sexta-feira, 27 de julho de 2012
MRPP CONTRA MACEDO VIEIRA E AIRES PEREIRA
PCTP-MRPP acusa autarquia de não ajudar Varzim .
Sexta, 27 Julho 2012 17:22 0 Comentários .O PCTP/MRPP emitiu um comunicado em que acusa o presidente da Câmara, Macedo Vieira e o seu vice, Aires Pereira, de deixarem “cair o Varzim na segunda divisão, correndo mesmo o risco de descer aos distritais, completamente afogado em dívidas quando é sabido que a Câmara deve dinheiro ao clube”.
“Um clube histórico como o Varzim, com pergaminhos no futebol português, não se pode deixar afundar assim, sem o mínimo de sensibilidade”, lê-se no comunicado assinado por António Pedro Ribeiro, do PCTP/MRPP, que considera que Macedo Vieira e Aires Pereira “têm uma concepção mercantil e merceeira da política, à semelhança de Passos Coelho e dos patrões do PSD, não prestando apoio a associações com provas dadas na cultura da cidade (e não só...) como o Varazim Teatro”.
“A Câmara da Póvoa não tem uma política sustentável de desenvolvimento nem uma verdadeira política de intervenção cultural, estando ao serviço do lucro e dos grandes interesses económicos, ou seja, do capitalismo dos mercados que vai destruindo o homem e o planeta”, conclui o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses.
RÁDIO ONDA VIVA
quinta-feira, 26 de julho de 2012
TANTAS VIDAS
TANTAS VIDAS
Porque é que um verso
há-de valer menos
do que um golo?
Porque é que eles
ganham milhões
e tu nada?
Quem te pôs aqui?
Quem te amaldiçoou?
Porque enfrentas as feras?
Porque os insultas na cara?
De que bênção, deque maldição
vens?
Que Zeus, que Jesus, que Maomet?
Porque os vês hoje,
porque te tornas neles,
que demónios tens dentro de ti?
És a hybris, a desmesura
o animal de palco
a puta do rock
Morrison ressuscitado
em Braga
Marlon Brando
no "Apocalipse Now"
horror, horror
tantas noites
tantas vidas...
quarta-feira, 25 de julho de 2012
DA REVOLUÇÃO
Como dizem Guy Debord e Adolfo Luxúria Canibal somos meros espectadores da sociedade-espectáculo. Não entramos no jogo, outros jogam por nós. Assistimos passivamente ao espectáculo dos media e o poder, afinal, aqui tão perto. Como na Grécia e em Espanha lutamos com a polícia para ocupar o parlamento. Eis a acção directa. Para lá da revolução dionisíaca há a acção directa. Não deixemos mais que eles nos espetem a cara na lama como dizia Jim Morrison. Não deixemos mais que eles falem por nós. Não deixemos mais que eles nos representem. Construamos a revolução. A liberdade só pode ser absoluta. Reclamemos as nossas vidas. Aumentemos as nossas vidas, como dizia Henry Miller. Não os deixemos mais fazer a nossa mente. Readquiramos a nossa alma. O melhor governo é não existir governo nenhum ou então que venha um governo de filósofos, de homens e mulheres virtuosos, sábios, íntegros. A democracia burguesa está em decadência, tal como a União Europeia. Derrotemos os pregadores da morte e os arautos da finança. Sejamos de novo homens nobres como Sócrates, Platão, Shakespeare, Nietzsche. Não sejamos mais os cegos governados por imbecis, nas palavras de Shakespeare. Somos homens, mulheres, porra! Não somos macacos. Não temos de passar a vida a obedecer. Revoltemo-nos. Ocupemos a rua. Cerquemos os parlamentos. Ocupemos a televisão. Dinamitemos a bolsa. Acabemos com os mercados e com os credores. Nada devemos a ninguém. Somos livres. Absolutamente livres. Este é o novo dia. O dia do homem destruidor e criador. Esta é a era do espírito. Irmãos, irmãs, cantemos. Não deixemos mais que eles nos imponham uma forma de vida, uma fórmula de vida, um modelo de comportamento. Acreditamos, como Rousseau, na bondade, no bem, no belo. Eles não podem mais destruir a nossa alma, o nosso pensamento, a nossa honra. Caminhemos como deuses sobre a Terra. A era do negócio vai chegar ao fim. Irmãs, estou a falar-vos do amor. Companheiros, companheiras, recuperemos Dionisos e a poesia, derrotemos os cinzentos, os financeiros, os burocratas. Não somos sequer da espécie deles. Tomemos a revolução nas nossas mãos. Rebentemos com os bancos. Queimemos o dinheiro.
