quinta-feira, 30 de abril de 2009

SOMOS TODOS TERRORISTAS!


POLÍCIAS E SECRETAS REFORÇARAM VIGILÂNCIA A RADICAIS DE ESQUERDA

Por Valentina Marcelino no Diário de Notícias de 25 de Abril de 2009

Grupos na mira das forças de segurança por suspeita de que hoje poderiam sair à rua em vários pontos do País para travar festejos do 25 de Abril, como há dois anos. Um episódio que vai levar a tribunal 11 jovens por acções violentas.

As forças de segurança voltaram a reforçar a vigilância aos mvimentos radicais de esquerda, por haver indícios de que estes poderão actuar hoje, nas celebrações do 25 de Abril, como aconteceu há dois anos.
De acordo com o que apurou o DN, a vigilância foi reforçada esta semana junto de grupos sedeados na zona de Lisboa, Almada, Barreiro, Porto e Amadora, e vai manter-se até depois do dia 1 de Maio. Fontes policiais confirmaram que a PSP tem trabalhado em conjunto com os elementos do SIS, entidade que em 2008 registou "indícios de radicalização de alguns núcleos activistas".
Esta preocupação agravou ainda mais com os alertas que chegaram nas últimas semanas da Europol. Mas não só. As conclusões da investigação dos desacatos do dia 25 de Abril de 2007 também colocaram as autoridades em alerta já que 11 arguidos vão ser levados a julgamento.
Além do mais, neste momento, as polícias já têm sinais de mobilização, através da internet, para os próximos dias. A "Rede Libertária" convoca no seu blog para uma manifestação "anti-capitalista e anti-autoritária" no dia 1 de Maio, no Príncipe Real, em Lisboa. No Bairro Alto já há cartazes colocados a anunciar a mobilização mas, segundo o porta-voz do Governo Civil de Lisboa não foi pedida autorização para esta iniciativa, o que se enquadra na estratégia utilizada por estes movimentos.
Há dois anos tais movimentos saíram à rua e provocaram desacatos. No relatório da PSP consta que cerca de 150 jovens, vários de caras tapadas, subiram a Rua do Carmo, em Lisboa, e atiraram plásticos com tinta contra as montras, transeuntes e lojas, fazento graffitis nas paredes com símbolos anarquistas. A polícia foi agredida por agentes com garrafas, paus e barras de ferro.
A confusão instalou-se e os jovens dispararam very lights. Quando estavam a preparar cocktails molotov o Corpo de Intervenção carregou em força e deteve os 11 que vão agora ser julgados.
As acusações formalizadas pela procuradora Ana Brito, do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) são "resistência e coacção sobre funcionário", "ofensa à integridade física qualificada de forma tentada", "injúrias agravadas" e "dano qualificado". Os arguidos negaram todas as acusações.
Para a procuradora aquele acto resultou de uma acção pensada, organizada e concertada entre alguns dos manifestantes, com o objectivo de provocar desacatos que exigissem a reacção da PSP. Vários dos detidos já tinham "cadastro" e tiveram ou têm ligações a indivíduos referenciados com os movimentos anarco-libertários, "okupas", anti-capitalismo e ecologistas radicais.
As autoridades notaram na manifestação que os activistas usam técnicas e tácticas "hostis, pouco vistas em território nacional", que se enquadram nos manuais de "acção directa", usada por grupos mais violentos noutros países. A investigação confirmou a presença destes em Portugal e na "manif" em causa, os quais exercem actividades influentes nos movimentos extremistas internacionais. As congéneres têm apoiado as associações portuguesas, quer financeiramente, quer na organização de acções.

MANUEL ALEGRE

Caso dos ovos atirados à ministra em Fafe
Manuel Alegre: Interrogatório a alunos “é um atentado ao espírito da escola pública”

29.04.2009 - 22h59 Maria Lopes

O deputado do PS, Manuel Alegre, classificou esta noite de “ intolerável” o caso dos interrogatórios a alunos de uma escola de Fafe feitos por um inspector da Educação. O objectivo era apurar o eventual envolvimento de professores no protesto que incluiu o arremesso de ovos à ministra Maria de Lurdes Rodrigues, aquando da sua visita à Escola Secundária de Fafe, em Novembro.

Na sua rubrica na TVI24, Palavras Assinadas, Manuel Alegre afirmou-se “estupefacto e indignado” com o caso. Apesar de a Inspecção-Geral de Educação “já ter feito uma nota dizendo que nada de anormal ocorreu”, conta o deputado, “isto não pode ficar assim”. O assunto não pode ser silenciado porque “a escola pública existe neste país democrático para formar cidadãos, não bufos nem denunciantes”.

A ser verdade, o caso “é um atentado à liberdade, ao espírito da escola pública e à constituição”, e demonstra que o dito inspector “enganou-se na profissão”. “Um inspector de Educação não pode agir como um inspector de polícia para incentivar alunos a denunciar professores e outros alunos”, reforça Alegre.

O deputado-poeta aproveita para citar outro poeta e pensador: “Dizia Antero de Quental que mesmo quando nos julgamos muito progressistas, pode emergir dentro de nós um fanático e um inquisidor. Eu espero que este fanático e este inquisidor não reapareçam no Portugal democrático, muito menos na escola pública.”

www.publico.clix.pt

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O REGRESSO DA PIDE

Interrogatórios a alunos indignam pais

Inspecção-Geral de Educação acusada de incentivar "comportamentos denunciantes"
29.04.2009 - 07h24 Graça Barbosa Ribeiro

Vários meses depois de a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, ter sido recebida com ovos, a Inspecção-Geral de Educação (IGE) foi ouvir os estudantes, maiores de 16 anos, da Escola Secundária de Fafe. A Associação de Pais contesta o método de interrogatório que, diz, incentiva a um "comportamento denunciante" e "é absolutamente inconcebível depois do 25 de Abril".

Os pais já enviaram cartas ao procurador-geral da República, ao provedor de Justiça e aos grupos parlamentares. A IGE assegura, através de ofício, que nada de ilegal ocorreu.

