Papá
faz hoje três anos
que foste
papá
deveria estar hoje
a falar contigo
a dizer-te as coisas
que não te disse
ao longo da vida
ou estava demasiado deprimido
como tu estiveste
nos últimos tempos
ou estava eufórico
em mundos que tu desconhecias
tivemos algumas conversas sinceras
mas foram poucas
os teus cálculos matemáticos
as tuas reflexões
não lhes consegui dar sequência
venho, como tu,
para a confeitaria criar
somos, á nossa maneira,
uns incompreendidos
não suportamos ficar apenas
a olhar para o ar
temos de estar a criar
a produzir qualquer coisa
sejam versos
sejam teoremas
não incomodamos ninguém
mas quase ninguém
nos tenta compreender
estamos sós
estamos condenados a ficar sós
Papá
agora compreendo
as tuas fases eufóricas
as tuas descobertas
o teu Totobola
papá
era agora
que te queria aqui
a esta mesa
mas tu não vens
já não podes vir
bem sei que ás vezes
ouço a tua voz
mas não é a mesma coisa
falavas de atrasados mentais
e de cretinos
e eu agora compreendo
o mundo é tão pequeno
papá
tu sim, eras um senhor
tu sim, tinhas classe
eu, às vezes, tenho
outras perco-me
escrevo umas merdices
a que alguns acham graça
mas não é verdadeiramente isso
que eu quero escrever
eu quero escrever na graça
na glória
no sublime
papá
não segui a via
que tu querias para mim
também, a partir de certo ponto,
isso passou a contar pouco
mas pode ser
que através da escrita e do espectáculo
eu chegue lá
papá
queria tanto
que estivesses aqui.
Vilar do Pinheiro, "Motina", 5.1.2010
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
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5 comentários:
Um abraço sentido
Walk in silence,
Don't walk away, in silence.
See the danger,
Always danger,
Endless talking,
Life rebuilding,
Don't walk away.
Walk in silence,
Don't turn away, in silence.
Your confusion,
My illusion,
Worn like a mask of self-hate,
Confronts and then dies.
Don't walk away.
People like you find it easy,
Naked to see,
Walking on air.
Hunting by the rivers,
Through the streets,
Every corner abandoned too soon,
Set down with due care.
Don't walk away in silence,
obrigado.
Abraço, Ribeiro.
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