segunda-feira, 30 de abril de 2012

AMOR, LIBERDADE, POESIA

Amor, liberdade, poesia. Eis o que nos permite combater a sociedade do medo, do controlo, do mercado. “O amor brotou de uma incrível força de vida, que transfigura a vida. Liga-nos ao outro, ao mesmo tempo que nos restitui a nós mesmos. (…) O amor suscita uma quase divinização para um ser de carne, sangue e alma”, afirma o sociólogo Edgar Morin. É essa força de vida que no...s faz viver para viver, ou seja, poeticamente, que nos aproxima do divino ou que até nos faz atingi-lo. Se formos afecto, se formos capazes de criar arte ou valores, se nos libertarmos das imposições da máquina do cálculo e dos mercados seremos seres integrais, plenos. Temos de ser capazes de comunicar, de dialogar com o outro que ainda está receptivo, curioso, temos de ser capazes de dar ideias e amor, de fugir a tudo o que nos castra, que nos inibe, que nos impede de expressar livremente. Temos também de ser capazes de fazer crescer o nosso eu interior, de o alimentar de amor, conhecimento, poesia. Temos de ser contrários a tudo o que o capitalismo impõe: a inveja, o culto do ganho, a usura, a competição. Temos de nos descobrir a nós mesmos, de desenvolver ao máximo as nossas potencialidades, de viver plenamente, mesmo que eles não queiram, mesmo que eles tudo façam para nos diminuir, para nos deprimir, para nos inibir, para nos reprimir.

sábado, 28 de abril de 2012

O ÚLTIMO HOMEM

Edição 77, 13 Abril 2012 CULPADOS Aumentam os sem-abrigo na cidade do Porto, aumentam os casos de depressão e suicídio, muita gente está a ficar endividada e sem dinheiro. Eis a Europa de Merkel, eis os seus empregados portugueses, eis a terra prometida de Obama e dos mercados. Os seres humanos são tratados abaixo de cão, são abandonados a um canto, nas ruas da cidade ou então sofrem sozinhos perante um mundo cão que não lhes dá amor, apoio, liberdade, dignidade. Passos Coelho, Merkel e a troika são mesmo culpados da morte, da solidão e da infelicidade de milhões de portugueses. Entretidos a fazer o jogo dos especuladores e dos banqueiros são incapazes de um gesto de humanidade. Só há poder e negócios dentro daquelas mentes. Não merecem sequer que lhes chamemos seres humanos, são sub-homens, sub-mulheres. Eles e todos os seus criados e todos os que os seguem. Não são sequer dignos que lhes dirijamos a palavra. Merecem cair. ---- O ÚLTIMO HOMEM Segundo Allan Bloom ("Gigantes e Anões"), para Nietzsche, a democracia liberal é o lar do "Último Homem", um ser sem coração e sem convicções, uma marioneta dedicada à preservação e ao conforto. Eu vejo esse "Último Homem" aqui no café. Apenas sente amor pela família e aproxima-se dos outros homens graças ao medo da morte e da solidão. De resto, nada de elevado, de nobre, as conversas são perfeitamente banais e superficiais. O último homem, o homem burguês deixa-se levar por cançonetistas pimba, por programas que exploram os sentimentos primários, por "reality-shows", por notícias manipuladas. Não há convicções, tanto se vota no PSD como no PS. O último homem fala do sustento, do conforto, das doenças, do dinheiro ao fim do mês. Em suma, uma tremenda vulgaridade, um bocejo permanente. Deseja-se que as crianças sigam a linha dos pais e que venham a ganhar muito dinheiro, porque isso corresponde á felicidade. Daí que as crianças estejam limitadas à partida, apesar dos beijos e dos carinhos, a menos que se venham a revoltar contra a máquina. No fundo, estamos perante um sub-homem, incapaz de criar, que se limita a reproduzir o sistema e a imitar, por medo, o parceiro do lado. Não há qualquer enriquecimento ou engrandecimento do eu nem criação de valores. Estamos muito longe do homem superior de Nietzsche. www.jornalfraternizar.pt.vu

