Obedece.
Consome. Dorme. Vê TV. Submete-te. Conforma-te. Não há livre pensamento. Não
questiones a autoridade. O dinheiro é Deus. Casa e reproduz-te. Eis o
capitalismo do séc. XXI. Eis no que eles- capitalistas, especuladores,
políticos do sistema- querem no que te tornes. Eles entram no teu pensamento,
formatam-te as ideias, via media, via publicidade. Qual "1984" de
Orwell, qual "Admirável Mundo Novo" de Huxley. Eles controlam-te. Por
isso tens de seguir a via do pensamento soberano, da criação. Por isso tens de
despertar, de te revoltar contra o instituído, de ir às profundezas de ti mesmo, de te
encontrar. Por isso tens de te unir àqueles que pensam como tu.
domingo, 29 de dezembro de 2013
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
O EU TODO-PODEROSO
É madrugada. Escrevo. Não estou na rua Carlos Teixeira mas na rua da Senra. A Leonor não dorme a meu lado. Zangou-se comigo. Não consigo dormir. Os comprimidos não fazem efeito. Tenho altos e baixos durante o dia. Serei eu, de facto, um grande poeta ou terei a capacidade de vir a sê-lo? Ou não passo de um escritor mediano? Sim, creio que tenho em mim a grandeza, a busca da idade do ouro, de um Graal. Vou encontrando as respostas nos livros. Há ouro dentro de mim. Há a infância. Como Rimbaud derramo fogo. Não, não sou dos menores. Tenho em mim a vida. Celebro-a. Os galos cantam. Não estou na Carlos Teixeira. A Leonor não está. Apesar disso, sinto-me mais senhor. A caminho do "eu todo poderoso" de Stirner. Insulto o universo. Amaldiçoo os poderosos, os ricos, os banqueiros. Porque hão-de ter eles tudo enquanto eu ando aqui a contar os trocos? Que valem eles mais do que eu? Quanto vale a minha obra? Atingi um patamar em que sou realmente um Poeta, um filósofo até.
É madrugada. Escrevo. Os deuses vêem ter comigo e coroam-me rei. Rei de outras eras, de Camelot, de Elsenor. Rei nestes tempos do mercado e da troca. Rei que corteja as mulheres. Senhor do tempo e da vida. Não, não me apanhais. Estou liberto. Não tenho as vossas maneiras. Venho buscar o indivíduo todo inteiro, o novo messias. Venho procurá-lo na cidade, na aldeia. Venho procurá-lo nos livros. Acendo-me. Sou. Faço parte de uma tribo de iluminados. Não sei explicar. Venho de uma estrela. Sou o Eu todo-poderoso.
É madrugada. Escrevo. Os deuses vêem ter comigo e coroam-me rei. Rei de outras eras, de Camelot, de Elsenor. Rei nestes tempos do mercado e da troca. Rei que corteja as mulheres. Senhor do tempo e da vida. Não, não me apanhais. Estou liberto. Não tenho as vossas maneiras. Venho buscar o indivíduo todo inteiro, o novo messias. Venho procurá-lo na cidade, na aldeia. Venho procurá-lo nos livros. Acendo-me. Sou. Faço parte de uma tribo de iluminados. Não sei explicar. Venho de uma estrela. Sou o Eu todo-poderoso.
domingo, 15 de dezembro de 2013
TRISTEZA E ALEGRIA
A
tristeza, a alegria, a depressão, a euforia são elementos fundamentais da nossa
vida. Daí que devamos estar sempre atentos a esses sintomas, mais do que às
flutuações da economia. E cada vez há mais pessoas tristes, deprimidas, devido
a um sistema capitalista que nos afasta, que nos torna avarentos, mesquinhos,
interesseiros, sem coração. Estamos a caminho da barbárie. Guerreamo-nos por
lugares, por empregos, pelo estatuto. O amor vai rareando. Tudo é frio, gélido
como os números dos mercados. A vida perde o sentido.
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
TÉDIO
Além dos problemas económicos, o principal problema é o tédio. "As pessoas vivem, mas não se sentem vivas", como diz Erich Fromm. O homem moderno sente-se como uma coisa, "a materialização de energias a serem investidas com lucro no mercado". (O homem) "experimenta o seu próximo como uma coisa a ser usada numa troca lucrativa", ainda Fromm. O tédio de nos sentirmos como coisas, como mercadorias, como peças da engrenagem. Daí que nos perguntemos o que estamos a fazer aqui, porque nascemos para viver este inferno, esta "vida" onde somos infelizes, onde nos limitamos a seguir os outros, a desenvolver as mesmas tarefas. Daí que estejamos deprimidos, que pensemos no suicídio, que não encontremos sentido nisto. Raramente há amor, a liberdade está castrada por um mundo de números, de percentagens, de ecrãs. Urge romper.
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
O INDIVÍDUO TODO INTEIRO
Estou
lixado. Agora estou sempre com as tensões altas. Vou ter de cortar no café e na
bebida. Ainda assim, como Max Stirner, acredito no império do indivíduo todo
inteiro. Venho
à confeitaria mas não sou do comércio. Sou do espírito, do pensamento, do sagrado. Tenho a certeza que, pelo menos alguns de nós, possuímos capacidades mentais prodigiosas. Daí que embora esteja dependente da saúde física, afirmo que o espírito é o mais importante, a vivacidade do espírito que cria, que constrói, que procura e pode alcançar a sabedoria. Acredito no indivíduo nobre, no indivíduo todo inteiro, no indivíduo soberano, que está para lá da luta pela existência. No indivíduo que quer espalhar o amor e a liberdade sobre a Terra.
à confeitaria mas não sou do comércio. Sou do espírito, do pensamento, do sagrado. Tenho a certeza que, pelo menos alguns de nós, possuímos capacidades mentais prodigiosas. Daí que embora esteja dependente da saúde física, afirmo que o espírito é o mais importante, a vivacidade do espírito que cria, que constrói, que procura e pode alcançar a sabedoria. Acredito no indivíduo nobre, no indivíduo todo inteiro, no indivíduo soberano, que está para lá da luta pela existência. No indivíduo que quer espalhar o amor e a liberdade sobre a Terra.
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
A VIDA
Há livros que mudam a nossa vida, há outros que temos dificuldade em compreender. Há também a cerveja que nos desperta, que nos acelera o raciocínio, que nos dá ideias. Não estamos mal nestes dias. Criamos, inventamos, somos espírito e alma. Apesar da solidão e por causa da solidão, produzimos. Produzimos e não somos mercadoria. Produzimos fora da máquina. Somos livres. Somos livres em plena confeitaria. Bebemos à vossa. Ainda ontem estávamos tristes, hoje celebramos. Celebramos a vida, a vida autêntica, que não está presa ao mercado, ao capitalismo. A vida maior. A vida que corre nas veias. A vida que tínhamos à nascença. A vida que é vida. Sem imposições, sem castrações. Sem TV, sem telejornais. A vida que está no homem que escreve livremente à mesa. A vida que está no poeta. A vida que somos nós.
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
PIOLHO
Estou no Porto, no Piolho. Quase teso como muitas vezes. A Fátima Lopes imbeciliza. Bebo. Beberia muita mais se tivesse dinheiro. Passaria o resto da tarde e a noite a beber. De qualquer forma, a revolução nunca mais vem. De qualquer forma, é difícil alterar a maneira de pensar das pessoas. Tenho-o tentado ao longo dos últimos anos. Sou o poeta do Piolho. Já travei aqui discussões acesas, já lancei livros. Faz-me falta o Fred para me vir falar da espécie humana falhada. Faz-me falta quem debata comigo. Faz-me falta um amigo. Já tenho aparecido na rádio, nos jornais e até na televisão. No entanto, isso não faz de mim uma estrela. Ninguém me pode acusar de me ter vendido à publicidade ou ao capitalismo. Ainda faltam umas horas para o Pinguim. Não aparece ninguém. Nem homem nem mulher. Não há público para o poeta. Restam as imagens da televisão. Apesar deste aparente sossego, ainda há quem me ameace de porrada. As últimas vezes que andei à porrada levei. Por isso não me apetece andar à porrada. O gráfico simpático e maluco cumprimentam-me. Havia a Paulinha. Nunca mais a vi. Parece que até a Bárbara Guimarães apanha umas pielas. Porque não hei-de eu apanhar? Fui candidato à Câmara da Póvoa pelo MRPP mas não fui eleito. Nada tenho a perder. Já cá faltava o gordo atrasado mental do concurso. Não tenho motivos para estar contente. Estou entediado. Não tenho pachorra para as telenovelas nem para as vedetas da TV. Escrevo versos. Eis a minha profissão. Há 10 anos que vivo assim. Não me arrependo. Falo da vida, sobretudo da minha. Ao falar da minha falo da dos outros, pois os outros estão sempre presentes. Ao longo dos últimos 10 anos tenho publicado livros, tenho participado em sessões de poesia, tenho feito intervenções públicas e políticas. Não me arrependo. Tenho feito o que há a fazer. Estou de consciência tranquila. Bebo à vossa.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
O POETA
O poeta está melancólico. Perdeu a pica. Se tivesse dinheiro, beberia para se animar. O poeta está só. Precisa da menina. O poeta está no Piolho. A cidade não o põe em cima. Começa a ficar em depressão. Pelo contrário, o outro poeta está cheio de gás. Escreve sem parar. O poeta está triste. O mundo é triste, o homem transformou o mundo num tédio, numa tristeza. O homem não é total. Nem o poeta, mesmo que lhe chamem livre. O homem está partido em pedaços. Não brilha. O poeta também não. Escreve para combater a melancolia. Às vezes preferia ser menos inteligente, ter menos capacidades para não sofrer tanto. O poeta sofre. Talvez quando vier o lançamento do próximo livro se sinta melhor. Costuma ser assim. Novo livro, novo ânimo. O poeta é da cidade. Vive-a. Mas hoje está definitivamente triste. Ensonado. Nada do que escreva o faz levantar. Ou talvez faça. Se se revoltar dentro de si mesmo. O poeta dá luta à depressão. Escreve. Observa os empregados de mesa. O Adriano traz o sumo. O poeta está quase sem dinheiro. Apetece-lhe berrar. O poeta está sem ninguém. Olha os espelhos, as portas, a gente que entra. O poeta vê-se ao espelho. Tem uma boa figura. Fica bem na imagem, na televisão. Apetecia-lhe beber. O poeta não é o único solitário. Passa horas no Piolho. Agora tem de aturar o gordo atrasado mental do concurso. Precisava da Gotucha. O Piolho começa a encher. Mas isso não alegra o poeta. O poeta que observa. O poeta que, mesmo melancólico, não se converte. A máquina não lhe faz a cabeça. O poeta que resiste. O poeta que ri.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
CONFISSÕES
Sei que tenho a capacidade de escrever grandes obras. Salvo nas grandes depressões, a inteligência não me tem faltado. Sou um pensador, um aprendiz de filósofo. Tenho ideias. Tenho a Ideia. Se a saúde não me faltar ainda tenho uns anos pela frente. Sinto falta das cartas, da correspondência com outros escritores. Por isso escrevo estas confissões. Até hoje alcancei a fama do poeta marginal, maldito. Mas penso que a minha obra não se pode resumir a isso. Tenho filosofado, tenho-me debruçado sobre as grandes questões da humanidade. Tenho procurado as respostas. Tenho também combatido o sistema, o capitalismo. Talvez por isso não me façam determinados convites. Mas eu tenho consciência de que tenho valor, de que posso atingir a glória. Glória que já tive, a espaços. Glória que há-de vir. Estou certo.
domingo, 29 de setembro de 2013
OLHOS
Tenho os olhos cansados. Tenho-os gasto muito hoje. Quem disse que o escritor, que o pensador não se cansa? Cansa-se e não é pouco. Trabalha com os olhos e com as ideias. Passa as ideias para o papel. É claro que há ideias que se perdem. Mas o escritor agarra as outras. Faz delas literatura. Pensa. Pensa o mundo e a vida. Acha ridículo que as pessoas se dividam em grupos. Que não construam mesas partilhadas. Que não discutam o que é realmente essencial. Que não vão ao fundo da questão. Que criem barreiras. Que não se dêem.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
VENHAM A MIM AS CRIANCINHAS
Até parece que há pessoas que temem que as crianças venham ter comigo. Devem desconfiar dos meus escritos, das minhas ideias políticas. Temem que influencie as suas crianças, que as traga para mim. "Venham a mim as criancinhas", disse Jesus. Temem que as desvie do percurso normal, que as leve a permanecerem crianças, que, mais tarde, questionem a máquina.
domingo, 15 de setembro de 2013
A VERDADEIRA VIDA
Seria preciso educar as pessoas. Levá-las a compreender que a verdadeira vida não está na televisão nem no futebol. Que a verdadeira vida está na criação, na arte, na beleza. Que a verdadeira vida está no mergulho no abismo, na vida interior, nos deuses e demónios que temos dentro de nós. Não na vidinha, no quotidiano entediante e previsível. Que a verdadeira vida está na vida gratuita, no facto de termos nascido de graça, no facto de habitarmos poeticamente a terra. Está também na comunhão, na celebração, na embriaguez, naquilo que fazemos de livre vontade, sem castrações nem dominação. Está naquilo que não nos é imposto, que não é pago nem mediado. Está na criança eterna que mantemos dentro de nós. Está na juventude que não perdemos. Está na espontaneidade, no dizer não ao deve e haver da economia, da finança que tudo reduz ao número, que emporcalha as relações humanas. Seria preciso educarmos as pessoas na liberdade.
