. Acredito em homens bons. Acredito que será possível ensinar aos jovens e às crianças o bem e a justiça. Mas não com vendilhões, com castradores, com polícias. Acredito na liberdade absoluta que vem do coração, que vem da alma. Acredito no poder da Palavra, no filósofo, no poeta. Acredito num mundo sem guerras, sem governos, sem dinheiro. Acredito na democracia directa. No homem dono do seu destino, no homem que regressa à origem, ao paraíso. Acredito no homem livre.

sábado, 23 de agosto de 2014

UM REI

Um rei, um poeta, um profeta que anuncie o novo reino, o novo homem. Um rei que entre nos cafés, nos bares, nas casas e fale no caos instalado, na ditadura do cálculo e da finança, na concorrência entre os homens. Um rei, como Jesus, que condene a riqueza, a ganância, a usura. Um rei que diga que o caminho é outro, de paz, de amor, de sabedoria. Um rei que leve os homens a atingir o tesouro interior, a iluminação. Que os homens partilhem esse tesouro e o expressem na arte, na escrita. Um rei que expulse os vendilhões do templo, os "mercadores", os governos, os capitalistas. Um rei que diga que nada está acima do homem, que este dispensa os patrões, os que mandam, os que exploram. Que ninguém governe nem seja governado. Um rei que traga a luz, o espírito, a beatitude. Um rei despojado.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O HOMEM AMEAÇADO

Esta gente não sabe o que veio fazer ao mundo nem se questiona sobre isso. Vieram ganhar dinheiro? Vieram trabalhar, sacrificar-se? Vieram lixar-se uns aos outros? Não, se for para isso prefiro dar um tiro nos cornos. Creio sinceramente que o homem veio para muito mais. Veio para saber, veio criar, veio desenvolver as suas potencialidades. Veio certamente conhecer-se a si próprio, experimentar os seus limites, praticar o bem. Veio também gozar e desfrutar, partilhar as suas ideias, iluminar-se. Veio construir-se.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O BLOCO EM CACOS E OS OPORTUNISTAS

O Bloco de Esquerda está em cacos. O aparecimento do Fórum Manifesto e do Livre e o regresso interno da UDP e de outras tendências dão a machadada final num projecto político que mobilizou muito boa gente e que, de início, se reclamava do anti-capitalismo. Mas não tenhamos ilusões. O Fórum Manifesto de Ana Drago e de Daniel Oliveira e o Livre de Rui Tavares são organizações reformistas cujo objectivo é chegar ao poder através de alianças com os burgueses do PS. O Fórum Manifesto e o Livre que dizem querer reformar a esquerda não põem em causa a ditadura dos mercados nem a selvajaria financeira. Adaptam-se ao capitalismo e à democracia burguesa, não trazendo novas respostas à barbárie que já está instalada. No fundo, não passam de um bando de oportunistas em busca do tacho. Quanto ao Bloco, perdeu-se em causas pretensamente fracturantes e em parlamentarismos e perdeu toda a pureza inicial.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A MANADA

Odeio os "picas" do metro. Vêm antipáticos com aquele ar controleiro de lacaios do sistema exigir o cartão validado. No fundo, são eles os cães de fila do poder, da autoridade. São como os polícias que castram a tua liberdade, a tua autonomia, que te retiram a alegria de viver. Aproveitam-se do seu pequeno poder para se imporem aos outros, poder que está num pequeno bilhete que divide o cidadão cumpridor do marginal. Não, não gosto dessa gente. Nem de todos os homens pequenos que passam à frente, que empurram, que trepam. Não sou daí. Não nasci assim. Não pertenço à manada.