terça-feira, 17 de julho de 2012
DERROTEMOS A MÁQUINA
Por muito que aqui na confeitaria se continuem a servir cafés, por muito que haja uma aparente serenidade, o caos e a barbárie estão à porta. O amor perde-se, o amor louco de Breton já quase não existe, já quase não há paixões como as de Ulisses e Penélope, de Romeu e Julieta, o amor é cronometrado, mercantilizado, controlado pelos relógios e pelo trabalho, o amor é aprisionado, escravizado. As relações entre as pessoas são movidas pelo interesse, luta-se por um emprego, por um lugar, por uma promoção, por um tacho. As próprias conversas primam pela falta de imaginação, pela vulgaridade, pela rotina. Fala-se de futebol 24 horas por dia, sete dias por semana. Mexerica-se. E depois "está tudo bem", está sempre tudo bem, sempre a mesma vidinha, o mesmo trabalhinho (quando o há), sempre o recolher a casa, o olhar para a TV, o injectar telejornais, concursos, telenovelas.
Onde está o sol? Onde está o céu? Onde está a beleza dos pássaros? Onde está o homem livre? Certamente que não aqui, Sócrates, tu que pregavas o conhecimento e a virtude. Este é o homem destroçado. Este é o homem que permanece na caverna. Que já nem as sombras discute. Este é o homem morto. Este é o homem que precisa acordar. Regressemos aos xamãs e a Dionisos. Busquemos a alma perdida. Falemos como no princípio do mundo. Homem e mulher. Sozinhos no mundo. Dêmos as mãos. Amemo-nos. Falemos do que vem do espírito. Chamemos as musas. Regressemos ao uno primordial, à poesia. Dancemos em redor da fogueira. Celebremos o novo começo. Celebremos o caos e a revolução. Mas também o amor. A alma que entra em contacto com a beleza. Desliguemo-nos do dinheiro e do capitalismo. Passemos para o outro lado. Sejamos totais. Derrotemos a máquina.
domingo, 15 de julho de 2012
O ÚNICO
O que vêm as pessoas fazer ao mundo? Trabalhar, falar sempre do mesmo, comer, beber, viver no medo do papão que pode ser o chefe, o governo, os mercados. Só as crianças ainda divergem, correm sem uma direcção definida, brincam. De resto, aparte as aparências, anda tudo muito ordenado. Alguns, como Jim Morrison, foram contra a corrente: "ó grão criador dos seres/ concede-nos uma hora mais/ para representarmos as nossas artes/ e completarmos as nossas vidas". De facto, se estamos na vida devemos dignificá-la, devemos completá-la. No fundo, continuamos a ser crianças, agora amigas da sabedoria, da música, da poesia. A rir soberanamente do direitinho, do ordenadinho. A rir na cara dos deuses do capitalismo.
