terça-feira, 31 de março de 2015
O REGRESSO A NÓS MESMOS
Estas pessoas que vêm tranquilamente à confeitaria não são representativas da sofreguidão que vai lá fora. Não é vida o que lá se vive, é corrida, é competição. E os partidos de esquerda não falam disto, não sei porquê. É o "Big Brother" de Orwell, senhores. Os nossos pagamentos, os nossos movimentos na net são vigiados pelo Estado e pelo capitalismo. Os media atentam contra a nossa inteligência, contra a nossa sensibilidade. Sim, temos de saber ler. Senão os dias continuarão a ser monótonos, iguais. É necessária uma revolução. Primeiro, uma revolução nas nossas cabeças, uma revolta contra o instituído, uma revolta contra aquilo que nos querem impor, contra a "vida" que nos querem impor, contra os inimigos da vida autêntica: governo, capitalistas, especuladores, banqueiros, "investidores". É necessária a redescoberta da inocência, da infância, da criação, da arte. É necessário que discutamos o recomeço. Que nos encontremos sem pressas nem pressões, sem chefes a mandar em nós. É necessário que redescubramos a vida, o falar livremente, o cantar, tocar e dançar, o happening, a poesia. É necessário que voltemos a nós mesmos, àqueles que éramos na juventude, sem papões, sem opressões, sem castrações, sem fatalismos.
quinta-feira, 26 de março de 2015
O ÚLTIMO DOS HOMENS
Estou no café. A Cleo
nunca mais vem. Ontem foi noite de glória no Pinguim. A brasileira e o amigo
pedrado encantados com a minha poesia. Risos e palmas. Estarei a converter-me
numa estrela? É o António Pedro Ribeiro, dizem. O poeta maldito que vai aos
bares vomitar poesia. Sim, ganhei uma certa fama. Provavelmente quando ainda
era o Peter Owne já a desejava. Fui construindo um caminho. A rádio. O DN
Jovem, suplemento do "Diário de Notícias". O "Correio do
Minho". "Gritos. Murmúrios", o primeiro livro com o Rui Soares.
As primeiras sessões de poesia no Tuaregue, em Braga, com a Natércia. O JUP.
Fui subindo. Construindo uma imagem. Os Ébrios. O hipermercado. O Jaime Lousa.
A candidatura a deputado pelo PSR por Braga. As lutas estudantis. As listas R e
Z. A Faculdade de Letras do Porto. Sim, às vezes abusei, às vezes segui a
estrada do excesso e da loucura mas procurei sempre a liberdade livre, a mulher
livre. Já em 2004 com a reportagem do "Comércio do Porto" no
"Púcaros" sobre o "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" e com o
anúncio da candidatura à Presidência da República a fama batia à porta. Mais
tarde, em 2006, veio a "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro",
graças ao Valter Hugo Mãe, e a actuação memorável no Festival de Paredes de
Coura. Depois vieram as idas à Antena 1, à Antena 3, à "Prova Oral",
ao "Valter Hugo Mãe" no Porto Canal e ao "É a Vida Alvim!"
do Fernando Alvim, no Canal Q, bem como as críticas e notas no "Diário de
Notícias" e "Jornal de Notícias". De facto, penso que estou a
caminho de atingir alguma coisa. Tenho os meus admiradores e detractores. Tenho
um legado a deixar, como diz a Maria Oliveira. Sou único, já o dizem. Passei
pelo céu e pelo inferno. As pessoas dizem os meus poemas. Há quem me admire porque
sou diferente. Não segui a linha recta. Ainda Inventamos. Discutimos ideias
como Sócrates e Platão. Temos alma e coração. Por isso prosseguimos viagem. Por
isso chegámos até aqui. Com todas as curvas que demos. Com todos os copos que
bebemos. Com todos os que fomos. Não, miúda, não esperes de mim a normalidade.
Eu não sou o senhor atinado que aparento. Eu berro. Eu vocifero. Eu sou louco.