domingo, 20 de julho de 2014

O AMOR

Á excepção de Fante, Miller ou Bukowski, prefiro os livros de filosofia ou de sociologia aos romances. Gosto de sublinhar os livros, de tirar notas. Gosto de estudar os livros. Nem sei como pude publicar tanta coisa menor. Tenho a obrigação de escrever bem mediante as leituras que faço. Tenho a obrigação de ser um grande escritor, um grande poeta e talvez até um filósofo. A vida que tenho vivido dá-me motivos para escrever. Os filmes, as aventuras, as histórias de bares e de putas. Mas também os amores, o amor que sinto por ti. O amor que cresce. A tua ausência que me faz sofrer. A vontade de te ver, de te beijar, de te abraçar. O amor louco que me arrasta, que me prende a ti.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

O POETA MALDITO

Leio Dostoievski, "O Eterno Marido". Em Santo Tirso ainda se recordam do meu pai, antigo presidente da Assembleia Municipal. Não segui os passos do meu pai. Não sou o senhor engenheiro, respeitado, respeitável. Sou antes isto. Um poeta maldito, aquele que se revoltou, que fez umas asneiras, que se embriaga. Apesar de tudo, aqui em Vilar do Pinheiro, as pessoas respeitam-me. Sou o senhor que lê e escreve. Que passa as tardes nisto. Que vai conhecendo umas miúdas. Que fala com elas. Que, de vez em quando, as beija. Que está quase sempre teso. Que vai tendo umas namoradas mas que não pode assumir grandes compromissos. 
Vou construindo uma história. Tenho os meus livros. Os que leio e os que escrevo. Tenho os meus filmes. Não sou um cidadão comum. Não me adaptei à vidinha. Não segui a linha recta. Apanhei patadas. Já quando era puto era diferente dos outros. Pensava muito. Como agora. Dizem que tenho bom coração mas tenho também a raiva. Parto coisas. Rebelo-me contra Deus como Lúcifer. Consigo ser o mais louco dos homens. Na verdade, pouco ou nada tenho a perder. Tenho o meu lado aventureiro. Não embarco em rotinas. Aliás, a rotina mata-me, deprime-me. Não conseguiria levar a vida desta gente. Trabalho, praia, filhos, obrigações. Já andei com gajas completamente loucas, no bom e no mau sentido. Vivo os livros, vivo muito dos livros. John Fante, Dostoievski, Bukowski, Henry Miller. Se não fossem os livros já teria dado um tiro na cabeça. Não saberia como preencher o tempo, como combater a solidão. É claro que observo as pessoas, sempre de um lado para o outro, sempre apressadas, à procura não sei do quê. Não consigo entender esta gente. Vêm ao mundo trabalhar, cumprir tarefas. Não vivem como os poetas, como alguns poetas. Passam a vida a pensar no dinheiro, na sobrevivência. Não gozam a vida na sua plenitude. Como eu contigo em Santo Tirso na festa do santo. Beber até ser dia. Não, não sou como eles.

domingo, 13 de julho de 2014

LEONOR

Em Braga. De novo n' "A Brasileira". Há já alguns meses que não passo vários dias seguidos aqui. A Leonor está triste, doente, deprimida. Não há outra menina como ela. Há 21 anos que nos conhecemos. Muita coisa se passou entretanto. Ela tornou-se professora, eu um poeta vadio que já fez alguns disparates, uma "avis rara" que alguns querem entrevistar. Sinto-me bem aqui em Braga. As pessoas parecem amáveis. As donas d' "A Brasileira" são bonitas. Sinto-me em casa, na minha cidade. Posso não ter a fama de outros, posso não ter a técnica mas sei que sou capaz do melhor. Sei que consigo escrever bem. Boa literatura. Mesmo que já tenha publicado coisas sofríveis, mesmo que não seja reconhecido por alguns. Ainda assim tenho os meus fãs, as minhas fãs. Vou deixar um legado, como alguém disse. Vou deixar uma obra. E não vou ficar por aqui. Ainda tenho muito a dizer, a escrever. Ainda tenho muitas cervejas a beber. Sei que me repito. Mas há coisas a denunciar. Há a Leonor. Sofro por ela. Revolto-me contra este mundo de injustiça, de manha, de rapina. Apesar de existirem mulheres bonitas, pessoas bonitas. No entanto, a maioria tem medo de viver, de explodir, de se extasiar. A maioria agarra-se ao trabalhinho, ao dinheirinho. Leva uma existência quadrada, vazia. Não valoriza o conhecimento, a luz, compete entre si. Contudo, apesar de tudo, ainda acreditamos em algumas pessoas. Ainda acreditamos no diálogo, na descoberta, nas conversas até às tantas. Na ausência de pressas, de pressões. No homem livre, sem obrigações. Acreditamos que somos capazes. Não vamos atrás da felicidade da maioria.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