Andar à solta, gozar com o instituído. Ser um ser de luz, um iluminado. Sair dos trilhos. Ser um louco divino como Morrison, como Blake, como Whitman. Ser um actor, não se deixar levar pela televisão nem pela máquina. Ser único, não ser apenas mais um. Ser autêntico, puro, como no nascimento.
sábado, 14 de julho de 2012
O BANQUETE
Segundo Sócrates, trazem-se as crianças ao mundo no sentido de elas alcançarem a sabedoria e a verdade e aperfeiçoarem a sua alma. Ora, a maioria dos pais transmitem aos filhos o valor do sucesso material com uns resquícios de cristianismo. O passar por cima dos outros, o empurrar, o ser "o melhor" à custa dos outro, dissimulados pela moral burguesa, são inculcados na família, na esco...la, no trabalho, nos media. Ao convertermos as crianças às leis do capitalismo vamos destruindo a vida e o sentido da vida, o estar aqui, a eterna curiosidade, o prazer da descoberta. As crianças, salvo as excepções que sempre aparecem, tornam-se adultos competitivos, invejosos, intriguistas, medrosos, quase sem alma. Em suma, vêm ao mundo fazer número, levando uma existência ignorante, entediante, sem novidade, sem amor, sem verdadeira paixão. Quando, no fundo, deveriam vir para se constuirem, para construirem o homem, para partilharem a sabedoria mas também para rirem, para estarem à mesa do grande banquete.
SENHORES SEM ESCRAVOS
Porque não somos espontâneos como quando éramos crianças? Impuseram-nos regras, as necessárias e as não necessárias, começaram a adaptar-nos ao mercado, ao ganhar a vida, estrtagaram o que nós éramos. Alguns de nós, a dada altura, revoltamo-nos. Ouvimos certos discos, lemos certos livros, vimos certos filmes, conhecemos certas pessoas e chegámos à conclusão que a lógica disto está errada. Que o nosso pensamento, que o nosso espírito ultrapassa a prisão imposta pela economia. Claro que depois pagámos um preço. Dificilmente nos adaptaremos a determinado emprego. Dificilmente seremos aceites em determinados círculos. Mas, em contrapartida, somos livres. Quanto aos outros, cumprem a vida. Nascem, trabalham, morrem. Mesmo os seus lazeres são controlados. Não, de facto, não viemos para isto. Viemos para a celebração, para o amor, para a dádiva. Bebemos dos grandes. Vivemos poeticamente mesmo que estejamos deprimidos, tristes, abatidos. Amamos a vida, não a morte em vida. Escrevemos, pintamos, subimos ao palco. Não, não nos atireis a sociedade-espectáculo, não nos enganais com as imagens televisivas, com aqueles que supostamente vivem por nós a nossa vida. Nós estamos para lá. Nós abandonámos o vosso jogo, atirámos a bola fora. Por isso, resistimos. Por isso, seguimos a nossa via. Outros o fizeram no passado. Chamaram-lhes loucos, infames, malditos. Mas nós continuamos aqui. Vivemos o instante. Não aceitamos que nos imponham uma forma de vida. Não aceitamos pagar a vida. Não aceitamos que nos digam o que fazer. Não somos como vós. Não viemos para ser como vós. Somos senhores sem escravos. Renegámos os vossos deuses.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
A DÁDIVA E O GANHO
Textos de António Pedro Ribeiro
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Edição 80, 13 Julho 2012
A DÁDIVA E O GANHO
O pão com queijo que a nossa mãe nos dava na infância, era dado, não ganho. Havia um mundo de descobertas, "um mundo dominado pela magia", como diz Henry Miller. A vida da infância parecia "um universo ilimitado", enquanto que a vida de adulto parece "um reino a diminuir constantemente". Obter o pão passa a ser mais importante do que comê-lo. Perde-se o valor da dádiva, tudo se torna calculado e com um preço. O capitalismo apodera-se das nossas mentes na escola, nos media. "Ninguém dá nada a ninguém", diz-se. Seres humanos passam fome nas ruas. É um mundo cão, com pouca generosidade, com pouca bondade. E a situação tende a agravar-se. Porque é que a vida não é dada como na infância? Porque nos impõem a luta pelo ganho, pela sobrevivência? Porque temos de seguir sempre a mesma via?