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Começo a ser o mais louco dos poetas actuais. Já pouco temo. Digo o que quero. Escrevo o que quero. O homem comum não cresce, não evolui, não se enriquece. Por isso é-me difícil dialogar com ele. Sou também o mais ousado, o que insulta Deus e o presidente. O que celebra a mulher presente. Vivo uma espécie de segundo nascimento, de segunda infância. Os dias são grandes como os do antigamente.
Começo a ser o mais louco dos poetas actuais. Não tenho limites. Danço com Zaratustra. Como Rimbaud, como Baudelaire vou até ao inferno e volto. Sinceramente não vejo mais ninguém assim. Estou cada vez mais desalinhado. Cada vez mais longe do homem comum, embora o saúde. Sou o mais louco dos poetas actuais. Refugiado na confeitaria da aldeia, o mundo espera por mim, pela poesia incendiária. A poesia incendiária vai tomar conta do mundo.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
ESTE OFÍCIO DE ESCREVER
Este ofício de escrever. Dá gozo mas é um trabalho como os outros. Não tenho horários fixos, é certo. Nem sequer escrevo romances, histórias. É apenas isto. A tinta preta na folha. O que tenho à minha frente e o que me sai da cabeça. Não tenho aquela disciplina. Nem ando sempre a fazer correcções. Houve quem me acusasse de ter o tempo todo para escrever e supostamente por isso, e somente por isso, escrever melhor. Houve quem me quisesse deitar abaixo mas a Gotucha não deixou. Eu sei que, mais tarde ou mais cedo, vou ser realmente reconhecido. Porque sou um marginal, um maldito, mesmo que tenha coisas que nada têm de marginal. Mas, enfim, fica a fama. Posso perfeitamente chegar a um desses programas imbecis e partir a loiça toda. Posso perfeitamente estoirar.
sábado, 24 de agosto de 2013
BRASILEIRA
Uma cervejinha sabe bem aqui n' "A Brasileira" onde as burguesas falam. Sou realmente o poeta d' "A Brasileira". Não vejo mais nenhum. Sou o único que vem para aqui escrever. Se calhar já merecia uma estátua. Bem, o que é facto é que sou um poeta n' "A Brasileira". Escrevo para o mundo, para o que der e vier. Vejo as pessoas a passar na rua de São Marcos. Observo.
domingo, 18 de agosto de 2013
O GRITO PRIMITIVO
É claro que há gente amável. Contudo, como dizem os filósofos, este mundo não presta. O capitalismo pôs-nos a competir uns com os outros. Está tudo nas mãos dos especuladores, dos usurários, dos agiotas. Um mundo com o amor controlado, com a liberdade controlada, quase sem poesia. É também um mundo onde não se questiona a própria existência, onde não se questiona o que se está a fazer aqui. É claro que há gente amável, que nos ouve, que nos respeita, gente que até se aproxima das nossas ideias. No entanto, a máquina é implacável, torna o homem detestável, um predador, um competidor, cheio de medo do seu semelhante e da própria máquina. Não, não me canso de dizer. Esta vida não serve. Destrói-nos, diminui-nos, faz de nós escravos e macacos. Urge ir atrás da liberdade, do grito primitivo.
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
INSPIRAÇÃO
E, de repente, volta aquilo a que chamam a inspiração. De repente, as palavras vêm fáceis. E até aprecio o sorriso burguês da patroa. As mulheres enlouquecem com os bebés. Beijam-os, fazem-lhes festas. Outros vêm aos bolos e ao pão. Como se a vida fosse bela. Mas não é. Estas pessoas vão ganhando a vida, distraem-se com os bebés, com as revistas e com a televisão. Eu não me contento com isso. Eu quero chegar lá, à glória, à revolução. Não ganho a vida nem me esforço por isso. Não faço negócios. Eu quero dizer o que penso na televisão. Já lá estive. Quero voltar. No fundo, quero ser um filósofo. Já sou o poeta maldito, marginal, underground. Já cheguei a muitos lugares. Vivi noites e noites, no Porto, em Braga, na Póvoa, em Vila do Conde. Vivi copos e copos, aventuras, putas, diversões. Estive no bar até ser dia, tive conversas filosóficas, tripei, tive alucinações. Estive onde muita gente nunca esteve, sou diferente. Estou pronto para dar o próximo passo.
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
É necessária uma revolução porque o capitalismo não presta. A imbecilização, a publicidade, o "Big Brother" que tudo comanda fazem do homem um escravo, um ser desprovido de humanidade. Os banqueiros, os mercados e os governos ao seu serviço estão a destruir o homem de tal modo que este raramente se questiona, raramente sabe o que está a fazer na Terra. Daí que seja necessária uma tomada de consciência desde a juventude, desde a adolescência. Urge um forte abalo nas mentes, nos espíritos para que, de uma vez por todas, se comece a vencer o capitalismo e a ditadura da economia. A revolução começa nas nossas cabeças, nos nossos corações. Daí partirá para a rua. Não basta combater este ou aquele governo, é necessário combater o capitalismo dos mercados na sua essência, é necessário ir à essência do homem, promover ao máximo o livre desenvolvimento das suas potencialidades, questionar o dinheiro e o lucro. O homem livre, o homem plenamente desenvolvido, derrotará o capitalismo.
sexta-feira, 26 de julho de 2013
segunda-feira, 22 de julho de 2013
domingo, 21 de julho de 2013
POETAS QUE VIVEM COMO POETAS
Há poetas que vivem como poetas. Conheci o Joaquim Castro Caldas, o Sebastião Alba, o Jaime Lousa. Conheço o Armando Ramalho. O Alba e o Jaime acabaram na rua. Todos eles levaram uma vida de excessos, à margens das normas e do instituído. O Joaquim inventou as noites de poesia no Porto, no Pinguim. Dizia poesia de uma forma única, explosiva. Era um homem dado, generoso. O Jaime ensinou-me a ver mais alto, para lá das aparências. E foi com estes senhores que também aprendi a noite e a vida. Foi com estes senhores e com Ginsberg, Bukowski, Rimbaud, Nietzsche, Jim Morrison, Cesariny, Luiz Pacheco, Henry Miller que aprendi o lado maldito, que andei de bar em bar, que estive no bar até ser dia. Não quero com isto dizer que outros não sejam bons escritores, bons poetas. Quero dizer que segui a via. Que sou desses senhores. Que não suporto a vidinha.
sábado, 6 de julho de 2013
DO AMOR
Karl Marx fala do amor. "Se uma pessoa ama sem inspirar amor, isto é, se não é capaz, ao manifestar-se uma pessoa amável, de tornar-se amada, então o amor dela é impotente e uma desgraça", escreve nos "Manuscritos Económicos e Filosóficos". Marx fala do amor pleno, do amor correspondido. E é do amor unido com a liberdade e com a inteligência que temos de falar. Quão pequenas e ridículas são as jogadas e piruetas para segurar o poder a qualquer custo de Paulo Portas e Passos Coelho. Quão absurdos são esses personagens de "reality-show". Procuramos, como Marx, a essência do homem. Procuramos o encontro do homem consigo próprio. Rejeitamos o homem frio e calculista, o homem do interesse e da mercearia, o homem conformista que absorve imagens. Somos de Quixote, dos grandes rasgos, das grandes ideias, do homem que grita e se liberta. Nada temos a ver com esses castradores, sejam eles domésticos ou sejam eles os cães especuladores dos mercados. Queremos o homem livre, que se constrói, que se completa, que se dá e não se vende.
quinta-feira, 4 de julho de 2013
terça-feira, 25 de junho de 2013
UMA VIDA SEM DINHEIRO
Apesar das doenças e das ameaças de doença, posso dizer que me estou a encontrar. Realmente a mente abre-se. Olho de cima o mundo da intoxicação e da imbecilidade. Sou um homem. Não sou uma coisa. Não estou à venda no mercado global. Não sou um receptáculo dos computadores nem da TV. Vivo. Sou dono de mim. Não tenho de vos ouvir, ó vendilhões! Não me lavais o cérebro nem me atirais para o tédio e para a depressão. Aqui na velha "Padeirinha" atinjo as alturas. Todo eu sou dança, celebração. Abandonei a felicidade da maioria. Sigo a estrada larga de Whitman. Amo a vida autêntica, a vida que está no àlcool e em algumas mulheres. Não tenho que ser bem comportado, não tenho de andar ordenadinho. Não tenho que ser vosso, ó polícias. Vivo. Reino. Sou. Sou o poeta maldito. O grande doido. Não sou vosso, ó normais. Mesmo que às vezes pareça. Afastai-vos! Não me tenteis vender o vosso mundo! Recuso. Tenho convicções. Tenho ideias. Bebo, ainda bebo. Essa vida que vendeis não presta, ó coquetes televisivas. Afastai de mim os pimbas! Sou dos outros, sou dos grandes. Venho das estrelas. As palavras vêm como facas. Como é que pude aguentar esta merda tanto tempo? Como é que se pode ser conivente com a imbecilidade, com estes palhaços? O dinheiro, sempre o dinheiro a comandar a vida. Como é possível ser tão limitado? Quero uma vida sem dinheiro, uma vida sem amos, sem vendilhões, uma vida onde cada um desenvolva livremente as suas potencialidades, uma vida de criação. Não vos suporto mais, ó comentaristas.
