sábado, 17 de janeiro de 2009

DO HOMEM


Vivemos o tempo do sub-homem. Do homenzinho apagado, obediente, que segue os outros, incapaz de dizer "eu não vou por aí", como no poema de Régio. A religiao e o capitalismo reduziram o homem a uma caricatura de si mesmo, a um ser que não consegue ser livre nem consegue dizer basta. A mansidão, os cordeirinhos, os camelos, a obediência aos chefes, as palavras de Nietzsche continuam a fazer sentido em relação à sociedade contemporânea. É a sociedade do rebanho. Castra-se o desejo, castram-se os impulsos vitais, castra-se a própria vida. As potências originais da vida e o frémito fundamental da vida são relegados para segundo plano. O mundo dos padres e dos economistas é o mundo das castração. Que excitação podem causar percentagens da bolsa, números do orçamento, décimas, PIB's, IRS? Não é do sub-homem medroso que pode nascer o super-homem de Nietzsche. O super-homem de Nietzsche só pode surgir daquele que cria novos valores, daquele que grita "eu quero!" como o leão, daquele que é Artista, que enfrenta o perigo e se passeia pela corda-bamba do devir. O Artista é o menino que joga apenas com a vida, que faz dela um contínuo experimento de si mesmo e não pode ser um economista calculista nem um político virado para questões sectoriais como o funcionamento do mercado ou as preferências do gado eleitoral. É do Artista que nasce o Super-homem. Mas não do artista versejador da corte, do artista feito com o poder. "A arte tem o dever social de dar saída às angústias da sua época. O artista que não abrigou no fundo do seu coração o coração da sua época, o artista que ignora ser um bode expiatório, que o seu dever é atrair a si, como um íman, fazendo cair sobre os cseus ombros, todas as fúrias dispersas da época, de modo a livrá-la do seu mal-estar psicológico, esse não é um artista", disse Antonin Artaud. O Artista é que aquele que alberga as fúrias da época, é o artista da ruptura que cria novos valores: os valores da vida, da liberdade e do amor, como defendiam os surrealistas e não os valores da morte e do tédio. O super-homem, o Ubermensch, não é mais do que a superação do homem, no seu espírito, no seu corpo, na sua totalidade. O Artista tem de combater "o mundo (moderno) que perdeu todo o vigor no dia em que o homem se meteu em si mesmo e renunciou a procurar forças na vida difusa do universo", como diz Artaud. E acrescenta o poeta: "o homem da Europa sente-se cheio de tédio e não acha explicação para essa perda do gosto de viver. Não compreende que, à força de considerar a vida apenas sob o seu aspecto material acabou por confundir a vida com simples aparências mortas".

Que é Deus, senão a mais ignóbil invenção do homem? Uma espécie de consolo para as almas fracas e doentes. Um ser tirânico, castrador, um vendedor de ilusões. Quantos já não caíram em nome de Deus ou de Alá? Deus é um embuste. REsulta de um conjunto de rituais de feitiçaria. Deus só existe na cabeça de gente pequena, do sub-homem. Deus só existe para o rebanho.

1 comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

«Que é Deus, senão a mais ignóbil invenção do homem? Uma espécie de consolo para as almas fracas e doentes. Um ser tirânico, castrador, um vendedor de ilusões. Quantos já não caíram em nome de Deus ou de Alá? Deus é um embuste. REsulta de um conjunto de rituais de feitiçaria. Deus só existe na cabeça de gente pequena, do sub-homem. Deus só existe para o rebanho.»

bravo.

parece uma das aulas do me mentor, José Adelino Maltês do ISCSP em Lisboa...

Que saudades...


CSd