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O MEDO DO MERCEEIRO
Como diz o filósofo José Gil, a poupança, a economia, o apelo ao sacrifício corresponde à "redução do espaço de expansão dos corpos, de investimento afectivo, de liberdade corporal, de espontaneidade do desejo", ao "controlo permanente, à autodisciplina mutiladora da vontade de vida (e da vida da vontade)". Por isso, o capitalismo dos mercados e o discurso e a prática do governo são em si mesmos castradores. Geram cidadãos obedientes, pequenos, cumpridores, sem uma ponta de criatividade ou de excesso. A máquina de propaganda, o "Big Brother" está sempre aí a formatar, a encarreirar os carneiros, com cada vez menos opiniões próprias sobre a coisa pública, limitando-se à vidinha e à contemplação de imagens televisivas. Eis o merceeiro, o homem do medo, do calculismo e das pequenas vantagens. Não foi para isto certamente que nascemos, que a vida nos foi dada, não foi para isto que brincávamos na infância. Não é esta a vontade de vida, a vontade soberana.
www.jornalfraternizar.pt.vu
quinta-feira, 17 de maio de 2012
O POETA
O poeta é publicado nos jornais. É lido e, quiçá, discutido. Agora olha a gata branca. Para os gatos o tempo é circular, é o eterno retorno. Para o poeta há dias incendiários, outros tranquilos como este. Ainda assim o poeta não faz da vida uma guerra, a luta pela existência. Tem dias tristes, deprimentes mas tem outros de vida plena. Vai conhecendo os homens e as mulheres. Não se inscreveu em campeonatos nem sente inveja. Preocupa-se com a construção de si mesmo e do homem. Muitas vezes veste a pele do cidadão respeitável. No entanto, em certas ocasiões sai da linha. Consegue ser fogo, embriaguez, vida. Mesmo quando está aparentemente em sossego como agora. E assim se faz o poema. Mesmo que não venha em verso. O poeta escreve calmamente. Mas sabe que a sua escrita queima. Contudo, agora é a paz que deseja. Com os gatos e os pássaros. O poeta escreve calmamente.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
PLENAMENTE ÚNICO
"Quem não for como toda a gente, quem não pensar como toda a gente, corre o risco de ser eliminado" (Ortega y Gasset, "A Rebelião das Massas")
Desde a infância que temos de seguir o caminho da normalidade. Temos de nos integrar no grupo para sermos aceites. Temos de concordar com o grupo, com a maioria, com a "felicidade da maioria". Temos de arranjar um emprego, temos de assentar, de abandonar as "loucuras" da juventude, temos de ser cidadãos sérios e cumpridores. A TV leva-nos a pensar como toda a gente, a aceitar a existência de um governo, a ser o homem médio, das "meias-medidas". Ora, o homem é muito mais do que isso, é aquele que se constrói, aquele que procura. É também o poeta, mas não o versejador da corte, aquele que ama desesperadamente a dama, que segue o caminho que conduz a si mesmo, como diz Nietzsche, que procura o conhecimento, a arte e a glória. É aquele que desafia as convenções, o tem que ser, as linhas rectas. Por isso não suporta ser dominado pelo grupo, pela sociedade, pelos poderes, pelos polícias. Tem uma voz original, que se destaca das outras. Às vezes é louco, outras extremamente lúcido. Todas as castrações o perturbam, quer ser plenamente livre, plenamente vivo, plenamente único.
