sábado, 23 de outubro de 2010

DA GOTUCHA


DA GOTUCHA

Sente-se mais senhor. Sente-se o homem em construção, um homem nobre. Sabe que agora não há volta a dar-lhe. Não há ponto de retorno. Seguiu determinada via, seguiu a via da liberdade e da vida aumentada, seguiu os ensinamentos de Nietzsche, Morrison e Miller, apesar de haver ocasiões em que se deixa bombardear pelo sistema. É preciso que a Gotucha o compreenda. É preciso compreender também que o escritor trava batalhas terríveis consigo próprio. É preciso compreender que o capitalismo e a castração entram por nós dentro e nós temos de vencê-los. É preciso derrotar também os nossos demónios, os nossos fantasmas. Sim, a luta está dento de nós, Gotucha. É também graças à nossa vida interior que acrescentamos vida. O escritor procura o triunfo da vida. O escritor enfrenta os pregadores da morte e da economia. O escritor escreve e aguarda o avião da Gotucha. Que nada de mal aconteça à sua menina, é tudo quanto deseja. O escritor escreve à esplanada da “Padeirinha”. Está muito calor. Pouco ou nada se passa à sua frente. Sente-se mais apto para enfrentar o mundo. Sente-se mais sábio. Com mais palavras. Sente-se dono da palavra. Escreve livremente. Sente-se solto. A loira não está. Mas isso não o desmoraliza. Olha as horas. Tem que se preocupar com o avião da Gotucha. Com a Gotucha preocupa-se verdadeiramente. Fica triste quando ela está triste. Ri quando ela ri. Acredita na Gotucha. A Gotucha deu-lhe a volta à cabeça.

DE MIGUEL CARVALHO

Sabes, José?

Sabes, José? Nos quarteirões da minha cidade, voltaram os pedidos de meio frango com ar envergonhado e dinheiro contado. Na repartição dos correios, diante da minha porta, os funcionários já viram mãos alheias perto do gasganete em dias em que faltou dinheiro na caixa para pagar a pensão do mês. E há mais clientela esperando a sua vez.

Uma tragédia, José, quem havia de dizer que os nossos antigos iam morrer vivendo, de pé?

Também tenho reparado que os carrinhos de supermercado andam menos recheados, sabes? Mas deve ser das minhas vistas, tenho de mudar as lentes, certamente. Uma coisa tenho reparado e essa eu vejo bem: na hora de pagar, algo fica para trás. Um pacote, um algo que vinha e já não vem.

Nas farmácias, os velhos dizem que seleccionam medicamentos por não terem forma nem maneira de pagar a ementa dos remédios gourmet das suas eternas maleitas. Entre a doença, as dores e a boca, escolhem o pão, como não?

Olha, José, vê os portões das fábricas a fechar, o presente a definhar.

No nosso País de misérias e angústias, há um rumorejar a borbulhar, José. Ouve-se por toda a parte, até aqui ao pé, no escritório do lado, na mercearia da esquina ou no balcão do café.

Já não é só futebol, José, o penalty que é ou não é.

São conversas fartas, raivas incontidas, vidas fora-de-jogo à espera da reviravolta que nunca vem para quem sempre joga limpo.

Olha, José, vocês aí no alto discutem números, austeridade, a salvação nacional e a saúde da pátria depois do leite derramado. Mas aqui em baixo, no País terra-a-terra e na nação sem parlapié, há gente com défice de crença e paciência para acreditar de novo na sobrevivência.

Não sei, José, que dias virão a seguir.

Um dia, talvez mais cedo do que julgamos, vão juntar-se os deserdados do futuro, a polícia empobrecida e desprestigiada e os que pouco já tinham e agora não têm nada. Nesse momento, juntos, vão encher a praça. E aí, José, uma coisa eu garanto: não vai ter graça.

M.C.

http://adevidacomedia.wordpress.com

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A REVOLTA CONTINUA


França: Continuação dos protestos para a próxima semana

"Esperamos mais umas jornadas em força na próxima semana", declaram os sindicatos, indicando que as centrais sindicais não abrem mão da mobilização conseguida nas últimas semanas com sucessivas manifestações por todo o país, além das greves e bloqueios que atingem sectores vitais.

Instalações petrolíferas em todo o país continuam a ser alvo de acções diversas dos trabalhadores em greve, os 14 depósitos de combustível continuam bloqueados, apesar das intervenções das forças da polícia, que têm ordens Nicolas Sarkozy…

O aeroporto de Marselha esteve ontem bloqueado durante algumas horas e as 12 refinarias francesas continuam em greve por tempo indeterminado. A situação faz com que o abastecimento de combustível seja intermitente e cada vez mais escasso, com 3.200 estações de serviço encerradas, de um total de 12.300 postos em toda a França.

O final de semana é também decisivo porque na sexta-feira as escolas francesas encerram para as férias intercalares de Todos-os-Santos, o que poderá ter impacto no nível de mobilização dos estudantes do ensino secundário e universitário.