O protesto que deu origem às averiguações da IGE ocorreu em Novembro. Maria de Lurdes Rodrigues dirigia-se a um edifício próximo da Escola Secundária de Fafe, para participar numa sessão de entrega de diplomas do programa Novas Oportunidades, quando cerca de 200 alunos se aproximaram, vaiando a ministra e arremessando ovos contra as viaturas oficiais. A ministra nem chegou a sair do automóvel e a manifestação não durou muito, ao contrário das consequências, que se prolongaram no tempo.

O conselho executivo da escola, os pais e as associações sindicais vieram a terreiro criticar a forma como os estudantes protestaram contra o estatuto do aluno. Mas nem assim os ânimos serenaram. Vinte quatro horas depois, em Baião, miúdos armados com ovos esperaram por um governante que não apareceu. E, dias mais tarde, era a vez de os secretários de Estado Jorge Pedreira e Valter Lemos serem alvejados com ovos e tomates, em Lisboa, ao que reagiram dizendo não acreditar que as manifestações fossem espontâneas.

“As perguntas feitas aos alunos permitem-nos deduzir que é isso que pretenderão provar — que eles foram manipulados, nomeadamente pelos professores”, comentou ontem, em declarações ao PÚBLICO, Paulo Nogueira Pinto, ele próprio docente (noutra escola) e pai de uma das alunas interrogadas pelo inspector da DGE. “Como é que souberam que a ministra vinha a Fafe? Quem é que se lembrou de fazer a manifestação? Os professores deram aulas? Marcaram faltas a quem não esteve na sala? Como é que os alunos saíram da escola? Estava algum funcionário à porta?”, desfia Nogueira Pinto, exemplificando perguntas a que a sua filha, aluna do 10.º ano, teve de responder.

Segundo diz, ela foi escolhida “de forma mais ou menos aleatória”. Estava a terminar uma aula de Educação Física quando o inspector pediu ao professor que lhe indicasse alunos com 16 anos ou mais. “Ela fazia parte do grupo e, como já tinha acabado os exercícios, foi indicada ”, explicou.

Nogueira Pinto diz não duvidar da veracidade do esclarecimento da DGE que, em resposta à sua reclamação, informa que o interrogatório foi legal na medida em que foi feito a jovens maiores de 16 anos, imputáveis para fins penais. Insiste, no entanto, que, “do ponto de vista ético, o método é profundamente incorrecto”.

Aquele pai contesta o facto de a aluna, de 16 anos, ter sido levada para uma sala que não conhecia para ser interrogada durante cerca de uma hora, e também o facto de, na sua perspectiva, ter sido “incitada a acusar e denunciar pessoas, nomeadamente os seus professores, pelos quais se espera que tenha respeito como figuras de autoridade”. “No fim, fizeram-na assinar uma folha com a suposta transcrição das suas declarações, feitas por uma pessoa que a DGE identifica como sendo o secretário do inspector”, relatou.

O presidente da associação de pais, Manuel Oliveira Gonçalves, diz que mal foi alertado para o que estava a acontecer, durante o mês de Março, se dirigiu ao conselho executivo, que disse desconhecer como estavam a ser escolhidos os alunos e como decorriam as audições. E que, por isso, auscultou alguns dos estudantes ouvidos, cujos relatos coincidiam com o da filha de Nogueira Pinto.

“Assim como criticámos os alunos pela forma como se manifestaram, agora questionamos a legalidade e a legitimidade de um interrogatório deste tipo”, afirmou ontem Manuel Gonçalves. Não se considera “satisfeito com o esclarecimento” dado a Nogueira Pinto. “Por um lado, custa-me a crer que seja legal. Mas, ainda que assim fosse, não é legítimo. Eu nem queria acreditar que isto estava acontecer, tantos anos depois do 25 de Abril”, comentou.

O PÚBLICO contactou o vice-presidente do conselho executivo da escola, Rui Fonseca, que, dando conta da ausência do presidente, não quis comentar o assunto, alegando desconhecer pormenores. Também o Ministério da Educação, através do assessor de imprensa, Rui Nunes, se escusou a prestar qualquer esclarecimento.

terça-feira, 28 de abril de 2009

ROMANTISMOS


Regresso ao "Piolho" à tarde. Chove lá fora. A televisão transmite os programas imbecis da tarde. A loira dá prémios. As concorrentes põem-se em posição. Ninguém conhecido. Os putos bebem cerveja. Isto poderia ser um poema mas não está na forma de poema. A "Queima" aproxima-se. Os estudantes andam eufóricos. Vou ao Alemão olhar para a professora. Tem piada a gaja. Mas eu não pesco quase nada. A C. anda preocupada com as minhas actividades subversivas. O que é que se há-de fazer? O rumo está definido. Nada há a fazer, minha rica. Também sou um personagem romântico. O último dos poetas românticos, já o disseram. Sou aquele que diz o poema e que depois se vai embora, assim sem mais nem menos, sem despedidas. Estou condenado a ser romântico mesmo que a minha escrita, muitas vezes, não o seja. A minha escrita é punk, como escreveu o Henrique Fialho. A minha escrita é desvairada. E isto poderia ser um poema. E o Oliveira não aparece. E hoje não fui ao "Orfeuzinho", ao homem da concórdia, ao empregado que se faz à boazona do quiosque. Há seres que hão-de ser sempre solitários. Não é o meu caso. Há dias e dias. Esta semana não é a abrir como a semana passada. Hoje não vou ao "Pinguim". Na quarta irei ao "púcaros". Amanhã vou a Vila do Conde ensaiar com o Henrique. Temos concerto para a semana em São João da Madeira. Há que ver canções que não tocamos há muito. Há que retomar as Las Tequillas. Para a semana há metro toda a noite por causa da "Queima". Fixe, assim já posso ficar no Porto até mais tarde. O solitário permanece ao balcão. O eléctrico pára em frente ao "Piolho". Aqui também há um quiosque mas não tem boazonas. Só as boazonas das revistas. Chega o Fred.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