sábado, 12 de maio de 2012
O GRANDE LIVRO
Tenho a garra e a voz expressiva, segundo rezam as crónicas. Já aos 20/21 surpreendia no Tuaregue em Braga. Agora quero uma mulher mas quero também a glória. Preencho cadernos e cadernos. Não sei se se vão perder. O sr. Tiago cumprimenta-me. Compenso a preguiça de há pouco com o esgalhar da escrita. Há dias em que durmo horas e horas ou que simplesmente fico na cama, outros em que passo a noite acordado, é aquela vontade de não perder o instante, de agarrar a vida com todas as forças. Mesmo não sendo um realista, longe disso, sou realista, hiper-realista na escrita. Alguns investigam muito para escrever romances, eu investigo para o grande livro, que não sei quando virá. Escrevo para me manter vivo. Quando vou à cidade estabeleço diálogos com outros cidadãos. Política, literatura, arte, filosofia. O que é certo é que a extrema-esquerda vence na Grécia. O que é facto é que tenho a vida toda à minha frente. A vida é minha. O vosso bombardeamento já faz menos efeito, ó reis da máquina.
A criança detém-se diante de mim. Quem virá a ser? Vem-se ao mundo e deixa-se marca num círculo muito restrito. Eu quero mais do que isso. Eu quero entrar nas mentes e nos corações. Tenho amigos e amigas. Não estou com eles todos os dias. Há dias, tardes, em que fico assim. Escrevo, leio, não paro de escrever. Porque raio não crio personagens?
sexta-feira, 11 de maio de 2012
A NOVA ESPERANÇA
Edição 78, 11 Maio 2012
A NOVA ESPERANÇA
O resultado histórico da coligação de esquerda radical (Syriza) nas eleições legislativas na Grécia e as descidas vertiginosas da Nova Democracia (direita) e do PASOK (socialistas) significam a derrota das medidas de Berlim e da troika, bem como das receitas de austeridade. Há uma nova força, a que se juntam outros partidos de esquerda e de extrema-esquerda, que não aceita uma Europa que se reduz à finança, uma pretensa democracia ao serviço dos banqueiros, dos especuladores, dos tecnocratas, um pensamento único que tanto agrada aos comentadores do regime que começam a meter os pés pelas mãos. Da Grécia vem uma nova esperança, que já era visível nas manifestações de Atenas, que não aceita que a vida se resuma a uma fórmula única e irreversível. Começamos a ficar realmente fartos dos homens do centro e da direita, dos homens do negócio e do pacto orçamental, do homem das meias-medidas, do meio-homem. A revolução está próxima.
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OS MEIOS-HOMENS E O HOMEM INTEIRO
De que falam as pessoas? Porque vivem? Não faz sentido viver para trabalhar. Não faz sentido viver para andar atrás do dinheiro. Porque não ser pleno? Porque não criar, transmitir a criação e depois descansar? A maior parte das conversas nada me dizem. A maior parte das conversas nada acrescenta de novo, nada tem de criativo, de poético. O que faz aqui o homem? Porque tem de trabalhar, de andar atrás do dinheiro? Porque é que o dinheiro há-de ser mais de uns do que de outros? Porque é que há ricos e pobres, opressores e oprimidos? Porque hei-de aceitar isso como uma fatalidade? Porque não hei-de estar no princípio do mundo? Porque não hei-de nascer outra vez? Que forças me impedem? Porque não hei-de escrever como Shakespeare ou Nietzsche? Que forças me impedem de ser pleno, aqui nesta cidade (Braga) que me adoptou, que me mostrou a noite e a vida? Porque não me hei-de interrogar como Hamlet? Foi para nos andarmos a enganar-nos uns aos outros, a guerrear-nos uns aos outros que viemos? Para que viemos? Porque é que os nossos pais nos trataram com amor e carinho? Que maldição se abate sobre nós a partir do momento em que nos encaminham para o mercado de trabalho, para a máquina? Porque é que só às vezes nos é