Os estudantes juntaram-se ao movimento de contestação e greve que refuta o novo regime de reformas, levando na prática ao encerramento de cerca de 400 liceus em todo o país e de, pelo menos, quatro universidades, devido ao bloqueio de instalações e, em vários pontos do país, havendo notícias de confrontos com as forças de repressão, a exemplo do centro da cidade de Lyon.

http://lutapopularonline.blogspot.com

ESTA NOITE A POESIA DE CHOQUE ENCHEU-SE DE GENTE BONITA

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

MANIFESTO DA CANDIDATURA DO POETA ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA


MANIFESTO DA CANDIDATURA DO POETA ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA



Numa era em que a vida se faz e se joga em função dos mercados e, por isso, não é vida. Numa altura em que o governo corta nos salários, nas pensões, no subsídio de desemprego, no rendimento social de inserção e sobe nos impostos, nas SCUT's, nos preços dos bens essenciais e no preço dos medicamentos. Numa era em que o discurso económico já era porque é entediante, castrador como a "vida" dos mercados e de todos os que a seguem: Sócrates, Cavaco, Durão Barroso e companhia. Numa era de banqueiros, bolsas, especuladores e outros predadores. Numa era em que o PS e o PSD brincam ao orçamento, um orçamento que não serve, que penaliza a maioria dos portugueses. Numa era de "Big Brothers" e de uma "vida" quotidiana vazia. Numa era em que muitos não têm nada ou quase nada e outros dormem na rua. Eu, António Pedro Ribeiro, 42 anos, poeta e performer, declaro-me candidato à Presidência da República.

Porque é preciso dizer que isto não é vida. É preciso dizer que não somos mais do que ninguém mas temos a certeza de que isto assim não presta. O capitalismo e os seus agentes estão a matar o Homem e a Vida. Viram o homem contra si próprio. Instalam o medo, a inveja, o ressentimento, a intriga. É preciso dizer que não é mais possível o homem assim. Como se vê nas manifestações de França, Grécia, Islândia e Espanha. É preciso dizer que o homem está a ser amputado. É preciso dizer que queremos outro homem, outra vida. Ela existe e está aqui, dentro do homem. Não nos céus nem na fantasia.



António Pedro Ribeiro ou A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto no Maio de 68. Viveu em Braga e reside actualmente em Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). É licenciado em Sociologia pela Faculdade de Letras do Porto. É autor dos livros "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco, 2006), "Queimai o Dinheiro" (Corpos, 2009), "Um Poeta no Piolho" (Corpos, 2009), "Um Poeta a Mijar" (Corpos, 2007), "Saloon" (Edições Mortas, 2007), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (Pirata, 2004), "Á Mesa do Homem Só" (Silêncio da Gaveta, 2001) e "Gritos. Murmúrios" (com Rui Soares, Grémio Lusíada, 1988). Foi fundador da revista literária "Aguasfurtadas" e actuou como diseur e performer nos Festivais de Paredes de Coura de 2006 (com Adolfo Luxúria Canibal e Isaque Ferreira) e de 2009 (com a banda Mana Calórica), nas "Quintas de Leitura" do Teatro Campo Alegre em 2009 e no Festival de Poesia do Condado de Salvaterra do Minho (Espanha) em 2007. Foi activista estudantil na Faculdade de Letras do Porto e no Jornal Universitário do Porto. É aderente do Bloco de Esquerda e foi militante do PSR, tendo sido candidato às Juntas de Freguesia de Vila do Conde (2001) e da Póvoa de Varzim (2005) pelo BE e à Assembleia da República pelo círculo de Braga pelo PSR em 1991 e 1995 (mandatário distrital). Em 2003 na Póvoa de Varzim, foi acusado, com a organização Frente Guevarista Libertária, de ter derrubado a estátua do Major Mota, presidente da Câmara no regime salazarista e dirigente da Legião Portuguesa. Prepara o livro "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas". É responsável (com Luís Carvalho) pelas noites de "Poesia de Choque" no Clube Literário do Porto e participa regularmente nas noites de poesia do Púcaros e do Pinguim no Porto.

RUI MANUEL AMARAL E CANDIDATURA PRESIDENCIAL DE APR NA POESIA DE CHOQUE


O escritor Rui Manuel Amaral é o convidado de mais uma sessão de POESIA DE CHOQUE a ter lugar no Clube Literário do Porto, hoje, quinta, 21, pelas 22,00 h. Rui Amaral vai ler textos do seu último livro, recém-editado, "Doutor Avalanche" (Angelus Novus). Simultaneamante, António Pedro Ribeiro lança os seus manifestos à Presidência da República. Luís Carvalho diz outros poemas a abrir e a arder.

FALA, FALA, QUE COMEÇAS A CAIR

"Está na altura de acabar com os bloqueios", diz ministro do Interior francês
Paris, 20 out (Lusa) - O ministro do Interior francês, Brice Hortefeux, afirmou hoje, em Paris, que "está na altura de acabar com os bloqueios" a inst...



"Está na altura de acabar com os bloqueios", diz ministro do Interior francês
Paris, 20 out (Lusa) - O ministro do Interior francês, Brice Hortefeux, afirmou hoje, em Paris, que "está na altura de acabar com os bloqueios" a instalações de combustível, de forma a evitar uma paralisia da economia nacional.

"O direito à greve não dá o direito a impedir de trabalhar e de circular", declarou Brice Hortefeux numa conferência de imprensa realizada às 07:30 (06:30 em Lisboa), repetindo o essencial das declarações feitas na véspera, na Normandia, pelo Presidente da República francês, Nicolas Sarkozy.

O ministro do Interior confirmou que as forças de segurança desbloquearam 21 depósitos de combustível desde sexta-feira, incluindo três hoje de madrugada, numa altuyra em que a região oeste de França "está ameaçada de falta de combustível", segundo disse Hortefeux.

"A imensa maioria dos franceses não tem de aguentar a lei de uma minoria", afirmou também Brice Hortefeux, referindo-se à mobilização dos sindicatos contra o novo regime de reformas, que na terça-feira levou cerca de 3,5 milhões de pessoas (1,1 milhões, segundo a polícia) a 270 manifestações em todo o país.

PRM

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O texto abaixo, "O Senhor", é inspirado no "FMI" de José Mário Branco.