DIÁRIO


O Gomes agora trabalha no "universidade". Ficou imortalizado, salvo erro, no poema "Garrafa" do "Á Mesa do Homem Só". Encontrei o Miguel Guedes dos Blind Zero no "Piolho". Estivemos a falar de política, do Bloco e de outras coisas. Ontem a D. Rosa perguntou-me porque é que eu estava sempre a ler e a escrever. Pois é, D. Rosa, para se ser um grande escritor é necessário que os nossos livros se vendam bem e que os jornais falem de nós. Já têm falado, D. Rosa, mas só a espaços. Fogachos. Tenho levado uma vida de fogachos. São as tais explosões que vão acontecendo. Não sou homem de constâncias, de continuidades. Não sou um Louçã nem um Jerónimo de Sousa. Tal como disse ao Miguel Guedes, eles têm a via deles, eu tenho a minha, que não é só minha. Mas isso eu já tinha escrito. Disse á D. Rosa que escrever era a minha profissão. Afinal de contas estou registado nas Finanças como autor de livros e artista de palco. Os rendimentos é que são escassos. Mas um gajo também não pode passar a vida a queixar-se. Até me convidaram para ir ao Teatro Campo Alegre em Outubro. O Gesta diz que vai ser uma sessão explosiva. Com o João Rios, o Daniel Jonas e não sei mais quem. As pessoas já me pedem o "Manifesto Anti-Teles". Depois da merda do teste de Alemão vou ao Púcaros. Mais uma oportunidade para pregar mais umas coisas. Sabe, D. Rosa, é esta a vida que vou levando. Tem as suas coisas boas. Não me posso queixar. Ontem na sessão de Famalicão na Biblioteca Municipal houve discussão depois da poesia. Houve uma gaja, a Maria, que começou a falar do Che Guevara enquanto ícone, transformado em poster, depois de eu ter dito o poema "Che" e deu o mote. Às tantas já se estava a falar na violência doméstica e nos direitos das mulheres antes e depois do 25 de Abril. Mas voltanto à questão da Maria e do Zé que, entretanto, interveio. Acho preferível, mesmo que haja jovens que não saibam bem quem ele foi, que andem com posters e boinas do Che em vez de andarem com posters do Ronaldo. Por um lado, pode dizer-se que a imagem do Che foi absorvida pelo capitalismo mas, por outro lado, é sinal de que a sua mensagem e o seu exemplo continuam actuais quarenta anos depois da sua morte. É uma mensagem que resiste à queda do Muro de Berlim, que resiste á queda de outras referências da esquerda e da liberdade, que se mantém perfeitamente actual em plena crise capitalista. E é isto, D. Rosa. Isto tem sido a hostória da minha vida. Avanços e recuos. EXplosões e hibernações. Não é apenas falar do passado mas também e sobretudo falar do presente. O presente que é. O presente que somos e criamos. E pronto! Lá aparecem umas mamas para estragar tudo. Estava a ter um discurso sério, guevarista, e lá aparecem umas mamas para desestabilizar. Mas pronto. É o presente. O presente que passa à minha frente. As mamas que bebem cerveja. O prazer que anda á solta. E que sai e se dá a outro.

O POEMA


Quando vou dizer poesia
não vou apenas dizer poesia
vou passar mensagens
sinto que estou próximo
de escrever "o poema"
o poema à Nietzsche, divino,
que vá muito para lá das bolas de Natal
que incorpore a raiva, a revolta
que vai nas ruas de Atenas
e que se vai estender por toda a Europa
o poema que está no sexo, nas mamas das gajas
que permanentemente se insinuam para mim
e me acendem
o poema que está nas vozes dos deserdados da vida
dos que dormem à chuva e ao frio nas ruas,
nas cabines telefónicas, onde calha
o poema dos poetas malditos que insultam a vida imbecil
dos burgueses, que dizem não ás convenções e às normas,
que sobem à montanha da àguia e da serpente porque estão fartos
do rebanho e da populaça, porque estão fartos dos cegos
que se deixam governar por imbecis, como dizia Shakespeare
o poema daqueles que não se contentam com a lógica do dinheirinho
e do trabalhinho, daqueles que vão ao fundo deles mesmos e do mundo,
daqueles que odeiam o mercado e os contabilistas que governam,
daqueles que se tornam neles mesmos e que dizem que o melhor governo
é não existir governo nenhum
o poema daqueles que amam o caos porque sabem que é do caos
que nasce a criação, daqueles que amam as alturas e o perigo,
daqueles que se entediam com o paleio imbecil do dinheiro
e do sucesso mediático
o poema daqueles que amam vertiginosamente sem limites,
daqueles que procuram o sublime, o céu na Terra e que sabem
que pode estar ao virar da esquina
o poema daqueles que amam a vida, a vida pura, autêntica, a vida que não está
nos bancos nem nos governos nem nas Igrejas nem no quotidiano imbecil
e previsível
o poema daqueles que vivem em rebelião, que não suportam mais a existência quadrada
e vazia, a existência de percentagens, bolsas e estatísticas que esses cabrões
contabilistas nos vendem
o poema daqueles que já nada têm a perder, que atiram pedras e cocktails molotov
aos cães da polícia, aos representantes dos contabilistas e dos economistas,
que combatem a morte em nome da vida e que sabem que só assim a coisa é possível, sem
dirigentes nem vanguardas, sem negociações, mediações ou sindicatos.

Já se fizeram todas as negociações possíveis, já se esgotaram todos os entendimentos,
as negociações quase mataram o Homem, quase tornaram o Homem numa espécie falhada
é tempo de reagir
agora ou nunca!
WE WANT THE WORLD AND WE WANT IT NOW!
Não há aqui meios-termos
não há meias palavras
ou...ou...
ou és nosso ou és deles
estou a falar da vida
estou a falar da celebração
estou a falar da liberdade
estou a falar do amor
do amor que não está nos negócios, do amor que não está no mercado, do amor que não
está no dinheiro, no amor que não está no senso comum
este é o poema
o poema que não está cotado na bolsa
o poema que não está no mercado
o poema que não vale 4,3% nem 9%, nem 15,5% nem 18 valores
o poema que não é nota, o poema que não vai a exame
o poema que vai ao mar e se deixa levar
o poema que te ama
e que não quer saber do Natal
o poema que dança
e que não grama prisões
o poema que canta
e não quer saber de cifrões
o poema armado
que vai á luta
que vai até ao fim
o poema que vai à lua
que não tem fim
o poema que te chama
que te acena
ao lado de Merlin
o poema que procura
que anda ás turras
até encontrar
o poema que conquista
que se lança ao mar
sem medos
o poema-torpedo
o poema que perfura
até conseguir
o poema que incomoda
que não está na moda
e que, se calhar, até está
o poema que cria
o poema que destrói
o poema que inaugura
e que dói

olha, alguns fogem
viram a cara
outros ficam
siderados, talvez
nunca tinhas escrito bem assim...


