segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O MEDO DE VIVER


O MEDO DE VIVER

António Pedro Ribeiro

A nossa sociedade está dominada pelo medo. Como diz Joaquín EStefanía em "A Economia do Medo", "hoje não se trata somente dos temores tradicionais da morte, do inferno, da doença, da velhice, do terrorismo, da guerra, da fome, das radiações nucleares, dos desastres naturais, das catástrofes ambientais, mas também do medo de um novo poder denominado de ditadura dos mercados, que tende a reduzir os benefícios sociais e as conquistas da cidadania do último meio século". A ditadura dos mercados, entidade sem rosto, reduz-nos, via media, ao medo e à impotência. Todos lhe prestam vassalagem, mesmo que aparentemente a critiquem, desde os governantes europeus e nacionais aos politiqueiros da oposição moderada. E o medo impõe-se por todo o lado, "o medo é uma emoção que imobiliza, que neutraliza, que não permite actuar nem tomar decisões com naturalidade", ainda Estefanía: "os que exercem o poder submetem os medrosos e injectam-lhes a passividade e a privatização das suas vidas quotidianas, levando-os a refugiarem-se no lar". Daí que tenhamos uma sociedade ao estilo da do "Big Brother" de George Orwell onde todos desconfiam de todos, onde o companheirismo, a espontaneidade, o comunicar com o desconhecido começam a rarear. Todos se fecham na sua concha. É a sociedade-espectáculo de Guy Debord onde nos limitamos a ser espectadores de um filme que não controlamos, onde mulheres de sonho se passeiam pelos ecrãs sem que as possamos tocar. É a sociedade da compra e venda em que por detrás de uma aparencia de alguma afabilidade se escondem os monstros da ganância, da rapina, da contabilidade, do economês, do medo: do medo de ficar desempregado, do medo dos jovens não arranjarem trabalho por muito que estudem, do medo de empobrecer, do medo de gastar o que temos porque aparentemente nem sequer é nosso. Segundo Joaquín Estefanía, "para nossa desgraça isto cada dia se parece mais com a Grande Depressão. Nunca antes tão poucos deveram tanto dinheiro a tantos". Eis no que deu o capitalismo, eis no que deu a ditadura dos mercados: no medo de viver, no medo de existir. É absolutamente trágico.

1 comentário:

rapaz disse...

O que é o medo?
Se aqui serve e ali já não.

medo da morte – mas queremos ter carro para andar sem civismo em estradas assassinas;
medo do inferno – como? Se não existe consciência
medo da doença – para consumir remédios
medo da velhice – e detestar e menosprezar os velhos
medo do terrorismo – propaganda para mentes medíocres
medo da guerra – qual guerra? A da fila do supermercado? a da procura de lugar para estacionar o carro?
medo da fome – os que passam fome têm dignidade, não fazem propaganda
medo das radiações nucleares – porra! Isso nem se vê!
medo dos desastres naturais – vi na TV, é horrível!
medo das catástrofes ambientais - isso é ficção cientifica!
medo de um novo poder denominado de ditadura dos mercados – ah! Deixa-me ir ver se as minhas acções subiram.

O medo invisível é usado para esconder o medo real, o medo de cada um tem de ser livre, de se assumir imperfeito, com medos, mas sem cobardia, integro.
Hoje não há medo, há cobardia!
Resultado da falta de integridade, de falta de respeito e de educação, todas essa faltas que passaram a ser sinónimos de força, de superioridade perante os outros, forma de estar na vida.
E essa forma de estar e ser não é de agora, quantos Cavacos estão neste café? Quantos Presidentes da Republica poderemos ter?
Como combater o capitalismo se a maioria o quer? o fomentou, o alimenta, o vive, na esperança de se passar para o lado de lá, para o lado dos tais sem cara, ou dos famosos.

Na sociedade que temos hoje nada mudará, a maioria estão hipnotizados na sua ignorância e falta de liberdade mental, cada um é mais ditador do que qualquer ditador da história, basta andar na rua, estar em locais públicos que essa imagem é clara, sente-se na pele.
Falta matéria-prima, pessoas livres e libertadoras. Se temos Cavaco é porque temos 4 milhões de Cavaquinhos e mais os outros. Nada mudará com esta massa uniformemente banal.
Só o tempo o poderá fazer, esta gente não.
Quem nunca alinhou em vender a sua alma, sabe bem o que é estar só no meio deste circo.
Quem é que está preocupado comigo, contigo, com a pessoa abandonada a nosso lado, com a sociedade em que vive, cada um pensa em si, isso é o capitalismo, todos o querem! Por isso ele existe.

Francisco Félix
Hoje, 5 de Dezembro de 2011
Café Asa de Mosca
Porto