HISTÓRIAS DE BARES E DE PUTAS

Tenho tantas histórias. De copos, de noitadas, de putas. Estive nos bares até ser dia. Tive grandes discussões políticas, armei confusão, fui expulso, apanhei porrada. Também parti os vidros dos carros e da Junta de Freguesia. Fui a tribunal. Fui apanhado pela polícia. Esta gente que me vê nem imagina o quão arruaceiro já fui. Fui às putas do Marquês, da Trindade, da rua da Alegria. Apaixonei-me por uma. Ela pagava-me o pequeno-almoço no café Pereira. Elas muitas vezes gostavam de mim, contavam-me a vida. Havia o "Big Ben", onde elas iam com os travestis. Eu falava com elas, bebia, escrevia. De facto não sou um cidadão exemplar. Meti-me em alhadas. Se tiver dinheiro bebo até ao fim. Não, miúdas, não sou apenas o gajo que escreve e lê. Não sou nenhum santo. Tenho esse lado maldito. Ocupei um hipermercado, deitei uma estátua abaixo. Ás vezes ainda ameaço. E tenho matéria para escrever um romance.

terça-feira, 8 de julho de 2014

O HOMEM QUE NASCE E RESSUSCITA

Ouço alguns jovens. Também eles são críticos em relação ao sistema neo-liberal capitalista. Também eles acreditam num mundo novo, sem competição, sem intriga. Falam-me do conhecimento, da leitura. O padre Mário de Oliveira diz que somos seres humanos ainda em vias de criação. Precisamos de nos unir, de nos reunir, como os gregos na ágora. Precisamos de criar, de ir buscar o amor ao fundo de nós mesmos, não de pactuar com os bancos, com os impérios financeiros que destroem o humano. Precisamos de romper com um sistema que nos afasta, que nos isola, que nos aliena, que nos escraviza. Não nascemos para isto. Éramos crianças livres, adolescentes com sonhos, desejamos o paraíso na Terra, não nos céus. Mas fizeram de nós, de muitos de nós, máquinas de produzir e de consumir, sem tempo para o encontro, para a descoberta. Ainda temos em nós, em alguns de nós, capacidades prodigiosas. A capacidade de produzir a ideia, a capacidade de inventar, a capacidade de dar. Sim, deveriamo-nos sentar à mesa fraternalmente a discutir o homem, a literatura, a filosofia. Deveriamo-nos abraçar e anunciar o novo homem. Não este mundo de interesses, de negócios, de manha. Não estes políticos imbecis, incapazes de uma ideia. Não estes seres televisivos que nos tomam o ser e passam. Não estes animais que acumulam. Não a injustiça. Não o desamor. Não a destruição do homem pelo homem. Não a pressa. Mas o encontro, a curiosidade, a dádiva. O homem pleno, autêntico, cheio de vida. O homem que nasce e ressuscita.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O OUTRO MUNDO