sexta-feira, 13 de abril de 2012

ÀS PORTAS DO NOVO MUNDO


Ao longo destes anos, não obstante as minhas aparições públicas, tenho sido o homem da solidão. A solidão permite-me pensar, observar o mundo, tirar conclusões. Como diz o dr. Jorge Marques, ganhei uma ocupação. Apesar de nos últimos 20 anos ter estado sobretudo com a Gotucha, tenho sido o homem da solidão e da escrita. Haverá poucos como eu no mundo. Bem sei que há escritores profissionais mas estou certo que poucos vivem a escrita como eu. Eu vivo aquilo que escrevo. Escrevo ao ritmo do coração. Combato a depressão. Falo com a D. Rosa de coisas aparentemente triviais. Tomo três cafés, bebo cerveja. Realmente debruço-me sobre o mundo. E o entusiasmo e a vontade voltam. Aparentemente pouco se passa. Os carros passam lá fora. A televisão passa mulheres boas. A empregada da confeitaria recolhe as chávenas. Um homem fala ao telemóvel. Outro homem, que é escritor, escreve. O talho em frente. A revolução não é aqui nem é hoje. Por isso, o homem questiona os próprios revolucionários. Pensa que a maior parte deles ainda não compreendeu a dimensão do problema. É o próprio homem que está a ser destruído. O capitalismo dos mercados altera o homem, retira-lhe a dimensão do êxtase, do amor, da poesia. É certo que há homens que nunca tiveram essa dimensão mas os jovens, as crianças poderiam atingi-la. Esta máquina se não os atira para o conformismo, para o niilismo, atira-os para o caos, para a barbárie. E os revolucionários andam demasiado ocupados com a economia, com os bolsos dos trabalhadores e esquecem a alma. Precisamos de homens de alma, nobres, só os homens de alma serão capazes de se libertar da influência da máquina, de a pôr em causa, de se unirem contra a máquina. Será realmente necessária uma revolução no pensamento, uma verdadeira emancipação dos homens. Como já vem acontecendo em Atenas e Barcelona. A palavra de ordem é mesmo desmontar a máquina que nos atiram todos os dias à cara via TV, via outros media. Não podemos ficar à espera de maiorias. Só uma grande minoria tomará consciência da situação. Digamos que uns 20% serão suficientes. Não deixemos que os banqueiros, os especuladores e os economistas assassinem o homem. Ergamos a espada do amor, da fraternidade, da criação, da poesia, do pensamento, da filosofia. Só assim lá chegaremos. Pensemos realmente no que se está a passar, no que nos estão a tirar. Pensemos realmente que eles são os inimigos da vida. Pensemos realmente que isto não pode cair na barbárie ou na ditadura. Pensemos que está tudo nas nossas mãos e nas nossas cabeças. Matemos o capitalismo dentro das nossas cabeças. Entreguemo-nos ao amor, à arte, à poesia. Derrotemos os nossos inimigos internos e externos. Pensemos. Pensemos realmente no que está em jogo. Sejamos lúcidos mas não deixemos que eles nos roubem também a nossa loucura. Estamos às portas do novo mundo. Não o esqueçamos. Ele está nos nossos corações e nas nossas mentes, nas nossas almas. Acreditemos. Espalhemos a Boa Nova.

