No meio dos burgueses escrevo. A empregada traz o cinzeiro e sorri. Sou um dos poetas da cidade. O mais louco deles todos, certamente. Contudo, raramente o mostro. Mantenho a pose do intelectual distante. Solto uns berros nas sessões de poesia e em algumas discussões. Mas sou tendencialmente um solitário, um homem só.
Está tudo à espera não sei de quê. Vão-se cumprindo os dias. Bebem-se uns copos. O trabalhinho. Todavia, não se passa disso. Uns sorrisos aqui e ali. Nenhum grande pensamento. Nenhum gesto memorável. Não há aquela alegria primordial, aquele espírito dionisíaco. Há mulheres bonitas, sim. Mas falta qualquer coisa. As coisas repetem-se. Não há a tal explosão que abane as consciências. Falta loucura, loucura sábia. Falta que algo rebente, que bombardeie a rotina. Falta o inesperado. A conversa inesperada. Falta uma nova voz. Um novo discurso. Uma nova luz. Falta um novo homem, uma nova mulher, um novo começo.
sábado, 18 de outubro de 2014
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