Não vim, de facto, para este mundo. Do dinheiro, do lucro, da manha, do lixar o parceiro para subir. Sempre acreditei em algo mais. Num mundo de irmãos, de dádiva, de partilha. Odeio os poderosos, os chefes, os que fazem jogos, os que manipulam. Por isso detesto a linguagem da economia, do ganho, do comércio, do sacrifício. Imagino um mundo onde os homens se dedicam ao conhecimento, onde os homens se relacionam sem a intenção de enriquecer ou de tirar proveito. Imagino um mundo onde os homens discutem livremente sem hierarquias. Um mundo onde os homens desenvolvem ao máximo as suas potencialidades sem prejudicar ninguém. Um mundo onde os homens vivem em paz com os animais e com a natureza. Um mundo de iguais, apesar das diferenças próprias de cada um. Um mundo sem governos e sem poderes. Um mundo plenamente humano de comunhão, de verdade, de descoberta.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

HOMENS-DEUSES

Não tenho multidões a pedir para autografar os meus livros. Não tenho milhares de leitores. No entanto, sei que exerço uma certa influência. Sei que provoco a discussão. Porque eu não segui a via das multidões. Haverá outros mais cultos e mais inteligentes do que eu, haverá outros mais eloquentes, mas eu sei que tenho a minha originalidade. Sigo os mestres. Sigo a palavra. Não estou armado. Admito a violência como último recurso mas não ando armado. Bebo do cálice. Sou verdade, sou vida. Mesmo que tenha a minha doença. E que, por vezes, caia. Na verdade, desde miúdo que me afasto do rebanho. Inventava personagens. Depois compreendi, aos 16 anos, que este mundo não servia. Era o Peter Owne, seguia os "hippies". A paz e o amor. Agora já me sinto ligeiramente embriagado. A dada altura defendi a embriaguez permanente. Não me arrependo. Não tenho que ser anjo de Deus nem militante disciplinado. Foi nos bares que me descobri. Não devo nada a ninguém. Não tenho obrigações nem compromissos. Não tenho de estar em casa a horas certas. Sou o homem da liberdade, como dizia Jim Morrison. A timidez foi-se. Sou o senhor da aldeia. Cantei em bandas. Não resultou. Tento influenciar as pessoas. Dizer-lhes que há outro mundo, outra vida. Que o homem não é escravo do capitalismo nem da tecnologia. Vejo o dinheiro a ir e vir, a ir parar às mãos dos especuladores, dos mercadores, dos políticos. Vejo o homem esfomeado. Não é justo. Nascemos para viver, não para sermos escravos. Nascemos para desenvolver as nossas potencialidades. Para criarmos. Para sermos homens-deuses. Nada nos parará.

sábado, 28 de junho de 2014

NEM SEQUER AMAMOS

As miúdas vêm à confeitaria. Parecem felizes. De que falam? De nada que me motive. As pessoas estão mesmo convencidas de que são livres, de que têm direito de voto, de que vivemos numa democracia. A verdade é que a sociedade que construímos conduz cada vez mais à doença mental e abafa o amor. Estamos separados, partidos, poucas vezes nos encontramos porque o trabalho nos prende, nos castra. Celebramos em dias marcados ou por causa de coisas menores como o futebol. Nada fazemos para construir o império do homem sobre a terra, nada fazemos pelo reino da liberdade e da abundância. Exploramo-nos uns aos outros, atropelamo-nos, dividimo-nos em grupos fechados, não nos unimos. Às vezes até parece que não somos da mesma espécie. Não questionamos o homem, não questionamos a vida. Não aprofundamos o nosso pensamento. Somos mecânicos. Entretêmo-nos com imbecilidades. Não crescemos. Não passamos mensagens. Contentamo-nos com pouco, com o nosso dinheirinho, com o nosso carro, com a nossa casinha. Não vamos mais além. Não procuramos sair da rotina. Não nos queremos elevar à altura dos deuses. Não vivemos a vida. Não a celebramos. Estamos perdidos, partidos. Deixamo-nos levar pelas patranhas dos políticos e dos capitalistas. Acreditamos na publicidade. Nem sequer amamos.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