A. Pedro Ribeiro

domingo, 26 de abril de 2009

ÁLCOOL GRATUITO PARA OS POETAS!


Síntese. Capacidade de síntese. Aprendi isso com o Artur Queiroz. Se calhar era o único "patrão" com quem atinava. Um gajo não se pode dispersar. Falar de "n" coisas ao mesmo tempo. Confundes o público. A não ser que o teu objectivo seja esse. Criar a confusão. Também diziam isso de mim na Faculdade de Letras. Às vezes também é preciso. Não sabia o que sei hoje. Mas, às vezes, poucas, conseguia virar a assembleia a meu favor. É preciso saber cativar o público ou o leitor. Vou voltar a falar do Partido Surrealista Situacionista Libertário. O PSSL vai concorrer às eleições. Estamos em ano de eleições. É preciso um novo partido. É preciso que os partidos se multipliquem. É preciso que haja centenas de partidos, milhares de partidos, milhões de partidos. Cada cidadão, um partido. É preciso que os partidos sejam inteiros. Como o PSSL, como a Frente Nietzscheana Dionisíaca, como a Liga Guevarista Morrisoniana, como o Partido dos Libertinos Oprimidos, como a Frente das Donas de Casa Revolucionárias, como o Movimento dos Bêbados Emancipados. Vamos concorrer a todas as eleições. Eleições atrás de eleições. Eleições todos os dias! E já não há brasileiras no café. E o café perdeu o samba. Não se pode disparar em todas as direcções. Gastar as munições todas. Também já o fiz no passado. Os "dragões" defendem a liderança. O professor Jesualdo teoriza. O sol brilha lá fora. Há "dragões", "leões" e "águias" por todo o lado. Aproxima-se a hora do futebol. Lourosa, Lourosa! Marrazes!- como canta o José Mário Branco no "FMI". O José Mário Branco é que tem razão. Teve sempre razão. Até foi ontem à televisão. Finalmente, à televisão! O José Mário Branco raramente passa na rádio. Talvez as coisas mudem um pouco. Há um silenciamento dos cantores de protesto e da resistência. Um gajo às vezes passa se misturar a revolução com o sexo e com o humor. Já percebi essa. Mas só a espaços. Até a Manuela Moura Guedes se tornou uma referência do anti-fascismo. Tem alguma coragem, não se pode negar. Rapaz, a cerveja está a acabar. Os poetas deveriam ser fornecidos gratuitamente quando estão a criar. Ou há cerveja ou há vinho ou há whisky ou a criação perde-se! Os tasqueiros e os estalajadeiros têm de compreender isso. Àlcool gatuito para os poetas! Sem àlcool não há criação. Há aqueles que não bebem, é certo. Mas isso é problema deles, não é nosso. Restam-me umas gotas. E a obra-prima a sair. A prima, a cunhada e a enteada, seja lá quem for. E agora vou mijar, com licença. Deixem os poetas à vontade! Deixem os poetas fazerem o que querem. Deixai-nos a nós a liberdade já que não estais interessados nela! Deixa-me, ó Rocha, que trocas o 25 de Abril por telemóveis! Deixa-me, ó Joana, que trocas a revolução pela "Zara"! Deixa-me, ó Zé, que trocas o amor pelo Ronaldo! Deixai-me em paz! Estou farto de vos ouvir, farto de aturar as vossas conversas. Sempre a mesma conversa. Não varia. É sempre a família, o futebol e as telenovelas. É sempre o diz que diz. E aquele que anda com aquela. Estou-me a cagar para as vossas merdas!

NA PRAÇA EM ABRIL


Fui à Praça, ao 25 de Abril, cumprir uma missão. Até o "Emplastro" lá apareceu atrás de mim. Fui à Praça com a linguagem directa dos "cabrões" e dos "filhos da puta". Fui à Praça passar a mensagem. Com outros companheiros libertários. Queimou-se o "Filho da Pide". E parece que a coisa resultou. Olhe, D. Rosa, agora somos todos terroristas. Para o SIS, para a Interpol e para o Sócrates somos todos terroristas porque somos de uma esquerda radical ou anarquistas. Conotam-nos com o Bin Laden e com criminosos vulgares. Mas isso, por um lado, até é bom. O cidadão comum fica a saber que existem anarquistas e extrema-esquerda a valer em Portugal. Foda-se. Finalmente alguma acção. Finalmente a coisa começa a fluir. Finalmente algumas perspectivas revolucionárias. E os putos começam a perceber a coisa.