Eu sou o último dos homens.assim talvez tenha algo de santo, no sentido de
Agostinho. Sim, tenho em mim a bondade mas também a sacanice. Venho de ti,
Jaime Lousa. Venho de ti, Sebastião Alba. Venho de ti, Bukowski. Venho de ti,
Henry Miller. Passaria o resto da tarde a beber. Não estou a disputar cargos,
não estou a seguir uma carreira, não estou a atropelar ninguém. Consigo ser
completamente louco, querida. Vê como danço, como parto os vidros. Não tenho
escrito aqueles poemas satíricos que fazem rir. Tenho de retomá-los. Não te
passa a ti, querida, enquanto lavas a loiça, as histórias por que passei. Desde
julgar-me Deus, Jesus, Satã, até incendiar carros ou fazer revoluções. Mas hoje
sou apenas um poeta pacato a beber a sua cerveja, a olhar para a menina. Volto
ao palco na quinta, no Olimpo. Até lá leio, escrevo e espreito as mulheres. São
diferentes umas das outras. Umas mais atiradiças, outras mais reservadas. Umas
mais apagadas, outras mais vistosas. Todas, no entanto, desorientadas neste
mundo mecânico de homens. De homens empreendedores, produtivos, técnicos,
especialistas, sem sensibilidade, sem coração. Esses homens que dominam os
bancos, os governos, as grandes empresas. Não somos como eles. Criamos na
folha.
sexta-feira, 20 de março de 2015
GENTE QUE AINDA VIVE
As manifestações e os protestos de Frankfurt provam que também na Alemanha, no império de Merkel, há vozes que resistem à austeridade e ao capitalismo. Os movimentos Blockupy e Attac solidarizaram-se com o povo grego e com os países mais afectados pela crise e denunciaram os 1,3 mil milhões de euros gastos na nova sede do Banco Central Europeu. É escandaloso que se gastem milhões em obras faraónicas enquanto muitos sobrevivem na miséria. É escandaloso que Draghi, Merkel e os banqueiros nadem em milhões enquanto nós contamos os trocos e outros dormem nas ruas. De qualquer forma, abre-se uma frente anti-capitalista e anti-imperialista na Europa e na América Latina. Muito graças à coragem e ao exemplo de Chávez, não o esqueçamos. Convém, no entanto, também não esquecer que o capitalismo não dorme. Que quer instalar um governo mundial não eleito. Que quer colocar tudo na mão dos computadores e da finança. Não esqueçamos que todas as nossas compras, todos os nossos movimentos na Internet são gravados e podem ser usados pelos governos ou por empresas privadas. Eis o novo "Big Brother" para lá da lavagem ao cérebro televisiva. A qualquer momento poderemos ser perseguidos pelas nossas posições políticas ou pelas nossas crenças religiosas. Contudo, como disse atrás, apesar do monstro há gente que se levanta. Gente que, se calhar, já pouco ou nada tem a perder. Gente que tem consciência de que está a ficar sem tempo porque o capitalismo lhe rouba o tempo, gente que não se quer limitar a trabalhar e a consumir, gente que se entedia de um dia-a-dia sem explosão, sem novidade, sem poesia. Gente que não suporta mais o controle e a polícia. Gente que ainda vive.
quinta-feira, 19 de março de 2015
A. PEDRO RIBEIRO AO JORNAL DIGITAL EM 16.6.2006
Braga - O politicamente incorrecto poeta portuense António Pedro Ribeiro veio a Braga, quinta-feira, apresentar a sua «Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro e Outras Pérolas - Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário», obra surrealista e directa que não poupa nas palavras fortes para fazer uso da liberdade de expressão.