O SENHOR


A imagem da Fátima Lopes. As mulheres batem palmas.
Depois vem a publicidade. Automóveis. Lotarias. Donas de casa de barriga inchada a comer iogurtes. Champôs. Passerelles. Golos. A Catarina Furtado a fazer propaganda aos bancos. A Fátima Lopes a fazer propaganda aos hamburgueres. Uma gaja de guarda-chuva e outro automóvel. Seguros. Bancos, outra vez os bancos. Futebolistas a fazer a barba. Aspiradores. Electrodomésticos. Gajas. Automóveis, outra vez automóveis. O ministro das Finanças. Este é o melhor dos mundos. A televisão dá-te tudo: iogurtes, champôs, clubes de futebol, guarda-chuvas, aspiradores, giletes, automóveis, seguros, o dinheiro todo dos bancos, o ministro das Finanças, as gajas da passerelle, a Fátima Lopes, a Bárbara Guimarães, a Catarina Furtado. Rende-te. Obedece ao Senhor, ao Sócrates, ao Cavaco, ao Durão Barroso. Eles dão-te tudo. Obedece. Bate palmas. Fica calado. Este é o melhor dos mundos. Não há alternativa. Há para uns líricos que dizem que não. São uns sonhadores incorrigíveis, alguns deles já estão no manicómio. Não lhes ligues. O Governo, o Presidente e os mercados, sobretudo os mercados, tratam de ti. Eles e a Fátima Lopes tratam da tua felicidade. Não te preocupes. O ministro das Finanças faz os cálculos todos por ti. Está tudo no orçamento. Não te preocupes. Eles dão-te tudo. Eles têm tudo previsto. Obedece. Bate palmas. Fica calado. Não questiones. Não penses. O ministro das Finanças pensa por ti. Os mercados resolvem todos os teus problemas. Não estejas deprimido. Não vale a pena ficar deprimido. A ministra da Saúde trata-te da saúde. Dá-te todos os anti-depressivos de borla.
Estás entregue a gente cristã, benfeitora, altruísta. Estás em grande. Reina. Continua a olhar para a TV. Não percas as palavras sábias e avisadas do ministro das Finanças, do primeiro-ministro, do Presidente, do PSD. Come-as. Saboreia-as. Banqueteia-te com elas. Agradece. Obedece. Nada te pára. Agora és um Senhor.

OLHA A DEMOCRACIA!

Chanceler alemã afirma que construção de uma sociedade multicultural falhou e alerta comunidade imigrante: “sentimo-nos ligados a valores cristãos. Quem não aceitar isto, não tem lugar aqui”.
Artigo | 19 Outubro, 2010 - 11:31

Angela Markel discursava para militantes da Junge Union (JU) sobre integração de imigrantes na Alemanha. Foto de cgommel, Flickr. Angela Merkel, chanceler alemã, afirmou, perante uma plateia constituída por militantes da Junge Union (JU) - organização juvenil conjunta dos partidos conservadores União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), que "a perspectiva de que poderíamos construir uma sociedade multicultural, vivendo lado a lado e gozando da companhia uns dos outros, falhou. Falhou completamente".

Num discurso marcado por uma manifesta aproximação à direita, e segundo escreve a “Associated Press”, Angela Merkel defendeu ainda que “Subsidiar os imigrantes” não basta, a Alemanha tem o direito de “fazer-lhes exigências”.

O sucesso da integração dos imigrantes é, nas palavras de Merkel, da sua exclusiva responsabilidade. Os mesmos terão que adoptar a cultura e os valores alemães. A responsável alemã alerta: “sentimo-nos ligados a valores cristãos. Quem não aceitar isto, não tem lugar aqui”.

O secretário-geral do Conselho Geral dos Judeus na Alemanha, Stephan Kramer, já veio criticar aquele que considera ser um discurso xenófobo, orientado para fins eleitoralistas.

Polémica em torno da integração dos imigrantes

Segundo noticia o Deutsche Welle, a polémica em torno da integração dos imigrantes agudizou-se mediante as declarações proferidas em Agosto pelo então membro do conselho de administração do Bundesbank, Thilo Sarrazin, que associou a subsidio dependência e a criminalidade à população muçulmana na Alemanha.

Na noite anterior ao discurso da chanceler alemã, o líder da CSU e governador da Baviera, Horst Seehofer, já havia afirmado que os imigrantes no país têm que aceitar a “cultura predominante” e que a Alemanha não se podia transformar “na previdência social para o mundo inteiro”, rematando que “o multiculturalismo está morto”.

As declarações de Angela Merkel virão, neste contexto, aprofundar o clima de desconfiança, apreensão e até mesmo xenofobia contra os cerca de 16 milhões de imigrantes que vivem no país, e, em especial, contra a comunidade muçulmana, que conta com aproximadamente 5 milhões de pessoas.

55% da população alemã pensa que os árabes são "pessoas indesejáveis"

O estudo, recentemente divulgado, da Fundação Friedrich Ebert, que a Lusa cita, conclui que cerca de 58 por cento dos alemães são a favor da limitação da liberdade religiosa dos muçulmanos na Alemanha. Os resultados deste estudo demonstram, igualmente, que 30% dos inquiridos considera que o país foi "invadido por estrangeiros" e que 55% pensa que os árabes são "pessoas indesejáveis". 30% acredita ainda que os 16 milhões de imigrantes só procuraram a Alemanha para usufruir de benefícios sociais.

