sábado, 10 de março de 2012

QUE VIMOS FAZER AO MUNDO?


Nascemos livres, gratuitamente. Depois tornamo-nos crianças, brincamos, aprendemos com os nossos pais várias coisas, aprendemos a ler e a escrever. Vamos para a escola. Apesar do tempo que permanecemos na escola, que gastamos a fazer os deveres de casa, brincamos, brincamos muito, rimo-nos imenso, gozamos. Somos livres, espontâneos, apesar da autoridade paternal. Depois chegamos à adolescência. Tornamo-nos tristes, no nosso caso muito pouco faladores. A escola, o liceu, começa a impôr-nos modelos, valores, formatações, a orientar-nos para o mercado e para a "vida prática". Ainda assim falamos com os nossos colegas e amigos. Começamos a questionar o mundo, a discutir os problemas, a descobrir a música e a literatura. Há aqueles que não descobrem, que não evoluem, que se limitam a imitar o dominante por medo de perder o grupo. Nunca seguimos o grupo, começámos a ler livros, a falar com as raparigas, depois vimos certos filmes. Entrámos na faculdade, começámos a sair à noite, a beber, divertiamo-nos sem limites, aparte as depressões. Muitos passam por essa fase de rebeldia mas depois assentam, casam, convertem-se ao tédio e à televisão. Nós entrámos em ruptura com a economia na Faculdade de Economia. Punhamos a máquina em causa. Envolvemo-nos em questões políticas, nas propinas, no PSR. Continuamos a divertir-nos, excepto quando estávamos em depressão. Esta poderia durar meses. Outros tornaram-se quadros políticos nas juventudes partidárias, nos partidos do sistema. Nós tivemos sempre a nossa loucura, bebíamos, dançávamos, questionávamos a máquina de propaganda. Tivemos amores. Sobretudo um. Trabalhámos em jornais. Publicámos livros de poesia. Dissemos poesia nos bares, em Paredes de Coura, no Campo Alegre. Hoje estamos convencidos que a nossa via não é a do trabalho nem a da acumulação de dinheiro nem a auto-conservação. Descobrimos o sentido da vida, a grandeza, o homem nobre. Estamos aqui para desenvolver ao máximo as nossas potencialidades e a nossa personalidade. Estamos aqui para aprender, para transmitir os nossos conhecimentos, para atingir o sublime, para descobrir a mulher. Procuramos os grandes, os mestres, os sábios, procuramos também o amor e a amizade. Tentamos expressá-lo na nossa escrita. Aumentamos a vida, com Henry Miller. Somos de novo crianças livres. Somos curiosos e criadores. Ambicionamos mudar o mundo e o homem. Eis o que fazemos aqui.

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