sábado, 6 de abril de 2013

O DEUS MORTAL

Poucos celebram realmente a vida. Há cada vez menos o encontro, o brinde, a descoberta. As pessoas fecham-se nos grupos e repelem a novidade.
Mesmo os que supostamente se divertem, os que saem à noite, os que vão a espectáculos, só a espaços celebram. Só quando bebem e nem sempre. Já não falo dos outros. Os que levam a vida metro-trabalho-casa. Esses não vivem. Esses são escravizados pela máquina, pela TV, pelo mercado. Vêm ao mundo cumprir as horas. Competem. Tentam passar uns por cima dos outros. E exigem o mesmo dos filhos, cuja vida é igual á sua. Perdem a juventude e a infância na luta pela sobrevivência. Não sabem que a vida é para ser vivida, gozada, realizada. Só se entusiasmam com o futebol e com os mexericos. Nada de belo, de sublime os move. As maravilhas do espírito, as grandes realizações do homem, as grandes obras passam-lhes ao lado. Não se interrogam, não põem as grandes questões, limitam-se a sobreviver, a auto-preservar-se. Mesmo os que saem, os que se divertem só a espaços falam do superior, do belo. Só a espaços são livres, só a espaços amam. É preciso dizer que a vida é amor, dádiva. É preciso dizer que a vida é celebração, é banquete permanente e não o sacrifício que nos impõem. É preciso dizer que o homem está muito para lá do trabalho, que o homem constrói maravilhas, obras de arte, infinito. É preciso dizer que o homem é um deus mortal.

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