«Ele tem um modo de estar arrogante, intolerante e mecânico, um modo de falar robótico, tecnológico», diz Pedro Ribeiro sobre José Sócrates, actual chefe do Governo português, a quem dedica o poema que dá nome ao seu mais recente livro. Mas além do primeiro-ministro, que o autor, rebelde assumido, pretende ver «num filme porno», há outros visados. «Este livro não é apenas uma dedicatória a José Sócrates, é um livro assumidamente anarquista, guevarista. Todos os poderes estão em causa, não é só o primeiro-ministro», explicou o próprio ao Jornal Digital aquando do lançamento na Livraria Centésima Página, em Braga, cidade onde viveu muitos anos.«Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro», título cuja escolha «não foi inocente», reconhece o autor, é também um manifesto contra o que se passa actualmente nos partidos políticos em Portugal. Os três primeiros textos são dedicados à Póvoa de Varzim, Porto e Vila do Conde «e respectivos presidentes de Câmara», refere o poeta. Com a primeira autarquia diz ter «uma especial relação de amor. Mais até do que com Sócrates». E nem a Igreja nem os jornalistas escapam à visceral «paixão» de Pedro Ribeiro.A obra, editada no início do ano pela objecto cardíaco, do escritor valter hugo mãe, que esteve presente na apresentação, é «muito influenciada» por leituras que o autor fez no Verão passado. Admirador dos situacionistas e dos surrealistas, o poeta utiliza algumas técnicas que estes usaram, nomeadamente a colagem. Em muitos dos seus textos mistura, por exemplo, excertos de notícias de jornais com frases suas ou de outros autores.Fundador da revista «aguasfurtadas», A. Pedro Ribeiro, que nasceu no Porto no famoso ano de 1968, publicou já outros livros e manifestos. «Eu também escrevo poemas de amor melancólicos», lembra o escritor que é também autor do blog «trip na arcada» e membro da banda Las Tequillas. Alguém que acredita «que a criatividade é o último reduto da rebelião».Madalena Sampaio
«Ele tem um modo de estar arrogante, intolerante e mecânico, um modo de falar robótico, tecnológico», diz Pedro Ribeiro sobre José Sócrates, actual chefe do Governo português, a quem dedica o poema que dá nome ao seu mais recente livro. Mas além do primeiro-ministro, que o autor, rebelde assumido, pretende ver «num filme porno», há outros visados. «Este livro não é apenas uma dedicatória a José Sócrates, é um livro assumidamente anarquista, guevarista. Todos os poderes estão em causa, não é só o primeiro-ministro», explicou o próprio ao Jornal Digital aquando do lançamento na Livraria Centésima Página, em Braga, cidade onde viveu muitos anos.«Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro», título cuja escolha «não foi inocente», reconhece o autor, é também um manifesto contra o que se passa actualmente nos partidos políticos em Portugal. Os três primeiros textos são dedicados à Póvoa de Varzim, Porto e Vila do Conde «e respectivos presidentes de Câmara», refere o poeta. Com a primeira autarquia diz ter «uma especial relação de amor. Mais até do que com Sócrates». E nem a Igreja nem os jornalistas escapam à visceral «paixão» de Pedro Ribeiro.A obra, editada no início do ano pela objecto cardíaco, do escritor valter hugo mãe, que esteve presente na apresentação, é «muito influenciada» por leituras que o autor fez no Verão passado. Admirador dos situacionistas e dos surrealistas, o poeta utiliza algumas técnicas que estes usaram, nomeadamente a colagem. Em muitos dos seus textos mistura, por exemplo, excertos de notícias de jornais com frases suas ou de outros autores.Fundador da revista «aguasfurtadas», A. Pedro Ribeiro, que nasceu no Porto no famoso ano de 1968, publicou já outros livros e manifestos. «Eu também escrevo poemas de amor melancólicos», lembra o escritor que é também autor do blog «trip na arcada» e membro da banda Las Tequillas. Alguém que acredita «que a criatividade é o último reduto da rebelião».Madalena Sampaio
quarta-feira, 18 de março de 2015
O QUE TEM MAIS VALOR É O QUE NÃO TEM PREÇO
"O que tem mais valor é o que não tem preço", afirma Guilherme d' Oliveira Martins. E o que tem mais valor é a cultura, o amor, a liberdade. Daí que para combater a barbárie do capitalismo e do jihadismo faça todo o sentido o entregar-se ao debate, ao conhecimento, ao pensamento crítico. À idolatria do mercado e do dinheiro devemos contrapor a sabedoria dos mestres, a criação de obras de arte, o debate sobre a cidade. Só assim nos tornaremos nobres, só assim seremos livres. A cultura, a arte, a literatura elevam-nos. Não o safanço, não a adaptação a qualquer preço, não o passar por cima do outro. Cultivemos a criatividade do espírito. Enriqueçamo-nos. E demos amor uns aos outros.
quinta-feira, 12 de março de 2015
O COMBATE PELA MENTE
Como avisar as pessoas de
que estão a ser controladas? Elas têm acesso à net, aos livros de Chomsky, de
Zizek, de Sartre, de Marcuse. Mas, na sua grande maioria, não os procuram.
