sábado, 14 de novembro de 2015

A EXTREMA-ESQUERDA CONTRA A EXTREMA-DIREITA

"Depenai os ricos, fazei-os pagar por toda a gente."
É uma guerra da extrema-esquerda contra a extrema-direita. O centro tende a desaparecer. Em França tende a ganhar, para já, a extrema-direita por causa dos atentados e dos refugiados. Em Portugal há as tendências ou correntes revolucionárias no Bloco de Esquerda e no PCP, há o MAS, há o MRPP, há os anarquistas. Em Espanha há o Podemos, a Esquerda Unida, a CUP independentista na Catalunha e outros grupos revolucionários. Na Grécia há facções do Syriza, há Varoufakis, há o partido comunista, há grupos revolucionários, há dissidentes do Syriza, há anarquistas. O que é certo é que as posições anticapitalistas, contra uma sociedade que não serve, que não traz a felicidade nem a liberdade se tendem a extremar. No Japão, o partido comunista já é o segundo partido. Por outro lado, há os bárbaros do Estado Islâmico, que foram armados pelos americanos e pelos ocidentais e que são consequência das guerras do Iraque e do Afeganistão. Nada justifica os seus actos hediondos. Contudo, o ocidente, Israel e sobretudo os Estados Unidos também têm as mãos manchadas de sangue, além de diariamente matarem milhares à fome e de tédio. Estamos numa nova Idade Média, numas novas cruzadas e contra-cruzadas, apesar de todo o aparato tecnológico. A extrema-direita não está só em Marine Le Pen, está nos senhores do dinheiro e do poder, naqueles que nadam em milhões enquanto os outros morrem e sofrem, naqueles que vendem pai e mãe na busca embriagada do lucro, naqueles que não são sequer humanos, tal como os fanáticos de Alá. Por isso urge a revolta. Aliás, com esta "vida" de falso sossego, de falso conforto, de prisioneiros da ordem, o que temos a perder? Como disse: é a extrema-esquerda contra a extrema-direita.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

CANDIDATURA DE ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

CANDIDATURA DO POETA ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

António Pedro Ribeiro é candidato à Presidência da República. António Pedro de Basto e Vasconcelos Ribeiro da Silva nasceu no Porto em Maio de 1968 e viveu em Braga, Trofa e Porto, residindo actualmente em Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). Poeta, escritor, diseur e cronista é licenciado em Sociologia pela Faculdade de Letras do Porto e foi jornalista. Publicou 13 livros entre os quais “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro”, “Queimai o Dinheiro”, “Fora da Lei”, “Café Paraíso”, “O Caos às Portas da Ilha”, “Um Poeta a Mijar”e “Á Mesa do Homem Só”. Foi fundador da revista literária “Aguasfurtadas” e é ou foi colaborador das revistas “Piolho”, “Flanzine”, “Estúpida” ou “Portuguesia”. É militante do PCTP/MRPP, tendo sido mandatário distrital pelo Porto nas recentes eleições legislativas de Outubro e candidato à presidência da Câmara da Póvoa de Varzim em 2013 por aquele partido. Anteriormente havia sido candidato às Juntas de Freguesia de Vila de Conde e da Póvoa de Varzim pelo Bloco de Esquerda em 2001 e 2005 e candidato a deputado pelo PSR nas listas de Braga em 1991 e 1995. Foi dirigente associativo e activista estudantil. Actuou como diseur e performer no Festival de Paredes de Coura e nas “Quintas de Leitura” do Teatro Campo Alegre no Porto. Diz e disse regularmente poesia nos bares Pinguim, Púcaros e Olimpo no Porto e Pátio em Vila do Conde. Mantém, com Luís Beirão, a rubrica “Poesia de Choque” na Casa da Madeira no Porto.

