sexta-feira, 12 de abril de 2013

A HORA



É A HORA!

Apesar de estar num partido, continuo a questionar que haja algo ou alguém acima de mim. Acredito no homem livre. No homem autêntico que não assenta, que experimenta a vida, que brinca e joga. Naquele que não tem uma vida predeterminada. No artista. Agora acredito sinceramente que posso chegar onde quero. Acredito sinceramente que posso viver da escrita. Que posso viver mais uns anos em busca da revolução e da vida. Que amo profundamente a vida. Que a quero e desejo mais do que nunca. Não enquanto cumprir das horas, claro. Mas o andar aí à solta, o vadiar de Agostinho da Silva. As palavras vêm ter comigo. Deixo-as soltar-se no papel. Às vezes sou vaidoso. Talvez por ter passado o que passei. Mas não deixo de ser simpático com as pessoas, de uma maneira geral, mesmo que as critique. Começo é a não suportar falas-barato nem nacionais-porreiristas. Começo a seleccionar os amigos. O dia nasce e é meu. Amo-o. Subo á montanha com Zaratustra. Os galos cantam. É a hora.



OS NOVOS ESCRAVOS

A imbecilização e a infantilização reinam na TV e não só. Não há a procura do elevado, do conhecimento, da sabedoria. Anda tudo á volta do futebol e das bolas que entram ou então dos mexericos. Por isso temos governantes como Passos Coelho ou Vítor Gaspar. O cálculo, o utilitarismo e a economia imperam. Ainda há alguma simpatia mas o ser humano não se interroga sobre si próprio, sobre o que faz aqui. Limita-se a cumprir os dias, a obedecer ao relógio, a sobreviver. Não percebe que é do ócio, como diz Agostinho da Silva, que surgem as grandes ideias, que despontam os poetas vadios, os poetas à solta. A maioria dos seres humanos perdeu a curiosidade, a capacidade de sonhar, de inventar. Eis o resultado do capitalismo. Eis os novos escravos. Caminham ordenados, vencidos, cumpridores. Fazem tudo em função do deus-dinheiro, compram e vendem-se, perdem a sua essência. Nas crianças ainda vemos a vida mas logo elas serão encaminhadas para o mercado. Competem, guerreiam-se, não procuram a unidade, o xamã, aquele que une deuses e espíritos. Por isso levam uma vida imbecil, obedecem aos patrões, aos governos, ao deus-dinheiro. Alguns, a espaços, celebram à noite nos bares, nas salas de espectáculos. Mas é só a espaços. A sobrevivência predomina, impõe as suas leis, diminui o homem. Não questionamos o que viemos fazer aqui. Não questionamos a dádiva que é estar aqui. Não vamos atrás da vida autêntica de Rimbaud, de Nietzsche. Não vamos buscar a verdade a nós mesmos. Andamos por aí. Escravos da imbecilidade, do papão imbecil. Não evoluímos, regredimos até, como macacos. Comemos, bebemos e safamo-nos. Fugimos à riqueza da vida. A riqueza de estarmos vivos. Aceitamos tudo o que nos vendem. Duvido até que estejamos vivos.


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Edição 87, Sexta-feira, 12 Abril 2013


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