25 DE ABRIL-O QUE FAZ FALTA

Sábado, Abril 25, 2009
25 de Abril - o que faz falta
Paulo Esperança (*)


A 25 de Abril de 1974 o capitalismo português estava numa encruzilhada de difíceis opções. Incapaz de continuar a resistir ao ostracismo que a comunidade internacional lhe impunha, considerava-se limitado para fazer expandir a sua voracidade de negócio extra-muros. Internamente, a política de “se quereis um povo forte e humilde dai-lhe fome” também não garantia a estabilidade necessária à prossecução dos seus objectivos.
A miséria “honesta” glorificada nos filmes de propaganda da Mocidade Portuguesa e do SNI já não colhia muitos adeptos. “Uma casa portuguesa”, Amália e Eusébio, “amendoeiras em flor”, “Fátima terra de fé”, “forcados e festa brava” já não significavam garantia de entrada de capital provindo do investimento estrangeiro.
O capitalismo português estava condicionado pela política do garrote. As suas regras de concorrência não tinham interlocutores nem consumidores, alimentavam-se autofagicamente da luta entre os vários grupos monopolistas amancebados com o regime. A repressão desenfreada, a sobrelotação das prisões políticas, a pobreza e a fome, as guerras coloniais não optimizavam a imprescindível paz social.
Para o capitalismo português, o marcelismo – derradeira esperança regeneradora – viria a representar uma oportunidade perdida – definitivamente a última.
Havia, portanto, que fazer algo ou aceitar que as coisas tinham de mudar.
Nascia, finalmente, “o dia inteiro e limpo”!
No écran do país passava um filme que não era suposto constar do programa mas que estava mesmo a acontecer.
O capitalismo português coçava-se na cadeira, olhava de soslaio, cofiava o bigode. “Inexplicavelmente” um povo até aí relativamente ordeiro e mudo extravazava as suas “competências” lançando-se numa panóplia de reivindicações imprevisíveis.
As fábricas passavam a ter outros métodos de direcção e produção, muitas terras foram parar à mão de quem as trabalhava, as casas vazias serviam de habitação a gente vinda das “ilhas”e das barracas, as escolas elegiam alunos e funcionários para os seus órgãos representativos. Os sindicatos radicalizavam-se, surgiam comissões de, trabalhadores, moradores, camponeses, soldados e marinheiros, a cantiga era uma arma, o povo unido jamais seria vencido.
Como sempre, o capitalismo não estava a dormir.
A “vingança serve-se fria”: investir tacticamente na razoabilidade e em quem pudesse controlar os excessos era a solução circunstancial para fazer crescer harmonicamente o novo regime.
Passado o medo inicial resultante da constituição de governos provisórios que misturavam gente “reconvertida”, comunistas seculares e democratas republicanos, o capitalismo português percebeu que a criação duma filosofia de apostas em vários “jokers” seria a melhor forma de atingir o seu desiderato.
Mário Soares e Frank Carluci, PCP “versus” esquerda radical, Sá Carneiro e Freitas do Amaral a aguentarem os saudosos do que tinha acabado. Pelo meio, os restos da “brigada do reumático” arvorados em militares democratas.
Estavam criadas as infra-estruturas mínimas para não deixar que o “barco descambasse”.
E não descambou!
O futuro já não era agora e depressa foram fechadas as “portas que Abril abriu”!
Apesar dos sonhos perdidos, das esperanças defraudadas ou do revanchismo dos vencedores não se pode dizer que esta região do mundo está, em absoluto, pior que antes de 1974.
É certo que já não há presos políticos e torturas policiais….mas de vez em quando ainda se dão uns tiros para o ar que, geralmente, acertam em “pretos” ou “ciganos”.
É verdade que nas últimas três décadas a economia portuguesa foi das que mais cresceu na média europeia…apesar da sua evidência ser a crise anunciada!
Os “sem-abrigo” foram reconhecidos oficialmente como sector social de risco e em invernos gélidos são-lhes postas à disposição tendas para dormirem ao relento em melhores condições.
O uso das comunicações democratizou-se - Portugal tem a maior taxa europeia de penetração de telemóveis … e também de acidentes de trabalho.
Muita gente carenciada desfruta do Rendimento Social de Inserção… e a “sopa dos pobres” têm cada vez mais clientes.
Enquanto as condições de vida procriavam miséria e desigualdades em muita gente o capitalismo português, sem precisar de esperar pelo “fim do filme”, ia reconstruindo o seu império desta vez em democracia e no respeito pela legalidade.
Tudo emoldurado com os princípios farisaicos de que … é preciso “padecer hoje para ser feliz amanhã”… “melhores dias virão”… e ”não há mal que sempre dure”!
O “assim na terra como céu” … ficava para depois!
No país do oásis convenceram-nos que a culpa do deserto árido é de todos, ou seja, não é de ninguém!
Este disco de “lenga-lenga” está riscado há trinta e cinco anos!
Mesmo assim, apesar do “vira o disco e toca o mesmo” o poder de Estado tem sido, neste trinta e cinco anos, notável na recuperação que faz dos seus objectivos, dos seus valores, dos seus métodos e das suas conquistas.
A exploração capitalista passou a ser justificável como forma de compensação à ousadia de investimento. A imbricação dos trabalhadores com a produtividade é vista como imprescindível para que os empresários não fechem as fábricas e possam garantir – muitas vezes fora de horas - o mínimo de salários para quem vende a sua força de trabalho. O controle da vida pessoal dos trabalhadores, incluindo a cronometragem das suas necessidades fisiológicas, passou a ser apresentada como forma de despistar os madraços. Os avultados lucros, a especulação bolsista, o locupletamento à custa da mais-valia produzida, os sinais ostensivos de riqueza são naturalmente tolerados como prémio a que os vencedores têm direito pela sua capacidade de arriscar.
O poder legislativo e executivo implementam estas atitudes e favorecem-nas com medidas que em muitos países da Europa são já arqueologia.
O “sol passa a pôr-se à meia-noite” para que o Código do Trabalho possa aliviar a folha de salários de quem pretende proteger despedindo e saneando à “tripa-forra”.
Se a saúde “vai mal” oferecem-se chorudos negócios à iniciativa privada à custa do sacrifício no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Os bancos e as grandes multinacionais aproveitam a “terra de ninguém” para se apropriarem da riqueza produzida em troca dumas míseras centenas de euros que pagam de IRC não se coibindo de vigarizar as contas para declararam a sua potencial insolvência e porem o “pessoal” a contribuir para as suas “melhoras”.
Os “pobres que paguem a crise” tem sido a criadora inovação do poder que lhe juntou também o que consuetudinariamente se chama “classe média”.
O desespero perante tamanhas iniquidades, a nostalgia salutar de Abril, a raiva sentida contra a injustiça, “os gordos a engordarem cada vez mais”, tudo isto faz com que, amiúde, a esperança seja derradeira e o virar de costas assuma carácter de dignidade.
Mas ninguém de boa-fé se sente humanamente reconfortado ao ver que “quem se lixa é sempre o mexilhão”!
Por isso as coisas podem mudar!
Há trinta e cinco anos esta região do mundo viveu um sonho que - sem embargo dos pesadelos que lhe sucederam - ninguém consegue iludir. Esse sonho baseava-se na rejeição do que ficara para trás e na perspectiva do que poderia ser um futuro diferente. Esse sonho foi sorrateiramente – mais tarde, às escancaras – vilipendiado e ofendido. Esse sonho partia dum princípio que deve reger os seres humanos de “boa vontade”: é preciso fazer o que faz falta!
A vida política portuguesa ao longo destes últimos trinta e cinco anos foi-se adaptando aos possibilismos retirando do imaginário colectivo a luta pelas utopias. Os próprios arautos da revolução foram-se rendendo em nome de estratégias de aproximação ao Poder. O Estado, entretanto, aproveitava e assumia o seu papel natural de patrão autocrático secando alternativas e silenciando propostas.
Hoje não há lugar para “ meias tintas”: ou se desiste ou se luta pelo que faz falta!
A democracia representativa foi construindo paulatinamente a sua “galinha dos ovos de ouro”. Nos períodos pré-estabelecidos e só nesses, convoca o público para o ringue. Em vez de lhe dar porrada como no resto do tempo oferece-lhe esferográficas e bonés, bandeiras e porta-moedas. Cumprimenta-o fraternalmente e até aceita ser tocada numa qualquer feira semanal. Em situações de crise de confiança oferece frigoríficos e electrodomésticos variados. Depois, umas “lágrimas de crocodilo” assemelhando-se a autocrítica comovem o coração dos renitentes enquanto umas promessas de aumento nas pensões fazem o resto.
O povo votou, o “juiz” decidiu, está decidido. O seu corpo está vivo porque a “sua menina dos olhos” funcionou. O espectáculo tem de continuar, agora só nos bastidores.
Nesta fase do “campeonato”, confrontar o poder – e os esquemas partidários que nele vivem, independentemente das sazonais discordâncias - com o desprezo perante este tipo de encenações poderá constituir uma boa forma de fazer demonstrar que Abril de 74 não aconteceu para só certificar embustes.
O primeiro grande embuste a desmascarar será o paradigma do seu órgão vital – a sua “menina dos olhos” - as suas eleições evidenciando o que se faz com um simples acumular de votos.
A seguir, o corpo nascido desse acumular de votos realçando que a representatividade não significa delegação e só é escrutinável “nas épocas de caça”.
Esta denúncia, esta vontade de “ver o rei nú” merece ser publicamente assumida como bandeira.
É tempo de, organizadamente, afirmar que nem sempre tem de ser como o poder quer. É possível fazê-lo confrontar com as consequências e mistificações do seu próprio discurso.
As forças que enjeitam a intervenção institucional agindo sozinhas só têm que deixar de lado o conceito isolacionista de “no meu quintal mando eu” sabendo discernir qual o principal alvo a contraditar.
Para que não andemos mais trinta e cinco anos “a ver se vemos o caminho a percorrer entre o Abril que fizemos e o que está por fazer”.