www.esquerda.net

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

MANIFESTO ANTI-GOVERNO, ANTI-ORÇAMENTO E ANTI-MERCADOS


O Governo não tem que me dizer o que devo fazer. O Governo não tem que dizer que eu devo levar uma vida frugal. A minha vida não está no Orçamento. Não aceito a minha vida reduzida a percentagens e estatísticas. O Governo e o Orçamento não me podem proibir de sair à noite nem de beber copos. Nem o Governo, nem o Orçamento, nem ninguém me podem impedir de escrever, de ter ideias e de olhar para as gajas.
Estou farto dos apelos ao diálogo do Presidente da República. Não sou do Presidente, nem do Governo, nem do Orçamento, nem dos mercados. Recuso-me a dialogar com essa gente. Não confio nessa gente. Aliás, ainda ninguém me explicou quem são os mercados. Os mercados nunca me foram apresentados. Só sei que o Presidente, o Governo, o Orçamento, o PSD, os banqueiros, a Comissão Europeia e o Estados Unidos obedecem aos mercados. Os mercados estão em todo o lado e entram no cérebro das gentes. Estou farto dos mercados! Os mercados e a economia enchem-me de tédio e de morte. Os mercados e o Governo não comandam a minha vida. Os mercados e o Governo não pertencem à vida.

domingo, 17 de outubro de 2010

RECUSO TUDO QUANTO NÃO SEJA VIDA

RECUSO TUDO QUANTO NÃO SEJA VIDA



Recuso tudo quanto não seja vida



Já apanhei

com as grandes depressões

já apanhei com o Sócrates,

com o Cavaco

com os "yuppies"

e com a SIDA

já dormi em bancos de jardim,

na praia,

na rua

já vi a guerra do Iraque

e a do Afeganistão

e o triunfo da economia



Recuso tudo quanto não seja vida



Farto-me das meias-medidas

do medo do patrão, do papão

do tédio da mercearia



Recuso tudo quanto não seja vida



Li Nietzsche, ouvi Morrison

desatinei com a contabilidade

tripei na Faculdade

segui a outra via



Recuso tudo quanto não seja vida



Conheci a Gotucha

andei nas manifs

tornei-me naquele que cria



Recuso tudo quanto não seja vida



Quero agarrá-la

quero possuí-la

como à mulher

da confeitaria



Recuso tudo quanto não seja vida.

TEIXEIRA E A INSACIABILIDADE DOS MERCADOS

Teixeira dos Santos: "Não vejo muito mais por onde ir se os mercados nos exigirem mais"
17.10.2010 - 07:40 Por Sérgio Aníbal, João d´Espiney

1 de 16 notícias em Economia
Teixeira dos Santos confia que as medidas do OE terão um impacto positivo imediato. Mas mantém o aviso em relação à "insaciabilidade" dos mercados.

www.publico.clix.pt

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

MANIFESTO DA CANDIDATURA DO POETA ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA


MANIFESTO DA CANDIDATURA DO POETA ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA



Numa era em que a vida se faz e se joga em função dos mercados e, por isso, não é vida. Numa altura em que o governo corta nos salários, nas pensões, no subsídio de desemprego, no rendimento social de inserção e sobe nos impostos e no preço dos medicamentos. Numa era em que o discurso económico já era porque é entediante, castrador como a "vida" dos mercados e de todos os que a seguem: Sócrates, Cavaco, Durão Barroso e companhia. Numa era de banqueiros, bolsas, especuladores e outros predadores. Numa era de "Big Brothers" e de uma "vida" quotidiana vazia, maçadora. Numa era em que muitos não têm nada ou quase nada e outros dormem na rua. Eu, António Pedro Ribeiro, 42 anos, poeta e performer, declaro-me candidato à Presidência da República.

Porque é preciso dizer que isto não é vida. É preciso dizer que não somos mais do que ninguém mas temos a certeza de que isto assim não presta. O capitaismo e os seus agentes estão a matar o Homem e a Vida. Viram o homem contra si próprio. Instalam o medo, a inveja, o ressentimento, a intriga. É preciso dizer que não é mais possível o homem assim. Como se vê nas manifestações de França, Grécia, Islândia e Espanha. É preciso dizer que o homem está a ser amputado. É preciso dizer que queremos outro homem, outra vida. Ela existe e está aqui, dentro do homem. Não nos céus nem na fantasia.



António Pedro Ribeiro ou A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto no Maio de 68. Viveu em Braga e reside actualmente em Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). É licenciado em Sociologia pela Faculdade de Letras do Porto. É autor dos livros "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco, 2006), "Queimai o Dinheiro" (Corpos, 2009), "Um Poeta no Piolho" (Corpos, 2009), "Um Poeta a Mijar" (Corpos, 2007), "Saloon" (Edições Mortas, 2007), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (Pirata, 2004), "Á Mesa do Homem Só" (Silêncio da Gaveta, 2001) e "Gritos. Murmúrios" (com Rui Soares, Grémio Lusíada, 1988). Foi fundador da revista literária "Aguasfurtadas" e actuou como diseur e performer nos Festivais de Paredes de Coura de 2006 (com Adolfo Luxúria Canibal e Isaque Ferreira) e de 2009 (com a banda Mana Calórica), nas "Quintas de Leitura" do Teatro Campo Alegre em 2009 e no Festival de Poesia do Condado de Salvaterra do Minho (Espanha) em 2007. Foi activista estudantil na Faculdade de Letras do Porto e no Jornal Universitário do Porto. É aderente do Bloco de Esquerda e foi militante do PSR, tendo sido candidato às Juntas de Freguesia de Vila do Conde (2001) e da Póvoa de Varzim (2005) pelo BE e à Assembleia da República pelo círculo de Braga pelo PSR em 1991 e 1995 (mandatário distrital). Em 2003 na Póvoa de Varzim, foi acusado, com a organização Frente Guevarista Libertária, de ter derrubado a estátua do Major Mota, presidente da Câmara no regime salazarista e dirigente da Legião Portuguesa. Prepara o livro "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas". É responsável (com Luís Carvalho) pelas noites de "Poesia de Choque" no Clube Literário do Porto e participa regularmente nas noites de poesia do Púcaros e do Pinguim no Porto.