Aliás, uma grande parte está perdida, irremediavelmente perdida. Penso que
teremos que nos dirigir preferencialmente aos jovens e à pequena burguesia
urbana. Lamentavelmente, já não acredito na classe operária. Os filósofos e os
sociólogos raramente são chamados a intervir nos grandes canais de televisão. Nós próprios não somos convidados a escrever nos
grandes jornais. Porquê? Porque nós pomos os media e o próprio sistema em
causa. Teríamos de ter o nosso próprio jornal. Meus amigos, estais a ser
levados por um bando de moedeiros e merceeiros que vos quer fazer a mente e vos
quer condenar à lei do dinheiro e do lucro. O grande combate do século é o
combate da mente. Tendes de ser os donos da vossa mente e não os escravos dos
merceeiros. Tendes de pensar por vós próprios e desligar a televisão. Meus
amigos, eles controlam o vosso trabalho e o vosso "tempo livre". Meus
amigos, não podeis aceitar mais. A vida é vossa. Viestes ao mundo livres. Não
viestes para uma prisão. Viestes para a festa e para a sabedoria, não para o
controlo, não para a castração. Viestes debater o homem como Sócrates em
Atenas. Viestes para o amor. Não para um trabalho alienado, para uma vida
alienada que vos afasta da felicidade por muito que disfarceis. Não para o
tédio e para a rotina que vos infernizam os dias sempre iguais. Não para a
não-vida. Não para a morte em vida.
segunda-feira, 9 de março de 2015
MANIPULAÇÃO MEDIÁTICA
Segundo Noam Chomsky, há várias estratégias de manipulação mediática capitalista. A primeira consiste em desviar a atenção dos problemas mais importantes. Daí a relevância dada aos programas de entretenimento, à vida das vedetas, às telenovelas, ao futebol, à "Casa dos Segredos". Outro estratagema é criar/inventar uma crise económica para que as pessoas aceitem o retrocesso social, a baixa dos salários, o desemprego, as privatizações. Há ainda a aceitação pública do sacrifício futuro. As massas têm esperança que tudo melhorará amanhã por isso aceitam o sacrifício. Outra arma é a infantilização do telespectador. Este fica desprovido de sentido crítico como Homer Simpson. Aceita tudo passivamente. A emotividade sobrepõe-se ao racional. O público mantém-se na ignorância.
Por outro lado, a qualidade dada à educação das classes inferiores deve ser o mais pobre e medíocre possível. A escola pública deve ser desprezada.
O que passa nos media, as próprias letras de algumas canções fazem o indivíduo acreditar que é o culpado da sua própria desgraça, tal muitos psicólogos e psiquiatras. Não há causas exteriores, o indivíduo é o culpado de todos os males, a sociedade não é culpada.
De realçar ainda que os avanços da ciência têm provocado clivagens entre os conhecimentos do público e o das élites dominantes. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo. O sistema exerce um controle maior sobre os indivíduos do que os indivíduos sobre si mesmos.
Por outro lado, a qualidade dada à educação das classes inferiores deve ser o mais pobre e medíocre possível. A escola pública deve ser desprezada.
O que passa nos media, as próprias letras de algumas canções fazem o indivíduo acreditar que é o culpado da sua própria desgraça, tal muitos psicólogos e psiquiatras. Não há causas exteriores, o indivíduo é o culpado de todos os males, a sociedade não é culpada.