permitido sermos autênticos, livres, felizes? Porque é que não podemos beber sempre da taça? O que é que nos impede de brindar agora? O que é que nos obriga a fazer o que o governo ou outro patrão qualquer nos manda? Porque é que alguém há-de mandar? Porque é que existe um Estado ou um chefe? Porque não havemos de celebrar a vida noite e dia? Quem nos obriga a trabalhar e a ganhar dinheiro? Que estamos a fazer aqui? Rimo-nos às vezes, quando nos rimos, vendem-nos umas beldades inacessíveis na televisão, vá lá que a nós, criadores, nos roubam menos o tempo. Estão sempre a roubar o tempo à esmagadora maioria dos homens. É isso que fazem. Não, não percorremos as ruas de Atenas com Sócrates e Platão. Não temos o vagar de dialogar livremente, de procurar a virtude e a sabedoria. Estão sempre a roubar-nos o tempo, a afastar-nos. E depois muitos contentam-se com as vitórias do futebol. Mas, no dia seguinte, acaba. Regressamos ao tédio e ao trabalho. Vivemos a vida a prestações. E depois tudo parece tranquilo, boas maneiras, euromilhões. É a felicidade de plástico. Somos meios-homens, meias-mulheres, o homem das meias-medidas de que falava Nietzsche. Porque não somos inteiros? Porque não o banquete permanente? Porque nos vêm pregar o sacrifício e a morte em vida? Quem são eles para pregar seja o que for? Pelo contrário, são eles que perseguem os verdadeiros profetas, o super-homem, são eles que os crucificam. Mas a culpa também é dos que os colocam lá, dos que, no último instante de soberania que lhes é permitido, os elegem. Também eles crucificam os profetas e os super-homens. Também esses os abandonam no palco ou na praça pública, também esses os deixam sem trocos, sem abrigo, sem nada. Como se escrever ou pregar não fossem actividades que exigem um esforço, dedicação, como se não fossem actividades superiores.
Porque raio temos de aceitar estes juízes que nos impõem? Porque raio tanta gente os aceita e apoia? É o medo. Vivemos no medo de perder o emprego, de perder o dinheiro, da morte, da doença. A máquina de propaganda do capitalismo contribui, e de que maneira, para nos meter esses medos na cabeça. Não, assim nunca seremos livres. Assim nunca nos sentaremos à mesa do banquete. Contentamo-nos com umas migalhas que nos vão dando, com umas saídas à noite, com umas idas ao cinema, com uns copos aqui e ali, com umas sessões de poesia. Só a espaços somos plenos, completos, inteiros. Depois vem sempre o trabalhinho, a obrigação, o sacrifício. Estamos longe da festa, do banquete, da embriaguez permanente. Inventamos sempre juízes, deuses, o deus único, os governos que nos vêm punir se nos portamos mal como as criancinhas. O medo. Sempre o medo. O relógio maldito. O tempo que nos roubam, a vida que nos roubam.
terça-feira, 8 de maio de 2012
A IMENSA SOLIDÃO
Estranha alegria sinto eu hoje. Uma estranha comunhão com o mundo. Apesar da máquina, da propaganda, do capitalismo, as pessoas sorriem para mim, tratam-me bem. Apesar de eu ser o poeta do caos há uma harmonia no ar, como se a guerra entre os homens estivesse distante. Apesar de se continuar a falar de contas e de trabalho, hoje sinto um certo estado de graça como se tudo me fosse dado de graça, como se estivesse a nascer outra vez. Que relação tem a minha mente com a da mulher em frente (terá a minha idade) com a criança? Talvez o amor, o carinho. De resto, seguimos caminhos completamente diferentes. Aparentemente fui muito bem até ao 12º ano. Aparentemente, pois era muito tímido, pensava muito, só tinha dois amigos: o Jorge e o Rui. Depois os Doors e o Jim Morrison deram-me a volta à cabeça, comecei a ler, lia muito. Então fui para o Porto, para a Faculdade de Economia, sentia-me só, muito só, deslocado, comecei a entrar em