quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A HORA DO HOMEM


Cá está o homem de novo. O mundo é o mesmo mas o homem muda. Há conversas que o elevam. Conversas que o aproximam da sabedoria. O homem filosofa mas Dionisos volta sempre. E o homem afasta-se do racional. Segue a via do artista. Triunfa sobre si mesmo. Encontra a sua essência. Mas esse não é um processo racional. O homem acasala com a loucura. Sobe à praça pública. Já é outro. Ama esse outro. Adora vestir essa pele. Quando está nesse estado é livre. Aí tem de se conter para não ficar demasiado para lá. "Custa-me deixar-te, mas tu nunca me seguirias", canta Morrison. E é mesmo isso. O homem, como outros antes, abandona o corpo. Torna-se espírito e o espírito voa. Já não está cá. Poucos, muito poucos, quase nenhuns o acompanham. E o homem, mesmo que tenha uma vida aparentemente pacata, vive na corda-bamba, na corda-bamba entre o animal e o divino. É esse o seu drama. Faz parte da legião dos loucos divinos, como Morrison ou Nietzsche. Já nada há a fazer. Seguiu essa via. No meio das estrelas sente-se em casa. Por isso é que os negócios, a banca e a vidinha o entediam. Veio para algo de maior. É um "caminheiro dos céus", como diz Henry Miller. Ama o homem interior. Por isso, por vezes, sabe que tem que ser humilde. Todavia, isso não quer dizer que se alinhe com a maioria. Tornou-se muito céptico em relação à democracia. Já não acredita na democracia representativa. O homem sabe que atingiu a idade madura, a hora das decisões definitivas. Sabe também que está mais exposto do que nunca. Ou que, pelo menos, corre riscos de exposição excessiva. Sabe que está a chegar a sua hora.

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