sábado, 22 de junho de 2013
O HOMEM PARA LÁ DO HOMEM
E se a nossa mente explodisse, se elevasse ao máximo as suas potencialidades? O que seríamos capazes de criar? Muita coisa perderia o valor. Como a compra e venda, a relação comercial, o dinheiro. Seríamos deuses, seres de luz, efectivamente filhos das estrelas, da primeira luz. A ideia seria realmente soberana, seríamos capazes de tudo, de atingir o belo, o bem, o sublime. Poderíamos ser terríveis mas também infinitamente bons, capazes de dar amor a todo o momento. Ultrapassaríamos a política, a economia, tudo seria alma e céu. Sim, o que poderíamos ser se nos realizássemos aqui na Terra e além dela. Seríamos reis, rainhas, seres encantadores, extáticos, livres. Deixaríamos de andar ordenados, ao ritmo do relógio, sem tempo, sem limites, sem trabalho. O que seria o homem para lá do homem? Belo, soberbo, magnífico, um senhor sem escravos, ao seu ritmo, como no início dos tempos.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
O ESCRITOR E AS PALMAS
Sou escritor. Assim o dizem. Devo escrever. Devo passar para o papel o que penso e sinto. Habituei-me a beber e será muito díficil deixar. A bebida ajuda-me a enfrentar os dias de tédio e mesmo que não haja tédio bebo na mesma. É assim desde os 18 anos em Braga. Dizem-me que o álcool também tem um efeito depressor e eu acredito. A seguir à euforia vem a depressão. Eufórico não estou. Mas vou subindo. Aqui no Pátio. Vou chegando à estrela. Vou abrindo caminho. O poeta bebe. Como nos velhos livros. Ganhei a fama. O poeta marginal, o poeta maldito. Eu era feliz. Ebriamente feliz. Dizia poesia no Tuaregue. Já então recebia palmas. E também vaias. Ainda assim agora nem sempre saio em glória. Tenho os meus picos. Os meus fãs, as minhas fãs, temporários ou permanentes. Creio que, em certa medida, a minha linguagem consegue ser mais eficaz do que a dos partidos. Talvez porque consiga ser mais abrangente. Eu falo da alienação, da imbecilização, via media, do agravamento das doenças mentais. Raramente falo do primário, da economia. Falo da vida, da vida autêntica de Rimbaud, de Morrison, de Nietzsche. Talvez aí esteja a diferença. Talvez por isso receba mais palmas.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
A VIDA NÃO PRESTA
Bem sei que é necessário derrubar esta gente. Mas não menos necessário é esclarecer as pessoas. Em 2013, sec. XXI, a vida não presta. O safanço, o interesse, a competição, a rapina sobrepõem-se à inteligência, à cultura, à curiosidade, à verdadeira vida. Triunfam os oportunistas, os vendilhões, os executivos. O homem perde até a capacidade de amar, muitos afogam-se na depressão, alguns no suicídio ou então caem na uniformidade do pensamento, no conformismo. O trabalho é intragável, o lazer muitas vezes é controlado pelas modas ou pela ideologia dominante, o desemprego avança, tal como a pobreza e a miséria. A vida torna-se repetitiva, entediante, monótona. As vedetas cor-de-rosa vivem a nossa vida. Não, não há razão para sorrir. No entanto, ainda podemos buscar a vida dentro de nós. No entanto, se ainda não estamos moldados podemos ainda encontrar-nos. Ainda somos donos de nós próprios. Ao contrário do que nos vendem, ainda somos donos da verdade e da beleza, ainda podemos criar e dançar, ainda podemos mudar o mundo.
sábado, 8 de junho de 2013
M.
Tu não sabes os lugares por onde andei. Tu não sabes porque que é que a voz me falha e as pernas tremem. Tu não conheces os meus desertos. Beber sete cervejas e cambalear por causa de uma conversa e de uma foto do Che. Emborcar whisky após whisky e debitar poemas de amor e sangue perante uma plateia que tanto me ama como me odeia. Tu não sabes os paraísos e os infernos que levam a uma só palavra, a uma só canção. Há um mundo entre nós. Um mundo que nos separa e divide. Mas eu estranhamente, primitivamente amo-te.
Tu desconheces os meus caminhos. Conheces parte das minhas fraquezas e dos meus silêncios. Talvez nunca seja possível encontrarmo-nos. Talvez os nossos caminhos nunca mais se cruzem. Talvez o código, a tribo, o ritmo não coincidam. Talvez a linguagem não se esteja a adequar. Talvez eu seja sorumbático. Mas eu estranhamente, primitivamente amo-te.
In “Sexo, Noitadas e Rock n’ Roll”
quarta-feira, 29 de maio de 2013
DO PODER
O homem está aqui para se dar à luz, para desenvolver as suas potencialidades, para se tornar naquele que é, como afirmam Erich Fromm e Nietzsche. O homem está aqui para a liberdade, isto é, para preservar a sua integridade pessoal em face do poder. No entanto, o poder tenta dominar-nos, domar-nos através do mercado, do sucesso, da opinião da maioria, do senso comum, da máquina. E, se bem que nos possa transmitir uma certa sensação de segurança, provoca-nos distúrbios emocionais e mentais que nos podem incapacitar. O capitalismo é inimigo do homem.
quinta-feira, 23 de maio de 2013
LIBERDADE ABSOLUTA
Comecei a publicar cedo. Aos 18/19 anos já publicava no "Correio do Minho", no "DN Jovem". Habituei-me cedo aos media. Por isso os procuro. No fundo, comecei a trabalhar cedo. Mas, a partir de certa altura, pus tudo em causa. O trabalho, a economia, o negócio. Tudo isso é adiar o paraíso, é negar a vida. Quero o paraíso agora! Renego o sacrifício, a vidinha, o sucesso. Renego tudo o que me diminui, me deprime, me castra. Tenho em mim a liberdade absoluta. Quero dar amor para derrotar o inimigo.
terça-feira, 21 de maio de 2013
O ESTAR VIVO
Passou a euforia, a desmesura. Venho à "Confeitaria da Casa" como o poeta que escreve à mesa. Talvez me torne famoso, talvez não. O que é facto é que vou fazendo o meu caminho, com os meus picos, com os meus êxtases. Tenho 45 anos. Já vi muita coisa. Já tive as minhas descidas aos infernos, os meus filmes. Já estive nos palcos de Paredes de Coura, do Campo Alegre, do Púcaros, do Pátio, do Olimpo, do Deslize, do Pinguim. Já tive a ovação, o aplauso mas também o insulto, a indiferença, a negação. Já fui à rádio, aos jornais, à televisão. Já fui ameaçado e apanhei porrada. Agora estou aqui na aldeia do meu pai. Olho as mulheres bonitas. Para onde haveria de olhar? Não sou bem como os outros. Procuro algo que só alguns procuram. Procuro a Ideia, o Graal, a verdadeira essência de estar vivo, como diz a Sandra. Estar vivo é certamente demandar, gozar, celebrar. Estar vivo é certamente ultrapassar-se, ultrapassar os homens pequenos, o negócio, a mercearia. Estar vivo é alcançar as alturas, a poesia, a águia e a serpente. Estar vivo é viver a verdadeira vida de Rimbaud. Estar vivo é ter alma, pensamento, ultrapassar o corpo. Estar vivo é regressar à infância, aos dias grandes, aos dias sem preço. Estar vivo é não pagar.
sábado, 18 de maio de 2013
JORNAL FRATERNIZAR
Edição 88, Sexta-feira 10 Maio 2013
DO CAPITALISMO
O capitalismo é inimigo de tudo o que é humano- o sentimento, a sensibilidade, o amor, a amizade, a poesia. Reduz tudo á mercadoria, à mecanização, ao cálculo. O homem vende-se a si mesmo e á sua força de trabalho no mercado. Tudo é medido pelo dinheiro e pela sua acumulação. Uns nadam na riqueza e no poder, outros morrem de fome. O capitalismo é absolutamente desumano. Como diz Charles Dickens em "Tempos Difíceis": as pessoas são parecidas umas com as outras, "saindo e voltando a casa todas às mesmas horas, andando com o mesmo passo pelo mesmo passeio, fazendo o mesmo trabalho, e para as quais cada dia era parecido com o da véspera e com o seguinte, como cada ano condizia com o anterior e com o que se lhe seguia". Em suma, uma vida sem brilho, sem luz, entediante. Só os artistas e os filósofos podem contrariar esta tendência através do espírito crítico, da transgressão, da criatividade. Só através da busca interior, do culto do amor e da amizade, das mesas partilhadas é possível contrariar o poderio do dinheiro e do capitalismo. E também através da curiosidade, da descoberta. Só assim poderemos atingir o homem pleno, integral, o inimigo do capitalismo.
SABEDORIA, ÉTICA E AMOR UNIVERSAL
"Os profetas e os sábios, com poucas excepções, têm qualidades de valor diferentes das do poder- sabedoria, ética ou amor universal- e persuadiram grandes sectores da humanidade de que são objectivos mais merecedores de serem prosseguidos do que o sucesso pessoal. Aqueles que sofrem através de alguma parte do sistema social que o profeta ou o sábio deseja alterar têm razões pessoais para apoiarem as suas opiniões e a união do seu egoísmo com a sua ética impessoal que torna o movimento revolucionário vitorioso, irresistível." (Bertrand Russell)
Sabedoria, ética, amor universal. Eis o caminho. Temos de convencer os homens a não pensarem só no sucesso pessoal. Temos de ter uma educação voltada para o bem, para a virtude, para o belo. Temos de acreditar nos sábios e nos profetas. Aqueles que perseguem a felicidade da humanidade. O mundo dos executivos, dos politiqueiros, do cálculo, do safanço é intragável. Regressemos à pólis. Discutamos na rua. Estudemos, enriqueçamo-nos. Afastemo-nos da barbárie, da selvajaria, da competição selvagem. Questionemos o domínio dos media, da tecnocracia, da economia. Dêmos amor e bondade aos nossos semelhantes. Acreditemos nos poetas e nos filósofos. Façamos da vida um banquete permanente. Dancemos. Cantemos. Matemos em nós o capitalismo.
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terça-feira, 14 de maio de 2013
CIDADÃOS DA TERRA
Devemos educar as nossas crianças no amor, na busca do saber, na descoberta. Devemos formar cidadãos íntegros, virtuosos, que se preocupem com as grandes questões da humanidade, com o sentido da vida, que não se fechem no egoísmo. Devemos fazer da vida um experimento permanente, uma aventura. Devemos ser todos cidadãos da Terra, das mesas partilhadas. Devemos cumprir o que viemos fazer à vida.
Que viemos cá fazer? Amar, dar, descobrir, conhecer. Por isso leio, por isso escrevo. Tenho 45 anos. Não vim fazer negócios, não vim atrás do dinheiro. Vim para muito mais. Vim abrir portas. Vim construir mundos, ideias. Vim também para o mito, para o Graal, para a magia. Por isso não aceito entregar-me ao útil, ao quantificável, ao cronometrado. Por isso sou luz, sol, embriaguez. Não me dou com controlos, castrações, mecanizações. Procuro o enigma da vida. Estou na demanda. Percorro com Sócrates as ruas de Atenas. A mente explode, abre-se. Posso saber mais, posso saber sempre mais. A caneta desliza no papel. Sou um poeta. Desejo a mulher. Canto-a. Endeuso-a. Nasci hoje há 45 anos. Vim para reinar, para me dar. Há dias, noites em que me solto, em que não tenho limites. Que sentido faz toda a barbárie? Amemo-nos. Sejamos cidadãos da Terra.
terça-feira, 7 de maio de 2013
A EMPRESA E O MERCADO
"Nas relações administrativas amiúde os superiores experimentam um prazer intenso em afirmar o seu poder sobre os subordinados. Nas relações com os colegas há competição pela hierarquia e pela posição. Todo o sistema profissional está construído como ascensão na escala do poder e do prestígio."
(Francesco Alberoni, "A Amizade")
Mundo terrível este. Dominado pela lógica da empresa e do mercado. Procura-se a vantagem, o lucro, o interesse. Os homens são usados como meios e não como fins. A eficiência é a lei. A vida de trabalho é quase sempre cansativa, dura, frustrante. Predominam o cálculo e a economia. Segundo certas teorias, o indivíduo possui a mesma natureza de um empresa ou de um mercado. O objectivo é maximizar os lucros. No entanto, a lógica da empresa e do mercado não atende aos nossos desejos mais secretos e às nossas aspirações mais profundas. Nós nem sempre sabemos quais são os nossos objectivos e andamos à procura. Daí o papel do encontro, do amor, da amizade. A linguagem do amor não é a do custo nem a do lucro. É a da partilha, da comunhão, da celebração. O amor é a solução, o amor é o contrário do capitalismo. Tal como a liberdade.
sábado, 4 de maio de 2013
O MUNDO É NOSSO
O mundo é nosso, o mundo é gratuito. Não temos de pagar nada por ele. Por isso, segundo Nietzsche, só a arte é capaz de o apreender. Daí que façamos arte, daí que interpretemos o mundo. Daí que sejamos crianças, "inocência e esquecimento, um jogo, uma roda que rola sobre si mesma, um primeiro movimento, o dom sagrado de dizer sim". Sim, solitários, dizemos sim à terra e ao mundo. É na imensa solidão que criamos, que estamos à mesa, que proclamamos a gratuitidade do mundo. O dinheiro e o capitalismo têm que desaparecer da face da terra para que o homem seja homem. O dinheiro e o capitalismo matam o homem. Permaneçamos fiéis à terra, que nos ama. Brindemos, pois, à vida
quinta-feira, 2 de maio de 2013
SABEDORIA, ÉTICA, AMOR UNIVERSAL
"Os profetas e os sábios, com poucas excepções, têm qualidades de valor diferentes das do poder- sabedoria, ética ou amor universal- e persuadiram grandes sectores da humanidade de que são objectivos mais merecedores de serem prosseguidos do que o sucesso pessoal. Aqueles que sofrem através de alguma parte do sistema social que o profeta ou o sábio deseja alterar têm razões pessoais para apoiarem as suas opiniões e a união do seu egoísmo com a sua ética impessoal que torna o movimento revolucionário vitorioso, irresistível."