MANIFESTO PRESIDENCIAL

A queda do governo fascista Passos Coelho/ Paulo Portas e a provável emergência de um governo de esquerda liderado por António Costa abrem novas perspectivas. Com efeito, a reposição dos salários e das pensões, a anulação da privatização da TAP e dos transportes de Lisboa e Porto, o aumento do salário mínimo e uma sensibilidade social antes inexistente que comporta políticas voltadas para o combate à pobreza, ao trabalho precário e ao desemprego consubstanciam uma viragem histórica nas relações entre as esquerdas em Portugal. É preciso também derrotar o candidato presidencial fala-barato e ao serviço dos grandes negócios Marcelo Rebelo de Sousa. O capitalismo, infelizmente, continua bem vivo:
O homem está a ser assassinado. Está a ser castrado pela finança, pelos mercados, pelos políticos ao seu serviço. É obrigado a lutar na arena, a disputar uma corrida, uma guerra com os seus semelhantes em busca do emprego, do cargo, do estatuto. As pessoas atropelam-se umas às outras sob a lei do dinheiro e do mercado. Aparentemente existe uma certa paz, uma certa harmonia mas, ao fim e ao cabo, reinam o caos e a barbárie. O homem é reduzido a um número, a uma coisa, a uma mercadoria. As relações humanas são cada vez mais superficiais e mecânicas. Estamos cada vez mais sós e deprimidos. A sociedade capitalista só traz infelicidade. É a lei do mais forte, do mais matreiro, do mais sacana. As próprias relações de amor e de amizade são postas em causa. É a esquizofrenia. Os donos das grandes multinacionais, dos bancos, das bolsas, dos impérios controlam-nos e lavam-nos o cérebro. Os senhores do dinheiro nadam em milhões e exploram, enquanto outros contam os trocos e outros vegetam na miséria. Não é justo. Não é humano. Não é digno. Não pode haver seres humanos de primeira e de segunda. Trabalha-se mais horas em vez de menos. Há menos tempo para o encontro, para o ser humano dispor de si, para a alegria. O lazer é cada vez mais consumismo. Os jovens estão confusos, não sabem a que valores se agarrar, são empurrados para o safanço, para o sucesso a qualquer preço, por exemplo em concursos de talentos. A televisão atira-nos pimbalhadas, programas da tarde sentimentalóides e imbecis. É o "Big Brother" de Orwell. Sim, podemos deslocar-nos, vir até ao café, ler, conversar, mas há sempre algo que nos condiciona. Sejam as directivas de Bruxelas ou do imperialismo alemão, sejam os humores dos mercados e da corja financeira, seja esta maldita máquina, a que só alguns escapam, que reprime os nossos impulsos, as nossas forças vitais, a nossa liberdade. Revoltemo-nos, pois.

Vila do Conde, 12 de Novembro de 2015

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O PASSOS CAIU

O governo Passos/Portas caiu. Finalmente. É tempo de festejar. De sair à rua. Os fascistas e os ultra-liberais foram derrotados. Em princípio teremos o governo de esquerda ou o governo PS com o apoio da esquerda. Não deixam de ser tempos históricos estes. São barreiras que se quebram. Quanto a mim, sou colocado num estudo de Nelson de Oliveira no Brasil ao lado de nomes como Valter Hugo Mãe, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto ou Adília Lopes. As coisas rolam. O poeta maldito que vai aos bares vomitar poesia. De facto, cometi os meus erros mas concluo que, ao longo destes anos, fui tendo razão. Falta-me ter uma coluna num jornal aqui de Braga, ser lido por esta gente boa aqui n' "A Brasileira". Sim, efectivamente as minhas ideias hoje fazem todo o sentido. Sou marxista libertário. Merda. O Passos caiu. Vamos festejar, Gotucha. Dançar noite fora. Aqui em Braga reino. As pessoas são amáveis, vivas. As miúdas são bonitas. Espero a Gotucha. Bebo. Chamo o Marques. Sou poeta. Poeta-vidente, segundo diz o Nelson de Oliveira. Ando à solta. Tantas noites. Tantas vidas. As lojas lá fora. O Passos caiu. Apetece-me celebrar. O país está em chamas. Tanto tempo à procura. Tanto tempo, loucura. "Queimai o Dinheiro" é um marco. "Queimai o Dinheiro" é um livro satírico, profético, que fala de sexo e de revolta. Em certa medida, os dois próximos livros voltam um pouco lá. Tenho de agradecer ao Ricardo e à Adriana, à Corpos. Hoje estou feliz aqui em Braga n' "A Brasileira". Que é feito de ti, Fátima? Que é feito das duas Fátimas? Nunca mais as vi. Não há dúvida que me começo a sentir mais solto. Não há dúvida que começo a sentir mais poder. O poder está na rua. Reclamemos a vida...agora! É em Braga que vai nascer a revolução. Acabaram-se os espartilhos. Acabou-se a castração. Agora somos livres, Gotucha. Podemos dançar noite fora. Celebremos com Dionisos e com as bacantes. Ah, Jaime, ah, Pacheco, se estivesses aqui a beber à minha mesa! Ah! Eles começam a tremer. Ah! Olha as mulheres belas. Podem ser nossas. Não são mais dos gajos da nota. Ah, como reino. Ah, como rio. Ah, como sou tão louco. Ah, como tudo é meu. Sim, posso recomeçar a abusar. E eu vou abusar. Não há limites. Vem aí a puta da revolução, senhores. Isto vai arder a sério. E eu vou gozar. Ah, se vou gozar. O Passos caiu. O reino está próximo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A DITADURA