O IMPÉRIO DO HOMEM NA TERRA

"O princípio comum, a criação do império do homem na terra, esse nunca levantámos um dedo para o defender", escreve Henry Miller. O império do homem na terra, o homem livre, o homem integral, o homem-deus, não lutamos por isso. Guerreamo-nos uns aos outros, dividimo-nos em senhores e escravos, em explorados e exploradores. Não elevamos o homem, não procuramos a virtude, o conhecimento, a justiça. A sociedade que construímos conduz à doença mental- sobretudo à depressão- e até à diminuição da capacidade de amar. Só alguns pensam, os outros limitam-se a trabalhar, a ganhar a vida. A televisão não exige o esforço mental prolongado nem a concentração. O homem não brilha, não se liberta, não percorre com Sócrates as ruas de Atenas. Reduzido à sua vidinha, é incapaz de um rasgo, de uma luz. Mesmo que seja simpático, amável, não se dá, não se eleva. Como afirma Aldous Huxley, "a vítima da manipulação do espírito não sabe que é vítima. Para ela são invisíveis os muros da sua prisão, e julga-se a si própria livre".

segunda-feira, 23 de junho de 2014

CERVEJA

Bebo cerveja. Tu atrais-me, excitas-me. Dona do café. Senhora da minha vida. Já me dirigiste a palavra em tempos. Não sabes quem sou. Sabes que venho para aqui ler e escrever. Não sabes que escrevo sobre ti. Até há um poema sobre ti no “Caos às Portas da Ilha”. És bonita. Provocante. Não conheces o meu mundo. A minha loucura. Nem sabes que estou a caminho da glória, do reconhecimento. Que apareço nos jornais, na rádio, na televisão de vez em quando. Venho cá por tua causa. Bebo. Celebro a vida. A exuberância da vida que está em ti. A humanidade que nos une. O homem louco às portas da liberdade. O filósofo. O profeta. Aquele que se dirigirá à multidão. Aquele que canta. Aquele que conta. Deveria ter dinheiro para mais cervejas. Para conversar contigo. Para te amar. Para subir ao palco. Sou o último dos poetas de café. O mais louco dos homens. Os olhos estão vermelhos. Não os posso cansar muito. Imagina o que seria se ficasse cego. Ficaria um completo inútil. Não te poderia ver. Até tens uma certa classe. Dar-te-ia os meus reinos. Agora não sei o que te dizer. Tenho andado de tasco em tasco aqui em Vilar do Pinheiro e assim sinto-me bem. A música é boa. Estás mesmo atrás de mim. Falta-me dirigir-te a palavra. Voltou a hora de oferecer poemas às meninas. Voltou a hora de reinar. Só me falta mais dinheiro para as cervejas.

terça-feira, 17 de junho de 2014

A SOCIEDADE HUMANA

"Útil para a produção de poder e de lucro, o homem é perfeitamente inútil", diz Raoul Vaneigem. Entregue à sobrevivência e à economia, preso à imbecilidade mediática, o escravo só é útil aos senhores no consumo e na produção. O homem está desumanizado, não goza a verdadeira vida, a gratuitidade, a poesia. Só alguns criam o humano no homem. Só alguns, poucos, gozam a exuberância da vida. Os outros, separados de si mesmos, tornam-se predadores uns dos outros, competidores em busca da taça, do emprego, da carreira. O homem não é dono do seu próprio destino, não cria, serve a máquina e o "Big Brother". É preciso começar tudo de novo. Devolver a humanidade ao homem. Dos escombros da sociedade mercantil nascerá a sociedade verdadeiramente humana.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

NIETZSCHE N' "A BRASILEIRA"

Um homem lê Nietzsche n' "A Brasileira". Afinal, está vivo o grande Zaratustra. O super-homem passeia-se pelas ruas de Braga ao lado do Luiz Pacheco e do Adolfo Luxúria Canibal. No fim de contas, temos toda a razão em desprezar a sociedade mercantil, da economia e do tédio. Temos o direito de ser livres e felizes, nenhum governo ou império financeiro está acima de nós. Somos senhores da vida, da vida livre e gratuita. Talvez mais aqui especificamente em Braga, cidade que nos deu a aventura e a vida. Cidade onde criamos e cantamos.