(Bertrand Russell)
Sabedoria, ética, amor universal. Eis o caminho. Temos de convencer os homens a não pensarem só no sucesso pessoal. Temos de ter uma educação voltada para o bem, para a virtude, para o belo. Temos de acreditar nos sábios e nos profetas. Aqueles que perseguem a felicidade da humanidade. O mundo dos executivos, dos politiqueiros, do cálculo, do safanço é intragável. Regressemos à pólis. Discutamos na rua. Estudemos, enriqueçamo-nos. Afastemo-nos da barbárie, da selvajaria, da competição selvagem. Questionemos o domínio dos media, da tecnocracia, da economia. Dêmos amor e bondade aos nossos semelhantes. Acreditemos nos poetas e nos filósofos. Façamos da vida um banquete permanente. Dancemos. Cantemos. Matemos em nós o capitalismo.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
HOJE REINO EU
O homem criou os deuses, entre os quais o mercado e o dinheiro. Está na altura de o homem matar esses deuses e de se assumir como deus único, como super-homem. Somos mortais mas os nossos poderes criativos são infinitos, tal como o nosso espírito. Escrevo isto numa terça-feira á tarde numa confeitaria de Vilar do Pinheiro, sem deveres nem obrigações, a não ser o de escrever e escrevo porque estou aqui vivo e tenho papel, caneta, mesa e duas chávenas de café á minha frente. Tenho a tarde toda para mim, só para mim. Há dias em que sinto em baixo. Não é o caso de hoje. Hoje celebro sozinho. Eles bem tentam castrar-me, ocasiões houve em que estive completamente despedaçado, inerte, sem reacção, mas hoje reino eu, ó Fátimas Lopes. Hoje reino eu, ó conversas imbecis. Hoje reino eu, ó comentaristas do regime. Hoje reino eu, ó vós que só sabeis trabalhar. Hoje reino eu, estou farto de vos aturar. Hoje reino eu, estou farto do vosso império. Hoje reino eu, nesta confeitaria onde ninguém me ouve. Hoje reino eu, estou na estrada certa, fiz o que tinha a fazer. Hoje reino eu, ó prima-donas, largai os vossos maridos, namorados, amantes. Hoje reino eu, ó senhores, até podeis chamar os polícias da mente. Hoje reino eu, já era sem tempo. Apanhei porrada, fui a julgamento, fui humilhado na praça pública. Agora estou aqui e acho a maioria imbecil. Nascem, crescem, estudam, trabalham, soltam uns risinhos de vez em quando, limitam-se a reproduzir o que os outros fazem, perdem a curiosidade, não se interessam pelo conhecimento, são tremendamente pequenos. Hoje reino eu, aprendi com Morrison, Nietzsche, Shakespeare. Hoje reino eu, cheguei ao momento da síntese.
Contemplo os bolos da confeitaria mas o meu pensamento vai até aos céus. Hoje reino eu, alguém há-de ler as minhas palavras. Hoje reino eu, às 5:15 em ponto. Tudo quanto fiz e pensei, mesmo os filmes, faz agora sentido. Não sou, de facto, inferior aos ditos consagrados. Não aproveito ideiazinhas para escrever romances. Escrevo aquilo que sou. E digo: não me levais, ó papagaios televisivos, não me levais, ó comentadores, não me levais, ó controladores. O meu pensamento, a minha ideia hoje, esta tarde, é completamente independente de vós. Posso proclamá-lo ao mundo. Tanto posso dizê-lo em prosa como em verso. Hoje reino eu, é o meu dia. O Grande Meio-Dia. Trago comigo a águia e a serpente. Vou até ao lago do antigamente. O mago. O lago. A serpente. Sou mais louco que vós todos juntos. A minha loucura não é camuflada. A minha loucura é real. Escrevo até rebentar o cérebro, até não poder mais. Não me apanhais. Hoje reino eu. Ainda assim o sr. Tiago saúda-me. Como o Esteves da “Tabacaria”. Ainda assim o mundo real mantém o contacto comigo. Ainda assim mantenho-me dentro das três paredes e do vidro da confeitaria. Ainda assim a empregada existe e é simpática. Ainda assim há a alma e o amor em mim. Mas hoje reino eu, ó futeboleiros, ó macacos gritadores de golos, ó gajas que cantam na imagem. A minha mente evolui, o espírito expande-se, sou capaz de criar obra, a grande obra. Era uma vez um rapaz tímido que se apaixonava pelas meninas bonitas. Para ele as meninas eram quase deusas inacessíveis. Depois, mais tarde, pôde conhecê-las, falar com elas, amá-las. Mas, como seguiu a estrada do excesso, poucas o conseguiram acompanhar. Algumas chamam-lhe mago, filósofo e ele agora procura a glória, o reconhecimento em vida. Pensa. É o que gosta mais de fazer, de reflectir, de criar ideias. E, de facto, não suporta a vulgaridade. Hoje reino eu. Tentais comprar-me, ó guardiães da ordem estabelecida. Mas eu não sou da vossa espécie. Venho das lendas, de Camelot. Sou capaz de imaginar. Vivo em mim. Dou-me ao mundo, como Jesus. Hoje reino eu. Sou soberano. Fazeis demasiado barulho, ó figuras da TV. Se calhar nem sois reais, sois espectros que nos impõem. Estais longe, muito longe. Talvez deva mesmo dedicar-me ao espírito, desenvolver o meu espírito livremente, ir até aos céus.
O caderno pequeno está a terminar. E eu continuo a escrever. As palavras dançam. A miúda da confeitaria também.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
O HOMEM INCOMPLETO
Passo muito tempo só. Sempre passei. Apesar de agora ter vários amigos e muitos conhecidos. Pessoas que acompanham o meu percurso literário e artístico. E outras de sempre. Essa solidão tem-me levado a escrever, a debruçar-me sobre as coisas. Penso muito. Sempre pensei. Gosto de pensar, de compreender as coisas, de ter ideias, de as expressar no papel. É o diálogo que estabeleço comigo próprio. A filosofia. Sim, filosofo. Penso que o homem está por completar. Claro, o capitalismo não ajuda nada. O homem foi lançado na vida. Ninguém lhe deu um livro de instruções. De qualquer forma, a sua vida não tem de ser predeterminada. A vida deve ser uma descoberta, um experimento permanente. O homem está aqui para criar, para brincar, para gozar. Certamente também para conhecer, para estudar. Não tem que levar uma vida de sacrifício, trabalho, sobrevivência. Não tem que passar fome. Não tem que se arrastar pela vida. Porque assim a vida não é vida. Porque assim não vale a pena nascer. O homem veio para se realizar, para crescer, para se completar, para se unir à metade perdida. Alguns de nós podemos ser deuses.
terça-feira, 23 de abril de 2013
PÁTIO
Sábado estive no Pátio a apresentar o "Fora da Lei". Com o Valter Hugo Mãe, com o Isaque Ferreira, com o João Rios. Foi um êxito em termos de reacção do público. Graças também ao Rui Pedro e ao Ramiro. Há muito tempo que não havia poesia no Pátio. Comigo, com o Isaque, com o Rios e até com o Joaquim Castro Caldas. Houve sessões memoráveis, outras caóticas.
Agora estou aqui em casa. Não posso sair por causa do pé. A minha mãe dobra as camisolas. Não há café nem confeitaria. Vou escrevendo o meu diário. Como Anais Nin. Descrevo o dia. Os pássaros cantam lá fora. Cheguei até aqui. Sofri. Agora tenho um nome. Há quem me reconheça na rua. Tenho de prosseguir. Ainda não cheguei onde quero chegar. Não quero ser apenas o poeta "underground". Quero chegar a mais gente. Quero passar mensagens. Não apenas políticas. Dizer que o homem está a ser violentado na sua essência. Que o homem assim não é livre. Que a máquina o castra, que o impede de ser feliz.
Agora estou aqui em casa. Não posso sair por causa do pé. A minha mãe dobra as camisolas. Não há café nem confeitaria. Vou escrevendo o meu diário. Como Anais Nin. Descrevo o dia. Os pássaros cantam lá fora. Cheguei até aqui. Sofri. Agora tenho um nome. Há quem me reconheça na rua. Tenho de prosseguir. Ainda não cheguei onde quero chegar. Não quero ser apenas o poeta "underground". Quero chegar a mais gente. Quero passar mensagens. Não apenas políticas. Dizer que o homem está a ser violentado na sua essência. Que o homem assim não é livre. Que a máquina o castra, que o impede de ser feliz.
sábado, 20 de abril de 2013
"FORA DA LEI" EM VILA DO CONDE COM VALTER HUGO MÃE
segunda-feira, 15 de abril de 2013
"VALTER HUGO MÃE" - PORTO CANAL
Tive a honra de ser o convidado do programa "valter hugo mãe" que será transmitido amanhã, terça-feira, às 22h30, no Porto Canal.
sexta-feira, 12 de abril de 2013
A HORA
É A HORA!
Apesar de estar num partido, continuo a questionar que haja algo ou alguém acima de mim. Acredito no homem livre. No homem autêntico que não assenta, que experimenta a vida, que brinca e joga. Naquele que não tem uma vida predeterminada. No artista. Agora acredito sinceramente que posso chegar onde quero. Acredito sinceramente que posso viver da escrita. Que posso viver mais uns anos em busca da revolução e da vida. Que amo profundamente a vida. Que a quero e desejo mais do que nunca. Não enquanto cumprir das horas, claro. Mas o andar aí à solta, o vadiar de Agostinho da Silva. As palavras vêm ter comigo. Deixo-as soltar-se no papel. Às vezes sou vaidoso. Talvez por ter passado o que passei. Mas não deixo de ser simpático com as pessoas, de uma maneira geral, mesmo que as critique. Começo é a não suportar falas-barato nem nacionais-porreiristas. Começo a seleccionar os amigos. O dia nasce e é meu. Amo-o. Subo á montanha com Zaratustra. Os galos cantam. É a hora.
OS NOVOS ESCRAVOS
A imbecilização e a infantilização reinam na TV e não só. Não há a procura do elevado, do conhecimento, da sabedoria. Anda tudo á volta do futebol e das bolas que entram ou então dos mexericos. Por isso temos governantes como Passos Coelho ou Vítor Gaspar. O cálculo, o utilitarismo e a economia imperam. Ainda há alguma simpatia mas o ser humano não se interroga sobre si próprio, sobre o que faz aqui. Limita-se a cumprir os dias, a obedecer ao relógio, a sobreviver. Não percebe que é do ócio, como diz Agostinho da Silva, que surgem as grandes ideias, que despontam os poetas vadios, os poetas à solta. A maioria dos seres humanos perdeu a curiosidade, a capacidade de sonhar, de inventar. Eis o resultado do capitalismo. Eis os novos escravos. Caminham ordenados, vencidos, cumpridores. Fazem tudo em função do deus-dinheiro, compram e vendem-se, perdem a sua essência. Nas crianças ainda vemos a vida mas logo elas serão encaminhadas para o mercado. Competem, guerreiam-se, não procuram a unidade, o xamã, aquele que une deuses e espíritos. Por isso levam uma vida imbecil, obedecem aos patrões, aos governos, ao deus-dinheiro. Alguns, a espaços, celebram à noite nos bares, nas salas de espectáculos. Mas é só a espaços. A sobrevivência predomina, impõe as suas leis, diminui o homem. Não questionamos o que viemos fazer aqui. Não questionamos a dádiva que é estar aqui. Não vamos atrás da vida autêntica de Rimbaud, de Nietzsche. Não vamos buscar a verdade a nós mesmos. Andamos por aí. Escravos da imbecilidade, do papão imbecil. Não evoluímos, regredimos até, como macacos. Comemos, bebemos e safamo-nos. Fugimos à riqueza da vida. A riqueza de estarmos vivos. Aceitamos tudo o que nos vendem. Duvido até que estejamos vivos.