Para o grego antigo, o homem é inseparável do cidadão. A reflexão é o privilégio dos homens livres que exercem a sua razão e os seus direitos cívicos. É isso que falta: cidadania. Só existe no momento no voto (e ainda assim...). De resto, os financeiros e os capitalistas acumulam, a TV imbeciliza, os políticos e os comentadores ao serviço da máquina ocupam o espaço todo. O cidadão comum é reduzido à esfera privada, às suas contas, aos seus negócios, à sua vidinha. Não existe nenhuma ágora. A maior parte das pessoas nem sequer discute política, a vida pública no café. Poucos têm consciência política e mesmo esses têm poucas hipóteses de a manifestar publicamente. Reina uma ditadura. Reinam também o caos, o confusionismo, as coisas misturam-se propositadamente sem qualquer lógica. Poucos mantêm convicções fortes. A máquina de lavar os cérebros avança todos os dias. Rareia a discussão filosófica, o diálogo sobre a polis, sobre a cidade a construir. As frustrações afogam-se no álcool. Não há democracia. Resta o homem só à mesa.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

DA GANÂNCIA E DA RIQUEZA

"Aqueles que hoje mais têm, cobiçam o dobro. A riqueza torna-se no homem loucura", dizia Teógnis, na Grécia antiga. Quem tem quer ter ainda mais. A riqueza acaba por não ter outro objectivo senão ela própria; feita para satisfazer as necessidades da vida, simples meio de subsistência, passa a constituir o seu próprio fim, coloca-se como necessidade universal, insaciável, ilimitada, que nunca poderá ser satisfeita, acrescenta Jean-Pierre Vernant. É o desejo de possuir mais do que os outros, mais do que a parte que lhe cabe, de possuir a totalidade. É esta ganância que domina as relações de hoje, que nos torna ferozes competidores, em vez de cooperadores. É esta ganância que destrói o amor e a amizade. Que faz com que uns sejam escravos dos outros. Que traz a depressão, a infelicidade. Um mundo assim não serve. Perdemos a vida, perdemos a humanidade.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

QUEREMOS O MUNDO...AGORA!

A juventude de hoje já não ouve os Doors. O grito de Jim Morrison contra a autoridade, contra a repressão, contra a castração já não se faz ouvir. A grande maioria dos jovens ou estão confundidos pelas novas tecnologias e pela ausência de valores ou estão deprimidos ou então adaptam-se ao sistema, ou seja, ao salve-se quem puder. Não se apercebem de que, como Morrison dizia, estão a espetar a cara na lama, estão a fazer o que os capitalistas lhes mandam fazer. As populações, e particularmente os jovens, são programados para obedecer, para se sacrificarem, não tiram gozo da vida. Além do mais, não exploram as riquezas da sua alma, da sua mente no sentido da criação e da construção. Daí que na escola muitos jovens não se interessem pelos estudos. Porque, de facto, o império da finança e dos mercados transformou esta vida numa vida desinteressante, vazia. E o grito de Morrison: "Queremos o mundo e queremo-lo agora!" torna-se cada vez mais urgente, vital. Porque o mundo e a vida são nossos, não deles. Porque ninguém nos pode expulsar da vida. Porque eles não têm o direito de destruir a vida. Porque nós nascemos livres e tudo deveria ser livre e gratuito. Porque eles não passam de uns palhaços endinheirados.