VIVER PLENAMENTE




O homem e a mulher comuns preocupam-se essencialmente com a sua auto-preservação e com o enriquecimento material. Vivem no medo e no medo da morte e da doença. Não conhecem nem procuram os grandes livros e as grandes obras de arte. Por isso, só a espaços alguns deles são tocados pela beleza ou pelo divino. Além do mais, são permanentemente bombardeados pela máquina de propaganda do capitalismo dos mercados e deixam-se levar por ela. Já o poeta e o filósofo amam o conhecimento, a criação, a virtude. Não podem viver em função da sobrevivência, procuram o que não tem preço, procuram viver plenamente a vida.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

SAPIENS-DEMENS




O poeta é publicado nos jornais. Escreve crónicas que, às vezes, não são bem crónicas. São estados de alma. O poeta deveria continuar a trabalhar, a investigar. Mas faz uma pausa para criar ou, pelo menos, para acrescentar algo ao mundo. Acredita que isto tanto pode desembocar no caos como no novo homem. Olha as crianças. Quem virão a ser elas? Porque as estragam? As mulheres dão-lhes estes mimos todos mas depois elas crescem, passam a servir a máquina, o mercado, a ideologia dominante. Cedo deixam de questionar os mistérios do mundo. Tornam-se seres limitados, finitos. O seu espírito não evolui. Não se passa para o outro lado nem volta. O poeta é diferente. Vai e volta. Não tem aquela destreza nos trabalhos manuais. Não é o "homo faber". É mesmo o "sapiens-demens". O próprio espírito, a alma. Em volta disso gira a sua vida.

O POETA

Agora sei que estou certo. Sei que devo combater a economia, o homem burguês, o sentido prático. Sei que devo seguir o espírito, o pensamento, a liberdade. Com Edgar Morin sei que a alternativa à globalização técnico-financeira é a globalização das ideias, do amor, da poesia, da criatividade. Nesse sentido devo criar, criar para o novo homem, para o novo mundo. Essa é a minha tarefa aqui na Terra. Já em miúdo me interrogava sobre o porquê das coisas, já em miúdo questionava o homem. Sou mesmo uma espécie de profeta, de rei de outras eras. Tenho em mim Jesus e Zaratustra. Há dias, noites em que vejo a luz. Desde a infância que sou diferente. Há dias, noites, em que me deixo levar pelo álcool, em que procuro companheiros e companheiras para celebrar mas poucos, quase nenhuns me compreendem. Sempre soube que queria algo mais que a realidade rotineira. A partir de certa altura soube que estava na estrada do excesso. Não há volta a dar-lhe. Não vim para as tarefas domésticas, não vim para o ganhar dinheiro. Sou um homem do pensamento. Sei que as alternativas ao novo mundo são a tirania, que já vai existindo, e a barbárie. Cabe ao homem de pensamento construir um novo homem dentro e fora de si. Com os seus demónios, os seus deuses, os seus fantasmas. É um combate que se trava dentro de si mesmo. Poucos são realmente capazes de o compreender. Mas ele sabe que está a construir algo de real, algo de profundo. Que desde os 18/19 anos, desde a revolta contra a economia e a finança, que tem razão. Sabe-o através dos grandes poetas, sabe-o através dos filósofos. Tem razão mesmo que, muitas vezes, saia da razão. Sabe. É ele o poeta. É ele Hamlet, Artur, Quixote. É ele que duvida, é ele que se interroga, que reconhece a superioridade da filosofia. É ele que faz a poesia.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A ALMA

Segundo Edgar Morin, a alma "só emerge verdadeiramente além da luta pela sobrevivência e para além do trabalho duro. A alma não é perceptível ao olhar funcionalista ou pragmático visto que, aparentemente, não tem qualquer função nem utilidade". A nossa salvação só pode estar na alma. Ela é a linguagem da poesia e da música, do homem criador, daquele que alcança o conhecimento e a beleza. É ela que traz igualmente o amor, que traz Merlin, Eros, Dionisos, Jesus. Só através da alma construiremos um mundo novo. Um mundo que atravessa o caos mas vai dar à harmonia, à festa, ao divino, à sabedoria. Esse é o caminho que temos de percorrer.

A REALIDADE? OLHA, SOU CONTRA A REALIDADE.