(*) Paulo Esperança, natural e residente no Porto, activista político e partidário antes e depois do 25 de Abril de 74, hoje está ligado ao associativismo de intervenção cívica e cultural. Por exemplo, faz parte da Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque.
Profissionalmente, é funcionário público.
http://josecarlospereira.blogspot.com/

sábado, 25 de abril de 2009

SOMOS TODOS TERRORISTAS E ANTI-CAPITALISTAS


1º de Maio Anticapitalista & Anti-autoritário - Manifestação - Jardim Príncipe Real – 16h, Lisboa


O 1º de Maio evoca aqueles que morreram na luta contra o capital. Desta forma, nunca poderá ser uma celebração. Por outro lado, em circunstância alguma se deverá homenagear uma das suas formas de escravatura: o trabalho ou o estatuto de trabalhador nos moldes de uma sociedade capitalista e autoritária.

A nossa luta é directa e global, contra todxs xs que nos exploram e oprimem, contra o patrão no nosso local de trabalho, contra o bófia no nosso bairro, contra a lavagem cerebral na nossa escola, contra as mercadorias com que nos iludem e escravizam, contra os tribunais e as prisões imprescindíveis para manter a propriedade e a ordem social.

Não nos revemos no simulacro de luta praticado pelxs esquerdistas, ancoradxs nos seus partidos, sindicatos e movimentos supostamente autónomos. Estes apenas aspiram a conquistar um andar de luxo no edifício fundado sobre a opressão e a exploração, contribuindo para dar novo rosto à miséria que nos é imposta.

Recusamos qualquer tentativa de renovação do capitalismo, engendrada nas cimeiras dos poderosos ou na oposição cínica posta em cena pelos fóruns dos seus falsos críticos. Não tenhamos ilusões. Não existe capitalismo “honesto”, “humano” ou “verde”. A “crise” com que nos alimentam até à náusea não é nenhuma novidade. A precaridade não é só um fenómeno da actualidade, existe desde que a exploração das nossas vidas se tornou necessária à sobrevivência deste sistema hierárquico e mercantil.

Porque queremos um mundo sem amos nem escravos, apelamos à resistência e ao ataque anticapitalista e anti-autoritário. E saímos à rua.

http://redelibertaria.blogspot.com

quinta-feira, 23 de abril de 2009

MANIFESTO ANTI-SÓCRATES


Sócrates é arrogante
Sócrates diz que é dialogante
mas não é
Sócrates é bem falante
Sócrates vai ao cu ao elefante
Sócrates é elegante
Sócrates é um altifalante
Sócrates é um inimigo da vida
Sócrates é um filho da puta
Sócrates é o representante
de tudo o que há de mais vil e desprezível
Sócrates é rebanho
Sócrates é do tamanho
da hipocrisia
Sócrates é o primeiro-ministro
Sócrates é o primeiro sinistro
Sócrates é ladrão
Sócrates é um cabrão
Sócrates é cinzentão
Sócrates ainda não sabe
o que penso dele
talvez me processe
talvez chame a polícia
o exército
a repressão toda
morra o Sócrates! Morra Pim!