sábado, 14 de junho de 2014

MULHERES

Há mulheres que mantêm uma certa espontaneidade, que brincam com as crianças, que transmitem vida. Não sei quais são as opções políticas delas, que ideologia ou religião seguem mas admiro-as. Conseguem afastar o tédio e a rotina. Por isso as amo. Eu, o enamorado da vida. O grande louco. O poeta. Claro que não estou nos meus dias depressivos. Claro que não estou em baixo. Por isso me enamoro das mulheres e da vida. E sou capaz de criar, de inventar, de passar-me para o outro lado. Até a cerveja está viva.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

ENTRE A JUVENTUDE

Sinto-me bem entre a juventude. Ainda não os compreendi mas sinto-me bem entre eles. Penso que nestas idades- 16, 17, 18 anos- ainda não estão perdidos. Ainda lhes posso comunicar o que sei. Mesmo que andem sempre agarrados aos computadores. Pela parte do Ramiro poderia aqui dizer-lhes poesia, transmitir-lhes algo de novo, como quando as pessoas se dirigem a mim no final do espectáculo. No "Olimpo", a "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" voltou a resultar. Vou deixando aqui e ali a minha marca. Contudo, parece que tenho sempre de começar tudo de novo. Apareço nos jornais, na televisão, no entanto, parece que a grande maioria esquece. De qualquer modo, ainda não disse tudo o que tenho a dizer. Ainda não disse que a revolução que aí vem é mais do que nunca necessária. E vou observando e ouvindo os jovens e acredito que a coisa é possível. Mesmo que o sistema castre, aliene, manipule. Temos em nós algo de indomável, uma força que vem de dentro, dos céus, da Terra, uma força que não se ensina nas escolas, que não é obrigação nem trabalho, uma força que é vida, que está na juventude, que está na infância. Daí que quando estamos em baixo, quando queremos desaparecer, quando parece que tudo desaba, devíamos ir atrás dessa força que está na música, na criação, na poesia. Liberdade cor de homem, chamavam-lhe os surrealistas. Não, isto não é, não pode ser só produzir, consumir e pagar, isto é o homem à solta, o grande doido, o poeta revolucionário.

sábado, 7 de junho de 2014

A VIDA COMO DÁDIVA

Não estou mal. Leio, escrevo, dialogo. Ás vezes até julgo que descobri a pólvora. Mas logo me entedio. A maioria das pessoas não serão más mas deixam-se enredar na teia da concorrência, da luta pelos lugares, da rotina. Riem mas não são livres nem felizes. É a felicidade fabricada. Há uma máquina que castra como em "1984", como em "Admirável Mundo Novo". Cumpre-nos a nós poetas, revolucionários denunciar a situação. Cumpre-nos a nós dizer que este mundo não serve. Que não estamos condenados ao tédio nem ao trabalho forçado. Que não é justo tantos viverem com carências ou morrerem de fome. Cumpre-nos a nós dizer que o homem nasceu para ser livre, para caminhar livremente sobre a Terra. Mesmo que tenha os seus demónios e os seus fantasmas. Essa é a vida interior. A vida interior tem de entrar em contacto com a beleza, com a mulher. Tem de dizer-lhe que nada está acima de nós, que somos poderosos, mesmo que fraquejemos. Tem de dizer-lhe que a vida é um bem, uma dádiva. Que temos de ser justos e virtuosos. Que temos de amar. Que temos de amar a mulher bela. Como os surrealistas. Cumpre-nos a nós poetas, revolucionários, mulheres livres dizer que há o sol, a dança, a utopia. Que a vida é para ser vivida e não cumprida. Que o homem pode nascer a cada dia. Que somos criadores. Que viemos transformar o mundo. Que somos a eterna criança. Que corremos sem direcção definida. Que não corremos para casa, para a TV. Que tiramos da vida o que há de mais belo. Que a verdadeira vida está aqui. O céu na Terra. A união do céu e da Terra. Tudo isto vem também da mente e da vida interior. Somos ricos. É-nos mais fácil passar isto para o papel do que dizê-lo oralmente. Talvez um dia...

