domingo, 4 de março de 2012

LEÃO



Quem és tu para me dares ordens?
Estás algures acima de mim?
És Deus ou és o deus da finança?
Diz-me!
Porque haveria de te obedecer?
Julgas-me um burguês,
um daqueles patetas que passam
a semana a falar de futebol?
Julgas-me uma daquelas
que passa a vida a coscuvilhar?
Um escravo
do trabalho e da sobrevivência?
Quem pensas que sou?
Um macaco
que não entende nada de nada?
Um espectador passivo,
um batedor de palmas?
Pensas que venho assistir
ao teu número?
Que mulheres de sonho
são essas
que não consigo tocar?
Vens vender-me na praça
ou queres que me afogue
na depressão?
Quem és tu
que permanentemente te insinuas
que entras na minha mente
e me alicias com a via única?
Quem és tu,
ó encantador?
Afastei-me de ti várias vezes
conheci os malditos
bebi a taça da libertação
por isso odeio os teus anúncios
e sobretudo não suporto ordens
nem os que permanecem
na caverna
a discutir as sombras
nem os escravos
que aceitam tudo
em troca de umas migalhas
não, não me apanhas
hoje estou em sintonia
com o sol
sou nobre
tenho poderes
venci a máquina
não me apanhas,
ó todo-poderoso
aprendi com os mestres
faço a síntese
tenho em mim
o universo
vivo
estou na idade do ouro
de Rousseau
de Shakespeare
de Platão

saí da caverna

entre as mulheres
e os leões
procuro o super-homem.


Vilar do Pinheiro, "Sonhos de Verão", 4.3.2012

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