terça-feira, 23 de dezembro de 2014

BRAGA, MEU AMOR

Finalmente em Braga, na minha terra, na "Brasileira". Se pudesse viria viver para aqui. A cerveja dá-me alma. A cidade também. Vivi aqui momentos mágicos, outros piores, naturalmente. Vivi a noite e vivi a vida. Agora já poucos me reconhecem. Houve a história do hipermercado, as candidaturas a deputado pelo PSR. Houve e há, claro, a Gotucha. Hoje a "Brasileira" está a abarrotar. É Natal. O Natal nada me diz. Há a empregada bonita que traz as cervejas. Estou melhor. Tremo pouco. Houve também o Álvaro, o Alexandre, a Natércia. Dizem que sou o poeta da revolta, o último dos beats, o último dos poetas de café. Desejo o cu da empregada. Há quem elogie as minhas crónicas e os meus poemas. Há quem diga que sou único, original. Falta um maior reconhecimento dos media. No entanto, estou no bom caminho. "O Caos às Portas da Ilha" teve um bom arranque no Olimpo com a Maria Tomé a cantar, com a Albertina e a Georgina a dizer poemas do livro. E eu que não as conhecia de lado nenhum...o "Fora da Lei" vendeu mais de 100. As coisas rolam. O poeta está vivo. Aqui em Braga, na "Brasileira". As pessoas entram e saem. Lêem, conversam. O poeta arde. Sente a glória próxima. Aparenta ser um bom cidadão mas é louco, único, maldito. As barbas crescem. Até que ficam bem as brancas. Dão um ar de respeitabilidade. De senhor, de pensador. Ainda está por escrever a obra filosófica. Queria estar aqui em Braga todos os dias. Vir aqui à "Brasileira" ler e escrever. Ser o poeta reconhecido pelas pessoas. O poeta que fica irritado quando perde uma discussão. O poeta que debate e rebate. O poeta que conheceu o Jaime Lousa. Que o ouvia, que com ele aprendeu muitas coisas, tal como com o Artur Queiroz. Não, ainda não sou a estrela. Por norma sou simpático com as pessoas. Aprendi com os meus pais. Contudo, sei que me posso tornar agressivo. Em certas noites, em certos dias. Já andei a apedrejar carros e vidros da Câmara e da Junta de Freguesia. Não tenho a erudição do Rocha mas sei umas coisas. Agora sinto-me rei, soberano, com Max Stirner. A vida é minha. A cidade é minha. Danço com Diógenes e Luíz Pacheco. Tenho lido pouco autores portugueses, com a excepção de Agostinho da Silva. Talvez isso seja mau, não sei. Sou o último dos poetas ébrios. Sou guevarista, socialista utópico, anarquista. Sou utópico, assumo-o. Odeio a economia e a linguagem da economia. Conto os trocos, é certo. Tenho de sobreviver. Mas coloco a vida acima da sobrevivência. No poder, com algumas excepções, só vejo corruptos e vigaristas. O Estado está em causa. Talvez venha a anarquia. Finalmente, a anarquia. Esta merda a rebentar, o povo na rua a partir os bancos, a partir as montras. Desprezas o meu poder, ó Rocha. Sou dono de mim e da vida. Acredito num mundo de senhores. Senhores sem escravos. Desprezais o poeta, ó mundanos. Não sabeis até onde ele pode ir. O que é certo é que ele nada tem a perder. O que é certo é que ele é dono da palavra. O que é certo é que ele influencia as pessoas. Vai influenciando. Aos poucos, sem pressa. E a Gotucha nunca mais vem. E o poeta continua a escrever. Há outras gajas, outras miúdas. As pessoas ouvem-me, ó imbecil. Se eu disser o que é certo no local certo. Se eu publicar ou for às noites de poesia. Há quem me admire, quem me exalte, ó dono da verdade. A ti ninguém te ouve. Estás com todo esse paleio capitalista e economicista mas falas para as paredes e a mim não me convences, ó Rocha. O meu ego é superior ao teu, ó ginasta. Prepara-te para a próxima discussão. Virei armado.

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