quinta-feira, 5 de junho de 2014

CONHECE-TE A TI MESMO

Os senhores do mundo querem-nos apáticos, deprimidos, querem que não pensemos, que não ponhamos a máquina em causa. Muitos caem na pobreza, na miséria e será muito difícil que não pensem senão na sobrevivência. Outros caem na depressão e tornam-se infelizes, incapazes, impotentes. Os senhores do mundo não querem que sejamos senhores, que tomemos consciência, que os derrubemos. Querem-nos dóceis, aparentemente tranquilos, inofensivos. E vamos levando esta vida sempre igual, sem novidade, quase sem prazer. O álcool e as drogas alteram-nos, dão-nos ânimo. É certo. Mas também isso é passageiro. Porque é que a tecnologia progrediu tanto e o homem está infeliz? Quem nos destrói? Quem nos castra? "Conhece-te a ti mesmo", diziam os gregos antigos. Deves começar por aí. Deves conhecer os teus deuses e os teus demónios. Eles estão dentro de ti. Ama-te. Assim combaterás os senhores do mundo. Assim te libertarás. Assim te unirás aos teus companheiros. Descobrirás a razão por que estás aqui. Não te limitas a passar as horas. Vibras. Vives. És único. Estás para lá dos senhores do mundo. Venceste.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

A MISSÃO DO POETA

"Ter uma acção sobre a humanidade, contribuir com todo o poder do meu esforço para a civilização vêm-se-me tornando os pesados e graves fins da minha vida."
(Fernando Pessoa)

Acrescentar algo ao homem, à humanidade. Eis a missão do artista, do poeta. Não se ficar por objectivos fúteis, meramente egoístas, não se ficar pela luta pela sobrevivência e combater pela civilização contra uma barbárie que se está a impor, eis o desígnio do intelectual, do poeta. Dar-se ao mundo, dar-se à vida, dar-se em amor e liberdade, eis o que o poeta faz aqui, mesmo que tenha de enfrentar os poderes, os tribunais, a polícia. Por isso Jesus e Sócrates foram condenados à morte. Por isso o poeta, o profeta, o filósofo devem ser incómodos, devem desafiar os poderosos. Devem descer à praça pública, denunciar os podres que por aí andam. Devem usar a pena no sentido de se construir um mundo novo, um homem novo. Devem manter-se firmes e apelar à consciencialização dos homens e à revolução. Está a chegar a hora.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