domingo, 25 de outubro de 2015

BORRACHEIRA

Ontem apanhei uma borracheira das antigas. Cada vez me identifico mais contigo, Charles Bukowski. Sinto-me superior a tudo isto. No fundo, sou uma espécie de rei. As gajas excitam-me. E que importa se beber mais uma? Vou gastando o cacau em livros e em copos. Também o que esperavam de um poeta maldito? Que esperavam que eu dissesse deste mundo burguês, capitalista? Que não o amaldiçoasse? Que não o insultasse? Merda, de facto, estou para além. Nada tenho a ver com a vidinha. Sou de Quixote e de Guevara. Bebo porque não aguento esta pasmaceira. Bebo porque procuro o outro lado. Estou no Ceuta, à mesa, como Pessoa. Gosto de permanecer em certos cafés como o Piolho, como o Ceuta. Aqui leio, escrevo, encontro-me, faço a minha vida. Encanta-me a mulher que passa. Persigo a verdadeira vida. Não aquela que nos vendem. Efectivamente, fui abandonando o rebanho. Definitivamente. Tenho horror à "felicidade da maioria". Sou dos malditos. Nem sequer sou daqueles esquerdistas direitinhos. Não suporto esta "realidade". Estou sozinho no Ceuta. A música vem da TV. Aguardo as amigas. Os praxistas berram.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

AS MENINAS NÃO VÊM

As meninas não vêm
o poeta desespera
há horas que está no café
a ler
a escrever
a beber cerveja
agora sai mais um poema
o poeta observa
olha para a rua
as meninas não vêm
o poeta está triste
sente-se só
o barbudo entra.

sábado, 17 de outubro de 2015

O GOVERNO DE ESQUERDA

A vitória da direita transformou-se numa derrota. De repente, Passos Coelho, Paulo Portas, Cavaco Silva e toda essa corja de comentadores comprados até sobem pelas paredes perante a possibilidade real de um governo de esquerda. Notável e histórica a viragem do PCP, construtiva e combativa a posição do Bloco de Esquerda, dialogante e despreconceituosa a postura de António Costa. Claro que ainda há um caminho a percorrer. No entanto, não há dúvida que 40 anos depois do PREC se assiste a uma grande viragem. Porque, de facto, a grande maioria dos portugueses votou contra a austeridade, contra os cortes nos salários e nas pensões, contra a destruição dos serviços públicos, contra o aumento da pobreza e das desigualdades sociais. Há, efectivamente, uma janela de esperança que se abre. Um novo caminho. Quiçá, uma nova era.