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Edição 87, Sexta-feira, 12 Abril 2013
sábado, 6 de abril de 2013
O DEUS MORTAL
Poucos celebram realmente a vida. Há cada vez menos o encontro, o brinde, a descoberta. As pessoas fecham-se nos grupos e repelem a novidade.
Mesmo os que supostamente se divertem, os que saem à noite, os que vão a espectáculos, só a espaços celebram. Só quando bebem e nem sempre. Já não falo dos outros. Os que levam a vida metro-trabalho-casa. Esses não vivem. Esses são escravizados pela máquina, pela TV, pelo mercado. Vêm ao mundo cumprir as horas. Competem. Tentam passar uns por cima dos outros. E exigem o mesmo dos filhos, cuja vida é igual á sua. Perdem a juventude e a infância na luta pela sobrevivência. Não sabem que a vida é para ser vivida, gozada, realizada. Só se entusiasmam com o futebol e com os mexericos. Nada de belo, de sublime os move. As maravilhas do espírito, as grandes realizações do homem, as grandes obras passam-lhes ao lado. Não se interrogam, não põem as grandes questões, limitam-se a sobreviver, a auto-preservar-se. Mesmo os que saem, os que se divertem só a espaços falam do superior, do belo. Só a espaços são livres, só a espaços amam. É preciso dizer que a vida é amor, dádiva. É preciso dizer que a vida é celebração, é banquete permanente e não o sacrifício que nos impõem. É preciso dizer que o homem está muito para lá do trabalho, que o homem constrói maravilhas, obras de arte, infinito. É preciso dizer que o homem é um deus mortal.
Mesmo os que supostamente se divertem, os que saem à noite, os que vão a espectáculos, só a espaços celebram. Só quando bebem e nem sempre. Já não falo dos outros. Os que levam a vida metro-trabalho-casa. Esses não vivem. Esses são escravizados pela máquina, pela TV, pelo mercado. Vêm ao mundo cumprir as horas. Competem. Tentam passar uns por cima dos outros. E exigem o mesmo dos filhos, cuja vida é igual á sua. Perdem a juventude e a infância na luta pela sobrevivência. Não sabem que a vida é para ser vivida, gozada, realizada. Só se entusiasmam com o futebol e com os mexericos. Nada de belo, de sublime os move. As maravilhas do espírito, as grandes realizações do homem, as grandes obras passam-lhes ao lado. Não se interrogam, não põem as grandes questões, limitam-se a sobreviver, a auto-preservar-se. Mesmo os que saem, os que se divertem só a espaços falam do superior, do belo. Só a espaços são livres, só a espaços amam. É preciso dizer que a vida é amor, dádiva. É preciso dizer que a vida é celebração, é banquete permanente e não o sacrifício que nos impõem. É preciso dizer que o homem está muito para lá do trabalho, que o homem constrói maravilhas, obras de arte, infinito. É preciso dizer que o homem é um deus mortal.
quarta-feira, 3 de abril de 2013
O HOMEM INFINITO
O homem é capaz de transcender a sua condição terrena, de conceber o infinito, de se tornar ele próprio infinito, mesmo que seja mortal. Espiritualmente atinge as alturas. Concebe maravilhas, belas criações, reinos de luz. Consegue-o graças à vontade, à liberdade e ao amor. Possuindo uma vontade livre, o homem vence a máquina capitalista que o quer aprisionar, destruir, escravizar. Amando, o homem entra em contacto com o espiritualmente superior, todo ele é bondade, beleza. É ele próprio Deus.
sábado, 30 de março de 2013
O QUE É O HOMEM?
O que é o homem? O que veio cá fazer? Veio certamente interrogar-se. Veio certamente gozar, brincar, criar. Não veio para passar a vida a trabalhar, a sacrificar-se, a sofrer. Nasceu, está aqui. Apercebe-se do mundo que o rodeia, do outro. Usa as ferramentas. Pensa. Pensa que pode ser maior, que pode atingir a glória, sem andar a competir, a passar por cima dos outros. Quem é o homem? Certamente aquele que interroga o mundo. Certamente aquele que quer crescer, que quer dar amor. Certamente aquele que quer construir, que se quer afirmar, que quer conhecer, que quer descobrir. Certamente aquele que quer a liberdade.
quarta-feira, 27 de março de 2013
REINO
A publicidade que nos atiram aos cornos, os programas imbecis, os filmes imbecis. Tudo isso faz parte de uma estratégia de amolecimento do cérebro, de castração das ideias, de entrave ao conhecimento. As pessoas perdem a capacidade de raciocínio, bloqueiam o pensamento, perdem as capacidades criativas. É por isso que devemos persistentemente ler, trocar ideias, passar para o papel os raciocínios. Para que o "big brother", para que a máquina, não nos vença, para que sejamos livres e autónomos. Devemos ser amáveis com a maioria das pessoas mas devemos deixar claro que não tomamos parte da barbárie, da ignorância. Devemos deixar claro que atingimos um certo nível, que temos os nossos instintos, as nossas fantasias, mas que não cedemos à futebolização da vida. Sim, atingimos um certo nível. Não somos superiores. Mas atingimos um certo patamar que nos permite olhar de cima, que nos permite reinar, que nos permite viver em triunfo.
quinta-feira, 21 de março de 2013
O GRITO ANIMAL
Para esta gente sou um senhor simpático e respeitável que se ocupa do estudo e da escrita. Um professor, um historiador, um escritor tímido que raramente fala com alguém. Mal sabem eles os vulcões e explosões que se dão dentro de mim. Mal sabem eles como sou diferente deles, como acho ridícula a vida que "vivem", sempre preocupados com o conforto e a segurança, sempre cheios de medo do papão. Não ouço falar de política nesta aldeia. Esta aldeia é uma pasmaceira. Vá lá que me permite trabalhar, desenvolver as minhas ideias, as minhas teses. Não tenho razões de queixa nesse aspecto. Mas, de facto, sou diferente desta gente. Vá lá que, de vez em quando, aparecem umas beldades para me despertar. Contudo, não posso falar com elas. Não posso expor a minha filosofia. Não posso mostrar quem sou. Serei o último dos homens? Certamente que não, há outros que pensam, que elaboram teorias. No entanto, esta prolongada estadia na aldeia coloca-me à beira da explosão. É o tal grito animal de que fala o Serguilha. É o louco impaciente no meio da normalidade. É o homem que percorre galáxias à mesa da confeitaria. É o louco divino que faz o poema.
segunda-feira, 18 de março de 2013
DONO DA VIDA
O pensamento em movimento. Nada mais poderoso. Vem das estrelas. A voz que ouvimos dentro de nós, que comanda a escrita, vem dos xamãs. Deus, Jesus, revolução. Está tudo no pensamento que tudo comanda, que pode aliar-se ao amor e construir a nova sociedade. Há um grito dentro de mim, um grito animal, intemporal, que vem dos milénios, que vem das cavernas. O grito da liberdade absoluta. Que reina. Que é caótico. Que vai contra o mundo ordenado. Que quer a festa, a celebração, Dionisos. Sou dono de mim e da vida.
sábado, 9 de março de 2013
JORNAL FRATERNIZAR
Edição 86, sexta-feira, 8 Março 2013
NADA ACIMA DA VIDA
Leste Nietzsche, sobretudo "Zaratustra", e por isso achas absurda essa preocupação quase exclusiva com o sustento, com os trocos, o metro-trabalho-casa. Eles e elas lá vão levando a sua vidinha e há dias em que são mais felizes do que tu. Todavia, tu sabes que não vieste para o sustento, para o lar, para a família. Tens lar, tens família mas vieste para criar, para pensar o mundo. No fundo, achas ridículo o reino do dinheiro, dos especuladores, dos banqueiros. Achas ridículo tanto sacrifício, tanta preocupação, tanta guerra por causa das contas bancárias. Não é isso que te entusiasma. O que te entusiasma é o conhecimento, é a liberdade, é a vida pela vida. O que te entusiasma é o próprio pensamento. Daí que não suportes a incultura, a ignorância, a imbecilidade. O teu pensamento chega muito longe, ó poeta. É certo que conheceste pessoas muito inteligentes que acabaram na miséria: o Jaime Lousa, o Sebastião Alba. No entanto, no fundo, tens a esperança de um dia vires a ser realmente reconhecido. Sempre foste um dos mais inteligentes. Sabes que isto pode cair na barbárie, como já cai na imbecilidade tipo "Preço Certo" ou outros programas televisivos. Não tens que te vender. Tens de prosseguir o teu trabalho de investigar o homem e a vida, com o objectivo de entregar o homem à vida porque nada está acima da vida.
AGARRAR A VIDA
Ainda não fui reconhecido enquanto escritor como outros o são. No entanto, não me considero inferior a eles. Fazem uns truques, dizem umas coisas engraçadas mas nada de verdadeiramente profundo. Não vão à essência da vida. Não questionam a luta pela existência, o esforço, o trabalho nem os macacos que trepam uns para cima dos outros em busca do lugar, do emprego, do estatuto. Claro que há o esforço, o trabalho em prol de uma obra de arte, de um poema maior. Mas há também o trabalho alienado, o trabalho escravo em favor de um explorador, de um capitalista, o trabalho que é sacrifício, que provoca a dor em vez do prazer ou então o tédio.
Neste momento estou num café de Vila do Conde e observo um grupo de macacos a vociferar em torno de um jogo de futebol. O que é que esta gente tem na cabeça? Tem instintos agressivos, primários, é totalmente manipulada pelo jogo e pela máquina. Esta gente tira prazer da bola, vive da bola, não é capaz de um raciocínio elevado. Vive de cânticos, de gritos, de insultos ao clube inimigo. Não sou da espécie deles. Não estou na mesma galáxia. Esta gente nunca questionou a existência, o que faz aqui, julga-se afirmativa, agressiva mas é dominada pelo chefe, pela televisão, pela polícia. Arrisco-me a dizer que não tem alma, que não tem humanidade. Que é incapaz de apreciar uma obra de arte, que é incapaz de ouvir ou entender uma mulher sensível. É gente sem cultura e sem educação. São macacos que trepam. Não são os únicos, claro. Há mais.
Verdadeiramente começo a compreender a vida. Temos de agarrar a vida, é certo. Mas colocam-nos a competir uns contra os outros desde muito cedo. Há as notas escolares, há a pressão para integrarmos os grupos, mesmo que nos descaracterizemos, que adulteremos o nosso crescimento. Só a espaços acontece a verdadeira união, a comunhão, a celebração. Temos de agarrar a vida, repito, mas a vida não tem que ser guerra, luta, corrida, competição. A vida são os dias em que criamos mas são também os dias, noites em que dançamos, em que partilhamos, em que construímos em comum. Daí que não possamos admitir que eles nos roubem o tempo, que eles nos manipulem, que eles nos façam guerrear uns com os outros seja por que motivo for. É isto que eu vos tenho a dizer.
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NADA ACIMA DA VIDA
Leste Nietzsche, sobretudo "Zaratustra", e por isso achas absurda essa preocupação quase exclusiva com o sustento, com os trocos, o metro-trabalho-casa. Eles e elas lá vão levando a sua vidinha e há dias em que são mais felizes do que tu. Todavia, tu sabes que não vieste para o sustento, para o lar, para a família. Tens lar, tens família mas vieste para criar, para pensar o mundo. No fundo, achas ridículo o reino do dinheiro, dos especuladores, dos banqueiros. Achas ridículo tanto sacrifício, tanta preocupação, tanta guerra por causa das contas bancárias. Não é isso que te entusiasma. O que te entusiasma é o conhecimento, é a liberdade, é a vida pela vida. O que te entusiasma é o próprio pensamento. Daí que não suportes a incultura, a ignorância, a imbecilidade. O teu pensamento chega muito longe, ó poeta. É certo que conheceste pessoas muito inteligentes que acabaram na miséria: o Jaime Lousa, o Sebastião Alba. No entanto, no fundo, tens a esperança de um dia vires a ser realmente reconhecido. Sempre foste um dos mais inteligentes. Sabes que isto pode cair na barbárie, como já cai na imbecilidade tipo "Preço Certo" ou outros programas televisivos. Não tens que te vender. Tens de prosseguir o teu trabalho de investigar o homem e a vida, com o objectivo de entregar o homem à vida porque nada está acima da vida.