PÁTIO

Estou no Pátio, em Vila do Conde. Estive a falar com o Ramiro. As gajas vêm, insinuam-se. Eu, preso à mesa, observo. Não sou mais do que os outros. Escrevo. A escrita vem-me da alma, do pensamento. Apesar da juventude circundante, acho isto um tédio. Tédio que os guardiões da ordem estabelecida impõem. Porque não berrar, desatar aos saltos, lançar o caos? Porque não sair da net e do Facebook e encontrar os verdadeiros amigos? Porque não pôr bombas nos bancos e nas bolsas? Quem te ensinou a andar direitinho? Quem te fez a cabeça? Se tivesses mais nome ouvir-te-iam mais. Assim só chegas a alguns, poucos. Não falas com desconhecidos. No fundo, vives uma vida à margem. Sofres com a solidão mas é a solidão que te permite criar. Lês muito, lês livros, lês jornais. Conheces. Contudo, nem sempre consegues transmitir as tuas ideias. Estás triste. Os amigos partem. As amigas estão sempre ocupadas com a merda do trabalho. Trabalho que nos rouba a vida, que nos escraviza. Não que não seja necessário um esforço para escrever, para criar. Manténs-te fiel ao papel e à caneta, ó poeta. Preenches cadernos. Às vezes ficas tão tímido, quase não consegues falar. Outras vezes descarregas tudo. Nem tanto nos últimos tempos. Nem tens explodido. Nem sequer em palco. Andas contido. Só vês putos à tua volta. Putos e rock n’ roll. Podias ser um filósofo como Sócrates mas não tens discípulos. Podias pregar a virtude, a verdade, a justiça. Que se há-de fazer? És diferente deles. Nem sequer os conheces. Não conheces esta nova geração dos tablets, dos portáteis, dos smart-phones. Vens de outro tempo, de outra vida. Discutias a liberdade com os teus amigos do liceu. A cabeça deu várias voltas. Não és inferior aos escritores de sucesso. Falta-te um pouco de disciplina, talvez. De resto, leste os livros, ouviste os discos. Ainda não andas a vender poemas como o Ulisses ou como o Ramalho. A vender ou a oferece-los às gajas. Daqui a uns tempos possivelmente publicarás isto em livro. Algumas gajas lerão e far-te-ão elogios. Vives do aplauso, ó poeta. Vives das gajas, mesmo que elas não te liguem puto. Vives e bebes. Não há salvação, cara psicóloga. É o poeta maldito, a “Avis rara”, o homem de outras eras. Não vê a felicidade aqui. Também não acha que os outros a vejam. Conversam, riem mas não colocam as questões. Verdadeiramente não dialogam, não discutem as grandes questões da vida. Não percebem que para derrubar o capitalismo é necessária alguma violência. Nem percebem, principalmente a juventude, que só recebem umas migalhas. O grande dinheiro vai para os “credores”, para os especuladores, para os exploradores, para os mercadores. Paz podre, verdadeira paz podre. Não se incendeiam automóveis, não se partem lojas. Ficas reduzido a uma vida perfeitamente amputada, a uma vida ordenada, a uma vida sem gozo autêntico, sem liberdade autêntica. Trabalhas, serves o patrão ou o governo. Passas a vida a pagá-la. Não estudas para te enriqueceres. Fazes tudo em função do patrão, do papão. Acorda! Desperta do sono. Eles fazem-te a cabeça. Não percorres com Sócrates as ruas de Atenas. Não és convidado para entrar nas casas. Não discursas nem pregas como Jesus. Estás no tédio, no vazio. As gajas estudam. Duvido que seja literatura ou filosofia. Quem sabe? Desprezam-se as artes em favor da ciência e da tecnologia. Não há brilho. Não há união, unidade como em Abril. O homem escreve só, à mesa.

terça-feira, 13 de maio de 2014

A REVOLUÇÃO DE HOJE

A revolução de hoje não se faz só com os trabalhadores. Faz-se com toda a gente que toma consciência de que o capitalismo actual explora, aliena, conduz à miséria. Diminuição dos salários e das pensões, aumento dos impostos mas também, e sobretudo, o "Big Brother" que faz as consciências, que molda o pensamento e a acção. Um "Big Brother" nas mãos dos imperialistas, dos grandes negociantes, dos políticos do sistema, dos banqueiros, dos mercados. Nada é inocente. Esta gente quer destruir o homem, convertê-lo num autómato obediente que produz e consome. Esta gente opõe-se ao conhecimento, ao questionamento, à reflexão e atira-nos para o rebanho. A revolução de hoje faz-se pelo passar da mensagem, não descurando a presença nos media sempre que possível. A revolução de hoje faz-se pela construção do homem livre, do homem que cria, do homem que dá. Exige leitura, estudo mas também acções provocatórias como, por exemplo, em sessões de poesia. Exige a revolução nas nossas cabeças.