PORTAGENS NAS SCUTS SÃO ROUBO

Portagens nas SCUT no Grande Porto "são um roubo e não podemos chamar a polícia" - comissão de utentes
Paços de Ferreira, 15 out (Lusa) - O representante da Comissão de Utentes da Scut do Grande Porto (A41/A42), Gonçalo Oliveira, considerou hoje "um rou...



Portagens nas SCUT no Grande Porto "são um roubo e não podemos chamar a polícia" - comissão de utentes
Paços de Ferreira, 15 out (Lusa) - O representante da Comissão de Utentes da Scut do Grande Porto (A41/A42), Gonçalo Oliveira, considerou hoje "um roubo e uma violência inimaginável" a cobrança de portagens naquela autoestrada.

"Se algum gatuno me quiser roubar mais 100 euros, eu defendo-me. Se três me tentarem roubar, eu chamo a polícia. Mas quem é que eu devo chamar quando os três 'gatunos' são os três partidos, o PS, o PSD e o CDS, que se uniram na Assembleia da República para inviabilizar a lei das portagens?", questionou, em declarações à Lusa.

Falando junto à Scut que liga o Vale do Sousa à cidade do Porto, Gonçalo Oliveira garantiu que "o povo não vai aguentar esta situação".

Afirmou que os políticos desses partidos, além da preocupação que têm com o défice, deviam estar sensibilizados com o problema de muitos habitantes poderem não ter dinheiro "para ir trabalhar, para produzir riqueza".

"Isto que está aqui a acontecer hoje é de tal forma mau e grave que é uma hipocrisia esses partidos aqui no distrito do Porto, nas câmaras municipais, dizerem que as portagens são más, mas em Lisboa, na Assembleia da República já dizem que as portagens são boas", vincou.

Gonçalo Oliveira garantiu ainda que a comissão de utentes "não baixou os braços", prometendo novas ações de protesto para defender "quem precisa desta autoestrada para ganhar a sua vida".

As portagens nas Scut do Norte Litoral, Grande Porto e Costa de Prata começaram a ser cobradas às 00:00 de hoje.

APM.

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico ***

Lusa/fim

AMAI-VOS


AMAI-VOS

Que venha o novo homem. Que por todo o mundo se celebre o novo homem.

“Não vos inquieteis mais com o que tendes de comer e de beber”, disse Jesus. Matai o capitalismo e o mercado em vós. Matai o que há de mais vil e torpe em vós. Acreditai no novo homem. Ide de rua em rua, de casa em casa levar a palavra. Viestes ao mundo para isso. Aumentai os vossos conhecimentos e a vossa vida. Essa é a vossa riqueza. A riqueza que deveis procurar. Amai-vos. Para vos amardes verdadeiramente tereis de matar o capitalismo que todos os dias vos espetam na cabeça. Amai-vos. Mas sabei que há alguns que já não têm cura, alguns que serão sempre vossos inimigos. Salvai-vos do culto da acumulação, da competição e da riqueza. Aumentai a vossa vida. Afastai-vos do rebanho. Sede o novo homem. Acreditai em vós. Sede fortes. Sede companheiros. Afastai-vos da economia. Criai. Amai-vos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

DURÃO BARROSO E OS MERCADOS

Quando eu falo, os mercados ouvem e pode haver consequências.

A HORA DO HOMEM


Cá está o homem de novo. O mundo é o mesmo mas o homem muda. Há conversas que o elevam. Conversas que o aproximam da sabedoria. O homem filosofa mas Dionisos volta sempre. E o homem afasta-se do racional. Segue a via do artista. Triunfa sobre si mesmo. Encontra a sua essência. Mas esse não é um processo racional. O homem acasala com a loucura. Sobe à praça pública. Já é outro. Ama esse outro. Adora vestir essa pele. Quando está nesse estado é livre. Aí tem de se conter para não ficar demasiado para lá. "Custa-me deixar-te, mas tu nunca me seguirias", canta Morrison. E é mesmo isso. O homem, como outros antes, abandona o corpo. Torna-se espírito e o espírito voa. Já não está cá. Poucos, muito poucos, quase nenhuns o acompanham. E o homem, mesmo que tenha uma vida aparentemente pacata, vive na corda-bamba, na corda-bamba entre o animal e o divino. É esse o seu drama. Faz parte da legião dos loucos divinos, como Morrison ou Nietzsche. Já nada há a fazer. Seguiu essa via. No meio das estrelas sente-se em casa. Por isso é que os negócios, a banca e a vidinha o entediam. Veio para algo de maior. É um "caminheiro dos céus", como diz Henry Miller. Ama o homem interior. Por isso, por vezes, sabe que tem que ser humilde. Todavia, isso não quer dizer que se alinhe com a maioria. Tornou-se muito céptico em relação à democracia. Já não acredita na democracia representativa. O homem sabe que atingiu a idade madura, a hora das decisões definitivas. Sabe também que está mais exposto do que nunca. Ou que, pelo menos, corre riscos de exposição excessiva. Sabe que está a chegar a sua hora.