AGARRAR A VIDA
Ainda não fui reconhecido enquanto escritor como outros o são. No entanto, não me considero inferior a eles. Fazem uns truques, dizem umas coisas engraçadas mas nada de verdadeiramente profundo. Não vão à essência da vida. Não questionam a luta pela existência, o esforço, o trabalho nem os macacos que trepam uns para cima dos outros em busca do lugar, do emprego, do estatuto. Claro que há o esforço, o trabalho em prol de uma obra de arte, de um poema maior. Mas há também o trabalho alienado, o trabalho escravo em favor de um explorador, de um capitalista, o trabalho que é sacrifício, que provoca a dor em vez do prazer ou então o tédio.
Neste momento estou num café de Vila do Conde e observo um grupo de macacos a vociferar em torno de um jogo de futebol. O que é que esta gente tem na cabeça? Tem instintos agressivos, primários, é totalmente manipulada pelo jogo e pela máquina. Esta gente tira prazer da bola, vive da bola, não é capaz de um raciocínio elevado. Vive de cânticos, de gritos, de insultos ao clube inimigo. Não sou da espécie deles. Não estou na mesma galáxia. Esta gente nunca questionou a existência, o que faz aqui, julga-se afirmativa, agressiva mas é dominada pelo chefe, pela televisão, pela polícia. Arrisco-me a dizer que não tem alma, que não tem humanidade. Que é incapaz de apreciar uma obra de arte, que é incapaz de ouvir ou entender uma mulher sensível. É gente sem cultura e sem educação. São macacos que trepam. Não são os únicos, claro. Há mais.
Verdadeiramente começo a compreender a vida. Temos de agarrar a vida, é certo. Mas colocam-nos a competir uns contra os outros desde muito cedo. Há as notas escolares, há a pressão para integrarmos os grupos, mesmo que nos descaracterizemos, que adulteremos o nosso crescimento. Só a espaços acontece a verdadeira união, a comunhão, a celebração. Temos de agarrar a vida, repito, mas a vida não tem que ser guerra, luta, corrida, competição. A vida são os dias em que criamos mas são também os dias, noites em que dançamos, em que partilhamos, em que construímos em comum. Daí que não possamos admitir que eles nos roubem o tempo, que eles nos manipulem, que eles nos façam guerrear uns com os outros seja por que motivo for. É isto que eu vos tenho a dizer.
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quarta-feira, 6 de março de 2013
VIVA CHÁVEZ!
Morreu Hugo Chávez. Morreu um revolucionário que sempre fez frente ao capitalismo e ao imperialismo, mesmo que não concordemos com algumas das suas posições. Morreu Hugo Chávez mas o seu legado fica. Agora o Obama, os imperialistas e os mercados querem meter as patas na Venezuela. Mas o povo venezuelano, os pobres, os injustiçados que Chávez ajudou não vão deixar. Acreditamos. De qualquer maneira, está aberta a guerra entre as forças da revolução e da utopia e os Obamas, as Merkels, os Cavacos, os Passos e os Gaspares. Assim seja.
domingo, 3 de março de 2013
O HOMEM DO AMOR E DA LIBERDADE
1,5 milhões de pessoas nas ruas de Portugal a exigir a demissão do Governo. Jovens, velhos, desempregados, precários, reformados, funcionários públicos, estudantes, intelectuais, artistas, todos juntos nas ruas a exigir a demissão do Governo e a saída da troika. Face a este cenário, Passos Coelho e Vítor Gaspar só podem pedir a demissão. Basta de austeridade, de desemprego galopante, de recessão, ...de pobreza, de miséria. Basta também de troikas, de dívidas, de "investidores", de "credores", de "mercados", que nos sugam a pele e nos roubam as vidas. Basta que nos tornem infelizes, que nos atirem para o tédio, para a depressão, para o suicídio. O capitalismo tem os dias contados. Está a nascer um novo homem. Dos escombros da rapina, da competição, da mercearia, ergue-se uma nova consciência: o homem que não aceita mais a sub-vida, a escravatura, o homem que canta, dança e ri nas barbas dos politiqueiros, o homem que se encontra mesmo e com os seus mitos, o homem que cria e descobre, o homem do amor e da liberdade.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
O QUE VIESTE FAZER À VIDA?
Alguma vez te perguntaste o que fazes aqui?
Porque és obrigado a seguir
Determinado percurso,
A estudar, a trabalhar, a assentar,
A ficar velho?
Quem te pôs essas ideias na cabeça?
Porque raio há-de ser como eles querem?
Porque não podes desbundar, gritar
A qualquer momento?
O que vieste fazer à vida?
Porque continuas dentro dos trilhos?
Porque agradas aos teus amiguinhos?
Porque hás-de fazer concessões,
Porque não segues o teu caminho?
Quem te obriga a seres o que não és?
A máquina? O dinheiro? O capitalismo?
Não passam de convenções
Dentro da tua cabeça.
Porque não sais do jogo?
Porque não os mandas à merda?
domingo, 24 de fevereiro de 2013
A BARBÁRIE
Em 1845, em “A Essência do Dinheiro”, Moses Hess afirma que o capitalismo traduz a dominação exercida pelo deus-dinheiro sobre os homens, constituindo um sistema que coloca à venda a liberdade humana. O dinheiro é a essência e traz um mundo pior do que o da escravatura antiga porque “não é natural nem humano que alguém se venda a si próprio voluntariamente”. A tarefa do comunismo é, assim, abolir o dinheiro. Para Gustav Landauer essa tarefa não é aperfeiçoar o sistema industrial-capitalista mas ajudar os homens a redescobrirem a cultura, o espírito, a liberdade, a comunidade. Para outros, o capitalismo é traficar a alma, o espírito, o pensamento. Para Marx, exige-se “a revolta contra um mundo que transformou cada coisa numa mercadoria e degradou o homem, reduzindo-o ao estatuto de objecto”. Sim, temos o direito de exigir o homem integral. O poder do dinheiro pode destruir todas as qualidades humanas e naturais, reduzindo-as ao quantitativo. A troca de afectos é substituída pela troca do dinheiro por uma mercadoria. Não existe nada de mais abjecto do que o capitalismo e os seus mercadores e economistas. Reduzem tudo ao cálculo, ao deve e haver, ao orçamento. Cortam na vida das pessoas como se tratassem com objectos. A sensibilidade é substituída pela posse. Como dizem Michael Lowy e Robert Sayre em “Revolta e Melancolia”, “o ser, a livre expressão da riqueza da vida por actividades sociais e culturais, é cada vez mais sacrificado ao ter, à acumulação do dinheiro, das mercadorias e do capital”. O homem está fortemente condicionado na sua capacidade criativa pelas drogas que nos atiram todos os dias via media e por um mercado implacável. Segundo Lukács, “tudo deixou de ser avaliado por si próprio, pelo seu valor intrínseco – artístico ou ético – e apenas tem valor enquanto mercadoria vendível ou comprável no mercado”. É a barbárie, a selvajaria. Nem sabemos como ainda pode haver algum amor, algum diálogo, alguma filosofia. Eles estão a destruir o que de mais genuíno há no homem, esses merceeiros, esses moedeiros. Isto não é apenas a crise económica, isto não é apenas o irem-nos aos bolsos, isto é irem-nos à alma, destruírem os verdadeiros progressos da humanidade. Isto é destruir a vida. Não podemos mais aceitá-lo. Somos homens e mulheres. Não somos objectos, não somos notas e moedas.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
AO SOM DA GRÂNDOLA
Os ministros, onde quer que vão, estão a ser silenciados ao som da "Grãndola". Os ministros, acobardados, perderam o pio ao som da "Grãndola". O país está a virar ao som da "Grãndola". O país está a dançar ao som da "Grãndola". Os ministros estão a perder o poder ao som da "Grândola". O poder está a arder ao soim da "Grãndola". Os macacos dos mercados falam e falam mas não sabem o que os rodeia. Agora já sabes se a plateia te ama ou te odeia. Agora que todos eles te aplaudem ou te rogam pragas. Agora que deixaste a miúda. Agora tu és um revolucionário de corrida.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
O MEU CAMINHO
Tive, claro, a influência dos meus pais, de alguns professores na escola. Houve também o "boom" do rock português aos 12/13 anos- os UHF, os Táxi, os Jafumega-, depois os Pink Floyd, as letras do Roger Waters. Os meus grandes amigos do liceu- o Jorge, o Rui- que me indicaram caminhos na música, na literatura. Depois vieram os Doors, o Jim Morrison. Nunca mais fui o mesmo. Poderia ter seguido outros caminhos. Vieram também as boas notas no 12º, o jovem promissor que eu era. Comecei a soltar-me, a falar com as miúdas. Veio a experiência traumática na Faculdade de Economia do Porto mas vieram também as noites e os concertos em Braga, o "Apocalipse Now", o "Assim Falava Zaratustra". Comecei a ler Marx, Lenine, Trotsky, os anarquistas. Escrevi os meus primeiros bons poemas. Poderia realmente ter sido outro. Mas fui seguindo a via, pondo em causa o sistema de ensino, as notas, o próprio capitalismo. Tive as grandes depressões, foram muito dolorosas. Não conseguia falar, comunicar, fugia das pessoas. Caí mas estou aqui hoje, pronto a enfrentar o inimigo. Fui eu que escolhi o meu caminho. Não foi a TV, não foi a moda, não foi o mercado, não foi o capitalismo. Fui eu que me construí, que construí a minha personalidade. Agora estou aqui.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
A VIDA PELA VIDA
Leste Nietzsche, sobretudo "Zaratustra", e por isso achas absurda essa preocupação quase exclusiva com o sustento, com os trocos, o metro-trabalho-casa. Eles e elas lá vão levando a sua vidinha e há dias em que são mais felizes do que tu. Todavia, tu sabes que não vieste para o sustento, para o lar, para a família. Tens lar, tens família mas vieste para criar, para pensar o mundo. No fundo, achas ridículo o reino do dinheiro, dos especuladores, dos banqueiros. Achas ridículo tanto sacrifício, tanta preocupação, tanta guerra por causa das contas bancárias. Não é isso que te entusiasma. O que te entusiasma é o conhecimento, é a liberdade, é a vida pela vida. O que te entusiasma é o próprio pensamento. Daí que não suportes a incultura, a ignorância, a imbecilidade. O teu pensamento chega muito longe, ó poeta. É certo que conheceste pessoas muito inteligentes que acabaram na miséria: o Jaime Lousa, o Sebastião Alba. No entanto, no fundo, tens a esperança de um dia vires a ser realmente reconhecido. Sempre foste um dos mais inteligentes. Sabes que isto pode cair na barbárie, como já cai na imbecilidade tipo "Preço Certo" ou outros programas televisivos. Não tens que te vender. Tens de prosseguir o teu trabalho de investigar o homem e a vida, com o objectivo de entregar o homem à vida porque nada está acima da vida.