O HOMEM ASSASSINADO

O homem está a ser assassinado. Está a ser castrado pela finança, pelos mercados, pelos políticos ao seu serviço. É obrigado a lutar na arena, a disputar uma corrida, uma guerra com os seus semelhantes em busca do emprego, do cargo, do estatuto. As pessoas atropelam-se umas às outras sob a lei do dinheiro e do mercado. Aparentemente existe uma certa paz, uma certa harmonia mas, ao fim e ao cabo, reinam o caos e a barbárie. O homem é reduzido a um número, a uma coisa, a uma mercadoria. As relações humanas são cada vez mais superficiais e mecânicas. Estamos cada vez mais sós e deprimidos. A sociedade capitalista só traz infelicidade. É a lei do mais forte, do mais matreiro, do mais sacana. As próprias relações de amor e de amizade são postas em causa. É a esquizofrenia. Os donos das grandes multinacionais, dos bancos, das bolsas, dos impérios, dos grandes media controlam-nos e lavam-nos o cérebro. Os senhores do dinheiro nadam em milhões e exploram, enquanto outros contam os trocos e outros vegetam na miséria. Não é justo. Não é humano. Não é digno. Não pode haver seres humanos de primeira e de segunda. Trabalha-se mais horas em vez de menos. Há menos tempo para o encontro, para o ser humano dispor de si, para a alegria. O lazer é cada vez mais consumismo. Os jovens estão confusos, não sabem a que valores se agarrar, são empurrados para o safanço, para o sucesso a qualquer preço, por exemplo em concursos de talentos. A televisão atira-nos pimbalhadas, programas da tarde sentimentalóides e imbecis e matraqueia-nos com notícias repetidas que nos fazem a cabeça. É o "Big Brother" de Orwell. Sim, podemos deslocar-nos, vir até ao café, ler, conversar, mas há sempre algo que nos condiciona. Sejam as directivas de Bruxelas ou do imperialismo alemão, sejam os humores dos mercados e da corja financeira, seja esta maldita máquina, a que só alguns escapam, que reprime os nossos impulsos, as nossas forças vitais, a nossa liberdade. Revoltêmo-nos, pois.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

PUTA DE SOCIEDADE

Como já o socialista utópico Charles Fourier lembrava a sociedade capitalista reprime as forças vitais dos cidadãos. O homem não é feliz porque a sociedade impede o mais que pode o desenvolvimento da vida apaixonada. A maioria de nós não é livre, eis a verdade. Vivemos acorrentados a preconceitos judaico-cristãos, à culpa e às castrações da máquina capitalista. Há sempre forças que nos impedem de explodir. Damos uns beijos, uns abraços, soltamo-nos com o álcool e com as drogas mas há sempre algo a conter-nos, a impedir-nos de desfrutar da liberdade, de fazer a grande festa. Parece que a vontade e o entusiasmo esmorecem. E depois não há pontes, não há ligação. É cada um no seu grupo, na sua ilha. Puta de sociedade que construímos

sábado, 10 de outubro de 2015

VIRGÍNIA

A Raquel a vender erva
no Bairro Alto
alucinada
o Garcia a recitar Pessoa
tu e eu a distribuir panfletos
tu a catequizar os putos
eu a carburar, a provocar
chamaram-me comuna e filho da puta
hoje aqui a subir
no meio da ignorância
a curtir a música
esta gente elegeu o Passos
continuam lá os mesmos filhos da puta
não, não sou democrata
esta gente explora
esta gente escraviza
esta gente matou o Che
matou os meus camaradas
valha-me a arte
valha-me a música
para poder dançar
celebrar o dia
independentemente desses cabrões
esses cabrões não me fodem a alma
e esta gente continua aqui
sempre igual
sempre servil
sempre estúpida
a votar nos mesmos gajos
a máquina lava-lhes o cérebro
não, há um lugar para nós
um lugar livre
um paraíso
onde podemos ficar
a dizer poemas
a contar histórias
sim, façamos o banquete
definitivamente não somos como eles
somos de outra espécie
nascemos de outra estrela
percorremos outra estrada
temos pena
podemos até sorrir-lhes
mas não somos daqui
inventámos novos mundos
novos céus
novas galáxias
está tudo cá dentro
também estou farto de certos poetas, sabes
é só técnica e uns floreados
não têm verdadeiramente alma
nem sangue nem esperma
não transmitem uma mensagem
sabes, não sei como me hei-de dirigir
a esta gente
claro que há gente boa, honesta, simpática
mas, sabes, parece que me estou
a transformar outra vez
parece que a luz veio ter comigo
que a mente se eleva
mesmo sem LSD ou mescalina
e até parece que me esqueço das horas
e até das pessoas que me rodeiam
que importa a loira que já
não me fala?
Que importam estes cabrões
que castram?
Eu estou aqui vivo
inteiro
e vou prosseguir aqui
por uns anos
a escrever
a publicar
a lutar contra os moinhos
porque eu era esse menino
que brincava com os irmãos
eu era esse menino
que dava a mão à Virgínia
eu era esse menino
em quem os pais
depositavam muitas esperanças
e que se tornou um beatnick
um não-alinhado
e que agora nada tem a perder.
Vilar do Pinheiro, 3.10.15