EU NÃO ACEITO


EU NÃO ACEITO

António Pedro Ribeiro

Os mercados ainda não me contaminaram a mente. Sigo o caminho do bailarino, do homem livre. Apesar daquilo que me tentais espetar na cabeça todos os dias. Há alturas em que cedo, alturas em que me deixo levar pela conversa. Contudo, ainda sou capaz de me revoltar dentro de mim mesmo. Sou Quixote contra os moinhos. Não aceito. Não aceito. Posso até estar em baixo, posso até estar na merda, dizer que sim na aparência. Mas eu não aceito. Não aceito ver o Homem escravo dos mercados. Não aceito o homem caricatura de si próprio. O homem que quero não é o macaco que mercadeja, de que fala Nietzsche. Não aceito! Não vim ao mundo para isto. Posso até ser o único, ou um dos únicos, mas eu não aceito.
Já cometi muitos erros. Não sou nenhum santo. Mas eu não aceito. Serei louco, terei sido incoerente em várias ocasiões, mas eu não aceito. Podeis vir com cançonetas, poeminhas, que eu não aceito. Podeis inundar-me de imagens, de “big brothers”, de gajas boas. Eu não aceito. Podeis trazer-me TGV’s, aeroportos, SCUT’s, auto-estradas. Eu não aceito. Podeis embebedar-me com números, percentagens, cotações da bolsa. Eu não aceito. Podeis prometer-me estabilidade, sossego, emprego, segurança. Eu não aceito.
Não sou esse que quereis. Por vezes também sou dócil, amável, simpático. Mas não tenho que aceitar as vossas máximas. Amo o homem mas não tenho que me contentar com este homem, com a sub-vida dos mercados e das bolsas. Já falhei muitas vezes, não fui sempre aquele que ando a pregar. Mas não tenho que aceitar. Não sou deles- dos banqueiros, das finanças, dos governos. Muitas vezes nem sequer sigo uma lógica económica. Sou da liberdade. Mesmo quando permaneço aqui na “Motina” a espetar palavras no papel. Sobretudo aqui. Porque aqui sou completamente livre. Mesmo que isto continue a ser uma confeitaria e que os bolos e os cafés continuem à venda. Mesmo que os mercados estejam em todo o lado e também aqui.
No entanto, o bebé ri para a avó. No entanto, o bebé está vivo, respira a vida. E isso é a vida. E isso é o que realmente conta.

A HORA


A HORA


Dever cumprido. Agora o tempo é meu. Todo meu. Acredito em mim. Acredito nas minhas convicções. Sei que está a chegar a hora. A hora em que serei posto à prova. A hora em que eu e o mundo seremos um só. A hora em que tudo cairá do céu. A hora do céu na Terra. Sim, acredito. Acredito na Palavra. No homem que canta e dança. No homem que vai até ao fim. No homem que é Deus e o universo. No homem do verso. Acredito. Sou deste mundo, da Terra. Estou demasiado acelerado para os meus semelhantes mas não o consigo manifestar. Estou em transe como o Curtis. Estou doido sem estar doido. As palavras vêm ter comigo. Deixo-as fluir, não as comando. Não comando nem sou comandado. Sigo o meu caminho. Sempre o segui. Mas agora as coisas são mais claras. Este é o caminho. Como está longe o poeta de café. Como estão longe as intriguices das gente pequena. Como me sinto sublime. Como dou. Como me dou. Dar e receber, eis a minha missão. Mesmo aos pequenos tens de dar a mão. Sobretudo aos pequenos…Que contradições, que paradoxos há em ti. Por um lado, nietzscheano, revolucionário. Por outro, cristão. Gozas com a religião mas tens uma religião. És Deus mas tens de ser humilde. Até um dia…mesmo nesse dia terás de ser humilde apesar de soberbo. Tudo cai do céu para ti. És tu e mais ninguém. És tu o dono da palavra. És tu o dono da vida. Escreves. És do mundo. Não vens pregar o além. Não és o Papa. Acreditas no teu deus interior. Vais até ao fim da linha. Acreditas na Palavra. És soberbo e és humilde. A tua mãe não te compreende. És filho de Deus e do mundo. Deixas a palavra fluir. Não queres mais saber da conversa fiada. És do amor. Vens do amor. A maior parte das vezes achas o mundo uma seca. A maior parte do tempo andas entediado. És do amor. Mas és também do caos. Paradoxalmente, desejas o caos e a harmonia. As chamas e a anarquia. A bondade e a poesia. És feito da mesma matéria mas não és como eles. Às vezes, alguns e algumas aproximam-se de ti. Às vezes, há uma alegria no rosto delas. Uma alegria que não sabes explicar. Uma alegria que vem de dentro. Uma alegria que te faz subir. Assim como a música. A única amiga, a amiga íntima. É nisso que acreditas. Talvez isso seja Jesus, talvez seja Zaratustra. Como és divino. Como as palavras vêm ter contigo e te celebram. Como estás distante dos políticos e dos mercadores.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O BIG BROTHER E OS MACACOS

O BIG BROTHER


E OS MACACOS


António Pedro Ribeiro





"Big Brother is Watching You". George Orwell no seu esplendor.


Contas bancárias vigiadas, todos os passos vigiados, um fiscal em cada esquina.


Só falta pagar o ar.


À parte uns lampejos de liberdade controlada, que homem é este que estamos a criar?


Um homem servil, cheio de medo e, por isso, cheio de invejas e ressentimentos.


Um homem pessimista, niilista, o homem da "grande náusea face ao homem" que Nietzsche descreve magistralmente em "Para a Genealogia da Moral".


Um homem que não cresce, que não evolui, que se agarra á carteira e à moral do mercado e da mercearia.


Um homem mesquinho, pequeno, que se vai adaptando, que vai sobrevivendo, que vai vigiando e maldizendo os seus pares, que não suporta o homem livre, nobre, criador porque o inveja.


Chega mesmo ao ponto de se colocar ao lado daqueles que o roubam, que o saqueiam, que o empurram ainda mais para baixo.


Não, não é com um homem (e uma mulher) assim que construimos a vida.