Sócrates é um profeta da morte
Sócrates ama os bancos
ama a bolsa
ama o mercado
Sócrates não está isolado
Sócrates tem os seus seguidores
Sócrates é um inquisidor
Sócrates é um ditador
Sócrates não tem sensibilidade
Sócrates não tem humanidade
Sócrates merece cair
Morra o Sócrates! Morra pim!

Sócrates é vigarista
Sócrates é corrupto
Sócrates só pensa no viaduto
Sócrates é quadrado
Sócrates é formatado
Sócrates é uma alforreca
Sócrates é uma pata marreca
Sócrates é uma seca
Sócrates é uma queca mal dada
Sócrates é obra
Sócrates é estrada
Sócrates é TGV
Sócrates é aeroporto
Sócrates é avião
Sócrates é o alcatrão
que nos envenena
Morra o Sócrates! Morra Pim!

Sócrates é vaidade
Sócrates é uniformidade
Sócrates é autoritário
Sócrates irrita-se
Sócrates diz que está a ser caçado
Sócrates tem mau olhado
Sócrates é televisionado
Sócrates está em todo o lado
Sócrates é controlado
mas, às vezes, quase perde o controle
Sócrates não é mole
Sócrates é disciplinado
Sócrates é telecomandado
Sócrates é um robot
morra o Sócrates! Morra Pim!

Sócrates é uma merda
Sócrates não vale nada
Sócrates dá trabalho
Sócrates é um caralho
Sócrates é um empecilho
Sócrates come milho
Sócrates é um galináceo
Sócrates é um pascácio
Sócrates é fascista
Sócrates é um ilusionista
Sócrates é um contorcionista
Sócrates é um equilibrista
Sócrates é uma fatia de pizza
morra o Sócrates! Morra Pim!

Sócrates é um cataclismo
Sócrates é um autoclismo
Sócrates está ao serviço
dos banqueiros e dos capitalistas
Sócrates é um chulo
Sócrates fica fulo
sempre que o contrariam
Sócrates vai ao ringue
Sócrates dá alguma luta
mas não passa de um bom filho da puta!

PARTIDO SURREALISTA SITUACIONISTA LIBERTÁRIO

A GUERRILHA DE DIONISOS


Uma pausa no speed
uma pausa na "Motina"
a ouvir a D. Rosa
que também tem dúvidas existenciais
e que fala da solidão e da luz
e que fala com toda a gente
e que tem saudades da cidade
e que pintava santos
mas vem a rádio e fala na crise
a crise está em tudo
a crise devora tudo
até os capitalistas e os banqueiros
até os capitalistas e os banqueiros
se começam a sentir desesperados
e isso é bom
dá gozo ver que os lucros baixam
que as bolsas caem
sinto-me um Nero
no meio do incêndio de Roma
só não fui eu que o casei
mas agora quero que ele alastre
que os campónios da Bolívia
se revoltem finalmente
em vez de nos andarem a denunciar
à polícia e ao exército
em vez de se andarem a maldizer
uns aos outros
em vez de andarem a cuscuvilhar
a vidinha alheia
em vez de continuarem a votar sempre
nos mesmos gajos
sabe, D. Rosa,
eu tenho de continuar a acreditar no Homem
embora ele, muitas vezes, o não mereça
a senhora é crente, bem o sei
mas o único verdadeiro cristão morreu na cruz,
já o disse Nietzsche
eu sei que pareço um solitário incorrigível
um poeta triste e só
mas na cidade tenho muitos amigos e conhecidos
e amigas e companheiros e camaradas
saiba que a onda está a crescer
a disseminar-se por novas paragens
mesmo que vá com a treta das gajas boas
a coisa resulta
agora não ouça, D. Rosa
é preciso juntar o sexo à revolução
mesclar o Che Guevara com o marquês de Sade
Jim Morrison com Bakunine
Marx com Nietzsche
Dionisos com Debord
isto nada tem de incoerente,
caros teóricos,
é a vida
a própria vida
as pulsões vitais
contra a morte capitalista
é a frase curta, incisiva
que vem do punk
a faca
a facada
a noitada
a dançar

e o nome do deus é Dionisos.

Vilar do Pinheiro, 23.4.2009

NA GUERRILHA


Fui a Famalicão e só lá deixei 70 cêntimos. O comércio famalicense deve andar chateado comigo. É claro que lá fui por causa do amor e não do comércio. Aliás, já ando para aí a proclamar que estou à margem do espírito e do sistema moedeiro e merceeiro. Não deixo de ser coerente com as minhas teses. Sou coerente no meio da minha incoerência e da minha loucura. Não estou no meio do mato ou da floresta a combater, na guerrilha. Não tenho de seguir qualquer disciplina rígida. Combato com as palavras, é certo. Mas aí não sou disciplinado embora persiga objectivos concretos. O Che e outros combatem na guerrilha e a guerrilha não tem nada de romântico. Passas fome, passas por várias privações, ou matas ou morres. Faziam-se até fuzilamentos por muito criticável que isso possa ser. Gosto muito mais de andar de comboio do que de metro. Prefiro os revisores áquelas máquinas que às vezes falham e aos controleiros que aparecem quando menos se espera. Não gosto de controleiros por muito que admire Fidel Castro e Hugo Chávez. Há situações de resistência em que é preciso controle e disciplina, admito. Mas esse não tem sido o meu departamento. Sempre que seguia uma disciplina mais tarde ou mais cedo acabava por rompê-la. Aconteceu isso nos partidos. E cheguei a receber sanções por causa disso. Nos partidos há hierarquias, há controle e eu já não vou nessa cantiga. O Jerónimo, o Louçã seguem a via deles e eu a minha. É essa a questão. Cada um desempenha o seu papel. Eu tenho a vantagem de não ter as ditas responsabilidades de direcção, de não ter nada e quase nada a perder. Posso dizer ou escrever aquilo que quero e quando quero. A questão é a mensagem passar, ser ou não publicada ou divulgada. Eu já tenho conseguido furar a barreira. É claro que depende do público que temos. Não vou dizer um poema pornográfico perante uma plateia de senhoras de 70 anos. Tenho sido, de facto, mas particularmente nos últimos anos um guerrilheiro à minha maneira, um guerrilheiro da palavra. Temos é de escolher bem quem vamos raptar. Há pessoas, indivíduos, mercadores, de quem não tenho pena nenhuma. É triste vermos, como o Che, que os camponeses não nos apoiam ou que até nos traem. Eles não entendem que estamos a lutar por eles. Que queremos dar-lhes comida, assistência médica, ensiná-los a ler e a escrever.

