sábado, 17 de janeiro de 2009

A GAJA E O TÍMIDO


Amanhã vou ter um teste importantíssimo às minhas qualidades vocais e performativas. Amanhã tenho de estar em forma. De puxar o máximo por mim. De ser o animal de palco. O gajo que grita poesia. O gajo que vai ao fundo das coisas. O gajo que olha para a gaja ao balcão de preto e não tem coragem de lhe dizer a palavra a não ser para lhe pedir cafés e cervejas. Vais acabar como o Ramalho, companheiro. O que te vale é que a gaja te inspira enquanto arruma a loiça. Vais acabar a vender poemas pelos cafés. O teu "Á Mesa do Homem Só" ainda circula por aí. A gaja também, à tua frente. Como te apetece beijá-la, amá-la, tê-la nos teus braços. Mas não és capaz de lhe dizer uma só palavra. Uma única palavra. E ela lá te vai inspirando. A gaja que está do lado de lá do balcão. E tu escreves. EScreves como um louco. Escreves como nunca escreveste. Devias agradecer à gaja. Mas nem isso fazes. Falta-te uma cerveja. Falta-te uma merda de uma cerveja mas não tens mais dinheiro. Deste os últimos trocos ao teu amigo Ramalho. E a gaja agarra-se à caixa registadora. E as horas passam. ÉS um poeta. Não há dúvida que és um poeta. E és tímido. Podias oferecer um livro à gaja. Afinal, hoje estás cheio deles. A gaja fuma e pousa o tabaco diante de ti. Talvez até goste de ti, ó tontinho. Talvez até goste de ti e a história tenha um final feliz.

1 comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

pega neste texto e entrega-lho com dedicatória. não é preciso cerveja.

se for preciso eu vou lá entregar-lho e faço de cupido.


CSD