A Raquel a vender erva
no Bairro Alto
alucinada
o Garcia a recitar Pessoa
tu e eu a distribuir panfletos
tu a catequizar os putos
eu a carburar, a provocar
chamaram-me comuna e filho da puta
hoje aqui a subir
no meio da ignorância
a curtir a música
esta gente elegeu o Passos
continuam lá os mesmos filhos da puta
não, não sou democrata
esta gente explora
esta gente escraviza
esta gente matou o Che
matou os meus camaradas
valha-me a arte
valha-me a música
para poder dançar
celebrar o dia
independentemente desses cabrões
esses cabrões não me fodem a alma
e esta gente continua aqui
sempre igual
sempre servil
sempre estúpida
a votar nos mesmos gajos
a máquina lava-lhes o cérebro
não, há um lugar para nós
um lugar livre
um paraíso
onde podemos ficar
a dizer poemas
a contar histórias
sim, façamos o banquete
definitivamente não somos como eles
somos de outra espécie
nascemos de outra estrela
percorremos outra estrada
temos pena
podemos até sorrir-lhes
mas não somos daqui
inventámos novos mundos
novos céus
novas galáxias
está tudo cá dentro
também estou farto de certos poetas, sabes
é só técnica e uns floreados
não têm verdadeiramente alma
nem sangue nem esperma
não transmitem uma mensagem
sabes, não sei como me hei-de dirigir
a esta gente
claro que há gente boa, honesta, simpática
mas, sabes, parece que me estou
a transformar outra vez
parece que a luz veio ter comigo
que a mente se eleva
mesmo sem LSD ou mescalina
e até parece que me esqueço das horas
e até das pessoas que me rodeiam
que importa a loira que já
não me fala?
Que importam estes cabrões
que castram?
Eu estou aqui vivo
inteiro
e vou prosseguir aqui
por uns anos
a escrever
a publicar
a lutar contra os moinhos
porque eu era esse menino
que brincava com os irmãos
eu era esse menino
que dava a mão à Virgínia
eu era esse menino
em quem os pais
depositavam muitas esperanças
e que se tornou um beatnick
um não-alinhado
e que agora nada tem a perder.
no Bairro Alto
alucinada
o Garcia a recitar Pessoa
tu e eu a distribuir panfletos
tu a catequizar os putos
eu a carburar, a provocar
chamaram-me comuna e filho da puta
hoje aqui a subir
no meio da ignorância
a curtir a música
esta gente elegeu o Passos
continuam lá os mesmos filhos da puta
não, não sou democrata
esta gente explora
esta gente escraviza
esta gente matou o Che
matou os meus camaradas
valha-me a arte
valha-me a música
para poder dançar
celebrar o dia
independentemente desses cabrões
esses cabrões não me fodem a alma
e esta gente continua aqui
sempre igual
sempre servil
sempre estúpida
a votar nos mesmos gajos
a máquina lava-lhes o cérebro
não, há um lugar para nós
um lugar livre
um paraíso
onde podemos ficar
a dizer poemas
a contar histórias
sim, façamos o banquete
definitivamente não somos como eles
somos de outra espécie
nascemos de outra estrela
percorremos outra estrada
temos pena
podemos até sorrir-lhes
mas não somos daqui
inventámos novos mundos
novos céus
novas galáxias
está tudo cá dentro
também estou farto de certos poetas, sabes
é só técnica e uns floreados
não têm verdadeiramente alma
nem sangue nem esperma
não transmitem uma mensagem
sabes, não sei como me hei-de dirigir
a esta gente
claro que há gente boa, honesta, simpática
mas, sabes, parece que me estou
a transformar outra vez
parece que a luz veio ter comigo
que a mente se eleva
mesmo sem LSD ou mescalina
e até parece que me esqueço das horas
e até das pessoas que me rodeiam
que importa a loira que já
não me fala?
Que importam estes cabrões
que castram?
Eu estou aqui vivo
inteiro
e vou prosseguir aqui
por uns anos
a escrever
a publicar
a lutar contra os moinhos
porque eu era esse menino
que brincava com os irmãos
eu era esse menino
que dava a mão à Virgínia
eu era esse menino
em quem os pais
depositavam muitas esperanças
e que se tornou um beatnick
um não-alinhado
e que agora nada tem a perder.
Vilar do Pinheiro, 3.10.15
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