PCTP/MRPP


PARTIDO COMUNISTA DOS TRABALHADORES PORTUGUESES (PCTP/MRPP)

Declaração


NÓS, TRABALHADORES,
QUEREMOS TER VOZ PRÓPRIA
NO PARLAMENTO EUROPEU!



A lista de candidatos ao Parlamento Europeu que acabou de ser entregue - e a qual tenho a honra de encabeçar - constitui algo mais do que uma candidatura do PCTP/MRPP ao acto eleitoral do próximo dia 7 de Junho. Ela consubstancia a vontade dos trabalhadores portugueses em virem a ter a sua própria voz representada no Parlamento Europeu nesta hora de profunda crise global do capitalismo.

Mais ainda: esta candidatura está certa e segura de ser esse igualmente o desejo de todos os trabalhadores europeus nos respectivos actos eleitorais que em Junho terão lugar em cada um dos países da União Europeia.

Essa voz tem que fazer-se ouvir e vai fazer-se ouvir!

Neste contexto, esta candidatura irá pugnar pela verdade e combater toda a espécie de ilusões, doa a quem doer.

A presente crise pôs abertamente a nu a falência da União Europeia como estrutura regional de coordenação económica ao serviço do grande capital. E, do mesmo passo, colocou ainda mais a nu a política de direita do Governo do engº. Sócrates, a qual, entre outras coisas, até nos sonegou a promessa eleitoral do PS de submeter a referendo o chamado Tratado de Lisboa.

Assim, impõe-se nesta campanha fazer um balanço sério da chamada «integração europeia»; é preciso saber para que serviram e para que bolsos foram os «fundos comunitários».

Impõe-se também denunciar a natureza do capitalismo, a responsabilidade da União Europeia e do Governo Sócrates na presente crise e, ao mesmo tempo, defender uma forma alternativa, socialista, de organização do sistema económico e político – seja ao nível do país, seja ao nível regional e europeu.

Importa construir na luta a organização revolucionária dos trabalhadores portugueses e europeus, e defender medidas imediatas de combate à crise com esse conteúdo. Esta será a marca-de-água da presente candidatura às eleições europeias.



Lisboa, 23 de Abril de 2009.

P’la Candidatura do PCTP/MRPP,


Orlando Alves.

www.pctpmrpp.org
pctp@pctpmrpp.org

O FASCISMO AINDA EM SANTA COMBA DÃO

A praça é conhecida por Largo da Praça
Resistentes Antifascistas indignados com a escolha do nome Salazar para praça central de Santa Comba Dão
23.04.2009 - 09h06 Sandra Ferreira
A polémica está instalada em Santa Comba Dão. O presidente do município, João Lourenço (PSD), escolheu as comemorações do 25 de Abril para inaugurar, nada mais, nada menos, do que a Praça de António Oliveira Salazar, nome do ditador, natural do concelho. "É uma provocação", considera Alberto Andrade da União dos Resistentes Antifascistas (URAP), referindo-se à escolha do autarca.

O anúncio está divulgado no site do município. O presidente da autarquia, João Lourenço, considera que a escolha da data é uma "coincidência feliz" por ser sinónimo de que as obras de requalificação da praça estão concluídas.

O autarca explica que pretendia fazer a inauguração da praça num feriado e, como as obras estavam prontas, não viu qualquer razão para fazer adiamentos. Considera que as comemorações do 25 de Abril devem incluir inaugurações de obras "relevantes" para o concelho. "Se fosse no dia 1 de Maio, seria nessa data, mas como estão prontas agora será no dia 25 de Abril", argumenta. Lourenço exclui qualquer significado político pela decisão tomada, a não ser a de "maturidade política". Se assim não fosse, adianta, não seria possível inaugurar a praça com o nome do ditador no mesmo dia em que se assinala a Revolução dos Cravos, afirma.

Alberto Andrade da URAP tem outro entendimento e fala em "provocação directa aos capitães de Abril, a todos os democratas e à constituição portuguesa". E escolhe três adjectivos para classificar a escolha do presidente, eleito pelo PSD: "Irresponsável, fascizante e salazarenta."

João Lourenço devolve a crítica, afirmando que "mais fascista" é quem insiste em querer "apagar da memória um homem, que quer se goste ou não, faz parte da história". Assegura que apesar de estar empenhado em concretizar o Centro de Estudos do Estado Novo, nas antigas casas da família do ditador, em Vimieiro (Santa Comba Dão), não é simpatizante de Salazar. Mesmo assim, admite que poderia ter evitado a polémica se tivesse optado por divulgar a obra pelo nome que é conhecida (Largo da Praça) em vez de António Oliveira Salazar.

De qualquer forma, "a praça tem o nome do ditador e é algo que não podemos negar", argumenta João Lourenço. A Praça de Salazar fica situada na zona urbana da cidade, em frente à Junta de Freguesia de Santa Comba Dão, onde existem muitas tasquinhas. Os festejos do município foram divulgados há cerca de uma semana, sem que qualquer cidadão se tenha mostrado incomodado, assegura o autarca. E diz não reconhecer qualquer autoridade à União de Resistentes Antifascistas, acusando mesmo a organização de ter uma visão "totalitária".

As comemorações do 25 de Abril em Santa Comba Dão incluem o lançamento de um livro e exposição de Hugo Coimbra intituladas Guiné. Saudade e Sofrimento, porco no espeto e a actuação da Tuna Santo Estevão.

www.publico.clix.pt