quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A NOSSA HORA


Senhores sem escravos
eis a nossa sina
somos lúcidos, porra!
Discernimos
o bem da porcaria
vimos de outros lugares
da santa loucura
cremos na honra
cavaleiros do caos
e da nova aurora
não somos da moeda
mesmo que a usemos
somos lúcidos, porra!
Não vimos cantar as florzinhas
nada devemos a ninguém
caminhamos de cabeça erguida
bebemos o cálice da honra

cometemos erros, é certo
mas não temos
de carregar a cruz
bebemos com honra
nada temos que ver
com o vosso calendário
com o vosso quotidiano
com a vossa hora

fomos nobres outrora
reis, profetas
arautos da glória
odiamos o pequeno
a pequena intriga
vimos de Shakespeare, de Sócrates,
de Nietzsche
amamos a sabedoria
queremo-la como à mulher
ao balcão
que se insinua
loucos divinos
eis o que já disseram de nós
afastai de mim
esses versejadores menores
temos a honra, porra
Jaime, Carlos
temos a honra
meu pai
temos a glória
bem podem tentar
encerrar-nos no manicómio
bem podem tentar
converter-nos à máquina
nós fraquejamos
mas voltamos sempre
não somos da bola
somos eternos
magníficos
capazes da maldade
e da ternura
não, não nos confundais
com os menores
amamos o abismo e a loucura
combatemos ao lado
dos leões e das àguias
rompemos correntes
não, não espereis de nós
benevolência
sabemos ser amáveis, é certo
mas trazemos a espada
queremos as nossas damas de volta!
Queremos, como os aqueus,
a nossa Helena
estamos prontos para a guerra
tremei, ó menores,
chegou a hora.


Vilar do Pinheiro, Café Central, 1.12.2011

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