De realçar ainda que os avanços da ciência têm provocado clivagens entre os conhecimentos do público e o das élites dominantes. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo. O sistema exerce um controle maior sobre os indivíduos do que os indivíduos sobre si mesmos.
terça-feira, 3 de março de 2015
O HOMEM DA CIDADE E DA REPÚBLICA
Há, sem dúvida, pessoas de bem, que se preocupam com os outros, que reconhecem o valor dos outros, que colocam a família acima de tudo, que abrem o coração. Admiro essas pessoas como o sr. Gilberto. No entanto, eu não sou assim. Eu tanto sou do eu como sou da cidade. Eu sigo Max Stirner quando ele proclama o eu soberano, quando diz que nada está acima de mim, do meu espírito, nem juízes, nem Estado, nem polícias. Contudo, eu também sou o homem da cidade, da pólis, da república, que se preocupa com o bem-estar e com a felicidade dos outros cidadãos, que que quer edificar uma nova educação, o conhecimento pelo conhecimento, que quer elevar os pensamentos. Compete-me a mim construir uma filosofia política que contribua para tornar os homens melhores, menos agressivos, menos competitivos, mais críticos em relação à engrenagem. Compete-me denunciar que o capitalismo e o dinheirismo representam a morte e que é preciso elevar as nossas consciências. Há, sem dúvida, pessoas de bem. No entanto, há também muita gente adormecida. Que não tem noção de que está a ser levada, explorada, alienada, de que o mundo, a natureza e o próprio homem estão a ser destruídos. Sim, os dias passam. As pessoas percorrem as ruas. Estão cada vez mais sós, apesar dos Smartphones, apesar do Facebook. Alguns sinais vêm de Atenas. Atenas onde nasceram a democracia, as assembleias, a filosofia. Atenas onde temos de regressar. Porque o homem pensa por si mesmo. Porque o homem não pode ser escravo de outros homens. Porque o homem é um criador, um filósofo. Porque o homem é livre e persegue o bem, a virtude, a verdade, a justiça. Porque o homem não é meio-homem, nem um farrapo, nem um carrasco. Porque o homem é amor.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
CORRIDA E CONCORRÊNCIA
Em vez de nos orientar para a curiosidade, para o conhecimento, a escola orienta-nos para o sentido do negócio, para o lamber das botas, para o ganhar dinheiro. O que importa é pensar na vidinha. Daí que, segundo Max Stirner, para a maioria, todo o seu esforço resulte numa vida amarga e num trabalho sério e amargo: “a permanente corrida e concorrência não nos deixa respirar, não nos deixa gozar em paz o que temos: o que possuímos não nos torna felizes”. Com efeito, o capitalismo rouba-nos o tempo e a vida. Muitos de nós executam trabalhos estúpidos, repetitivos e muito mal remunerados e são alienados pelos programas imbecis da TV. Outros não são capazes de ler um bom livro, de ter uma conversa elevada, tal o grau de estupidificação a que a sociedade chegou. Colocam-nos numa corrida pelo emprego, pelo cargo, pela carreira, colocam-nos numa guerra de todos contra todos que nos vai destruindo e vai destruindo a amizade e o amor. Sim, é isso que esses fascistas que estão no governo e nos altos cargos financeiros querem: que nos destruamos enquanto eles reinam com os seus milhões. Temos de tomar consciência. Temos de derrubá-los. Temos de parar a lavagem ao cérebro. Temos de intervir na escola e nos media. Temos de furar o sistema.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
CULTURA E IGNORÂNCIA