Não é com macacos vigilantes e mercadores que chegamos às alturas.


www.freezone.pt

BAPTISTA-BASTOS

*A PÁTRIA NÃO É DE TODOS*




*«Na mesma ocasião em que Pedro Passos Coelho se reunia com vistoso grupo de economistas, uma das televisões quis saber o que pensam os portugueses da actual situação.Uns murmuraram a sua atroz ignorância, outros a sua melancólica indiferença. Até que uma mulher de idade avançada, com a
desconfiança pregada nos olhos e a sabedoria procedente de todas as agruras, respondeu: "Não acredito em nada nem em ninguém. Eles estão lá para se encher."*

*É o sentimento geral. A impotência associada à resignação; seja: o pior que pode acontecer a uma sociedade, abjurante das virtudes do civismo. Não é só o rotativismo de poder, disputado entre, apenas, dois partidos, que causa esta indolência moral. É a péssima qualidade intelectual dos políticos. É a clara evidência de que dividem o "bolo" entre eles, substituindo-se nas administrações, nos bancos, nas grandes empresas, aumentando os
vencimentos a seu bel-prazer, auferindo-se bónus e mordomias escandalosos. Vem nos jornais. Nada do que digo ou escrevo é resultado de qualquer rancor: factos são factos.*

*Pedro Passos Coelho ouviu, daqueles santos sábios, o que queria ouvir. E

eles também não queriam ou não sabiam dizer outra coisa. Isto anda tudo
ligado, e as relações políticas, entre aparentes adversários, são grandes

rábulas, alimentadas pelo embuste e pela mentira. Penso, no entanto, que
o presidente do PSD devia escutar vozes dissonantes, opiniões divergentes
que permitissem uma análise mais clara e acertada. Claro que não é só Passos Coelho que ouve o que deseja ouvir. Todos os outros dirigentes, Sócrates incluído, e na primeira linha, seguem a música de idêntica mazurca.*

*Os sábios que se reuniram com Passos Coelho são muitos daqueles que
pertenceram a governos execráveis, culpados de tudo o que de pior nos tem
acontecido. Quase todos eles detêm reformas de luxo, duas e três, e
atrevem-se a debitar, para as televisões, patrióticas lições salvíficas.
Uma vergonha! Um deles, com deficiências de fala e escuma aos cantos da boca, trabalhou seis meses no banco do Estado e recebe uma reforma vitalícia de três mil e seiscentos contos (moeda antiga) pelo denodado esforço desenvolvido. Cito-o com frequência por entender que o cavalheiro é o retrato típico de uma situação abominável.*

*Quem pode acreditar em gente deste jaez e estilo? Em gente
desavergonhada que tem, escancaradas, as televisões, para dizer sempre o mesmo, ou seja: coisa alguma de importante. Afinal, de que falaram os quase vinte sábios?

Com a soberba que os caracteriza, indicaram os mesmos remédios para a
superação da crise: cortes nas despesas da saúde, da educação, e da
previdência; rebaixamento de salários na função pública; acaso a supressão
do décimo terceiro mês; redução nas pensões, aumentos nos medicamentos.



É o pacote consuetudinário sugerido por quem, de facto, não dispõe de outras ideias e soluções que não sejam as do breviário neoliberal. A OCDE,
considerava "muito credível", veio rezar semelhante litania. E ai de quem a
desmonte! É logo considerado comunista ou afim. Um pouco de decência não faria mal.*

*Observe-se os rostos desta gente. Atente-se no que dizem, prometem,
formula. Não conseguem mobilizar ninguém, nem concentrar moções sentimentos, exactamente porque os não possuem. No começo da revolução de Abril, o Governo lançou um alerta e um apelo: Um Dia de Trabalho para a Nação. O País aceitou o pedido e a invocação. E foi um belo momento de unidade nacional, uma acção colectiva de patriotismo e de esperança absolutamente inesquecível. E só a má-fé ou a má consciência podem distorcer o que foi um extraordinário acontecimento político e social.*

*As frases daquela mulher, na televisão, ressoam como uma tragédia: "Não
acredito em nada nem em ninguém. Eles estão lá para se encher." E a
verdade é que o enriquecimento surpreendentemente rápido de muitos deles; a pesporrência arrogante da esmagadora maioria desses senhoritos é mais do que desacreditante: é sórdido.*

*Os jornais e as revistas, de vez em quando, publicam os nomes, os
rendimentos, as casas luxuosas, os iates, os carros topo de gama dos que
nos exigem sacrifícios, suor, renúncia, abnegação. Exigem mas não praticam.
E, se o fazem, as beliscaduras nas suas fortunas são tão delicadas, tão
suaves que eles nem dão por isso. Quando se tira a um reformado o mais escasso dos cêntimos as dificuldades que daí advêm são de tal monta, e as
consequências imediatas são terríveis.*

*Os sábios que foram dizer a Passos Coelho o que este, comovidamente,
queria ouvir, não estão ao lado de quem sofre e está na mó de baixo. A
indiferença nnca ocultada, a ganância jamais dissimulada, o luxo em tempo algum encoberto (bem pelo contrário) constituem eloquentes testemunhos da casta a que pertencem. Portugal continua a ser, como escreveu João de Barros, "país padrasto e pátria madrasta" - para muitos, bem entendido, e "ridentetor rão de malandros" [ Filinto Elísio, "Sátiras"] para os que se ajustam. »*


Por Baptista-Bastos.

domingo, 10 de outubro de 2010

DEPUTADO ESFOMEADO

Crise: Deputado esfomeado reivindica jantar na cantina da AR
O deputado do PS Ricardo Gonçalves gostava de ter a cantina da AR aberta ao jantar. Isto porque 3700€/mês que aufere "não dão para tudo". Fiquei com um "aperto no coração" ao ler isto.
Tiago Mesquita (www.expresso.pt)
9:00 Terça feira, 5 de Outubro de 2010



Pensava que nada me podia surpreender na política, mas eis que um deputado me acorda para a triste realidade: Portugal. O absurdo é o limite. O horizonte da estupidez ganha novos desígnios e contornos todo o santo dia. Ao deputado Ricardo Rodrigues dos gravadores junta-se agora o deputado Ricardo Gonçalves das refeições.

