Estou no café. A Cleo
nunca mais vem. Ontem foi noite de glória no Pinguim. A brasileira e o amigo
pedrado encantados com a minha poesia. Risos e palmas. Estarei a converter-me
numa estrela? É o António Pedro Ribeiro, dizem. O poeta maldito que vai aos
bares vomitar poesia. Sim, ganhei uma certa fama. Provavelmente quando ainda
era o Peter Owne já a desejava. Fui construindo um caminho. A rádio. O DN
Jovem, suplemento do "Diário de Notícias". O "Correio do
Minho". "Gritos. Murmúrios", o primeiro livro com o Rui Soares.
As primeiras sessões de poesia no Tuaregue, em Braga, com a Natércia. O JUP.
Fui subindo. Construindo uma imagem. Os Ébrios. O hipermercado. O Jaime Lousa.
A candidatura a deputado pelo PSR por Braga. As lutas estudantis. As listas R e
Z. A Faculdade de Letras do Porto. Sim, às vezes abusei, às vezes segui a
estrada do excesso e da loucura mas procurei sempre a liberdade livre, a mulher
livre. Já em 2004 com a reportagem do "Comércio do Porto" no
"Púcaros" sobre o "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" e com o
anúncio da candidatura à Presidência da República a fama batia à porta. Mais
tarde, em 2006, veio a "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro",
graças ao Valter Hugo Mãe, e a actuação memorável no Festival de Paredes de
Coura. Depois vieram as idas à Antena 1, à Antena 3, à "Prova Oral",
ao "Valter Hugo Mãe" no Porto Canal e ao "É a Vida Alvim!"
do Fernando Alvim, no Canal Q, bem como as críticas e notas no "Diário de
Notícias" e "Jornal de Notícias". De facto, penso que estou a
caminho de atingir alguma coisa. Tenho os meus admiradores e detractores. Tenho
um legado a deixar, como diz a Maria Oliveira. Sou único, já o dizem. Passei
pelo céu e pelo inferno. As pessoas dizem os meus poemas. Há quem me admire porque
sou diferente. Não segui a linha recta. Ainda Inventamos. Discutimos ideias
como Sócrates e Platão. Temos alma e coração. Por isso prosseguimos viagem. Por
isso chegámos até aqui. Com todas as curvas que demos. Com todos os copos que
bebemos. Com todos os que fomos. Não, miúda, não esperes de mim a normalidade.
Eu não sou o senhor atinado que aparento. Eu berro. Eu vocifero. Eu sou louco.
Eu sou o último dos homens.assim talvez tenha algo de santo, no sentido de
Agostinho. Sim, tenho em mim a bondade mas também a sacanice. Venho de ti,
Jaime Lousa. Venho de ti, Sebastião Alba. Venho de ti, Bukowski. Venho de ti,
Henry Miller. Passaria o resto da tarde a beber. Não estou a disputar cargos,
não estou a seguir uma carreira, não estou a atropelar ninguém. Consigo ser
completamente louco, querida. Vê como danço, como parto os vidros. Não tenho
escrito aqueles poemas satíricos que fazem rir. Tenho de retomá-los. Não te
passa a ti, querida, enquanto lavas a loiça, as histórias por que passei. Desde
julgar-me Deus, Jesus, Satã, até incendiar carros ou fazer revoluções. Mas hoje
sou apenas um poeta pacato a beber a sua cerveja, a olhar para a menina. Volto
ao palco na quinta, no Olimpo. Até lá leio, escrevo e espreito as mulheres. São
diferentes umas das outras. Umas mais atiradiças, outras mais reservadas. Umas
mais apagadas, outras mais vistosas. Todas, no entanto, desorientadas neste
mundo mecânico de homens. De homens empreendedores, produtivos, técnicos,
especialistas, sem sensibilidade, sem coração. Esses homens que dominam os
bancos, os governos, as grandes empresas. Não somos como eles. Criamos na
folha.
quinta-feira, 26 de março de 2015
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