Para muitos é difícil saber o que é o prazer de ter um espírito culto. Limitam-se ao divertimento rude. Uns não podem, outros pura e simplesmente não querem. Bem sabemos que há trabalhos duros, que há horários longos, mas em vez de embrutecer em frente à TV bem poderiam ter curiosidade pelo conhecimento, pela cultura. O homem não pode viver na ignorância, tem de estar atento ao mundo senão deixa-se ultrapassar. Atravessamos uma grande crise. O homem está em crise. Há guerras, exploração, alienação, epidemias, tragédias naturais. É preciso debater o homem. O homem tem capacidades mentais prodigiosas. Não pode desperdiçá-las. Por isso deve procurar o ensinamento dos mestres, deve debater com elevação com os outros homens. Há quem se contente com futebol e trabalho. Gente limitada. Não falo com essa gente. Segui o meu percurso. Vivi o "boom" do rock português. Ouvi os Pink Floyd. Ouvi os Doors. Li Pessoa e Sá-Carneiro. Li Nietzsche. Vi o "Apocalypse Now". Li Marx e os anarquistas. Houve quem me indicasse o caminho: pais, tios, amigos, colegas do liceu e da faculdade, professores, camaradas de partido. Tive curiosidade. Não me satisfiz. Continuo a não perceber Hegel e Kant. Mas leio Marcuse, Sartre, Edgar Morin. Acredito na vida pela vida, no gozar a vida, não na vida aprisionada.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
DO ENSINO
O ensino está cada vez mais nas mãos de especialistas. Não só o ensino como também os media. Como diz Raoul Vaneigem, "a especialização é um exercício abstracto, separado da vida quotidiana e dos afectos desta. Nela a técnica leva a melhor sobre o vivente, mecaniza-o, robotiza-o, informatiza-o, mumifica-o". Ou seja, o estudo separa-se da vida. A filosofia, as artes, a literatura, as humanidades são relegadas para segundo plano porque podem pôr em causa a civilização mercantil e tecnológica. Pensar livremente, ler Platão, Marx, Nietzsche ou Marcuse constitui uma heresia. Se queremos ser livres, o ensino deve deixar de estar orientado para a competição, para o ganhar dinheiro e para a servidão face ao poder.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
LAVAGEM AO CÉREBRO
A TV, a esmagadora maioria dos programas da TV, conduz-nos a uma vida passiva e imbecil que não exercita o raciocínio como, por exemplo, a leitura. Além do mais, há uma tentativa, muitas vezes conseguida, de lavagem ao cérebro, com os noticiários, o futebol, as telenovelas, os comentadores, os programas de entretenimento. O telespectador é infantilizado e imbecilizado, perde capacidades mentais. Ensina-se a corrida ao dinheiro, a competição, o passar por cima do outro, o ganhar ou perder, o sacar a qualquer preço, o choro e o riso fáceis, a manipulação dos sentimentos. Nada há de nobre, de elevado. Os grandes valores, os grandes autores são postos de lado. Não se discute a condição humana, a literatura, a arte, a História, a filosofia, não se promove o diálogo elevado, o esclarecimento, o conhecimento mas antes a ignorância, a mercearia, o homem pequeno. Bando de castradores. Filhos da puta.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
RITA
Olho
para ti
E
escrevo
Ao
balcão
És
rainha
Trazes
cafés
Cervejas
Bandejas
Sabes,
sou o mais
Louco
dos poetas
Já
apareci bêbado
Caído
na estrada
Já
ocupei hipermercados
Já
derrubei estátuas
Sabes,
não sou
Como
os outros
Já
quando era miúdo
Pensava
muito
Era
o mais inteligente
O
melhor aluno
Agora
só tenho pena
De
não ter mais uns trocos
Para
ficar de bar em bar
De
cerveja em cerveja
De
qualquer maneira,
Tu
já quebras
A
monotonia do dia-a-dia
Lembras
a Paulinha
E
eu deixei de ser
Um
poeta lírico
Escrevo
o que penso
E
o que sinto
Raramente
emendo
Sou
um mau rapaz
O
último dos poetas de café
O
último dos beats
Bebo
cerveja
E
desejo-te
Não
tenho aquela vida
trabalho-casa
Sou
um homem livre
Um
poeta só
Com
Nietzsche à minha frente
E
o rock n’ roll
No
centro comercial
Sabes,
eu era o menino de ouro
O
menino da mamã
Depois
apanhei umas patadas
Tornei-me
agressivo
Tornei-me
maldito