domingo, 10 de fevereiro de 2013
CONFUSÃO
Tenho poemas que são estórias
a miúda do café fala com os clientes
conta a vida
ganha o salário mínimo
é confusa em relação ao poder
queixa-se
dá graças a Deus
tem 26 anos
diz que não está
psicologicamente preparada
para ter filhos
quer que eles estudem
fala em emigrar
nas vantagens da emigração
em "construir a vida"
no euro que não vale nada
nos doutores
que trabalham nos supermercados
há alguma consciência
mas muita confusão.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
A LUTA ESSENCIAL
O capitalismo ocupa as pessoas, afasta-as do gozo, do lazer, do ser. Faz-lhes também a cabeça, enche-as de medo e preconceitos, impede a celebração e o encontro. Aliás, essa é a questão essencial: o big brother. Poucos procuram a deriva, a verdadeira festa, a verdadeira alegria. São só obrigações, papões, castrações. Políticos que nos exigem sacrifícios, "vidas" alienadas, sofrimento, depressões, doenças mentais, suicídios. Não, não está tudo dito. É preciso continuar a denunciar o big brother. É preciso ser guerrilheiro da palavra. Os grandes media bombardeiam-nos todos os dias, fragilizam-nos, infantilizam-nos. O capitalismo quer destruir o homem. Quer tornar-nos escravos de uns poucos. Não podemos deixar. Somos soberanos, temos um deus em nós. Procuramos o ser uno, o ser completo. Desde a infância que nos andamos a descobrir. Não nos podemos deixar levar mais. É esta a grande luta, a luta essencial. Trava-se dentro da nossa mente, da nossa alma. Expulsemos os vendilhões. Se uma grande parte de nós tomasse consciência disto a revolução estava feita.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
QUEREMOS A VIDA
O mais importante é, de facto, o pensar, a própria filosofia. Esse pensar, apesar dos bombardeamentos diários da máquina, é livre, é absolutamente livre, pelo menos em alguns de nós. É esse pensar que nos dá a certeza de que estamos vivos, bem vivos, de que nada está acima de nós. Somos deuses. Queremos o mundo agora. Temos o direito de querer o mundo agora. Temos o direito de querermos ser quem somos. Queremos agarrar o instante, queremos agarrar cada pedaço de vida. Queremos a vida.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
NOTAS E MOEDAS
Apesar de tudo prefiro as moedas às notas. As moedas- posso tocá-las, apalpá-las, sentir-lhes o peso. As notas- são só pedaços de papel que se trocam com um número inscrito, são uma convenção. Não têm peso, não têm valor nenhum. É como se se trocassem folhas de papel higiénico. É a mesma coisa. É por isso que isso do dinheiro e da vida em função do dinheiro é completamente absurdo. Não faz sentido absolutamente nenhum.
domingo, 27 de janeiro de 2013
SOU QUEM SOU
Tenho um nome. É certo. Tenho um nome. Em certos meios não sou um desconhecido. Até me dá um certo prazer passar despercebido aqui na aldeia. Continuo a ser o estudioso que vem para o café ler e escrever. No fundo, o que me dá mais gozo é o acto de pensar. Não compreendo tudo. Há escritos que continuam a ser demasiado herméticos para mim. Contudo, gosto realmente de pensar, de interrogar o mundo. Sempre gostei de compreender as coisas, de descobrir o sentido da vida. Por isso estou aqui. Não por causa do dinheiro, não por causa do ganhar a vida. Estou cá também por causa do amor, por causa da liberdade. Não por causa de imbecis incapazes de uma ideia nova, de elevação, de luz. Antes só do que ter de ouvir certas coisas, antes só do que ter de aturar certas coisas. Antes só e construir o meu mundo. Sim, foi esta a via que realmente escolhi há 27 anos ou mais. Não sou do pimba. Não sou do menor. Não os suporto. Antes morrer, antes desaparecer, antes enlouquecer. É como certos (muitos) empregos. Aturar chefes, horários, intrigas, controleiros. Não, querida, não sou deles. Nunca fui. Não os suporto. Tenho o direito de ser quem sou. Sigo o meu caminho. Não tenho de me sacrificar por coisa nenhuma. Trabalho no que quero e quando quero. Sou quem sou. Tornei-me naquele sou, definitivamente. Não tenho obrigações. Não tenho que aturar imbecis. Nunca mais.
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
PRIMA-DONA
Sou obrigado a acreditar na revolução. Há as questões pessoais, claro, mas em mim tudo está ligado à liberdade, à revolução, à emancipação. Tudo passa pela ultrapassagem de mim próprio. Pelo animal de palco que é rei, que é senhor, que vai até Deus e para lá de Deus. No fundo, sou a prima-dona. Sempre fui, desde a infância. Não vim ao mundo para trabalhar, para me sacrificar, para me mortificar. Ouço-te, Jim Morrison, no Ceuta. "Strange Days". Vem para mim, dama. Tenho de acreditar. Mas também se dissesse tudo hoje o mundo acabava hoje. O mundo não vai acabar hoje. O mundo não vai acabar esta noite, menino. Não tens nada a perder, menino. És louco. Consegues ser absolutamente louco e absolutamente lúcido. É nisso que és bom, é nisso que és diferente, menino. És do excesso. És de Blake e de Nietzsche. Porque te amo, ó eternidade.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
LIVRO DO MÊS DE JANEIRO
"Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os mercados e outras conversas" de A. Pedro Ribeiro
A. P. Ribeiro é um poeta/escritor já bem conhecido da CasaViva. A cada verso seu que passa, o espírito crítico do ouvinte é aguçado e, de novo, surpreendido, revelando-se ora num sorriso mais tímido ora numa gargalhada "dionisíaca". Agora, em forma de "prosa num tom profético", como o próprio autor reclama, traz-nos "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os mercados e outras conversas".
Recorrendo aqui e ali a citações destes e doutros autores, é com uma agradável sensação de ritmo e cadência, à semelhança de um poema, que percorremos as folhas e as letras deste livro. Temos total liberdade de o fazer a partir do meio, de trás para a frente, ou simplesmente porque hoje o livro se abriu nesta página. Os diferentes e inúmeros textos vivem bem sós, mas também se complementam.
Se em "os mercados" encontramos um forte espírito crítico à sociedade consumista e ao sistema capitalista em que o mundo está absorvido; uma reflexão contundente sobre a vida, a ideia de liberdade, de escravidão, de mercados e capitais opressores...; é em "e outras conversas" que percebemos melhor quem é A. P. Ribeiro e como lida com os aspectos presentes em "os mercados". Esta separação é feita mentalmente, dado que o livro não a apresenta fisicamente.
Uma compilação de escritos que saíram principalmente no "A Voz da Póvoa", uma mensagem que se pretende passar, em forma de missão, e que é perceptível logo que o começamos a folhear. Salta à vista esse tom profético e faz lembrar, em parte, o último livro do padre Mário de Oliveira, "O Livro dos SALMOS, Versão Terceiro Milénio, Também Para Ateus", que foi apresentado recentemente na casaviva.
Não se é, por isso, surpreendido quando, no meio de alguns textos, se encontra a referência ao Jesus do padre Mário ou a alguns dos seus livros ou principais aspectos.
Aconselha-se vivamente esta leitura, mais não seja para percebermos que não estamos sós e que há mais gente que quer uma revolução contra a religião do capitalismo e o seu respectivo Deus, o dinheiro.
De uma das suas prateleiras, a Biblioteca da CasaViva destaca um livro mensal e, a propósito, pretende animar leituras colectivas, debates, conversas com autores.
Este mês o livro que saltou da prateleira é de um amigo da casa: A. Pedro. Ribeiro. Alinhou num serão de letra, dia 29 de Janeiro de 2013, às 21h30. Traz Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller. Falará de mercados, terá outras conversas.
A. P. Ribeiro é um poeta/escritor já bem conhecido da CasaViva. A cada verso seu que passa, o espírito crítico do ouvinte é aguçado e, de novo, surpreendido, revelando-se ora num sorriso mais tímido ora numa gargalhada "dionisíaca". Agora, em forma de "prosa num tom profético", como o próprio autor reclama, traz-nos "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os mercados e outras conversas".
Recorrendo aqui e ali a citações destes e doutros autores, é com uma agradável sensação de ritmo e cadência, à semelhança de um poema, que percorremos as folhas e as letras deste livro. Temos total liberdade de o fazer a partir do meio, de trás para a frente, ou simplesmente porque hoje o livro se abriu nesta página. Os diferentes e inúmeros textos vivem bem sós, mas também se complementam.
Se em "os mercados" encontramos um forte espírito crítico à sociedade consumista e ao sistema capitalista em que o mundo está absorvido; uma reflexão contundente sobre a vida, a ideia de liberdade, de escravidão, de mercados e capitais opressores...; é em "e outras conversas" que percebemos melhor quem é A. P. Ribeiro e como lida com os aspectos presentes em "os mercados". Esta separação é feita mentalmente, dado que o livro não a apresenta fisicamente.
Uma compilação de escritos que saíram principalmente no "A Voz da Póvoa", uma mensagem que se pretende passar, em forma de missão, e que é perceptível logo que o começamos a folhear. Salta à vista esse tom profético e faz lembrar, em parte, o último livro do padre Mário de Oliveira, "O Livro dos SALMOS, Versão Terceiro Milénio, Também Para Ateus", que foi apresentado recentemente na casaviva.
Não se é, por isso, surpreendido quando, no meio de alguns textos, se encontra a referência ao Jesus do padre Mário ou a alguns dos seus livros ou principais aspectos.
Aconselha-se vivamente esta leitura, mais não seja para percebermos que não estamos sós e que há mais gente que quer uma revolução contra a religião do capitalismo e o seu respectivo Deus, o dinheiro.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
CONTRA A MÁQUINA
Há os que estão irremediavelmente perdidos para a vida. Eu questiono. Eu desmonto a máquina tanto quanto me é possível desmontá-la. Não percebo nada de mercados nem de finanças mas sei que esse é o mundo que nos sufoca, que reduz o homem ao gélido, ao entediante, ao mecânico. Sei que não nasci para isso. Vim para me realizar, para desenvolver as minhas potencialidades, para criar. Vim para pensar, para puxar pela cabeça mas também para intervir no mundo. Mas para pensar convenientemente tenho de ter a mente liberta de contaminações. Daí que tenha de me afastar da TV dominante, da máquina. Daí que vá de encontro ao amor e à poesia. Há muito que me deixei de americanices. Há muito que coloquei certos venenos de lado. Vejo nos meus semelhantes o desejo de ganhar. Eu não vim para ganhar nada. Não vim para competir nem para ganhar taças. Vim, como dizia Jim Morrison, para performear a minha arte e para completar ou perfectibilizar a minha vida. Vim enriquecer-me, vim aumentar a minha alma. Não penso só na próxima refeição, como muitos fazem. Por isso leio, estudo, escrevo, recito. Não faz sentido vir ao mundo para estar permanentemente preocupado com o dinheiro e com a próxima refeição. É preciso desfrutar, é preciso gozar, é preciso celebrar. Para tal não são necessárias grandes viagens. Às vezes bastam as viagens interiores. O diálogo que mantemos connosco próprios, como dizia Henry Miller.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
A POESIA ANDA NO AR...
A. Pedro Ribeiro é o poeta convidado do evento "A poesia anda no ar..." que vai ter lugar no próximo sábado, 12 de Janeiro de 2013, pelas 16h, na Casa da Cultura de Paranhos, no Porto.
Eis o plano do evento:
Convidamos quem sabe dizer, ler ou interpretar a poesia que se escreve em língua portuguesa.