terça-feira, 6 de outubro de 2015

A VITÓRIA AMARGA

A coligação de direita venceu as eleições sem maioria. Mas não deixa de ser uma vitória amarga. Agora tem de se haver com uma maioria de esquerda no Parlamento, sobretudo graças à subida estrondosa do Bloco de Esquerda (10%). Catarina Martins esteve em grande nível nos debates, nos comícios e na rua. O PS de António Costa, com uma campanha desastrada, é o grande derrotado. A CDU sobe ligeiramente. A esquerda, se Costa quiser, pode derrubar o novo governo em dois tempos. O PAN (Pessoas, Animais e Natureza) elegeu um deputado mas ainda não sabemos claramente quais são os propósitos deste partido. O PCTP/MRPP mantém sensivelmente a votação de 2011 (1,1%) e alcança bons resultados em Beja (2,6%), Portalegre (1,7%), Setúbal (1,6%), Faro (1,6%), Évora (1,5%) e Santarém (1,3%). O partido tem de mudar o discurso no sentido da crítica do capitalismo global, da corrida e da guerra diárias a que as pessoas se sujeitam, tem de falar mais nos fenómenos do suicídio, da depressão e da ignorância. A luta continua.

sábado, 3 de outubro de 2015

O NO FUTURE E A REVOLUÇÃO

A grande maioria dos jovens anda confusa. Não sabe bem o que quer. Agarra-se aos copos. Não há futuro. A vida tornou-se esquizofrénica. Uma sucessão de imagens, de smartphones, de facebooks, de publicidades, de propaganda. É um mundo louco que promete desemprego, trabalho precário, trabalho escravo, um mundo que outros vivem por nós. É um mundo que nos põe num atropelo, numa corrida louca, permanente, em busca do prémio, do troféu, da recompensa, ou seja, do estatuto, do poder, da carreira. Regredimos. Tornámo-nos mais animalescos. O capitalismo é mais feroz, mais feroz do que no séc. XIX. As pessoas estão cheias de medo, cheias de medo também umas das outras. Curiosamente, umas até gritam "vêm aí os comunas!Vêm aí os anarcas!". Cheias de medo. É claro que se somos revolucionários, viemos fazer a revolução, não viemos beber copos de água. No entanto, esta gente prossegue com o Porto e o Benfica, com a vidinha de todos os dias, sem uma visão de conjunto, a votar no facho do Passos e noutros que lhes têm roubado a vida. É uma barca de loucos. Onde a depressão e o suicídio aumentam assustadoramente. Onde, de facto, a vida normalmente não presta. Há pessoas. Claro, há pessoas de bem, de coração, que nos ouvem, que nos compreendem, que dialogam connosco abertamente, que fazem o banquete. Mas ainda somos poucos. No entanto, qual é o problema de apelar já à revolução? O que temos a perder, companheiros? O que nos dá esta vida de dinheiro e de intriga? O que nos adianta passar a vida a falar de números e de economia? O que nos adianta sermos iguais a eles? Porra, camaradas, sejamos os nossos próprios deuses, celebremos a vida na praça.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

CATALUNHA LIVRE E INDEPENDENTE!

A vitória dos independentistas na Catalunha constitui uma forte machadada no Estado Espanhol, em Mariano Rajoy e na própria União Europeia. A Catalunha será independente. O PP de Rajoy obteve uma votação diminuta e deverá ser derrotado nas eleições gerais espanholas. O povo catalão deu ao mundo uma lição de liberdade e cidadania. Barcelona voltou aos anos 30. A monarquia espanhola também está em xeque. Deve seguir-se o País Basco. A "União" Europeia financeira e do imperialismo alemão começa a ficar em cacos. Catalunha livre e independente!