terça-feira, 21 de maio de 2013
O ESTAR VIVO
Passou a euforia, a desmesura. Venho à "Confeitaria da Casa" como o poeta que escreve à mesa. Talvez me torne famoso, talvez não. O que é facto é que vou fazendo o meu caminho, com os meus picos, com os meus êxtases. Tenho 45 anos. Já vi muita coisa. Já tive as minhas descidas aos infernos, os meus filmes. Já estive nos palcos de Paredes de Coura, do Campo Alegre, do Púcaros, do Pátio, do Olimpo, do Deslize, do Pinguim. Já tive a ovação, o aplauso mas também o insulto, a indiferença, a negação. Já fui à rádio, aos jornais, à televisão. Já fui ameaçado e apanhei porrada. Agora estou aqui na aldeia do meu pai. Olho as mulheres bonitas. Para onde haveria de olhar? Não sou bem como os outros. Procuro algo que só alguns procuram. Procuro a Ideia, o Graal, a verdadeira essência de estar vivo, como diz a Sandra. Estar vivo é certamente demandar, gozar, celebrar. Estar vivo é certamente ultrapassar-se, ultrapassar os homens pequenos, o negócio, a mercearia. Estar vivo é alcançar as alturas, a poesia, a águia e a serpente. Estar vivo é viver a verdadeira vida de Rimbaud. Estar vivo é ter alma, pensamento, ultrapassar o corpo. Estar vivo é regressar à infância, aos dias grandes, aos dias sem preço. Estar vivo é não pagar.
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