Insulto
Deus e o Poder
Procuro
a mulher
Talvez
venha a ser reconhecido
Como
poeta maldito
E
animal de palco
De
certa forma já o sou
Mas
ainda não tenho
Os
dias preenchidos
O
Natal na Terra de Rimbaud
Sim,
vou aos bares
Bebo
uns copos
Converso
com este e aquela
Mas
depois há dias como este
Em
que venho até aqui
E
depois regresso a casa
Ao
computador
Não
há aquele brilho
Não
há a celebração
Estás
aqui tu, é certo
Mas
tens os teus clientes
Os
teus afazeres
Não,
não me sinto
Como
Morrison ou Rimbaud
Reino
a espaços
Falta
algo
O
banquete
O
estarmos unidos à mesa
A
comemorar
Nada
além disso
A
ceia
A
primeira ceia
Nada
de homens médios
Nada
de homens pequenos
Nada
de medos
O
homem pleno
Na
hybris
Na
desmesura
Na
aventura
O
homem-deus
Que
cria
Que
se afasta
Dos
carneiros
Que
voa
Como
a águia
O
homem livre
Que
vai ao infinito
E
volta
O
homem
No
café
Que
bebe
E
te aguarda.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
MESTRES
Estamos perdidos no
Universo, não sabemos porque estamos aqui, porque existe o mundo, afirma Edgar
Morin. Ainda assim bebemos, prosseguimos viagem. Por vezes caímos, muitos de
nós não aguentam. A vida torna-se absurda. Outras vezes vamos à televisão ou
somos falados nos jornais. Ainda nos podemos expressar. Dizem-nos que as nossas
capacidades mentais vão começar a falhar. Mas o mesmo não aconteceu com outros
que levaram a nossa vida: o Jaime Lousa, o Joaquim Castro Caldas, o Sebastião
Alba. Sim, precisamos de mais gente com quem trocar as nossas ideias. Não nos
basta o Facebook. Por vezes temos ideias brilhantes, modéstia à parte. Também
temos aprendido com os mestres. Gostava de ser um mestre, um filósofo, como
Edgar Morin, como Zizek. Gostava de ensinar os jovens e as crianças. Gostava de
lhes dizer que há outro caminho, que a vida não pode ser só dinheiro, trabalho,
sacrifício. Que a vida deve ser festa, amor, comunhão. Sim, estamos perdidos no
Universo mas podemos dar a mão. Podemos começar a dialogar repentinamente com
desconhecidos no café. Sim, somos filhos do Universo. Podemos brindar à vida.
Podemos renascer todos os dias se vencermos a máquina castradora. Podemos
ultrapassar a rotina dos dias iguais. Podemos procurar o amor, o prazer e a
sabedoria.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
A GRANDE FESTA
Ser um intelectual, um príncipe das ideias,
como Sócrates, como Nietzsche, como Edgar Morin, eis onde queria chegar. Bem
sei que ainda me falta investigar muito, ler muito, tentar compreender o homem
e o mundo. Vejo esta gente a receber- quando recebe- e a pagar, a dirigir-se à
sagrada caixa registadora, a levantar-se para trabalhar. Depois trabalha,
eventualmente diz umas piadas, normalmente não questiona o sentido disto, vem à
confeitaria, lê o jornal- os que não lêem só os jornais
desportivos- , regressa a casa e instala-se em frente à TV a consumir imagens.
Leva uma vida sem sentido. Uma vida onde a festa rareia, onde uns se atropelam
aos outros. Não, não estou cá para isso. Sim, em tempos vi as séries e os
filmes americanos estúpidos, vi o "Rambo", os bons contra os maus.
Mas depois conheci outras coisas, outros mundos. O dinheiro e o mercado são
ridículos. As notas escolares são ridículas. É necessário um novo ensino,
voltado para a descoberta, para o conhecimento pelo conhecimento. É necessário
dar umas curvas, beber uns copos, descer aos infernos do rock n' roll. Assim
nos elevaremos. Assim saíremos dos dias iguais. Conciliaremos o gozo com a
sabedoria. Desenvolveremos a mente e o espírito. Não teremos deuses, nem medos,
nem patrões. Assim enfrentaremos a barbárie dos dias mecânicos, sem vida. Assim
nos juntaremos no grande banquete, na grande festa.
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