Organização conjunta: Eduardo Roseira, Lourdes dos Anjos, Casa da Cultura de Paranhos
12 JANEIRO 2013 – António Pedro Ribeiro
2 FEVEREIRO 2013 – Fernando Campos de Castro
2 MARÇO 2013 – Amílcar Mendes
6 ABRIL 2013 – Alzira Santos
4 MAIO 2013 – Lourdes dos Anjos
1 JUNHO 2013 – Ana Almeida Santos
6 JULHO 2013 – Conceição Bernardino e TODOS os convidados dos meses anteriores.
Estão todos convidados! Não se esqueçam de tomar nota na vossa Agenda Cultural
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
"FORA DA LEI" SEGUNDO ALEXANDRE TEIXEIRA MENDES
António Pedro Ribeiro: individualismo revolucionário, xamanismo e u-topia
De entre os últimos livros de António Pedro Ribeiro, merece ser especialmente citado “Fora da Lei” (e-ditora, Braga, Dezembro de 2012), um poemário miscelânea- iconoclasta que inclui um CD com gravações (recitações) do autor e diseur (ao longo do ano corrente). Todos estaremos de acordo em que estas páginas se inscrevem no quadro de uma escrita testemunho assente em esquemas e fórmulas composicionais pré-estabelecidas - jogos enunciativos - temáticas de teor auto-biográfico (no seu contexto preciso: o domínio dos “fantasmas” pessoais). “Combato os demónios/como Horderlin, Kleist, Nietzsche/vou até ao infinito” (p.30). Desta escrita, segundo o quadro poético-base dos fluxos mentais e da errância - habitual e constante - de ser e ser algo – singular e próprio - das combinações múltiplas – fica-nos a vizinhança imediata com o “caminho excêntrico” de que nos fala Hörderlin. Tem assim o condão de nos remeter à u-topia e ao niilismo (democrático).
hors la loi
Esta poética surge-nos, antes de mais nada, associada à recusa do poder e do controlo tecnopolita (para usar a expressão de Harvey Cox). Mostra-se-nos guiado pela crítica das estruturas centralizadas de dominação e, no entanto, do capitalismo manipulativo (onde será necessário acrescentar: a lógica do (ter sobre o ser) mercantil). Diremos que estes textos-poemas coincidem também com um tom semi-insurrecional - no re-assumir da praxis política - da dialéctica do fora-da-lei, hors la loi - do “discurso livre”. E em que se reclama o compromisso militante (minoritário) e o próprio ideário da liberdade: a "liberdade livre" de Rimbaud. A escrita de António Pedro Ribeiro - já o dissemos antes - sempre se mostrou possuída por uma paixão central da “urbs” - a prática viva e“mítica” da cidade-panorama - transumante ou metafórica - da “polis” - dos “voyeurs” ou caminhantes metropolitanos- “on the road” - bem à maneira da beat generation - do “dire-vrai” sobre eros - as questões atinentes a todo o poder-dominação que se volve demoníaco (a “Kultur” consumista ou o “American Way of Life”).
iluminações
Na acentuação crítica do mundo quotidiano (everyday-world) e do mundo da vida (life-word) - sob um fundo filosófico partilhado que nos remete à Internationale situationiste francesa e seus sonhos de revolução e libertação no domínio da vida quotidiana - as teses criticistas de Henri Lefebvre - esta poemática encerra em si, necessariamente, uma vocação dialógica e comunal. O point de départ da poesia de António Pedro Ribeiro é, em sentido rigoroso e original, a discussão sobre “representação” e “autoridade”: a sociedade do espectáculo. A originalidade desta escrita-vórtice está no contínuo movimento de imersão/ re-emersão da palavra - dando prevalência à vox (vocis) - às “iluminações”. Poderemos pôr em evidência um tipo de poesia engagé - pós-radical - de inscrição ideológica “para-marxista”. Na crítica dos módulos e fórmulas da sociedade de mercado e de dominação - num contexto de “acelerada” “liquefacção” das estruturas e instituições sociais em que hoje naufragamos- esta poética prima, antes de mais, pela singularidade e intransigência do seu radicalismo (a lição báquica): “mas há noites em que Dionísios/volta e aí dança, celebra e faz/tremer o instituído” (p.31)
niilismo
Os poemas de António Pedro Ribeiro exibem, em seu contexto de significação original, um questionar social e político: advogam um niilismo extremo, o l´enjeu do individualismo revolucionário (na acepção de Alain Joufroy). Sob a égide da crítica básica do sistema industrial-consumista - denunciam-se as patologias e as fraquezas da razão instrumental - os truques e mentiras (a linguagem corrente) dos contabilistas e dos economistas - do poder soberano e das suas instituições - a situação humana, the human predicament (na conceituação do teólogo Paul Tilitch). Mais ainda, os oligopólios - o mundo financeiro - o escravismo e a opressão mercantil - a estrutura e a lógica da “sociedade unidimensional” (v. Manifesto Antinormalidade, p. 26-27). Unindo-se ao niilismo de Max Stirner e Guy Debord - as razões de uma revolta anárquico-libertária - Rimbaud, Morrison, Ginsberg e Miller - o próprio riso de Zaratustra – a obra de António Pinto Ribeiro assenta, de per si, na assumpção cénica (assertiva) do desejo ( a "indizibilidade do único"). Não teremos dificuldade em entender, desde já, porque os gregos falavam de um logos spermatikos, a palavra geradora ou o pensamento seminal.
trans(e)versal
A poesia de António Pedro Ribeiro assenta, por conseguinte, - já o vimos precedentemente - na crítica da alienação (manipulação autoritária) e da dominação (instrumental, organizacional e psíquica) - cujo protótipo simbólico é o “Zé-Ninguém” de W.Reich. Referimo-nos a uma escrita que veicula latu sensu a insânia, o pathos da loucura e a ebriedade. Não se deve perder de vista a plenitude e a beatitude de uma poética sugerindo um caminho (de discernimento) alternativo (primordial e iluminativo): "asceta longe da tribo xamã encoberto" (p.21).Trata-se - à primeira vista - de uma escritura “engajada” - de apego ao trans(e)versal - que se opõe à visão normal - convencional. Poderíamos falar longamente sobre a conscienciosa rebelião desta poesia (porquanto uma escrita da contestação, do dissentimento ou da recusa). Temos assim uma poética mundivivencial da dicção coloquial quotidiana (para além da mera tradição lírica-discursiva).
activismo existencial
A poesia negativa e dialéctica-dialógica - catártica e des-construtora - assume a dissidência - o poder da contestação e do protesto que é essencial a todo o pensamento livre e criador. Esta escrita denunciadora do “vazio” do mundo - da ideologia e da linguagem tecnocrática do capitalismo planetário (que transforma a pessoa humana em um ser domesticado e unidimensional) esforça-se por ser - sob as estratificações das convenções fixas - uma poesia dos transes e transportes visionários. E é ainda bem preciso e essencial notar o seu pendor oracular e na coincidência com as correntes beat. Uma das dimensões destes textos é o forte pendor ideológico - enquanto propensão crítica do ethos do domínio capitalista e inclusive da res publica burguesa. Já que se admite que o poder político é basicamente sustentado pela coerção física, enquanto que o poder económico se sustenta através de recompensa e privação.
hybris
Trata-se de uma poesia da iconoclastia e da irreverência (composta de palavras-chave no sentido estrito) que enaltece, vimo-lo nos capítulos precedentes, a auto-reflexão. Em que há também um exercício crítico em torno da sociedade autoritária “unidimensional”. Por fim, o questionamento dum mundo dominado por critérios de eficiência e sucesso e, por conseguinte, assente na “auto-escravização”do humano. Verificar-se-á que esta poesia - com os seus laivos de narcisismo umbiguista - está necessariamente ligada ao activismo existencial-visionário: de negação do ethos e do pathos do autoritarismo. Noutras palavras: uma escrita que patenteia, desde as primeiras obras, uma opção ético-política libertária. Falámos dos insigths de uma poética que nos surge mobilizada pelo “sagrado selvagem - o amor ao prolixo- a pro-jecção da hybris. “sou o canto das aves/e das sereias/sou aquele que renasce/e aquele que bebeu o Graal/que esteve com Jesus,/Merlin e Zaratustra//sou o super-homem/o poeta que reinará/sobre a Terra/sou Quixote/a lutar contra os moinhos/sou Artur de Camelot/sou todos os vencidos/que hão-de vencer/sou a água dos rios/sou o poema que não acaba/a canção que não se cala/o ouro todo do mundo” (pp.18-19)
profecia
Parece pois que as diligências da escrita de António Pedro Ribeiro, do poeta como do “performer”, são comandadas, cada vez mais, pela “projecções” do inconsciente. Isto traz-nos à mente os mecanismos de dissociação efectiva da identidade. A sua forca de gravitação está na apologia do “espírito livre”: libertação e liberdade colectiva. Tendo em conta essa outra virtude que é a poesia manifesto. Mais: a causa em que parece enfileirar é a causa da velha e da nova esquerda em estilo profético: democracia, auto-governo, organizações de base. É aqui que se faz importante a verificação da missão da denúncia e da profecia (já o indicamos anteriormente). Mas onde se enfatiza a liberdade e a “auto-determinação”: a de que somos “fazedores de mundo” (assinale-se a obra "Ways of Worldmaking" (1978) de Nelson Goodman) e a de que - note-se - estamos constantemente a fazer “novos mundos a partir dos velhos”. Como no-lo diz: “Capaz de gerar estrelas crio mundos novos” (p.43). Mas, pela sua própria natureza, uma poesia de "demanda" que - no seu teor cívico-ético - planfletarismo - simboliza a insurreição, a revolta, enfim, a crítica ao fascismo (democrático) em acto - que Agamben-Foucault denominou "bio-poder" - , quando se associa a visão paradigmática política do Ocidente ao campo de concentração.
(contra)poder
A poética da qual falamos é o exercício de um "contra-poder" (num aferrar-se à ideologia libertária e democratista). “Os instrumentos pelos quais o poder é exercido e as fontes do Direito para esse exercício - escreve Kenneth Galbraith – estão interrelacionadas de maneira complexa. Alguns usos do poder dependem de estar oculto, de não ser evidente a submissão dos que a ele capitulam” (Anatomia do Poder, Difel, Lisboa, p. 19). Observar-se-á, portanto, que o poder (no estrito exercício e manutenção) nunca pode, afinal, dissociar-se do seu appparatus. O que não podemos esquecer é que a história é normalmente escrita em torno do exercício do poder. Assim sendo poderia igualmente ser escrita em torno das fontes do poder e dos instrumentos que o impõem (Ib. p.105). Haveria apenas de perguntar se, basicamente, a finalidade do poder é hoje o exercício do próprio poder? E se tem ainda sentido admitir-se a poesia - passivamente como activamente - num mundo assente nas relações de poder - enquanto dom, hospitalidade, transe, desmesura?
leviathan
Na presente obra submetem-se a um exame crítico as categorias jurídicas tradicionais: re-equacionam-se os fundamentos do poder político e do direito (o novo leviathan). Não se trata evidentemente de propor a abolição dos códigos e das regras mas de considerar que o direito não é redutível a: 1) uma série de ordens ou imperativos, 2) um mero sistema de normas, 3) regularidade dos comportamentos, 4) função de uma realidade de tipo objectivo-natural. O que queremos sustentar é que a lei - as normas jurídicas - são fenómenos impessoais. Mas o que aqui é relevante é o dogma do liberalismo e do neo-liberalismo jurídicos - tácitamente uma ordem jurídica fechada e completa (primum verum). Parte-se aqui confessadamente de um desmascaramento da ideologia da “ordem”(da “normalização”) na acentuação de um confronto assumido que incide sobre a doutrinação uniformizante e a política moderna (como uma forma específica e difusa da guerra) super-dirigida. É razoável supor que a liberdade de realização dos fins individuais está pré-determinada pela história e pela sociedade. Na expressão de António Pedro Ribeiro: “Os negócio dos homens nada nos dizem/ entre faunos e sátiros/ erigimos a nossa morada/o homem vulgar não nos atinge” (p. 62)
(in)submissão
Não é necessário dizer que a linguagem mordaz e a linguagem mágica permanecem. Vem depois a valorização da natureza-experiência primordial e, em particular, da infância (imóvel). Distingue-se pela concepção rousseana - franciscana-silvestre do homem - que se revela da mesma natureza das pedras, animais ou plantas. “Celebro o triunfo da Arte sobre a sobrevivência. Sou o homem que vem dos séculos, da floresta. Trago em mim o enigma da existência. Sou rei, mago, poeta. Sou delírio e loucura. Sou o primeiro homem. Não conheço limites, sigo a liberdade antiga” (p. 22). Digamos - para encerrar, e de passagem - que esta poesia configura, nas suas linhas gerais, o cosmopolitismo, num tempo de mundialização do urbano, - das cidades-mundo - em que de facto se adensa particularmente a aceleração da história e, por outro lado, a decadência da paisagem (a destruição da natureza). E que supõe também o emergir do monstruoso (criado pelo homem) e a crescente artificialidade em todas as dimensões essenciais da existência. As estruturas políticas (incluindo o Estado) não existem fora da totalidade social de que são um elemento integrante. Revertendo agora ao nosso ponto, temos que a escrita de António António Pedro Ribeiro é mais o ponto de vista afirmativo da mensagem libertária - uma poética que recupera o ideal - o arquétipo do poeta-xamã. Ora - e para falar a linguagem de Platão - a poesia supõe a inspiração, ou seja, uma possessão do poeta por uma força divina, seja qual for, Musa ou Apolo, ou um “fora de si”, mais ou menos definido. Mas onde o testemunho “numinoso” é ainda transe.
Café-Bar Olimpo
Porto, 21 de Dezembro de 2012
Alexandre Teixeira Mendes
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