domingo, 18 de dezembro de 2011

À ESPERA DA REVOLUÇÃO


Aborreceis-me de morte
como a vossa vidinha
nada dizeis
que me faça crescer
e eu estou condenado
a ouvir-vos
a permanecer
nesta angústia
a dar berros
que ninguém ouve

se estivesse com dinheiro
iria de tasco em tasco
celebrar a glória
ou a ilusão da glória
que võs nunca tereis
assim resta-me
permanecer aqui
a olhar para vós
para essa
vida de escravos
de que nunca
vos libertareis
porque simplesmente
não aspirais a mais
conteitais-vos
com as migalhas
e com as patranhas da TV
não, eu não venho dessa barca
não me contento
com Tonys Carreiras
e quejandos
posso estar só
mas não me converto
prefiro continuar só
a escrever
a escrita salva-me
a escrita ilumina-me
especialmente
quando vem assim
escorreita
ficai com o Natal
e o menino Jesus
O Natal
e o menino Jesus
nada me dizem
não sou como vós
já me chamaram maldito
estou à espera da revolução.


Vilar do Pinheiro, VIp, 18.12.2011

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