ruptura com a economia e com a finança. Saía à noite em Braga, conheci a noite e os concertos em Braga. Braga acolheu-me. Nunca o esquecerei. Tornei-me um rebelde, mesmo que ficasse meses paralisado com as longas depressões. Não assentei. Não casei. Não tive filhos. Abracei causas políticas, revolucionárias. Publiquei livros. Fiz performances, cantei em bandas, disse poemas. Fiz rádio, publiquei em jornais e revistas, fui funcionário e dirigente do Jornal Universitário do Porto, fui jornalista. Integrei e fundei movimentos anti-praxe. Não segui realmente a via da normalidade, do assentar, do trabalho certo, do relógio. Esta gente, a maioria clara, seguiu essa via. Muitos deles e delas contentam-se com primarismos intelectuais, com futilidades, com músicas pimba. Muitos deles, muitas delas não têm pura e simplesmente capacidade de raciocínio e têm a imaginação castrada. Por culpa da máquina mas também por culpa própria. Daí que tenham seguido sempre dentro dos trilhos, em linha recta. Se houve momentos em que questionaram a máquina depressa se deixaram levar pelo canto desta. Por isso fui diferente. Houve pessoas, livros, discos, filmes, peças de teatro que me fizeram divergir, sair dos trilhos. E é assim que cheguei aqui hoje vivo, apesar das depressões, apesar dos fracassos, apesar da imensa solidão. Imensa solidão que também me fez descobrir o caminho que conduz a mim mesmo, imensa solidão que também me ajudou a afastar-me da máquina.
A NOVA ESPERANÇA
O resultado histórico da coligação de esquerda radical (Syriza) nas eleições legislativas na Grécia e as descidas vertiginosas da Nova Democracia (direita) e do PASOK (socialistas) significam a derrota das medidas de Berlim e da troika, bem como das receitas de austeridade. Há uma nova força, a que se juntam outros partidos de esquerda e de extrema-esquerda, que não aceita uma Europa que se reduz à finança, uma pretensa democracia ao serviço dos banqueiros, dos especuladores, dos tecnocratas, um pensamento único que tanto agrada aos comentadores do regime que começam a meter os pés pelas mãos. Da Grécia vem uma nova esperança, que já era visível nas manifestações de Atenas, que não aceita que a vida se resuma a uma fórmula única e irreversível. Começamos a ficar realmente fartos dos homens do centro e da direita, dos homens do negócio e do pacto orçamental, do homem das meias-medidas, do meio-homem. A revolução está próxima.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Sou o poeta do Piolho
tenho o meu livro "Café Paraíso"
exposto no Piolho
ouço a conversa da mesa do lado
o Carlos Pinto já se foi
o Joaquim Castro Caldas já se foi
o João Ulisses já se foi
O Rui Costa já se foi
eu continuo aqui
talvez vá muita gente
ao meu funeral
mas chega de lamúrias
o que é facto
é que continuo aqui vivo
venho á cidade
e encontro este e aquela
sou um poeta
isso sei que sou
isso ninguém me tira
não gosto de governos
nem de gajos a mandar
se alguém me dirigir a palavra
eu respondo
aos 18/19 anos em Braga
toda a gente falava com toda a gente
o pessoal abraçava-se ao som dos Doors
isso perdeu-se
as pessoas fecham-se em grupos
não há aquela espontaneidade
aquela liberdade
anda tudo muito controlado
mesmo que não pareça
eu continuo aqui vivo
sem culpas nem obrigações
não segui a via do economista
nem do merceeiro
por isso me sinto livre
mesmo que olhe para o relógio
o governo não vem dar-me palmadas
de vez em quando subo ao palco
gosto de lá estar
é outra dimensão
comecei cedo
depois fiz umas paragens
agora aqui estou
o poeta do Piolho
o poeta no Piolho
acredito que posso ir mais longe
chegar onde nunca cheguei
sigo pela estrada larga
sou aquele que sou.
Porto, Piolho, 30.4.2012
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