quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A HORA


A HORA


Dever cumprido. Agora o tempo é meu. Todo meu. Acredito em mim. Acredito nas minhas convicções. Sei que está a chegar a hora. A hora em que serei posto à prova. A hora em que eu e o mundo seremos um só. A hora em que tudo cairá do céu. A hora do céu na Terra. Sim, acredito. Acredito na Palavra. No homem que canta e dança. No homem que vai até ao fim. No homem que é Deus e o universo. No homem do verso. Acredito. Sou deste mundo, da Terra. Estou demasiado acelerado para os meus semelhantes mas não o consigo manifestar. Estou em transe como o Curtis. Estou doido sem estar doido. As palavras vêm ter comigo. Deixo-as fluir, não as comando. Não comando nem sou comandado. Sigo o meu caminho. Sempre o segui. Mas agora as coisas são mais claras. Este é o caminho. Como está longe o poeta de café. Como estão longe as intriguices das gente pequena. Como me sinto sublime. Como dou. Como me dou. Dar e receber, eis a minha missão. Mesmo aos pequenos tens de dar a mão. Sobretudo aos pequenos…Que contradições, que paradoxos há em ti. Por um lado, nietzscheano, revolucionário. Por outro, cristão. Gozas com a religião mas tens uma religião. És Deus mas tens de ser humilde. Até um dia…mesmo nesse dia terás de ser humilde apesar de soberbo. Tudo cai do céu para ti. És tu e mais ninguém. És tu o dono da palavra. És tu o dono da vida. Escreves. És do mundo. Não vens pregar o além. Não és o Papa. Acreditas no teu deus interior. Vais até ao fim da linha. Acreditas na Palavra. És soberbo e és humilde. A tua mãe não te compreende. És filho de Deus e do mundo. Deixas a palavra fluir. Não queres mais saber da conversa fiada. És do amor. Vens do amor. A maior parte das vezes achas o mundo uma seca. A maior parte do tempo andas entediado. És do amor. Mas és também do caos. Paradoxalmente, desejas o caos e a harmonia. As chamas e a anarquia. A bondade e a poesia. És feito da mesma matéria mas não és como eles. Às vezes, alguns e algumas aproximam-se de ti. Às vezes, há uma alegria no rosto delas. Uma alegria que não sabes explicar. Uma alegria que vem de dentro. Uma alegria que te faz subir. Assim como a música. A única amiga, a amiga íntima. É nisso que acreditas. Talvez isso seja Jesus, talvez seja Zaratustra. Como és divino. Como as palavras vêm ter contigo e te celebram. Como estás distante dos políticos e dos mercadores.

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