SECÇÃO: Cultura
Entrevista a A. Pedro Ribeiro
Por José Peixoto
Poesia de Choque
A. Pedro Ribeiro
A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto, em 1968 e vive em Vilar do Pinheiro, Vila do Conde. É Licenciado em Sociologia. Foi fundador da revista literária Aguasfurtadas e colaborador de revistas e fanzines como a “Portuguesia”, “Cráse”, “Voz de Deus”, revista “Bíblia”, e “Conexão Maringá”, do Brasil. O último dos oito livros de poesia publicados tem o título, “Um Poeta no Piolho” e foi lançado em Dezembro de 2009. Pedro Ribeiro também diz poesia e faz performances poéticas e poético-musicais.
A Voz da Póvoa – Qual a razão de comemorar os 100 anos do Piolho com um livro?
A. Pedro Ribeiro – A ideia partiu do escritor Raul Simões Pinto, que me convidou a reunir os poemas escritos naquele café. Alguns poemas perderam-se, outros aparecem nos vários livros que fui publicando. Tem também poemas inéditos escritos no Piolho a partir de Junho último.
A.V.P. – Cafés como o Piolho são referências que começam a rarear nas cidades?
A.P.R. – O Piolho tem uma história de encontro de opositores ao regime, tanto da área política como artística. A tertúlia ainda se mantém viva. Já vivi naquele lugar grandes discussões literárias e políticas. O Piolho no Porto, a Brasileira em Braga, o antigo Diana Bar ou o Guarda Sol na Póvoa, são espaços que tem uma certa especificidade. Não é um lugar onde vais simplesmente beber uma cerveja ou tomar um café, tem uma história, uma vivência que vem de longe. Infelizmente alguns vão desaparecendo.
A.V.P. – A que se deve o facto de ultimamente publicar com mais regularidade?
A.P.R. – Tem a ver com o ritmo da escrita. Escrevo praticamente todos os dias e vou publicando nos meus blogs. Há sempre cinco ou dez pessoas que lêem. A partir daí faço uma selecção. Mas há sempre textos que ficam para trás e só mais tarde é que são recuperados e publicados em livro.
A.V.P. – O ritmo do espectáculo tem acompanhado o ritmo da escrita?
A.P.R. – As duas coisas estão ligadas, mas são distintas. A escrita é fundamentalmente um acto solitário, mesmo que estejas a escrever num lugar cheio de gente. Quando estou acompanhado não escrevo. Não troco um amigo por um texto ou um poema. Já o acto de estar em palco é dar alguma coisa. Não dependes só de ti, mas também das reacções do público. Boas ou más, lido com ambas.
A.V.P. – Os palcos de Paredes de Coura e do Teatro Campo Alegre, definem o poeta?
A.P.R. – Espero que sim, até porque fui dizer poemas meus e as reacções do público foram muito positivas. Talvez devido ao tipo de textos que seleccionei, com uma temática ligada à vida boémia, textos que falam do sexo, da mulher fatal, das gajas boas. São textos que resultam bem em certos sítios, para um certo público. Mas há lugares onde digo Mário Cesariny, Jim Morrison, Allen Guinsberg ou Nietzsche.
A.V.P. – Cita e recita muito Nietzsche é porque assim falava Zaratustra?
A.P.R. – Estou a ler pela quarta vez esse livro. O Nietzsche fascina-me quando fala da superação do homem, que não é este homem pequeno das mercearias, das contas, dos orçamentos, do homem económico. Como diz o padre Mário de Oliveira, o homem é afecto e espírito, ou deveria ser sobretudo isso. Mas esse homem é destruído por esta sociedade capitalista. Mas há também o homem artista, que canta que dança, que está ai.
A.V.P. – Sente que o artista deve ser cada vez mais interventivo?
A.P.R. – O artista não tem que ser como os outros e levar aquela vida regrada e certinha. Deve ir mais longe, quebrar rotinas, ser um desalinhado. As pessoas podem não estar de acordo com tudo o que tu dizes ou escreves, mas aquilo mexe com elas. Esse é o objectivo.
www.vozdapovoa.com
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
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