Se o primeiro meteu gravadores no bolso. Este afirma que o que lhe põem no bolso não chega para tudo, mesmo que seja um valor a rondar os 3700€/ mês. Uma miséria. "Se abrissem a cantina da Assembleia da República à noite, eu ia lá jantar. Eu e muitos outros deputados da província. Quase não temos dinheiro para comer" Correio da Manhã (vou fazer uma pausa para ir buscar uns kleenex...)

O corte de 5% nos salários irá obrigá-lo, como "deputado da província", a apertar o cinto e consequentemente o estômago, levando-o a sugerir com ironia mas com seriedade (!?) a abertura da cantina da AR para poder jantar. Uma espécie de Sopa dos Pobres mas sem pobres e sem vergonha. Só com políticos, descaramento e sopa.

"Tenho 60 euros de ajudas de custos por dia. Temos de pagar viagens, alojamento e comer fora. Acha que dá para tudo? Não dá" Valerá a pena acrescentar alguma coisa? Não me parece. Só dizer que as almôndegas que comi ao jantar não se vão aguentar no estômago durante muito tempo depois de ter feito copy/paste desta declaração

Mas continuando a dar voz ao Sr. Deputado: "Estamos todos a apertar o cinto, e os deputados são de longe os mais atingidos na carteira". Pois é, coitadinhos, andam todos a pão e água. Alguns são meninos para largar os bifes do Gambrinus.

Bem sabemos que os grandes sacrificados do novo pacote de austeridade do Governo vão ser os senhores deputados. Ninguém tinha dúvidas quanto a isto. E ajuda a explicar o "aperto de coração" que o Primeiro-Ministro sentiu ao ter de tomar estas "medidas duras". Sabia perfeitamente que ao fazê-lo estava a alterar os hábitos alimentares do Sr. Deputado Ricardo Gonçalves, o que é lamentável.

Que tal um regresso à província com o ordenado mínimo e um pacote senhas do Macdonalds? Ser deputado não é o serviço militar obrigatório. Pela parte que me toca de cidadão preocupado está dispensado. Não o quero ver passar necessidades.

Há quem sobreviva com pensões de valor equivalente a 4 dias de ajudas de custo do senhor deputado. Quem ganha o ordenado mínimo está habituado a privações, paciência. Agora com 3700€ por mês e 60€/dia de ajudas compreendo que seja mais difícil saber onde cortar. Podíamos começar por cortar na pouca-vergonha. Mas isso seria pedir demais.

sábado, 2 de outubro de 2010

AMIGOS, ESTAMOS DE VOLTA

Depois de mais de quatro meses de quase ausência devido à falta do computador de casa, estamos de volta. Esperamos que o Trip na Arcada de agora em diante seja um companheiro fiel. Esperamos também os vossos comentários, sugestões e críticas.

Abraço,
António Pedro Ribeiro.

O NOVO DO RUI MANUEL AMARAL

Este mês de Outubro vai estar nas melhores livrarias o novo livro do nosso amigo e companheiro Rui Manuel Amaral, "Doutor Avalanche" (Angelus Novus). Grande abraço, ó Amaral.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O NOVO DOS UHF


UHF ao vivo em Outubro
4 - 21:30 - Cine-Teatro - Lousã
14 - 15:00 - Teatro da Luz - Lisboa
22 - 22:30 - Latada Coimbra
29 - 21:30 - Auditório da Malaposta
30 - 21:30 - Auditório da Malaposta

"Porquê" novo Cd dos UHF nas lojas a 4 de Outubro: UHF em doze canções e uma pergunta: “Porquê?” Foram onze meses e meio de retiro numa vila alentejana, Vendas Novas, e todos os dias o caminho pela auto-estrada que rasga as planícies onduladas, um frio de rachar no Inverno e um calor estático no Verão. Houve tempo, em cada viagem diária, para meditar neste tempo que vivemos, no momento inseguro que cruzamos enquanto nação. Este disco é um manifesto atento, quando o artista tem consciência de que não pode ficar de fora. Será este um disco de intervenção? É, por certo, na linha de muitas canções que os UHF gravaram, de uma escola onde bebi influências, denso e sereno. Toca nas feridas, mas não guarda o queixume – aponta rumos. Quando as canções se entoam, os corações pulsam de emoção. Os doze episódios que integram este CD são o Best of de um lote que fomos gravando entre Junho de 2009 e Junho de 2010, entre o estúdio e a estrada: é, por tudo isto, um trabalho ambicioso e o maior investimento financeiro que alguma vez fizemos. Há momentos em que acreditamos muito, e este é um desses momentos. É uma afirmação política; tem o choro e a devoção do amor adulto; mantém a conversa entre os do palco e os da plateia. Vai da confissão sussurrada ao grito que a batida feroz sustenta. São dez originais e duas versões, e a reunião há muito desejada dos UHF com o técnico João Martins, responsável pelos últimos trabalhos de Da Weasel, Xutos & Pontapés e Baile Popular, com quem partilhei a produção. Tivemos a contribuição de alguns convidados. Entraram as prestações do Manuel Paulo (Hammond B3 em “A Última Prova”) e da Tuna Académica Universitária do Instituto Superior Técnico de Lisboa (coro maior em “Portugal – Somos Nós”). Como alguém me disse, depois de uma audição privada: “É um disco para ser tocado ao vivo”. Pois é, confessei.
António Manuel Ribeiro. Setembro de 2010

Assessoria de Imprensa Inha|Paula

http://www.myspace.com/uhfrock
http://www.uhfrock.com