AS MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES




Para criar ou para dizer o que há muito não é dito temos à nossa disposição 26 letras. É sempre a partir daí, a menos que inventemos novas letras ou novas palavras, que podemos construir boa ou má literatura. Tudo depende da nossa imaginação, da nossa criatividade, da nossa curiosidade, da forma como pegamos no texto, como nos aventuramos pelas folhas adentro, há múltiplas possibilidades. A questão é mesmo chegar onde poucos chegaram ou, quem sabe, criar mesmo algo de totalmente novo. Daí que eu me esteja, neste preciso momento, a esforçar-me para fugir às temáticas que já tenho abordado, daí que eu esteja a tentar criar. Hoje é um bom dia para tentar. Abrem-se mundos, a mente está liberta. Vou tentar passar para o papel as explosões que neste momento se dão dentro da minha cabeça. Há uma luz. Várias vozes que me chamam. Infâncias que regressam. Tanto ouro. Tanto ouro. Eu sei onde. Eu era esse rapaz. Eu pensava, eu questionava. Depois houve o Jorge, o Rui. Amigos que me mostraram outras possibilidades, outras vias. A música, a literatura. Depois fui atrás do Morrison, do Mário de Sá-Carneiro, do Fernando Pessoa. Aos 18/19 anos escrevi alguns bons poemas. Digamos que comecei a desenvolver a arte. Escrevia de uma maneira diferente da de agora. Partia de ideias mas também de imagens. E são imagens que quero agora. Mas, voltando atrás, à ideia das múltiplas possibilidades, julgo que está muito aí, nas portas que se abrem. Há pessoas que nos influenciam mas nós depois seguimos esta ou aquela via. Eu nunca poderia ter sido economista, teria vergonha de mim próprio. Tinha as grandes depressões, ficava quase sem vontade, quase que vegetava mas depois, depois vinha aquela luz que me puxava. Questionava a vida que as pessoas levavam. A casa, o carro, o emprego, a sobrevivência. Hoje estou aqui, como Morrison, como Rimbaud, a dizer que a vida não se resume a uma forma única e irreversível. O que é muito mais do que ser anti-capitalista. É mesmo preciso trazer para cá a poesia, como diz Edgar Morin, não apenas a poesia escrita e dita mas também a poesia que já está na mente e nas coisas. Somos muito mais do que a sobrevivência. Somos a ideia. Alguns de nós somos sobretudo a ideia. Vamos atrás dela. Por isso abrimos as portas. O nosso caminho não tem que ser o do sucesso nem o do dinheiro, pelo menos daquilo a que se convencionou chamar sucesso. Este e aquela chegaram lá porque houve alguém que lhes deu um empurrão. É tudo relativo. Eu poderia ter tido aqui e ali mais sorte, passei pelas minhas castrações, frustrações, opressões mas, no fundo, nunca quis ser o homem médio, nunca quis seguir determinados caminhos.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O TRIP NA ARCADA FAZ 7 ANOS. PARABÉNS.

CUIDA-TE, MENINO




Senti-me a morrer esta manhã. Tive um forte ataque de apneia. Tens de cuidar-te, menino. Olha o que aconteceu ao Joaquim Castro Caldas, ao Jaime Lousa, ao João Ulisses, ao Carlos Pinto. Cuida-te, menino. Provavelmente não andarás muito mais tempo por aqui. Continuas a beber e pesas quase 100 quilos. Há dias em que andas contido, em que dás entrevistas ao Jornal de Notícias e à Antena 3. Depois começas a soltar-te. A cuspir poemas e palavras. Apetece-te pegar fogo, partir vidros como fizeste no passado. Já foste ao tribunal e à Judite, menino. Cuida-te, menino. És o mesmo menino que brincava com as meninas, que era muito tímido na escola, o melhor aluno da classe. Cuida-te, menino. Não vais andar por aqui muito mais tempo. Lês a "Ilíada" e julgas-te melhor do que os outros, menino. Ontem no Pinguim ofereceste poemas a toda a gente. és o menino e o grande bailarino de Nietzche. Baila, menino. Pode ser que tudo quanto queres te caia do céu.